A historicidade e
autenticidade dos registros bíblicos tem sido alvo de controvérsia por parte de
estudiosos críticos, cuja forma de pensar é usualmente chamada de alta
crítica.4 Nestes estudos junto com a crítica textual, várias vezes são
proferidas declarações polémicas sobre o que a autoridade escriturística exige
e o que ela implica. Este cepticismo em relação à confiabilidade das
Escriturasiniciou-se no Século XIX e subsiste em muitos círculos acadêmicos.
Esta alta crítica acabou por incentivar pesquisas arqueológicas mais extensas
por parte de muitos historiadores e arqueólogos. O principal objetivo da
ciência arqueológica não é provar ou desacreditar a Bíblia em sentido
teológico. Neste sentido, o artigo arqueologia bíblica se concentra
primariamente em pesquisas e descobertas arqueológicas relacionadas com os
relatos bíblicos. Ainda assim, a arqueologia bíblica é uma matéria de estudo
polémica, com várias perspectivas sobre qual o seu propósito e as suas metas.
Analisando os comentários de historiadores e de destacados arqueólogos,5 podem
encontrar-se os mais variados pontos de vista.
O
estandarte de Ur: A «Cara da Guerra». Descoberto por Leonard Woolley nos anos
1920, encontra-se atualmente no Museu Britânico de Londres.
Para
compreender plenamente o objectivo da arqueologia bíblica é necessário entender
a arqueologia como método científico e a Bíblia como objeto de investigação.
A
arqueologia é ao mesmo tempo técnica e ciência. Como técnica, busca os restos
materiais das civilizações antigas e trata de reconstruir, na medida do
possível, o ambiente e as civilizações de uma ou várias épocas históricas.
Trata-se de uma ciência moderna, ainda considerada recente, com apenas duzentos
anos.
Poder-se-ia
pensar que a arqueologia tende a omitir os dados oferecidos pelas religiões e
por muitos sistemas filosóficos. No entanto, além dos artefactos e locais arqueológicos
tais como lugares de culto, relíquias e outros elementos de ordem sagrada bem
como outros objectos cientificamente observáveis, existem aspectos que são
igualmente importantes para a investigação científica arqueológica. Entre estes
estão conceitos imateriais como os ritos, livros sagrados e a cultura. O mito é
usualmente utilizado na arqueologia e na história como uma pista da verdade que
poderá esconder. Esta nova percepção contemporânea do mito motivou a ciência
arqueológica a buscar novos dados nos territórios descritos nos relatos
bíblicos.
Museu
de Israel, em Jerusalém, conserva tesouros apreciados para a investigação e a
exploração científica e bíblica.A arqueologia bíblica é a disciplina que se
ocupa da recuperação e investigação científica dos restos materiais de
culturaspassadas que podem iluminar os períodos e descrições da Bíblia. Usa-se
como base de tempo, um amplo período entre o ano 2000 a.C. e 100 d.C.. Outros
preferem falar de arqueologia da Palestina,6 referindo-se aos territórios
situados aoleste e oeste do Rio Jordão. Esta designação expressa o facto da
arqueologia bíblica estar especialmente circunscrita aos territórios que
serviram de cenário aos relatos bíblicos.
A
função da arqueologia bíblica não é confirmar ou desmentir os eventos bíblicos,
nem pretende influenciar determinadas doutrinas teológicas, tal como a da
salvação. Limita-se ao plano científico e não entra no terreno da fé. Ainda
assim, alguns resultados da arqueologia bíblica podem e têm contribuído para:
·
Aumentar o conhecimento sobre alguns dados históricos descritos nos relatos
bíblicos envolvendo governantes,personagens, batalhas e cidades.
·Descrever
alguns detalhes concretos referidos nos livros bíblicos tais como o Túnel de
Ezequias, a piscina de Siloé, oGólgota, entre outros.
·
Fornecer dados que prestam uma ajuda fundamental aos estudos exegéticos.
Espaço
O
espaço geográfico da arqueologia bíblica envolve as terras bíblicas chamadas,
no sentido religioso, de "Terra Santa". Assim sendo, os trabalhos de
pesquisa centralizam-se especialmente em Israel, Palestina e Jordânia. Também
existem outros cenários mencionados pelos relatos bíblicos com grande
importância tais como o Egito, Assíria, Síria,Mesopotâmia e o Império
Aquemênida. Outras regiões como a Ásia Menor, Macedônia, Grécia e Roma estão
particularmente relacionadas com os relatos do Novo Testamento.
Tempo
Médio
Oriente - cenário de acontecimentos que inspiraram os escritores bíblicos.
Da
mesma maneira que os critérios de espaço variam segundo os diversos pontos de
vista de autores diferentes, o mesmo acontece com os critérios do tempo, ou
seja, do período temporal sobre o qual as pesquisas devem incidir.Peter
Kaswalder,8 professor de arqueologia do Antigo Testamento em Jerusalém, define
esse tempo como um período que vai desde o Século IX a.C., que corresponde às
primeiras datações de Jericó,9 até o ano 700 d.C. que marca o início das
invasões muçulmanas. Este período de tempo é muito discutido por alguns
autores.
Um
segundo período ainda maior e também referido nos relatos bíblicos tem início
na Idade do Bronze, por volta do ano 2000 a.C.que corresponde desde os
Patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó), até finais do Século I, com a morte do
últimoapóstolo, João, o Evangelista, e o fim da chamada Igreja Apostólica.
Estes termos, igreja primitiva ou dos apóstolos, refere-se à época de vida das
primeiras pessoas que se identificavam como cristãs, tempo em que teriam vivido
os apóstolos de Jesus, incluindo Paulo de Tarso. Este período apostólico
terminou com a morte de João, o Evangelista, numa data desconhecida que se
presume rondar o ano 110 d.C..
História
A
história da arqueologia bíblica é tão recente como a da arqueologia em geral. O
seu desenvolvimento despontou com a descoberta de achados de primeira importância
para a mesma. Alistam-se em seguida alguns dos achados arqueológicos bíblicos
mais importantes das últimas décadas segundo a compilação do Centro de Estudos
Ratisbone de Jerusalém.
Algumas descobertas relevantes
Uma
reconstrução de Jerusalém do Século I, possivelmente graças à arqueologia
Bíblica.
·
O Papiro P52:12
O
Papyrus P52 da Biblioteca de Rylands é o texto mais antigo que se conhece do
Novo Testamento. Foi descoberto em 1920, no deserto do Médio Egito, e tornou-se
público em 1935.13
· As
cavernas de Qumrán14 descobertas em 1947 por beduínos e cujas escavações
iniciaram-se em 1950.
Entre
1962 e 1963 foi encontrado o Papiro15 de Wadi Daliyyat, conhecido pelo Papiro
de Samaria, daépoca persa.
Em
1964 foi descoberto o Papiro de Ketej-Jericó da época persa-helenística.16
· Em
1991 foi descoberta a chamada Tumba de Caifás17
Em
1993 foi descoberta a Estela de Tel Dan:Trata-se duma pedra de basalto escuro
que menciona a "Casa de Davi", com a inscrição bytdwd, (byt casa dwd Davi).18
· Em
1996 foi descoberta a inscrição de Ecrom (Tel Mikné) contendo o nome da cidade
filistéia de Ecrome uma lista dos seus reis.
· Em
1997 foi descoberto o antigo monastério de Katisma.
· Em
1998 foi descoberta a Sinagoga de Jericó datada do ano 75 a.C. (Ehud Netzer).
·Em
2001 foi descoberta a Estela de Joás, rei de Judá.19
Em
2002 A Urna de Tiago, objeto de polêmica desde o seu descobrimento, após muita
batalha judicial, de muitas análises e pareceres dos especialistas, foi
finalmente reconhecida como legitima (o "Tiago" é identificado como
sendo Tiago, irmão de Jesus).
·
Em 2007 foi
encontrado o túmulo de Herodes.
A
arqueologia bíblica é também objecto de célebres falsificações motivadas por
múltiplos interesses. Uma das mais conhecidas surgiu em 2002 quando se publicou
o suposto achado de um túmulo (ossário) com uma inscrição que dizia
"Tiago, filho de José e irmão de Jesus". Na realidade, o artefacto
havia sido construído apenas vinte anos antes, portanto numa época muitíssimo posterior.
As características do objecto encontrado não correspondiam ao padrão do Século
I,21 revelando a sua falsidade e expondo as estranhas circunstâncias
relacionadas com a sua posse e descoberta.
Etapas
da arqueologia bíblica
O
desenvolvimento da arqueologia bíblica tem sido marcado por diferentes períodos
da história da humanidade, entre os quais se referem os seguintes:
·Antiguidade:
Ainda
que se considere a arqueologia como uma ciência moderna, é necessário
reconhecer que muitos autores, ao longo da história, têm contribuído com
documentos valiosos que são hoje elementos de trabalho imprescindíveis. Entre
muitos destes elos históricos, os mais importantes são Flávio Josefo, Orígenes,
Eusébio de Cesareia e o Diário de Etheria.
Mandato
Britânico da Palestina:
As
primeiras explorações arqueológicas começaram no Século XIX, primeiro por parte
de europeus e depois por israelenses (ou israelitas, em português europeu).
Nessa época, um dos arqueólogos bíblicos de renome foi Edward Robinson que
encontrou várias cidades antigas. Em 1865, patrocinado pelaRainha Victoria,
surgiu o Fundo para a Exploração da Palestina (Palestine Exploration Fund). Em
1867 realizaram-se importantes trabalhos ao redor do Templo de Jerusalém por
parte de Charles Warren e Charles Wilson. Em 1870 fundaram a Sociedade
Americana de Exploração da Palestina (American Palestine Exploration Society).
Um
jovem francês de apenas 21 anos, Charles Clermont-Ganneau, chegou à Terra Santa
para estudar inscrições notáveis, tais como a Estela de Mesha na Jordânia e a
inscrição do Templo de Jerusalém. Em 1890 entraria em cena outro génio, que
passaria para a história como o "pai da arqueologia palestina", Sir
Flinder Petrie, que lançou as bases para uma exploração metodológica e deu uma
grande colaboração em tornar a análise da cerâmica numa importante pista
arqueológica. Em 1889, osdominicanos abriram em Jerusalém um centro de estudos
que chegou a ocupar um plano de primeira ordem na arqueologia bíblica, a École
Biblique et Archéologique Française24 (Escola Bíblica e Arqueológica Francesa),
na qual se destacaram M. J. Lagrance e L. H. Vincent. Guilherme II da Alemanha
inaugurou em 1898 a Deutsche Orient-Gesellschaft que contribuiu para o
progresso arqueológico como uma disciplina emergente e entusiasta ainda que,
naquela fase inicial, as investigações estivessem dirigidas apenas a
demonstrações de passagens bíblicas.
Durante
o domínio Britânico da Palestina (1922 - 1948):
A
investigação e exploração da Terra Santa aumentou consideravelmente neste período
que veio a ser grandemente influenciado pela genialidade de pesquisadores como
William Foxwell Albright, George Ernest Wright, C. S. Fischer, os jesuítas, os
dominicanos e muitos outros. Esta época de tanta actividade e avanço para a
arqueologia bíblica encerrou com chave de ouro, a descoberta de Qumrán em 1947,
cujas escavações foram dirigidas, em especial, pelo francês Roland de Vaux.
·Depois
do domínio Britânico:
O
ano de 1948 marcou o início de uma nova época política e social para Terra
Santa com a fundação do Estado de Israel. Com isso, entraram em cena os
arqueólogos israelenses. Numa primeira fase, as escavações iniciaram-se
especialmente no território de Israel mas, depois da Guerra dos Seis Dias,
estenderam-se também aos territórios ocupados da Judeia e Samaria. Destaca-se o
nome de Kathleen Kenyon,26 que dirigiu as escavações de Jericó e de
Jerusalém.Chrystall Bennet conduziu as escavações de Petra e da cidadela de
Amã. Destacam-se ainda os museus arqueológicos dos franciscanos e dos dominicanos
de Jerusalém.
Escolas
arqueológicas
A
arqueologia bíblica é matéria de permanente debate. Um dos assuntos de maior
disputa tem sido o período da História do antigo Reino de Israel. Também, de um
modo geral, a historicidade da Bíblia tornou-se motivo de controvérsias,
dividindo os estudiosos em diferentes correntes ou escolas de pensamento, tais
como o minimalismo e maximalismo. Também, o método não-histórico de ler a
Bíblia difere da sua tradicional leitura religiosa.
Minimalismo
bíblico
O
minimalismo bíblico, segundo a chamada Escola de Copenhague ou Copenhaga,
enfatiza que a Bíblia deve ser lida e analisada, no seu todo, como um conjunto
de narrativas e não como uma detalhada colecção histórica da pré-história do
Médio Oriente. Em 1968, Niels Peter Lemche e Heike Friis escreveram ensaios nos
quais efectuaram uma revisão completa do modo de se ler a Bíblia por forma a
tirar conclusões históricas dela.
G.
Garbini, com a sua História e ideologia do Israel antigo, T.L. Thompson com a
sua "História antiga dos israelitas: de fontes escritas e
arqueológicas" e P.R. Davies com a sua obra "Em busca do "Antigo
Israel", construíram as bases do que se considera ser o minimalismo
bíblico. Davies, por exemplo, afirma que o Israel histórico só pode ser
encontrado nos restos arqueológicos, sendo que o Israel bíblico se percebe
somente nas Escrituras e o Israel antigo numa amálgama de ambos. Thomson e
Davies vêem oAntigo Testamento como uma criação imaginária de uma minoritária
comunidade de judeus em Jerusalém depois do período descrito na Bíblia como o
retorno do Cativeiro de Babilônia (após 539 a.C. em diante).
Para
esta escola de pensamento, nenhum dos primitivos relatos bíblicos tem solidez
histórica e só alguns dos mais recentes possuem fragmentos de uma genuína memória,
sendo estes eventos os únicos apoiados pelas descobertas arqueológicas. Em
consequência, os relatos acerca dos patriarcas bíblicos são tidos como ficção,
assim como as Tribos de Israel, que nunca teriam existido, tampouco os reis
David e Saul ou a unidade da monarquia de David e Salomão.
Maximalismo
bíblico
O
termo "maximalismo" pode gerar confusão, visto que alguns o
relacionam com a "infalibilidade bíblica", doutrina que sustenta que
a Bíblia é sem erro desde a sua forma original, o que inclui os trechos que
abordam temáticas históricas e científicas. Alguns associam todos os
maximalistas com essa doutrina. A maioria dos maximalistas bíblicos aceita as
descobertas da arqueologia e os modernos estudos bíblicos, no entanto,
sustentam que todo o conjunto de relatos bíblicos são na realidade referências
históricas sendo que os mais recentes livros possuem maior solidez histórica
que os mais primitivos.
A
arqueologia marca eras históricas e reinos, modos de vida e comércio, crenças e
estruturas sociais. No entanto, apenas em pouquíssimos relatos, os estudos
arqueológicos apresentam informações sobre famílias individuais não sendo
possível, portanto, esperar tais elos a partir da arqueologia. Por exemplo,
actualmente não se espera que a arqueologia apresente qualquer prova que
assegure ou negue a existência dos patriarcas.
Os
maximalistas estão divididos quanto a alguns temas:
·Uns
sustentam que os patriarcas foram na realidade personagens históricos apesar
dos relatos bíblicos sobre eles não serem sempre precisos, mesmo num sentido
amplo.
·
Outros afirmam que alguns ou até mesmo todos os patriarcas podem ser
classificados como personagens fictícios que terão uma pequena relação com
distantes personagens históricos.
Os
maximalistas bíblicos estão de acordo que as doze tribos de Israel existiram,
mesmo que isso não signifique necessariamente que os relatos bíblicos sobre
elas correspondam à realidade histórica. Também estão de acordo com a
existência de grandes figuras como David, Saul, Salomão, a monarquia do Reino
de Israel e Jesus.
fonte biblicaarqueologia.blogspot.com
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