A Igreja e as Cosmovisões do Mundo
Existe e sempre existiu
uma incompatibilidade fundamental, irreconciliável entre a igreja e o mundo. O
pensamento cristão é totalmente desarmônico com todas as filosofias da
História. A fé genuína em Cristo implica uma negação de todo valor mundano. A
verdade bíblica contradiz todas as religiões do mundo. O próprio cristianismo
é, portanto, virtualmente contrário a tudo o que este mundo admira.
Contudo, virtualmente
ao longo de toda a história cristã, tem havido gente na igreja convencida de
que a melhor maneira de ganhar o mundo é satisfazendo os seus gostos. Tal tipo
de abordagem tem sempre resultado em detrimento da mensagem do evangelho. As
únicas vezes em que a igreja causou impacto significativo sobre o mundo foram quando
o povo de Deus permaneceu firme, recusando-se a compactuar e proclamando
ousadamente a verdade apesar da hostilidade do mundo. Quando os cristãos se
desviam da tarefa de confrontar os enganos do mundo com as impopulares verdades
bíblicas, a igreja invariavelmente perde sua influência e, impotente, mescla-se
ao mundo. Tanto as Escrituras quanto a História atestam esse fato.
E a mensagem cristã
simplesmente não pode ser torcida para se conformar com a instabilidade da
opinião do mundo. A verdade bíblica é fixa e constante, não sujeita a mudança
ou adaptação. A opinião do mundo, por outro lado, está em fluxo constante.
Ao que tudo indica, o
mundo não abraçará por muito tempo qualquer das ideologias que estão atualmente
em voga. Se a História servir como indicador, quando nossos netos se tornarem
adultos, a opinião do mundo terá sido dominada por um sistema completamente
novo de crenças e um conjunto de valores totalmente diferente. A geração de
amanhã renunciará a todos os modismos e filosofias de hoje, mas uma coisa
permanecerá imutável: até que o Senhor mesmo volte, seja qual for a ideologia
que ganhe popularidade no mundo, ela será tão hostil às verdades bíblicas como
o foram todas as precedentes.
Modernismo
Pense no que aconteceu
no século passado, por exemplo. Cem anos atrás, a igreja estava ameaçada pelo
modernismo. Modernismo era uma cosmovisão baseada na noção de que somente a
ciência podia explicar a realidade. O modernismo, com efeito, começou com a
pressuposição de que nada sobrenatural é real.
Deveria ter ficado
instantaneamente óbvio que o modernismo e o cristianismo eram incompatíveis no
nível mais básico. Se nada sobrenatural era real, então grande parte da Bíblia
seria falsa e sem autoridade; a encarnação de Cristo seria um mito (anulando a autoridade
de Cristo também); e todos os elementos sobrenaturais do cristianismo,
incluindo o próprio Deus, teriam de ser totalmente redefinidos em termos
naturalistas. O modernismo foi anticristão até a sua medula.
Não obstante, a igreja
visível no começo do século 20 ficou cheia de gente que estava convencida de
que modernismo e cristianismo podiam e deviam ser conciliados. Eles insistiam
que se a igreja não acompanhasse o compasso dos tempos, abraçando o modernismo,
o cristianismo não sobreviveria ao século 20. A igreja se tornaria
paulatinamente irrelevante para o povo moderno, eles diziam, e logo
desapareceria. Assim sendo, inventaram um “evangelho social” desprovido do
verdadeiro evangelho da salvação.
Naturalmente, o
cristianismo bíblico sobreviveu ao século 20 muito bem, obrigado. Nos lugares
onde os cristãos permaneceram comprometidos com a verdade e autoridade das
Escrituras, a igreja floresceu, mas, ironicamente, aquelas igrejas e
denominações que abraçaram o modernismo foram as que se tornaram pouco a pouco
irrelevantes e desapareceram antes do fim do século. Muitos edifícios de pedra,
grandiosos, mas quase vazios, dão testemunho da fatalidade da conformação com o
modernismo.
Pós-Modernismo
O modernismo é agora
considerado como um modo de pensar do passado. A cosmovisão dominante, tanto no
círculo secular quanto no acadêmico, atualmente é chamada de pós-modernismo. Os
pós-modernistas têm repudiado a confiança absoluta dos modernistas na ciência
como único caminho para a verdade. Na realidade, os pós-modernistas perderam
completamente o interesse pela “verdade”, insistindo que não existe tal coisa
como verdade absoluta ou universal.
Ao contrário do
modernismo, que estava ainda preocupado com a possibilidade de convicções
básicas, crenças e ideologias serem objetivamente verdadeiras ou falsas, o
pós-modernismo simplesmente nega que qualquer verdade possa ser objetivamente
conhecida.
Para o pós-modernista,
a realidade é o que o indivíduo imagina que seja. Isso significa que o que é
“verdadeiro” é determinado subjetivamente por cada um, e não existe tal coisa
como a chamada verdade objetiva, com autoridade que governa ou se aplica
universalmente a toda humanidade. O pós-modernista acredita naturalmente que
não faz sentido debater se a opinião A é superior à opinião B. No final das
contas, se a realidade é meramente uma invenção da mente humana, a perspectiva
de verdade de uma pessoa é afinal tão boa quanto a de outra.
Tendo desistido de
conhecer a verdade objetiva, o pós-modernista se ocupa, em lugar disso, com a
busca para “entender” o ponto de vista da outra pessoa. “Verdade” torna-se nada
mais do que uma opinião pessoal, geralmente melhor se guardada para si mesma.
Esta é uma exigência
essencial, não negociável, que o pós-modernismo faz a todo mundo: nós não
devemos pensar que conhecemos qualquer verdade objetiva. Toda opinião deve
receber igual respeito; com mente aberta, devemos procurar a harmonia e
tolerância. Tudo soa muito caridoso e altruísta, mas o que realmente sublinha o
sistema de crenças pós-modernistas é uma intolerância total por toda cosmovisão
que faça alegações de qualquer verdade universal – particularmente o
cristianismo bíblico.
Em outras palavras, o
pós-modernismo começa com uma pressuposição que é irreconciliável com a verdade
objetiva, divinamente revelada nas Escrituras. Da mesma forma que o modernismo,
o pós-modernismo é fundamental e diametralmente oposto ao evangelho de Jesus
Cristo.
Pós-Modernismo e a
Igreja
Não obstante, a igreja
atualmente está cheia de gente que advoga idéias pós-modernistas. Alguns fazem
isso consciente e deliberadamente, mas a maioria o faz sem querer (tendo
embebido demasiado do espírito dos tempos, simplesmente regurgitam opiniões do
mundo). E poucos reconhecem o perigo extremo colocado pelo pensamento pós-modernista.
A influência
pós-modernista claramente já infecta a igreja. Os evangélicos estão baixando o
tom da sua mensagem para que as rígidas alegações de verdades do evangelho não
soem tão desagradáveis aos ouvidos pós-modernos. Muitos evitam fazer afirmações
inequívocas de que a Bíblia é verdadeira e todos os outros sistemas religiosos
do mundo são falsos. Alguns que se intitulam cristãos foram ainda mais longe,
determinadamente negando a exclusividade de Cristo e abertamente questionando
sua alegação de ser ele o único caminho para Deus. (Confira as afirmações
categóricas nas Escrituras: Jo 14.6; At 4.12; Jo 3.36; 1 Tm 2.5; 1 Jo 5.11,12.)
Cristianismo e
Tolerância
A alegação da Bíblia de
que Cristo é o único caminho da salvação está certamente em desarmonia com a
noção pós-moderna de “tolerância”, mas é, no final das contas, exatamente o que
a Bíblia ensina. E a Bíblia, não a opinião pós-moderna, é a autoridade suprema
para o cristão.
Quando nossos avós
falavam de tolerância como uma virtude, a palavra significava respeitar as
pessoas e tratá-las com bondade mesmo quando acreditamos que estão erradas. A
noção pós-moderna de tolerância significa que nunca devemos considerar a
opinião de alguém como errada. A tolerância bíblica é para as pessoas; a tolerância
pós-moderna é para idéias.
Aceitar toda crença
como igualmente válida, embora não seja uma virtude, é praticamente a única
virtude que o pós-modernismo conhece. As virtudes tradicionais (incluindo
humildade, domínio próprio e castidade) são abertamente zombadas e até mesmo
consideradas como transgressões no mundo do pós-modernismo.
Previsivelmente, a
beatificação da tolerância pós-moderna vem exercendo efeitos desastrosos sobre
a verdadeira virtude em nossa sociedade. Nestes tempos de tolerância, o que era
proibido passou a ser encorajado. O que era tido como imoral é agora festejado.
Infidelidade conjugal e divórcio foram normalizados. Impureza é o lugar-comum.
Aborto, homossexualidade e perversões morais de todos os tipos são aclamados
por grandes grupos e entusiasticamente promovidos pela mídia popular. A noção
pós-moderna de tolerância está sistematicamente virando virtude genuína na
cabeça deles.
Praticamente a única
coisa a ser rejeitada pela sociedade como maligna é a noção simplória e
politicamente incorreta que o estilo de vida, religião ou perspectiva diferente
de outra pessoa são incorretos. Por isso, os pós-modernistas aceitam a
intolerância somente se for contra aqueles que alegam conhecer a verdade,
particularmente os cristãos bíblicos. Aqueles que se proclamam líderes de
tolerância são freqüentemente os oponentes mais declarados do cristianismo
bíblico.
Por que isso? Porque as
alegações de verdade das Escrituras são diametralmente opostas às
pressuposições fundamentais da mente pós-moderna. A mensagem cristã representa
um golpe fatal à cosmovisão pós-modernista.
Se os cristãos se
deixam enganar ou são intimidados a suavizar as alegações diretas de Cristo e a
alargar o caminho estreito, a igreja não fará qualquer progresso contra o
pós-modernismo. Precisamos recuperar a distinção do evangelho. Precisamos
identificar as diversas formas com que o pós-modernismo tem infiltrado nossas
mentes e atitudes. Temos visto o pecado, as idéias e opiniões através da lente
da cosmovisão prevalecente e nos tornado tolerantes com as coisas que
desagradam a Deus. Precisamos redescobrir a verdade absoluta e a perspectiva de
Deus. Só assim voltaremos a pensar como Deus.
FONTE REVISTA IMPACTO
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