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terça-feira, 20 de setembro de 2016
Apologética triunfalismo?
OTriunfalismo
Trataremos
de um tema presente em muitas igrejas evangélicas do Brasil — o Triunfalismo.
Não estamos falando de uma denominação, grupo faccioso ou seita, mas de um modo
de pensar e viver que considera o cristão um “super-crente”. Esse
“super-crente” não aceita qualquer tipo de infortúnio, crise financeira,
doenças e liderança. Ele foi chamado, segundo pensa, para ser “cabeça e não
calda”. Ele “amarra e desamarra o Diabo”, “pisa na cabeça da serpente”;
“determina” a cura, a aquisição da casa própria; “profetiza” restituição,
bênçãos e vitórias e toma “posse” de todas as bênçãos. Muitos, em função de
valorizar a forma em vez da essência, o luxo no lugar da simplicidade,
tornaram-se vítimas de suas próprias concupiscências. Não há qualquer problema
em o crente adquirir seu imóvel próprio, em levar uma vida saudável e desfrutar
de certas comodidades materiais, mas não deve reduzir a essência da fé cristã e
da pregação do evangelho às bênçãos materiais.
O
Triunfalismo é um dos principais ramos dos ensinos da Teologia da Prosperidade.
O fundamento teológico de tal ensino, portanto, encontra-se nas mesmas fontes
do Movimento da Fé. Há duas realidades concernentes o triunfalismo que precisam
ser destacadas. A primeira, de caráter sociológico, diz respeito ao atual
contexto sócio-financeiro do povo brasileiro e ao espírito consumista
alimentado pela mídia. Os líderes triunfalistas abusam dessa realidade social a
ponto de não prometerem apenas o necessário, mais o luxo, o sobressalente, o
espetacular. A segunda está relacionada à teologia e a falsa concepção de
espiritualidade. Ensinam os homens a se aproximarem de Deus pelo que Ele
concede e não pelo que Ele é. A bênção, para eles, é muito mais importante do
que o Abençoador. Acrescente o fato de que é enfatizado ao crente o seu direito
como filho de Deus, enquanto as suas obrigações morais, exigidos pela nova
filiação divina, são omitidas.
Hermenêutica:
Ciência da Teologia Exegética que ensina os métodos de interpretação da Bíblia.
O objetivo dos triunfalistas é basicamente
mercadológico. Eles usam os mesmos recursos de marketing para persuadir o povo
a receber suas crenças e práticas. Seus líderes inventam campanhas, usando como
chamariz textos e personagens do Antigo Testamento. Afoitamente, empregam
figuras e símbolos bíblicos completamente fora de contexto como ponto de
contato para aproveitar-se da boa fé do povo de Deus e para arrecadar fundos.
Alguns deles usam os meios de comunicação para criticar e atacar a teologia e o
estudo sistemático da Palavra de Deus.
I. OS
MERCADORES DA PALAVRA DE DEUS
1.
Falsificadores e mercadores (2 Co 2.17). A palavra original usada para
“falsificadores” é o verbo kapēleuō que, segundo os dicionários da língua
grega, significa “traficar, comerciar, falsificar, adulterar, lucrar com um
negócio”. No contexto do Novo Testamento, o apóstolo está referindo-se tanto
aos mercadores, aqueles que usam a Palavra de Deus visando interesses pessoais,
como aos falsificadores — os que adulteram a Palavra, a fim de agradar as
pessoas e delas tirarem vantagens.
2.
Prática da simonia. A palavra “simonia” procede do nome de Simão, o mágico de
Samaria, que intentou comprar o dom do Espírito (At 8.18-21). Hoje, é aplicada
aos mercadores da fé, que oferecem as bênçãos divinas mediante o pagamento de
certa quantia em dinheiro. O apóstolo Paulo via, com muita tristeza, o
crescimento dessa tendência mercadológica; para combatê-la, usou uma palavra
cujo sentido é “falsificar ou mercadejar a Palavra de Deus”. Isso envolve
práticas de simonia e adulteração da Palavra de Deus; é transformar o
cristianismo numa prática comercial, visando apenas interesses pessoais.
3.
Forma bíblica de levantar recursos financeiros. A obra de Deus faz-se com
milagres e recursos financeiros. A Bíblia estabelece regras para se levantar
tais recursos: dízimos e ofertas (Ml 3.10). No que tange a esse procedimento, o
apóstolo Paulo baseava-se no sistema sacerdotal estabelecido na Lei de Moisés
(1 Co 9.9,10) e nas palavras do próprio Senhor Jesus (1 Co 9.14). No entanto,
muitos confundem a fé cristã com negócios e colocam a igreja nessa esfera,
banalizando o sagrado e reduzindo as coisas de Deus à categoria de mero produto
comercial. O tema do culto cristão é o Senhor Jesus, e não, as ofertas.
II. OS
HERÓIS DA FÉ
1. Os
que fizeram proezas (vv.32-34). Encontramos na Bíblia muitos homens que fizeram
proezas pelo poder de Deus: Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel entre
outros. As conquistas foram para o povo de Deus; não para o seu deleite pessoal
(Tg 4.3). É lastimável alguém usar essas passagens bíblicas para prometer ao
povo carros importados, mansões e outras benesses materiais.
2. Os
mártires e perseguidos (vv.36-38). A lista dos heróis da fé, registrada em
Hebreus 11, mostra, por si só, as falácias dos triunfalistas. Nela, encontramos
os que fizeram sucesso em nome do Deus de Israel, mas também os que sofreram
todas as espécies de perseguições e intempéries. Isso mostra que, para cada
crente, Deus tem um propósito específico.
3. A
decepção. Outra prova das falácias triunfalistas é que muitos dos que
acreditaram nessa mensagem estão decepcionados e, até revoltados, pois se
sentem enganados. A decepção não é com Deus e nem com a Sua Palavra, mas com os
promotores do triunfalismo.
III.
EXEGESE X EISEGESE
1.
Etimologia de “exegese”. O vocábulo “exegese” significa “exposição,
explicação”. O sentido de exegese é extrair, conduzir para fora como um
comentário crítico que analisa o texto no contexto original e o seu significado
na atualidade (Ne 8.8); não é simplesmente uma exposição textual. Os princípios
da exegese são conhecidos como hermenêutica, a ciência da interpretação. A
interpretação correta, por conseguinte, vem de dentro da Bíblia.
2. A
falsificação chamada eisegese. A interpretação peculiar e tendenciosa de um
texto bíblico vem de fora para dentro. As seitas são especialistas nisso. A
eisegese, portanto, é o inverso da exegese. A preposição grega eis, “para
dentro”, indica movimento de “fora para dentro”. Trata-se de uma maneira de
contrabandear para o texto das Escrituras Sagradas as crenças e práticas
particulares do intérprete. A serpente, no Éden, argumentou com Eva algo que
Deus não havia falado (Gn 2.16,17; 3.1). Satanás citou fora do contexto o salmo
91.11 (Mt 4.5,6). Isso é o que se denomina de eisegese. Da mesma forma, são os
artifícios atuais dos triunfalistas.
IV. O
ESTUDO DA PALAVRA DE DEUS
1.
Interesse pela ignorância. A Igreja Católica proibiu a leitura da Bíblia aos
leigos no Concílio de Toulouse, França, em 1222. Isso facilitou ao clero romano
a manipulação do rebanho durante séculos. Hoje, essa história parece
repetir-se, pois há campanha sistemática de alguns desses triunfalistas contra
o estudo da Palavra de Deus, pois querem ensinar algo que não está de acordo
com a Bíblia. A vontade de Deus, com relação à Bíblia, é que seus filhos leiam,
meditem e examinem as Escrituras Sagradas (Js 1.8; Sl 1.2; At 17.11).
2. O
cuidado com o formalismo. Nossos pioneiros jamais manifestaram ojeriza pelo
estudo da Palavra de Deus. Pelo contrário: eram os maiores incentivadores do
conhecimento bíblico. Eles criaram as nossas conhecidas escolas bíblicas de
obreiros para oferecer, a todos os interessados, o conhecimento das Escrituras
Sagradas (2Tm 2.15). No entanto, preocupavam-se eles com o formalismo e a
ordenação de ministros pelos simples fato de estes possuírem um diploma de
teologia, pois o ministério quem dá é Deus (Ef 4.11).
3. O
poder da Palavra de Deus. Muitos estão nesses movimentos com o propósito de
servir a Deus. É verdade que se converteram a Cristo mediante o trabalho dos
triunfalistas; isso ninguém pode negar. A Palavra é a semente (Mt 13.19), e a
mão enferma ou infeccionada que a semeia não compromete a germinação nem o seu
nascimento. Mas a verdade é que muitos lá estão por haverem recebido a promessa
de ficar ricos e de ter seus problemas resolvidos, e não como resultado do novo
nascimento em Cristo Jesus. Quem segue um evangelho errado pode também terminar
num céu errado.
Os
triunfalistas proferem seus ataques contra todos os que amam e estudam a
Palavra de Deus. Isto porque se sentem ameaçados; pois sabem que, dificilmente,
ficarão entre eles os que descobrirem a verdade na leitura e no estudo da
Bíblia.
“Formas pela quais o Intérprete pratica a
Eisegese
1)
Quando força o texto a dizer o que não diz. O intérprete está cônscio de que a
interpretação por ele asseverada não está condizente com o texto, ou então está
inconsciente quanto aos objetivos do autor ou do propósito da obra. Entretanto,
voluntária ou involuntariamente, manipula o texto a fim de que sua loquacidade
possa ser aceita como princípio escriturístico.
2)
Quando ignora o contexto, sob pretexto ideológico. Ignorar o contexto é
rejeitar deliberadamente o processo histórico e lingüístico que deu margem ao
texto. O intérprete, neste caso, não examina com a devida atenção os parágrafos
pré e pós-texto, e não vincula um versículo ou passagem a um contexto remoto ou
imediato. Uma interpretação que ignora e contraria o contexto não deve ser
admitida como exegese confiável.
3)
Quando não esclarece um texto a luz de outro. Os textos obscuros devem ser
entendidos à luz de outros e segundo o propósito e a mensagem do livro.
Recorrer a outros textos é reconhecer a unidade das Escrituras na correlação de
idéias. Por vezes, pratica-se eisegese por ignorar a capacidade que as
Escrituras têm de interpretar a si mesma.
4)
Quando põe a ‘revelação’ acima da mensagem revelada. Muitos intérpretes colocam
a pseudo-revelação acima da mensagem revelada. Quando assim asseveram, procuram
afirmar infalibilidade à sua interpretação, pois Deus, que ‘revelou’, autor
principal das Escrituras, não pode errar. Devemos ter o cuidado de não associar
o nome de Deus a mentira.
5)
Quando está comprometido com um sistema ou ideologia. Não são poucos os
obstáculos que o exegeta encontra quando a interpretação das Escrituras afeta
os cânones doutrinários e as tradições de sua denominação. Por outro lado, até
as ímpias religiões e seitas encontram falsas justificativas bíblicas para
ratificar as suas heresias. Kardec citava a Bíblia para defender a
reencarnação! Muitos movimentos sectários torcem as Escrituras. Utilizar as
Escrituras para apologizar um sistema ou ideologia pode passar de uma eisegese
para uma heresia aplicada” (BENTHO, E. C. Hermenêutica fácil e descomplicada.
3.ed., RJ: CPAD, 2005, pp.69-72).
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