Lider capadócio
Nascimento ca. 335 em Cesareia,
Capadócia
Morte após 394 em Níssa, Capadócia
Veneração
por Comunhão
Anglicana
Igreja Ortodoxa Oriental
Igreja Luterana
Igreja Ortodoxa
Igreja Católica
Festa litúrgica 10 de janeiro (Igreja Ortodoxa Oriental)
9 de março (Igreja Católica)
14 de junho, com Macrina (Igreja Luterana)
19 de julho, com Macrina (Comunhão Anglicana)
Atribuições Vestido como
bispo
São Gregório de Níssa (Cesareia, Capadócia:330 -395):
Teólogo, místico e escritor cristão. Padre da Igreja e irmão de Basílio Magno,
faz parte, com este e com Gregório Nazianzeno, dos assim denominados Padres
capadócios. É neto de Santa Macrina Maior, filho de Basílio, o Velho e irmão de
Santa Macrina, a Jovem.
1 Esboço biográfico
2 A obra teológica
3 Traços de um pensamento
3.1 Teologia e filosofia
3.2 A Trindade
3.3 Cristologia
3.4 Mariologia
3.5 Antropologia
3.6 Escatologia
4 Misticismo
4.1 A imagem de Deus no homem
4.2 Intuição de Deus
4.3 A ascensão mística
5 Referências
6 Ligações externas
Esboço biográfico
Educado pelo seu irmão mais velho, Basílio Magno,
Gregório de Níssa. Influenciado pelos trabalhos de Orígenes e Platão, foi
professor de retórica. Havia sido casado com Teosebeia. Desiludido com a função
de professor, tornou-se padre e eremita, sendo que sua mãe e uma irmã já haviam
abraçado a vida monástica. Após um período em que se dedicou à vida espiritual
em Neocesareia, foi consagrado bispo de Níssa, na Capadócia - actual Turquia -
em 371 e depois arcebispo de Sebaste. Personalidade benevolente e compassiva,
foi violentamente atacado pelos adeptos do arianismo. Esteve preso por ordem de
Demóstenes, governador do Ponto; escapou e foi deposto de sua sé episcopal, por
se recusar a entrar em contendas que em pouco abonavam à caridade cristã.
Depois da morte do imperador Valente, adepto desta corrente cristã herética,
reassumiu o cargo em 378. Participou activamente no Primeiro Concílio de Constantinopla,
realizado em 381. Combateu a heresia meleciana.
A obra teológica
Gregório de Níssa é, dos Padres capadócios, o mais
versátil e o que teve mais êxito. Os seus escritos revelam uma grande
profundidade de pensamento. Contudo, apesar de mostrar influências da retórica,
o seu estilo é muitas vezes pesado e sobrecarregado.
De entre as suas obras devem ser realçadas: "A
Grande Catequese"; "Diálogo com Macrina sobre a Alma e a
Imortalidade"; "Sobre a Virgindade"; "Sobre a Criação do
Homem"; "Comentário ao Cântico dos Cânticos e às oito
bem-aventuranças"; "Sobre o amor dos Pobres"; "Sobre a
Divindade do Filho e do Espírito Santo"; "A Vida de Moisés".
Traços de um pensamento
“ A Solicitude amorosa de Deus:
«Doente, nossa natureza precisava ser curada; decaída,
ser reerguida; morta, ser ressuscitada. Havíamos perdido a posse do bem, era
preciso no-la restituir. Enclausurados nas trevas, era preciso trazer-nos à
luz; cativos, esperávamos um salvador; prisioneiros, um socorro; escravos, um
libertador. Essas razões eram sem importância? Não eram tais que comoveriam a
Deus a ponto de fazê-lo descer até nossa natureza humana para visitá-la, uma
vez que a humanidade se encontrava em um estado tão miserável e tão infeliz?.»”
— Grande Catequese 15.
Gregório de Níssa é superior aos outros Padres capadócios
no que se refere à teologia especulativa e à mística. Depois de Orígenes, é o
primeiro a fazer uma exposição orgânica e sistemática da fé.
Teologia e filosofia
Gregório de Níssa foi, no século IV, aquele que mais
utilizou a filosofia nas suas reflexões. Tal como Orígenes, critica a
esterilidade da filosofia pagã, mas advoga um discreto uso dela, ao serviço da
teologia cristã, a fim de resgatar a sabedoria pagã (a que reconhece a
existência), e dar-lhe um fim elevado. Considera que a filosofia não pode ser
independente ou absoluta, pois deve harmonizar-se com a Escritura.
Gregório de Níssa recorre muito a filósofos pagãos, mas
mantendo sempre uma atitude cristã. Foi influenciado sobretudo por Platão, pelo
neoplatonismo e também por elementos estóicos. Era convicção sua que devia
utilizar a razão para procurar demonstrar os mistérios da Revelação. Contudo,
na impossibilidade de o fazer, considerava que a fé havia que ser transmitida
tal como fora recebida.
A Trindade
Para explicar este mistério, Gregório de Níssa recorre a
Platão, enveredando por uma explicação demasiado realista: compara a natureza
divina à humana, referindo que ao dizermos “homem” queremos referir a natureza
humana, de modo que não poderemos dizer “três homens”. Com isto, mostra admitir
a ideia platónica de que há uma só essência para muitos indivíduos, confundindo
o abstracto com o concreto. Para explicar a Trindade, defende que a ideia
universal é algo real.
A distinção das pessoas divinas dá-se somente nas suas
relações imanentes. A acção externa é una e comum às três pessoas. A distinção
dá-se no imanente, entre o que gera e o que é gerado. O Espírito Santo procede
do Pai através do Filho, contudo, o Espírito de Deus é também Espírito do Filho.
Gregório de Níssa vai mais além do que os outros no aprofundamento das relações
entre o Espírito Santo e Cristo.
Cristologia
Gregório de Níssa apresenta uma nítida distinção entre as
duas naturezas de Cristo. Não existe confusão quando consideramos cada uma
delas em si mesma. Assim, nem a carne existe desde sempre, nem o Verbo começou
a existir no fim dos tempos. Em relação aos restantes atributos de Cristo,
conserva-se esta distinção, podendo uns ser atribuídos à sua natureza humana e
outros à sua natureza divina. No entanto, Gregório de Níssa admite totalmente a
communicatio idiomatum: por causa da união, os atributos próprios de cada uma
das naturezas pertencem a ambas.
As duas naturezas continuam distintas mesmo após a
exaltação de Cristo. Mas, apesar destas duas naturezas, existe em Cristo uma só
pessoa.
Mariologia
Gregório de Nissa, como vimos, defende a realidade da
natureza humana e divina de Cristo. Ora, o Filho de Deus tomou a natureza
humana a partir da Virgem Maria. Assim, ela pode com propriedade ser chamada
Mãe de Deus (Theotokos).
Gregório de Níssa defende ainda a virgindade de Maria,
mesmo durante o parto, dizendo que nem o nascimento destruiu a virgindade, nem
a virgindade impediu o nascimento.
Antropologia
A antropologia de Gregório de Nissa caracteriza-se pela
descrição do Homem como o ponto de convergência da natureza e do espírito.
Criado e plasmado à semelhança de Deus, o Homem é um ser privilegiado pois foi
dotado pelo Criador, por Deus, de todos os bens. Criado para ser participante,
pela Graça, da divindade, é dotado de livre arbítrio que, ao mesmo tempo, o
dota de uma certa inconstância. Por o livre arbítrio ser criado, é igualmente
propenso para a mutabilidade, isto é, para a possibilidade de fazer o Homem
escolher o bem ou o mal ("A Grande Catequese" 6, 28 C). Para Gregório
o mal é, precisamente, esta escolha livre de optar contra Deus: não é
"algo", mas a inexistência de algo que deveria existir, a saber, a
decisão por Deus ("A Grande Catequese" 5, 24 C). Este estado não é,
porém, irreversível, pois - como aduz continuamente ao longo da sua Teologia -,
segundo a Biblia todo o Homem foi chamado a uma Nova Vida em Jesus Cristo que o
pode levar, ao cooperar com os dons deste, à restauração da semelhança com Deus
perdida pelo pecado. Para Gregório, Jesus só pôde salvar o Homem na medida em
que, como atestam incoativa, mas inequivocamente, os textos bíblicos, era
«verdadeiramente Homem e verdadeiramente Deus», pois «aquilo que Deus não
assumiu, não redimiu».
Escatologia
S. Gregório de Níssa, neste ponto, mostra-se bastante
fiel a Orígenes. Contudo, diferencia-se dele nalgumas doutrinas: nega ideias
como a da pré-existência ou transmigração das almas, e ainda que a sua união ao
corpo se deva a um castigo pelo pecado. Partilha com Orígenes, porém, a
doutrina da apocatástase. Para S. Gregório, as penas infernais nunca poderão
ser eternas, mas apenas temporárias, e têm um sentido de purificação. Apesar de
ameaçar, nos seus escritos, os pecadores com o fogo eterno, tal expressão tem para
ele o significado dum longo período de tempo, pois não pode conceber uma
separação definitiva entre Deus e as suas criaturas. No fim dos tempos, virá a
restauração completa, em que Deus será tudo em todos, e essa será a conclusão
de toda a história da salvação (enquanto para Orígenes era apenas um fim dum
ciclo, devendo repetir-se tudo de novo)
Misticismo
A teologia mística é, em S. Gregório de Níssa, um dos
pontos cimeiros. Ultimamente, foi dada a importância devida a esta dimensão da
sua obra, reconhecendo-se o seu contributo para a mística cristã e a sua
influência, directa ou indirecta, em muitos teólogos místicos posteriores.
A imagem de Deus no homem
À semelhança de variados filósofos, S. Gregório concebe o
homem como um microcosmos: ele exibe em si, na devida proporcionalidade, a
mesma ordem que encontramos no universo. Contudo, a sua maior grandeza está,
não em ser à imagem do universo, mas sim à imagem de Deus. O homem é ícone de
Deus, devido aos dons com que a sua alma está dotada: razão, livre arbítrio e
virtude. Por isso, o homem é superior a todas as criaturas do mundo, porque
nenhuma, senão ele, foi feita à imagem de Deus.
Intuição de Deus
A semelhança com Deus permite ao homem conhecê-Lo, pois,
como diziam os antigos (e S. Gregório partilha a ideia), o “semelhante é
conhecido pelo semelhante”. A imagem de Deus que existe em cada homem supera
todas as insuficiências da sua humana fragilidade e permite alcançar a visão
mística de Deus.
“A divindade é pureza, ausência de toda a paixão e
separação de todo o mal. Se em ti existe tudo isto, Deus está efectivamente em
ti. Por conseguinte, se o teu pensamento não tem mistura de mal e está livre de
toda a paixão e livre de mancha, és feliz pela tua clarividência, pois, por
estares purificado, podes perceber o que é invisível para os que não estão
purificados” (6º sermão sobre as bem-aventuranças)
Esta visão mística é antecipação da visão beatífica, “uma
divina e sóbria embriaguez”, graça que só pode ser dada a quem estiver disposto
a uma purificação total, a fim de encontrar Deus dentro de si.
A ascensão mística.A partir de tudo isto, é possível ao
homem subir ao Céu, para junto de Deus. Ao tornar-se semelhante a Deus, pela
prática das virtudes, o homem passa automaticamente à vida celeste, pois o Céu
não é um lugar físico. A escolha do bem comporta de imediato a posse do mesmo
bem; ao escolher Deus, o homem tem Deus consigo. E se tem Deus consigo, está em
Deus, onde Deus está. O convite divino é a passarmos para outro lugar.
fonte Wikipedia
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