“E puseram a arca de Deus em um carro novo e a
levaram da casa de Abinadabe, que está em Ceba; e Uzá e
Aio, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo” (2 Sm 6.3).
O mundo pós-moderno é pleno de inovações. Mas a
Igreja de Cristo não precisa de novidades, e sim, de constante renovação no
Espírito Santo.
O tema deste domingo é algo que estamos
vivenciando, de maneira tímida em alguns lugares e de forma mais ousada em
outros, não obstante, é necessário abordá-lo com embasamento bíblico. A igreja
não pode viver de inovações e modismos, mas precisa ser alimentada pela
verdadeira Palavra de Deus. Os modismos - como o próprio nome indica - vêm e
passam, mas a Palavra do Senhor dura para sempre (Lc 21.33; Jo 6.68; 17.77; Fp
2.16).
Modismo: Aquilo que é
transitório e está em moda, tendo, portanto, caráter passageiro.
Os modismos e desvios doutrinários constituem
grandes desafios para a igreja destes últimos dias, por contrariarem os
princípios doutrinários esposados nas Sagradas Escrituras. É dever de todo
crente sincero e temente a Deus, preservar a sã doutrina.
INOVAÇÕES DOUTRINÁRIAS
1. O restauracionismo. Trata-se de
uma inovação teológica que procura adaptar, aos dias atuais, os ensinos, ritos
e costumes do antigo concerto entre Deus e Israel. É o velho fermento dos
fariseus e judaizantes (Mt 16.11; 1 Co 5.6,7; Cl 5.9). Eis os seus
principais ensinos:
a) A guarda do sábado. Certos “mestres”
ensinam que os cristãos devem guardar o sábado. Essa prática é uma forma de
retorno ao judaísmo. A guarda do sábado é um “concerto perpétuo” somente para
Israel (Êx 31.14-17; Lv 23.31,32; Ez 20.12,13,20). Lembremos que Paulo
exortou os crentes da Galácia sobre o perigo das práticas judaizantes na igreja
(Gl 1.6-9; 3.1-3).
b) O ritual da circuncisão. Em Atos dos
Apóstolos, lemos que os cristãos judeus tentaram coagir os cristãos gentios a
circuncidarem-se, conforme a lei de Moisés. Segundo diziam, a salvação
dependia, exclusivamente, desse ato litúrgico (At 15.1). Condicionavam a
salvação em Cristo à observação dos rituais mosaicos, considerados nulos pelo
Novo Testamento (Hb 8.13; 9.15-17; cf. Mt 9.16,17).
Na Nova Aliança, não há nenhuma necessidade de os
crentes circuncidarem-se para serem salvos. A salvação é dada aos homens
gratuitamente, por meio da fé na graça redentora de Jesus Cristo. Vejamos o que
a Bíblia ensina sobre a circuncisão em Rm 2.28,29; 1Co 7.18,19; Cl 5.6;
6.15.
c) Festas de Israel. Certas igrejas são
ensinadas a celebrar as festas dos Tabernáculos (Lv 23.34; Dt 16.13), da
Colheita (Êx 23.16; 34.22) e da Páscoa. Tais celebrações, juntamente com outras
quatro mencionadas na Bíblia, eram consideradas sagradas e específicas do povo
judeu.
A igreja não precisa festejar a páscoa judaica, uma
vez que Cristo é a nossa páscoa (1 Co 5.7). Ela deve, sim, celebrar a Ceia
do Senhor, que é uma festa genuinamente cristã, e que comemora o Novo Pacto
inaugurado com o sangue de Jesus (1 Co 11.20,25; At 2.42).
2. O evangelho da prosperidade material.
Os adeptos deste ensino acreditam que todo crente deve ser rico e jamais
adoecer. Caso contrário, o cristão está em pecado ou não tem fé. Vejamos alguns
desses ensinos:
a) Autoridade espiritual. Essa falsa doutrina
afirma que o crente tem autoridade espiritual porque é a própria encarnação de
Deus, assim como Jesus o foi. Os proponentes desse ensino chegam ao absurdo de
dizer que o cristão não tem um “deus” dentro dele, mas ele mesmo é “um Deus”.
Todavia, aprendemos com a Bíblia que a autoridade que Deus concede a seus
servos deriva-se de sua Palavra, e não daquilo que os homens ensinam à parte
dela.
b) “Pobreza é maldição”. Assim como a riqueza nem
sempre é uma bênção (Mc 19.23; Pv 30.9), pobreza não é maldição (Mt
26.11; Mc 14.7; Dt 15.11; Jo 12.8). Segundo as Escrituras, os que desejam ser
ricos caem em tentação, laço e muitas concupiscências (1 Tm 6.6-10). Todavia,
devemos ser ricos de boas obras (1 Tm 6.18,19), pois Deus escolheu os
pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino (Tg 2.5).
c) Confissão positiva. Segundo os teólogos da
prosperidade, se um crente disser que no prazo de um mês conseguirá um carro
zero, isso terá de acontecer. Afirmam que para ser curado é só dizer que não
aceita a doença. De acordo com essa falsa doutrina, o cristão nunca deve orar
pedindo que se faça a vontade de Deus. No entanto, devemos seguir o exemplo de
Jesus (Lc 22.42).
3. A verdadeira prosperidade. Não há
problema em ser próspero. Na Bíblia, há várias promessas de prosperidade e
saúde. Além disso, precisamos ter muito cuidado para não trocarmos a teologia
da prosperidade pela teologia da pobreza. Ambas são nocivas à vida espiritual.
Vejamos algumas formas de prosperidade mencionadas na Bíblia:
a) A prosperidade espiritual. A prosperidade
espiritual deve vir em primeiro lugar (Sl 112.3; Sl 73.23-28). Entre outras
preciosas bênçãos, inclui: a salvação em Cristo; o batismo no Espírito Santo; o
nome escrito no Livro da Vida e a herança com Cristo (Rm 8.17; Ef 1.3).
b) Prosperidade em tudo. As bênçãos materiais
prometidas a Israel no Antigo Testamento estavam condicionadas à obediência a
Palavra de Deus (Dt 28.1-14), e não à “confissão positiva”. Da mesma forma, o
Senhor tem prometido muitas bênçãos à Igreja, porém, todas elas dependem de
nossa submissão às Sagradas Escrituras (Sl 1.1-3; Dt 29.29). Isso não
significa, necessariamente, que o cristão enfermo e que passe por necessidades
materiais seja infiel a Deus, pois a prosperidade não se restringe aos valores
terrestres e passageiros, mas contempla principalmente os valores eternos (Sl
37.5; Pv 30.7-9).
O restauracionismo e o evangelho da
prosperidade material são inovações perigosas que conduzem ao erro.
INOVAÇÕES E MODISMOS MINISTERIAIS
1. A síndrome do “carro novo” (2 Sm
6.1-3). Ao trazer a Arca do Senhor para Jerusalém, Davi não atentou para um
detalhe importante: nada poderia ser modificado ou inovado em relação ao modo
de lidar com aquele objeto sagrado. A despeito disso, a Arca foi colocada sobre
um carro de bois em vez de ser conduzida nos ombros dos sacerdotes. Por que
essa atitude, aparentemente normal, não teve a aprovação de Deus?
a) A Arca fora conduzida por pessoas não
autorizadas. Os que transportavam a Arca do Senhor não eram divinamente
chamados para esse ofício (Nm 1.47-52; 4.1-49). Eleazar, filho
de Abinadabe, é que havia sido separado para esse ministério (1 Sm 7.1b).
b) A Arca fora conduzida de forma errada. De
acordo com a orientação divina, a Arca deveria ser transportada pelos levitas
(Êx 25.14; Dt 31.25; Js 3.3), e não por meio de carros puxados por bois. Aquele
carro de bois não deveria fazer parte do cortejo sagrado (2 Sm6.6,7).
2. O ministério modernizado. Hoje, em
muitos lugares, há aqueles que pregam o evangelho, utilizando-se de “carros de
bois”, inserindo inovações e modismos contrários aos ensinos da Palavra de
Deus. Tais pessoas têm até boas intenções. Todavia, o que elas realmente
desejam é adequar o evangelho à cultura secular. Às vezes, não percebem que
estão misturando o sagrado com o profano.
Devemos obedecer aos mandamentos das Escrituras de
modo irrestrito, sem as muletas da inovação e dos modismos.
O episódio da transferência da Arca apresenta-nos
duas advertências: o perigo de querer fazer as coisas sagradas conforme os
modismos e o perigo da modernização ministerial.
INOVAÇÕES LITÚRGICAS
1. O evangelho do entretenimento. O
evangelho de Cristo não é entretenimento carnal, mas o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). O “evangelho do entretenimento”
exalta o homem e não a Deus. Prega-se o evangelho, mas sem as suas exigências;
ensina a graça, mas sem a cruz de Cristo (Sl 93.5).
2. A liturgia no culto a Deus. Através
dos salmos de adoração a Deus aprendemos que a liturgia deve ser reverente e
santa. Assevera-nos o salmista: "Adorai ao Senhor na beleza da santidade;
tremei diante dele todos os moradores da terra" (Sl 96.9; 1 Cr
16.29; Sl 29.2).
O culto deve ser oferecido a Deus de modo santo,
reverente e consciente. Não é para o entretenimento do homem, mas para adorar
ao Senhor.
CONCLUINDO
É necessário discernir em que
direção estamos caminhando. A Bíblia fala de dois caminhos, o da
bênção e o da maldição (Dt 11.26), e de duas portas, a estreita e a larga
(Mt 7.13). Cuidado com as inovações, pois o que a Igreja de Cristo
realmente necessita é de uma constante renovação no poder do Espírito Santo.
“Vento de Doutrinas. Muitas doutrinas e
práticas, em nossos dias, têm surgido depois de ‘divinas’ visões e revelações,
supostos arrebatamentos ao céu ou ao inferno - individuais ou em grupo -,
‘quedas de poder’, contatos com anjos ou espíritos, além de outras experiências
no mínimo estranhas.
Há crentes hoje sendo ‘levados em roda por todo
vento de doutrina’, porque não aprenderam a guardar a Palavra de Deus acima de
tudo (Ef 4.14). Em Marcos 16.17, está escrito: ‘E estes sinais seguirão aos que
crerem’. Porém, muitos têm agido como se Jesus tivesse dito: ‘E estes que
crerem seguirão aos sinais’. Mas Paulo ensinou, em suas epístolas,
que não devemos ir além do que está escrito (1 Co 4.6)”.
(ZIBORDI, C. S. Evangelhos que
Paulo jamais pregaria. RJ: CPAD, 2006. p.25.)
O ser humano tem a propensão de aceitar toda e
qualquer inovação. Tudo que foge a normalidade - uma vez que não nos tire de
nossa zona de conforto parece exercer atração irrestrita. Infelizmente, até
mesmo a Palavra de Deus é vilipendiada pela comunidade cristã que, ávida por
mudanças, acaba reproduzindo a dinâmica da sociedade consumista, anticristã e
ateísta.
Sejamos, porém, como os crentes de Beréia,
recebendo a Palavra de Deus de boa vontade, mas sem deixar de ser criteriosos
(At 17.11). Pois, alguns sem conhecimento e outros de forma premeditada a
torcem, reservando para si a perdição (2 Pe 3.16).
Bibliografia E. R. de
Lima
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