O erro que perturbava Colossos envolveu amplamente
elementos judeus e pagãos. Sem dúvida, os elementos judaicos eram a
ênfase aos sábados, à circuncisão, à lei, e, provavelmente, as referências à observância
de festivais e dias santos e luas novas; 3:11 e 4:11 também parecem
pressupor uma fonte judaica de desacordo.
Indubitavelmente, os elementos pagãos incluíam uma
"filosofia" que dependia de métodos plausíveis de raciocínio que se
baseavam na tradição humana, em vez de numa demonstração lógica e revelação. A
adoração de anjos (diferente da crença neles, como se apresenta em Jubileus,
Tobias e Ascensão de Isaías), provavelmente, expressa o temor pagão,
disseminado, de seres celestiais, espíritos elementares do universo. De
certa forma, o sol, a lua e as estrelas
eram corporificações materiais desses elementos, desses seres.
Governando a terra, eles podiam ser aplacados, especialmente em suas épocas
indicadas, por humilhação e devoções rigorosas.
A proibição de certos alimentos podia ser uma
característica judaica, mas a referência à bebida e à sua associação com
repressão ascética do corpo sugere um dualismo pagão, como também o fazem
expressões como "herança na luz", "domínio das trevas" e
"reino do Filho". A ênfase das visões também podia ser judaica (v.g.,
o livro de Enoque); mas aqueles de quem os heréticos se jactavam (2:18)
eram essencialmente sensuais, não espirituais, e pareciam expressar
significados ocultos que precisavam de interpretação. Isto faz lembrar as
revelações dadas em transe, e prometidas nas seitas pagas.
A ênfase dada pelos heréticos à sabedoria
assemelha-se a Provérbios, Sabedoria de Salomão e Siraque; mas o seu
exclusivismo (contraditado em 1:26 e ss.; 3:11) e as expressões de
menosprezo em 2:4,8 sugerem, pelo contrário, um intelectualismo gnóstico.
O gnosticismo era um clima de pensamento tão
disseminado quanto a teoria evolucionária o é hoje em dia. Provavelmente,
ele assumiu proeminência no primeiro século, ou antes, e alcançou o seu zênite
no segundo século. Combinava especulação filosófica, superstição,
ritos; semi-mágicos e algumas vezes um culto fanático e até obsceno.
As idéias mais comuns às suas muitas formas são: salvação mediante o
conhecimento (gnosis) — os iluminados são "cristãos avançados";
dualismo — tudo o que é espiritual é por natureza puro, tudo o que é
material é por natureza irremediavelmente mau, inclusive o mundo e o corpo.
Portanto, Deus está longe; a brecha entre ele e o mundo é preenchida por uma
cadeia de seres de espiritualidade descendente. O corpo, túmulo do espírito,
pode ser rigorosamente suprimido ou deixado à vontade indulgentemente, como
irrelevante para a vida do espírito puro.
Sendo extremamente intelectualista, e,
portanto, individualista, o gnosticismo cultivou uma elite iluminada, para
quem somente a salvação era possível, e desprezava todas as outras
pessoas. O antigo gnosticismo reinterpretou o cristianismo e procurou
"melhorá-lo", oferecendo-se para tornar os crentes "perfeitos";
mais tarde, o mais amargo antagonismo se desenvolveu.
Indícios adicionais de idéias gnósticas como estas,
em Colossos, são achadas em expressões que deviam tornar-se
"palavras-chave" de sistemas gnósticos posteriores: o
"segredo" ou "mistério", a "plenitude",
conhecimento (cinco vezes), e duas ou três outras. As negações gnósticas da
plena encarnação da divindade em Jesus encontra veemente réplica nos capítulos
1 e 2. Quaisquer sinais de "indiferentismo moral" gnóstico seria
bem respondido pelo conselho abrupto de 3:5ess.
Mas o fato de que elementos judaicos e gnósticos
devessem aparecer interligados em uma única heresia (veja 2:14 e s.)
tem constituído assunto para debate durante um século. Porque o gnosticismo a
respeito do qual mais informações temos data do segundo século d.C, e
era antijudaico, enquanto o judaísmo ortodoxo resistia veementemente a
toda a transigência em relação ao paganismo.
Portanto, algumas pessoas negam que haja em
Colossenses qualquer referência ao gnosticismo, dizendo que a idéia judaica de
que os anjos haviam sido mediadores da lei expressava apenas extrema reverência
pela lei e que as declarações da superioridade de Cristo em relação aos anjos
meramente enfatizavam a sua superioridade em relação à lei. Mas a adoração de
anjos, no capítulo 2, implica em mais do que isto; e a insistência sobre
a superioridade de Cristo em relação a "tronos, domínios e
autoridades" sugere que eles são seres pessoais, mais próximos do
politeísmo e do dualismo gnóstico.
Atos fala de judeus que praticavam a magia
(At. 13:6; 19:13 e ss.) e de Simão, o mago considerado, muito depois, como
o pai do gnosticismo. Algumas características da
heresia colossense são encontradas misturadas com judaísmo em
Gálatas 4:3,9,10, enquanto traços delas, em Timóteo, João, I João e Apocalipse,
revelam idéias gnósticas nas fraldas da comunidade judaica na Ásia Menor,
durante a segunda metade do primeiro século.
Em 1875, Lightfoot comparou o
erro colossense ao essenismo, que combinava observâncias
meticulosas do Tora judaico esabatismo rigoroso com
severo asceticismo monástico, adoração do sol e uma elaborada doutrina de
anjos. Abbott pensava que os falsos mestres de Colossos diziam ter percepção
exclusiva em relação ao mundo dos espíritos intermediários, mediante o favor
dos quais (dadasas requeridas austeridade e humilhação diante dos anjos)
novas revelações ("visões") podiam ser obtidas: "Isso pode ser
chamado de judaísmo gnóstico."
C. F. D. Moule (p. 31), semelhantemente,
fala de uma "teosofia" do tipo judaico-gnóstico. Bruce (p.
166) parece satisfeito com o fato de incipientes formas de gnosticismo terem
sido comuns dentro do judaísmo no primeiro século d.C.
Oscar Cullmann pensa que a heresia colossense tentara
misturar especulações filosóficas manchadas de gnosticismo com o evangelho,
pois formas preliminares de gnosticismo existiram, previamente, no judaísmo
helenizado. A. M. Hunter encontra fortes evidências disto no
Evangelho de João.
Guthrie cita, com aprovação cautelosa, W.
D. Davies em relação às "muitas características comuns entre a
heresia colossenses e a seita de Qumran", e R. M. Wilson, em relação
ao caráter dos Rolos como "pré-gnósticos". Qumran pensava
que ser "filho da luz" significava obediência absoluta à lei de
Moisés, em um legalismo que excedia até a tradição dos anciãos. Isto pode
iluminar 1:13; 2:14; 2:21 e ss.
Neste clima crescente de opiniões, não é
surpreendente que R. H. Fuller expresse redondamente a
opinião de que a cristologia de Colossenses demonstra tendências contrárias às
idéias gnósticas, que a "filosofia" que se lhe opõe é a mitologia
sincretista do gnosticismo, que as observâncias de culto referidas lembram
hierarquias gnósticas e que as proibições ascéticas se originam do dualismo
gnóstico.
Grande parte desta discussão se reduz claramente à
definição que damos ao gnosticismo. Certamente, os sistemas gnósticos
desenvolvidos, descritos e antagonizados pelos Pais da
Igreja foram um fenômeno do segundo século. Mas um gnosticismo
preliminar, umprotognosticismo, era uma atmosfera, um sincretismo variado e
amorfo, muito antes de se tornar um sistema racional; e as suas principais
idéias eram consideravelmente antigas.
Por fim, precisamos descrever o
erro colossense em termos genéricos, como uma versão da fé cristã
distorcida e obscurecida por concepções de tipo gnóstico, que se haviam
infiltrado na igreja por meio de um judaísmo já heterodoxo.
O seu efeito foi afrouxar o apego dos homens para
com o Cristo, de quem eles haviam sido ensinados anteriormente (2:19; cf.
2:6,7); obscurecer, e mesmo negar, a unicidade do Senhor que ascenderá,
o único mediador, através de quem eles haviam uma vez entrado
na liberdade. A resposta de Paulo é uma cristologia de proporções
verdadeiramente cósmicas. Ele insiste na plenitude da divindade habitando em
Cristo; na sua precedência e proeminência na criação sobre tronos, domínios e
principados (1:16); no seu senhorio sobre eles quanto à posição (2:10); e
na sua vitória sobre eles no Calvário (2:15). O seu argumento é que duvidar da
plenitude de Cristo é deixar de entender a plenitude, riqueza e suficiência da
vida cristã.notas Bibliografia O. White +www.ebareiabranca.com
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