FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA
TEOLOGIA
PENTECOSTAL.
O CASO ÉFESO INTRODUÇÃO
Considerando as celebrações do Centenário das Assembléias de Deus no
Brasil, que terão lugar em junho do próximo ano, mas cujos ecos já podem ser
ouvidos de norte a sul de nosso país;
Considerando o avanço do Movimento Pentecostal não somente no Brasil, mas
em todo o mundo. Hoje, aliás, segundo algumas estatísticas, a Comunidade de Fé
Pentecostal é o maior grupo cristão depois da Igreja Católica Apostólica
Romana;
Considerando a completude bíblico-teológica da doutrina que nos legaram os
pais-pioneiros. Uma doutrina que se acha em plena harmonia com as Sagradas
Escrituras e com os credos mais queridos e utilizados pela cristandade sadia e
conservadora;
Considerando, enfim, nossas responsabilidades teológicas e doutrinárias
depois de cem anos de uma história repleta de triunfos e conquistas em Cristo
Jesus;
Demanda-se que os teólogos e os membros do magistério eclesiástico das
Assembléias de Deus, nos congreguemos, a fim de refletirmos sobre os rumos que
vai tomando nossos mais caros e celebrados artigos de fé. Isto porque, ninguém
o ignora, nossa igreja convive com três distintas teologias: a oficial e
formalmente aceita pelos órgãos convencionais – bíblica e ortodoxa; a
acadêmica, construída em faculdades e seminários, alguns destes liberais e
comprometidos com o deus deste século; e a informal, praticada nos subterrâneos
da denominação por grupos, nem sempre referendados pelo ministério, que vem
dando generosos espaços a um misticismo extravagante, extrabíblico e que tem
causado constrangimentos aos pastores e líderes de nossa comunidade de fé.
No intuito de oferecer subsídios para o nosso aperfeiçoamento
teológico-doutrinário, buscarei o exemplo de uma igreja do Novo Testamento que
soube como aparelhar-se bíblica e teologicamente para enfrentar sérias crises
no campo da ortodoxia e da apologética. Refiro-me à Igreja de Éfeso. Ela
mostrou-se réproba em apenas num item: o amor. Mas, repreendida pelo Senhor
Jesus, soube como reaver sua excelência.
I. A FUNDAÇÃO DA IGREJA DE ÉFESO
Paulo chegou a Éfeso no final de sua segunda viagem missionária por volta
do ano 52 d.C. Mas foi durante a sua terceira viagem, que fundou uma igreja que
viria a ser reconhecida, em toda a cristandade primitiva, por sua excelência
doutrinária e teológica. Nessa igreja, o apóstolo permaneceu três anos.
A fundação da Igreja de Éfeso foi acompanhada de um grande avivamento
pentecostal. Eis alguns de seus sinais:
1. O derramamento do Espírito Santo. “Aconteceu que, estando Apolo em
Corinto, Paulo, tendo passado pelas regiões mais altas, chegou a Éfeso e,
achando ali alguns discípulos, perguntou-lhes: Recebestes, porventura, o
Espírito Santo quando crestes? Ao que lhe responderam: Pelo contrário, nem
mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo. Então, Paulo perguntou: Em que, pois,
fostes batizados? Responderam: No batismo de João. Disse-lhes Paulo: João
realizou batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que
vinha depois dele, a saber, em Jesus. Eles, tendo ouvido isto, foram batizados
em o nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o
Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam. Eram, ao todo,
uns doze homens” ( At 1.-7).
2. Proclamação ousada da Palavra de Deus. “Durante três meses, Paulo
freqüentou a sinagoga, onde falava ousadamente, dissertando e persuadindo com
respeito ao reino de Deus” (At 19.8).
3. Realização de sinais, milagre e prodígios. “E Deus, pelas mãos de Paulo,
fazia milagres extraordinários, a ponto de levarem aos enfermos lenços e
aventais do seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas
vítimas, e os espíritos malignos se retiravam” (At 19.11,12).
4. Expulsão de demônios e espíritos imundos. “E alguns judeus, exorcistas
ambulantes, tentaram invocar o nome do Senhor Jesus sobre possessos de
espíritos alignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega. Os que
faziam isto eram sete filhos de um judeu chamado Ceva, sumo sacerdote. Mas o
espírito maligno lhes respondeu: Conheço a Jesus e sei quem é Paulo; mas vós,
quem sois? E o possesso do espírito maligno saltou sobre eles, subjugando a
todos, e, de tal modo prevaleceu contra eles, que, desnudos e feridos, fugiram
daquela casa” (At 19.13-16).
5. Supressão do ocultismo. “Também muitos dos que haviam praticado artes
mágicas, reunindo os seus livros, os queimaram diante de todos. Calculados os
seus preços, achou-se que montavam a
cinqüenta mil denários” (At 19.19).
6. Crescimento e expansão do Evangelho. “Assim, a palavra do Senhor
crescia e prevalecia poderosamente” (At 19.20).
7. Desestabilização do império do mal. “Por esse tempo, houve grande
alvoroço acerca do Caminho. Pois um ourives, chamado Demétrio, que fazia, de prata,
nichos de Diana e que dava muito lucro aos artífices, convocando-os juntamente
com outros da mesma profissão, disse-lhes: Senhores, sabeis que deste ofício
vem a nossa prosperidade e estais vendo e ouvindo que não só em Éfeso, mas em
quase toda a Ásia, este Paulo tem persuadido e desencaminhado muita gente,
afirmando não serem deuses os que são feitos por mãos humanas. Não somente há o
perigo de a nossa profissão cair em descrédito, como também o de o próprio
templo da grande deusa, Diana, ser estimado em nada, e ser mesmo destruída a
majestade daquela que toda a Ásia e o mundo adoram. Ouvindo isto, encheram-se
de furor e clamavam: Grande é a Diana dos efésios! Foi a cidade tomada de
confusão, e todos, à uma, arremeteram para o teatro, arrebatando os macedônios
Gaio e Aristarco, companheiros de Paulo. Querendo este apresentar-se ao povo,
não lhe permitiram os discípulos” (At 23-30).
8. Éfeso, como igreja avivada e que vivia nas regiões celestes, não se
podia dar ao luxo de ser politicamente correta.
II. A ORGANIZAÇÃO MAGISTERIAL DA IGREJA DE ÉFESO
Éfeso logo se estabeleceu como uma igreja ministerialmente completa,
conforme podemos inferir desta passagem da carta que lhe enviou o apóstolo
Paulo: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros
para evangelistas e outros para pastores e mestres” (Ef 4.11).
Esta, por conseguinte, era a estrutura e a composição do corpo magisterial
da Igreja de Éfeso:
1. Apóstolos
2. Profetas
3. Evangelistas
4. Pastores e doutores
III. OBJETIVOS DO MAGISTÉRIO ECLESIÁSTICO DE ÉFESO
Como se vê, o magistério eclesiástico de Éfeso era completo, pois visava a
completude e a excelência dos santos que ali congregavam. Eis os objetivos
principais do magistério da Igreja de Cristo.
1. Aperfeiçoamento dos crentes. “Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos”
(Ef 4.12.a).
2. Desempenho do serviço cristão. “para o desempenho do seu serviço” (Ef
4.12.b).
3. Edificação da Igreja. “para a edificação do corpo de Cristo” (Ef
4.12.c).
4. Unidade da fé. “até que todos cheguemos à unidade da fé” (Ef 4.13.a).
5. Conhecimento pleno de Cristo. “e do pleno conhecimento do Filho de
Deus” (Ef 4.13b).
6. Perfeição cristã. “à perfeita varonilidade, à medida da estatura da
plenitude de Cristo” (Ef. 4.13.c).
7. Maturidade doutrinária e teológica. “para que não mais sejamos como
meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de
doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef
4.13).
IV. A EXCELÊNCIA BÍBLICO-TEOLÓGICA DA IGREJA DE ÉFESO
1. Instruída em todo o Conselho de Deus. “Portanto, eu vos protesto, no
dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos; porque jamais deixei de vos
anunciar todo o desígnio de Deus” (At 20.26,27).
2. Fundamentada na doutrina dos profetas e apóstolos. “edificados sobre o
fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra
angular” (Ef 2.20).
3. Assentada nos lugares celestiais. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas
regiões celestiais em Cristo” (Ef 1.3).
V. ÉFESO, UMA IGREJA APOLOGÉTICA
Com base na carta que o Senhor Jesus enviou à Igreja de Éfeso, através de
João, é-nos possível concluir fosse ela realmente uma comunidade apologética
reconhecida por sua excelência. Isto porque, tinha capacidade bíblica,
teológica e doutrinária para:
1. Não comungar com o mal. “e que não podes suportar homens maus” (Ap
2.2a)
2. Distinguir entre um apóstolo verdadeiro e um falso. “puseste à prova os
que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos” (Ap
2.2b).
3. Odiar as obras dos nicolaitas. “Tens, contudo, a teu favor que odeias
as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio” (Ap 2.6).
VI. AMEAÇAS CONTRA A IGREJA DE CRISTO
Além dos falsos apóstolos e dos nicolaitas, outras ameaças rondavam a
Igreja de Éfeso. Todavia, como esta havia se levantado também como uma
comunidade apologética de excelência, achava-se preparada para enfrentar
quaisquer perigos. Vejamos, pois, alguns dos piores inimigos da Igreja de
Cristo:
1. A teologia mundana, permissiva e venal de Balaão. “Tenho, todavia,
contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de
Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos fi lhos de Israel
para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição” (Ap
2.14).
2. A teologia místico-profética de Jezabel. “Tenho, porém, contra ti o
tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não
somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a
comerem coisas sacrificadas aos ídolos” (Ap 2.20).
3. A teologia judaizante. “Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de
Satanás, desses que a si mesmos se declaram judeus e não são, mas mentem, eis
que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei” (Ap
3.9).
4. A teologia da prosperidade de Laodicéia. “Assim, porque és morno e nem
és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes:
Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és
infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3.16,17).
VII. OS PECADOS DE UM TEÓLOGO ORTODOXO E CONSERVADOR
Apesar de sua postura eclesiástica, sempre correta e impecável, o pastor
da Igreja de Éfeso, alcunhado de anjo pelo próprio Senhor, já havia perdido a
excelência do primeiro amor. E, agora, pelo que nos denota o texto bíblico,
ainda que impecável na postura, mostra-se interiormente réprobo quanto ao amor
que deveria dedicar tanto a Cristo como a sua Igreja. É interessante observar
que, antes de repreendê-lo, Cristo elogia-o e enaltece-lhe as qualidades
teológicas e ministeriais.
1. O elogio de Cristo. “Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua
perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os
que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e
tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste
esmorecer” (Ap 2.2,3).
2. Repreensão de Cristo. “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu
primeiro amor” (Ap 2.4).
3. Diagnóstico da vida espiritual e ministerial do pastor de Éfeso. Embora
sua conduta fosse irrepreensível, espiritualmente o pastor de Éfeso havia involuído
tanto em sua comunhão com o Senhor, como em relação às motivações ministeriais.
Agora, já não passava de um acadêmico.
VIII. O ARREPENDIMENTO PARA UM TEÓLOGO
Espiritualmente, apesar de todas as suas excelências, o pastor da igreja
de Éfeso, jazia caído. Para que ele se reerguesse, era mister que se
arrependesse destes pecados:
1. Abandono do primeiro amor. “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o
teu primeiro amor” (Ap 2.4).
2. Abandono das primeiras obras. “volta à prática das primeiras obras” (Ap
2.5.b).
3. Amnésia espiritual. “Lembra-te, pois, de onde caíste” (Ap 2.5ª). Como
pôde um teólogo tão singular e brilhante haver esquecido algo tão elementar e indispensável
como o primeiro amor?
4. Menosprezo inconsciente da soberania de Cristo. Embora piedoso e
impecável quanto à sua postura pessoal e eclesiástica, o pastor da Igreja de
Éfeso, devido ao seu ativismo desamoroso, veio inconscientemente a menosprezar
a soberania de Cristo. Por isso a primeira coisa que lhe disse o Senhor foi que
Ele, o Cristo de Deus, era e é o cabeça e o soberano da Igreja: “Estas coisas
diz aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos
sete candeeiros de ouro” (Ap 2.1).
IX. O CONSELHO DE CRISTO PARA UM TEÓLOGO
Se até aquele momento, o pastor e teólogo de Éféso agastara-se a combater
o mal e a preservar a ortodoxia doutrinária, agora terá de ouvir os conselhos
que lhe dá o Senhor Jesus:
1. Arrependimento. “Arrepende-te” (Ap 2.5b). O arrependimento não é
recomendado apenas para o pecador. O homem de Deus, por mais santo e piedoso,
deve também arrepender-se de seus pecados e buscar aprofundar o seu
relacionamento com o Senhor.
2. A prática das primeiras obras. “e volta à prática das primeiras obras”
(Ap 2.5.c). Com uma folha de serviços substanciada de tantas realizações e
trabalhos, que obras poderia o pastor e teólogo de Éfeso ter negligenciado?
a) A evangelização. Uma delas, sem dúvida alguma, é a evangelização
pessoal e eclesiástica. Ainda que pastores, não podemos menosprezar esta
recomendação de Paulo: “Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as
aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu
ministério” (2 Tm 4.5). Um teólogo, para ser digno desse título, tem de ganhar
almas para Cristo, pois quem as arrebata das mãos de Satanás, sábio é (Pv
11.30). A evangelização tanto demonstra o fruto do Espírito em nossa vida, como
a sabedoria que nos concede o Senhor.
b) A prática do primeiro amor. Paulo, ao discorrer sobre a beleza do amor
cristão, considerou-o como o caminho sobremodo excelente: “E eu passo a
mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente” (2 Tm 2 Tm 12.31). Em
seguida, o apóstolo põe-se a cantar as excelências do amor que Jesus nos
esparge no coração por intermédio do Espírito Santo.
3. A ameaça de Cristo, o cabeça e o soberano da Igreja. Caso o pastor de
Éfeso não viesse a arrepender-se de seus pecados, teria o seu castiçal removido
da presença do Cristo: “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à
prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu
candeeiro, caso não te arrependas” (Ap 2.5).
CONCLUSÃO
Teólogos e mestres da Igreja de Cristo, confiou nos o Senhor uma tarefa
pessoal, intransferível e urgente:
1. Preservar a santíssima fé que, um dia, entregou-nos o Senhor Jesus
Cristo.
2. Aparelhar a Igreja, a fim de que esta erga-se também como uma
comunidade proclamadora, profética e apologética.
3. Ensinar às novas gerações as excelências doutrinárias do Movimento
Pentecostal.
4. Andar de amor em amor, lembrando-nos sempre de que sem amor, jamais
seremos reconhecidos como cristãos.
5. Glorificar a Deus em nosso ministério, em nossa vida e na vida dos que
nos cercam.
Fonte: Texto escrito para o Encontro de Reflexão Teológica do Movimento
Pentecostal - Assembleia de Deus em Campinas - SP
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