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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Apologética cristianismo em mundo novo


                     Cristianismo  em um mundo novo



Passados mais de dois mil anos o cristianismo têm conseguido reter os fundamentos estabelecidos pelo Senhor?
Charles Colson referindo-se à igreja da atualidade disse que “o inimigo está entre nós. Ele se infiltrou de tal modo em nossas linhas que muitos simplesmente já não conseguem distinguir entre o amigo e o inimigo, entre a verdade e a heresia”.
Hank Hanegraaf chamou isso de “um câncer que está devorando a Igreja”. Este câncer vem sendo alimentado por uma constante dieta que poderia ser chamada de “cristianismo das refeições rápidas” – belas na aparência, mas fracas em substância.
Dave Hunt denominou esse fato de efeito “cavalo de Tróia”. Segundo ele nem mesmo os mais importantes estudiosos das seitas têm conseguido reconhecer o cavalo de Tróia que penetrou na Igreja e em suas próprias fileiras e as está seduzindo por dentro. 
Inimigos em nossas linhas, câncer em expansão ou cavalo de Tróia são expressões que descrevem a situação da igreja atual, a qual tem deixado idéias do “mundo novo” adentrarem-se além das portas do “cristianismo velho”, efetuando mutações prejudiciais nos alicerces dos fundamentos cristãos e nas bases da fé evangélica; formando assim o que se pode chamar de “mundo velho” dentro de um “cristianismo novo”. Um trocadilho irônico, porém realista. Um jogo de palavras aparentemente imbecil, entretanto, condizente com os fatos contemporâneos.
Não se trata de uma simples brincadeira de vocábulos ou uma dança de sílabas no estilo “tal biscoito vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”. Pelo contrário, refere-se a uma perquirição de elevada importância fazendo-nos refletir acerca da situação do cristianismo frente ao mundo moderno.
De volta para o passado 
Passados mais de dois mil anos o cristianismo têm conseguido reter os fundamentos estabelecidos pelo Senhor? Em pleno século XXI a igreja moderna têm persistido na doutrina dos apóstolo? A igreja tem influenciado o mundo, ou o mundo tem influenciado a igreja? Esses são os questionamento oriundos do trocadilho em evidência.
Uma rápida olhadela no túnel do tempo é suficiente para notarmos que definitivamente muita coisa mudou desde que Cristo deixou as marcas das suas alparcas pelo chão empoeirado da Palestina. Muita diferença existe daquele contexto em que Paulo iniciou a pregação do evangelho mundo afora.
Para comprovar, retornemos ao tempo dos Apóstolos, especificamente no contexto de Atos 11:26: “E sudeceu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos”.
O texto bíblico faz referência à primeira vez que o nome cristão é utilizado, o qual é atribuído aos que seguiam as doutrinas de Cristo; àqueles que eram discípulos do Carpinteiro que transformou vidas, efetuou milagres e padeceu sobre a cruz.
Naquela época seguir o Filho de Deus e fazer parte do grupo dos cristãos não era a melhor opção em termos sociais. Quando alguém se dizia cristão é como se gritasse aos quatro ventos: “Aceitei a Jesus, que venham as perseguições, a fome ou a espada. Para Cristo vivo e por Ele morro”. Tinham a plena convicção de que haviam escolhido o caminho estreito e que haveriam de passar por dificuldades e enfrentar perseguições, por amor ao nome de Cristo.
De olho no presente 
O tempo passou, a perseguição se foi (não completamente, é claro) e o cristianismo expandiu. Graças damos a Deus pela obra que têm efetuado nos tempos modernos. A conversão e transformação de pessoas que outrora não tinham a mínima intenção de conhecerem a Cristo, agora, rendem-se aos seus pés. Vislumbra-se, então, o cumprimento das profecias bíblicas. O inicio do fim. 
No entanto, a evolução do cristianismo tem intensificado também o número de cristãos nominais. Pessoas que são levadas pela onda e arrebatadas pela emoção passageira. Surgindo, assim, cristãos que não sabem o valor de Cristo; não compreendem os valores do Reino e ignoram as escrituras sagradas. 
Cristãos que buscam vitória ao invés de santificação; bênçãos em detrimento de oração; prosperidade no lugar de humildade; movimentos à avivamento; superficialidade à consistência; shows ao invés de adoração. Pensam que igreja é ponto de encontro e que culto é evento social.
Na liderança aparecem novos profetas-ungidos-visionários. Administradores de igreja, no lugar de pastores de ovelhas. Gerentes eclesiásticos, ao invés de servidores do próximo. Componentes de organizações ao invés de membros de um organismo. Personal Trainner Espiritual ao invés de ministros do evangelho. Gostam de números, não de vidas. Amam o status, não as almas.
Observa-se continuamente o surgimento de Igrejas, ditas cristãs, que defendem o aborto, fazem apologia ao homossexualismo ou reivindicam um Cristo cósmico e de sexualidade duvidosa. Pregam um Deus complacente com os erros e fora dos padrões bíblicos. Reivindicam bênçãos e prosperidade. Requerem dinheiro, carros e mansões.
Nesse contexto atual, ainda, muitos lideres enveredaram-se pelos caminhos das estratégias de mercado para arrebanharem mais seguidores, ou aderiram ao movimento chamado “a igreja ao gosto do freguês” conforme denominou T. A. McMahon; que segundo ele tem invadido muitas denominações evangélicas, propondo evangelizar através da aplicação das últimas técnicas de marketing voltadas para os “consumidores espirituais”, enfatizando, desta forma, os benefícios temporais de ser cristão e colocando a pessoa do “consumidor” como seu principal ponto de interesse, cuja principal abordagem centra-se na gratificação imediata, nas bênçãos terrenas e no “sentir-se bem consigo mesmo”. Nesse compasso, as assim chamadas “megaigrejas” adicionam salas de boliche, quadras de basquete, salões de ginástica, auditórios para concertos e produções teatrais e franquias do McDonalds tudo para agradar os seus “clientes”. 
Cristianismo velho em um mundo novo ou mundo velho em um Cristianismo novo? 
Feitas essas considerações é perfeitamente possível verificar as diferenças existentes na pergunta-trocadilho proposta “Cristianismo velho em um mundo novo ou Mundo velho em um Cristianismo novo?”.
Cristianismo velho em um mundo novo é luz que resplandece nas trevas. Mundo velho em um Cristianismo novo são sombras que escurecem o interior do templos.
Cristianismo velho em um mundo novo é o sal que tempera a terra. Mundo velho em um Cristianismo novo é corrupção generalizada no seio eclesiástico.
Cristianismo velho em um mundo novo é o evangelho em expansão levando a mensagem da salvação a todas as criaturas. Mundo velho em um Cristianismo novo são ideologias humanistas introduzidas no âmago das boas novas.
Cristianismo velho em um mundo novo são discípulos que vivem (e morrem) pela causa do Mestre. Mundo velho em um Cristianismo novo são consumidores em busca de “produtos espirituais”.
Cristianismo velho em um mundo novo são os olhos voltados para a cruz de Cristo. Mundo velho em um Cristianismo novo é o coração voltado para os bens terrenos.
Cristianismo velho em um mundo novo é o Pedro que se arrepende. Mundo velho em um Cristianismo novo é o Judas busca lucro. 
Enfim. Cristianismo velho em um mundo novo é Deus no controle. Mundo velho em um Cristianismo novo é o homem no comando.


Quebrando o mito de que as faculdades são responsáveis pelo desvio dos jovens cristãos

"É preciso estabelecer urgentemente um diálogo franco com os jovens, ajudando-os a encarar os embates e dilemas do mundo atual"
No ano passado, o Grupo Barna divulgou uma interessante pesquisa [1] sobre os cinco mitos e realidades que levam os jovens a se afastarem das igrejas cristãs.
Os mitos apontados pela pesquisa são os seguintes: #mito 1: A maioria dos jovens perdem a fé quando deixam o ensino médio; #mito 2: Deixar a igreja é apenas uma parte natural da maturação dos jovens adultos; #mito 3: Experiências da faculdade são o fator-chave que levam as pessoas a desistirem; #mito 4: A atual geração de jovens cristãos é mais “biblicamente analfabeta; #mito 5: Os jovens irão voltar para a igreja como sempre fazem.
Por ora, gostaria de chamar a sua atenção para o #mito 3.
A realidade apontada pela pesquisa é que, embora a faculdade tenha uma grande influência na vida dos cristãos, ela não é necessariamente o motivo principal do abandono da fé, como muitos supõem. Como prova, o relatório enfatiza que muitos cristãos abandonam a fé bem antes de chegarem à faculdade, alguns inclusive antes dos dezesseis anos de idade.
Sobre este ponto, David Kinnaman, responsável pela pesquisa, diz que o problema decorre da inadequação da preparação de jovens cristãos para a vida além do grupo de jovens. Kinnaman observou que os resultados da investigação mostram que "apenas uma pequena minoria de jovens cristãos tem sido ensinada a pensar sobre questões de fé, vocação e cultura. Menos de um em cada cinco têm alguma ideia de como a Bíblia deve informar os seus interesses escolares e profissionais. E a maioria não dispõe de mentores adultos ou amizades significativas com os cristãos mais velhos, que possam guiá-los a responder perguntas que surgem durante o curso de seus estudos. Em outras palavras, o ambiente universitário não costuma causar a desconexão; apenas expõe o problema da fé-rasa de muitos jovens”.
Como se vê, a pesquisa ajuda a quebrar o velho mito de que um dos grandes fatores responsáveis pelo desvio de muitos jovens cristãos é a universidade. Ficou claro que o problema é anterior ao ingresso ao ambiente acadêmico, em decorrência da falta de preparo por parte dos jovens, tanto para conseguir responder com firmeza aos questionamentos dos fundamentos da fé, ou para fazer uma conexão entre a fé, a cultura atual e os interesses profissionais.
Esta deficiência dos jovens é ocasionada em grande pela inércia das igrejas, que quase nunca oferecem instruções e orientações básicas sobre apologética, cosmovisão cristã e vida profissional aos seus membros. Tanto é assim que outra pesquisa [2] realizada pelo Grupo Barna revelou esta lacuna. Na realidade dos Estados Unidos, apenas 38% dos pastores de jovens e 36% dos pastores titulares afirmaram discutir frequentemente os planos de faculdade com os jovens. No Brasil, acredito eu, este percentual é muito menor.
Será que não está na hora de nossos líderes estabelecerem um diálogo mais efetivo sobre estes temas com a mocidade, oferecendo instruções para que possam responder aos questionamentos da fé, com cursos específicos sobre apologética; ensinamentos que façam a conexão entre o mundo atual e a cosmovisão cristã e ofereçam conselhos sobre a vida universitária e a carreira profissional?
Não é possível que mesmo sabendo dos "bombardeios ideológicos" que os jovens cristãos recebem dentro dos centros acadêmicos, grande parte da liderança se mantenha indiferente, como se nada estivesse acontecendo.
Não. É preciso estabelecer urgentemente um diálogo franco com os jovens, ajudando-os a encarar os embates e dilemas do mundo atual, e a discernir o chamado de Deus em suas vidas, por meio de uma mensagem contextualizada do evangelho, que demonstre a relevância da mensagem bíblica para a sociedade atual.



2010 23:03
Razões e consequências da guerra cultural dos defensores do liberalismo

Artigo publicado no Mensageiro da Paz de Abril/2012

Estamos em meio a uma guerra silenciosa. Não se trata de um embate internacional, civil ou étnico, mas sim cultural. Um conflito travado entre os adeptos dos principais sistemas de ideias que movem a sociedade e que apresentam formas diferentes de ver o mundo, compreender a vida e definir o que é certo ou errado, justo ou injusto.
Por muito tempo, essa tensão social foi representada pelo embate entre o comunismo e o capitalismo, mas depois da queda do muro de Berlim tal disputa perdeu completamente o seu sentido. Como escreveu o ex-professor de Harvard, Samuel Huntington, em seu livro “O choque das civilizações”, no final da década de 80 o mundo comunista desmoronou e o sistema internacional da Guerra Fria virou história passada. Com isso, Huntington previu uma reconfiguração da política mundial seguindo linhas culturais e civilizacionais. Segundo ele, os conflitos mais abrangentes, importantes e perigosos não se dariam entre classes sociais, ricos e pobres, ou entre outros grupos definidos em termos econômicos, mas sim entre povos pertencentes a diferentes entidades culturais e religiosas. Huntington então vislumbrou um conflito entre as civilizações do mundo ocidental e o mundo islâmica.


O desafio das "pluriversidades"
O núcleo central da pós-modernidade é a antítese do pensamento cristão
Ao freqüentar uma universidade espera-se que a pessoa seja guiada a encontrar a unidade na diversidade ou, mais precisamente, a forma pela qual os diversos campos do conhecimento se encaixam para fornecer um quadro uniforme da vida, escreveram Norman Geisler e Frank Turek. Entretanto, apesar de ser uma tarefa nobre, os autores enfatizam que essa não é a busca da universidade atual. “Em vez de universidades, temos hoje as pluriversidades. São instituições que consideram todos os pontos de vista tão válidos como quaisquer outros, por mais ridículo que possa ser, com exceção do ponto de vista de que apenas uma religião ou visão de mundo possa ser verdadeira. Esse é o único ponto de vista considerado intolerante e fanático na maioria das universidades.”
Apesar das contradições, o fenômeno é crescente e vigoroso. A elite da cultura do Ocidente, após beber na fonte dos gurus pós-modernos como Nietzsche, Michel Foucault, Jacques Derrida, Richard Rorty e outros, está ditando as regras nos campi universitários, arrebanhando professores, seduzindo acadêmicos e, sobretudo, influenciando as principais mentes da atualidade, ou seja, os formadores de opinião.

Charles Colson e Nancy Pearcey traçam muito bem este cenário ao afirmarem que “uma geração de graduados das universidades tem saído com diplomas nas mãos e uma ideologia pós-modernista na cabeça, para trabalhar em escritórios executivos, centros políticos e nas salas editoriais de jornais, revistas e estúdios de televisão. E o resultado disso, dizem os autores, é o surgimento de um grupo de profissionais novo e influente que trabalha primordialmente com palavras e ideias - o que alguns sociólogos chamam de Nova Classe ou classe do conhecimento ou, mais pejorativamente, a classe falante; por controlarem os meios do discurso público, sua filosofia tem se tornado dominante.

Uma vez alocada na gênese da produção do conhecimento de hoje, a pós-modernidade influencia diretamente a cultura popular de massa, ditando tendências na arquitetura, nas artes, no cinema, na música e principalmente na mídia.

A partir deste cenário, não é difícil entrever o desafio do cristianismo dentro dos campi, exatamente porque, ao contrário da pós-modernidade, a cosmovisão cristã é alicerçada em uma verdade absoluta, revelada por Deus por meio das Escrituras Sagradas. A verdade é o fundamento do pensamento cristão; a viga mestra das suas doutrinas. Logo, quando a verdade desaparece, escreveu David Limbaugh, a autoridade do evangelho diminui, porque o evangelho diz tudo sobre a verdade. Para os cristãos, Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida, e ninguém vai ao Pai senão por Ele (João 14.6).
Sendo assim, o núcleo central da pós-modernidade é a antítese do pensamento cristão, razão pela qual a fé evangélica é constantemente atacada dentro do ambiente acadêmico. A vista deste contexto, Phillip Johnson observou que “cedo ou tarde o jovem descobrirá que os professores da faculdade (às vezes, até professores cristãos) agem conforme a suposição implícita de que as crenças religiosas são o tipo de coisa que se espera que a pessoa deixe de lado quando se dá conta de como o mundo de fato funciona; e que, em geral, é louvável ‘crescer’ afastando-se gradualmente dessas crenças como parte do processo natural de amadurecimento”.
Quando não é atacado pelo ceticismo dos antiteístas, o cristianismo é colocado em pé de igualdade com as demais religiões, cujas doutrinas devem ficar adstritas ao “mundo espiritual”, sem qualquer possibilidade de influenciar as discussões de ordem pública, porque a religião – afirmam – é uma questão de preferência, sem qualquer base objetiva de autoridade.
Por todos estes motivos, dentro de um contexto pós-moderno, a atuação dos cristãos nas universidades continua sendo uma grande necessidade, porque representa um campo de pregação do evangelho. Além disso, se os cristãos não se tornarem intelectualmente engajados, como alertou Willian Lane Craig, corremos o sério risco de perder nossa juventude , mantendo o cristianismo em um gueto espiritual.
Nesse mesmo sentido, o teólogo J. Gresham Machen, advertiu que, se a igreja perder a batalha intelectual em uma geração, a evangelização se tornará infinitamente mais difícil na geração seguinte. Ele prossegue: “Falsas ideias são o maior obstáculo à recepção do evangelho. Podemos pregar com todo o fervor de um reformador e, mesmo assim, sermos bem sucedidos apenas em ganhar poucas pessoas perdidas por aqui e por ali; e isso só tem acontecido porque permitimos que o pensamento coletivo da nação, ou do mundo, seja controlado por ideias que, pela força irresistível da lógica, impedem o cristianismo de ser reconhecido como algo mais do que uma mera ilusão inofensiva. Sob tais circunstâncias, o que Deus deseja de nós é que destruamos o obstáculo em sua raiz” .
A propósito, o cristão tem à sua disposição o arsenal suficiente para lutar contra os obstáculos e desafios que hoje se levantam contra a fé. Como escreveu o apóstolo Paulo: Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo. (2 Coríntios 10:4-5)


Relativismo e Cultura Cristã
Uma visão cristã das várias formas de relativismo

O vocábulo “relativismo”, procede de dois termos latinos: “relatīvus” e “ismo”. O primeiro que se traduz por “relativo”, “referente”, “respeitante”, “que indica relação”, procede do verbo “refērre” cujo sentido primário é “levar”, mas também “trazer”, “refletir”, “referir” e “relatar”. O segundo, “ismo”, é um sufixo que tanto pode derivar do grego “ismos” quanto do latim “ismo”, mas que ambos denotam sistema, ou doutrina filosófica.
Para compreendermos o relativismo é necessário esclarecermos o conceito de relação (já presente na definição do termo) como categoria do pensamento e conexão objetiva entre uma coisa e outra. Segundo o filósofo Edmund Husserl, o relativismo foi enunciado pela primeira vez por Protágoras de Abdera, filósofo pré-socrático, ao afirmar: “O homem é a medida de todas as coisas, do ser daquelas que são e do não ser daquelas que não são”. O sentido deste aforismo é que cada pessoa em particular depende das coisas, não de sua realidade física, mas de sua forma conhecida. Logo, o conhecimento é subjetivo, relativo e sensual, ou seja, “passa pelos sentidos”. A questão levantada é se o homem tem ou não capacidade de conhecer a íntima natureza das coisas e a lei moral absoluta. Se a expressão “o homem” tratar-se de cada ser ou do indivíduo, a forma de relativismo proposta é subjetiva, isto é, circunscrita à pessoa, ao individuo. Assim teríamos tantas verdades quanto são as pessoas. Deve-se observar, entretanto, que o relativismo apresentado nesta afirmação protagoriana é relacionada ao “relativismo do conhecimento ou gnosiológico”. Segundo Protágoras, o conhecimento racional é absoluto, enquanto o sensível, é relativo.

Vejamos o relativismo na filosofia aristotélica e contemporânea.

Na filosofia aristotélica são relativas as coisas cujo ser depende de outras. Nesse conceito, o relativo é oposto ao absoluto, isto é, que existe por si mesmo. Absoluto, portanto, é a Causa sem causa, enquanto o relativo é uma consequência proveniente de uma causa e que depende dela para ser explicada. O absoluto é autossuficiente, enquanto o relativo, não. O absoluto corresponde à existência de Deus e o relativo aos seres criados. Modernamente, no entanto, o relativismo é a teoria que nega a existência de qualquer teoria, regra, moral, ética ou qualquer outro tipo de verdade que assuma para si o postulado de absoluto, inequívoco ou transcendente.

O relativismo, como observamos nos conceitos anteriores, assume diversas categorias ou classificações. Entre elas destacamos:

Relativismo Cognitivo (Conhecimento relativo)
Segundo o relativismo cognitivo, gnosiológico ou do conhecimento, toda opinião é justificável em razão de suas respectivas evidências. Não existe qualquer questão objetiva as quais um conjunto de normas deva ser aceito. O ateu, por exemplo, está certo por negar a existência de Deus; o cristão está correto ao afirmar que Deus existe. O conhecimento do primeiro é materialista ou naturalista, o do segundo, teológico ou teleológico. No entanto, todas as duas opiniões são relativas. Não se pode assegurar qual das duas é absolutamente verdadeira. Mas, observemos que uma afirmação nega a outra. Portanto, as duas não podem estar certas. Uma está correta enquanto a outra está equivocada. Uma atesta de acordo com a verdade, enquanto outra, segundo a mentira. O relativismo, por conseguinte, é contraditório. De acordo com esta corrente, todas as formas de conhecimento são relativas ao mesmo tempo em que não explicam a toda realidade ou verdade, mas delas, apenas possuem partes ou relampejos.

Relativismo Ético (Ética relativa)
O relativismo ético acredita que nada é objetivamente mau ou bom, e que a definição de bem ou de mal, depende de um ponto de vista particular da cultura ou de um período histórico. Segundo os relativistas, a moral e a ética são determinadas por condições mutáveis, diferentes e contraditórios. Portanto, não se pode absolutizar o conceito de bom ou mau, bem ou mal. Não existe qualquer critério absoluto de moralidade ou ética; logo, qualquer norma ética e moral são arbitrárias e inconsistentes.

Relativismo Radical (Ceticismo)
O relativismo radical é a posição assumida pela corrente filosófica conhecida como “ceticismo”. Segundo o ceticismo o homem não pode chegar a qualquer conhecimento objetivo, quer nos domínios das verdades de ordem geral, quer no de algum determinado domínio do conhecimento. Para o cético, tudo é relativo, pois não é possível afirmar com certeza sobre qualquer possível verdade. 

Apesar da teoria relativista de nosso tempo, o cristianismo ensina os valores absolutos. Os princípios e valores cristãos são opostos às normas e valores do mundo. Em primeiro lugar porque nós, os cristãos, cremos na existência de um só Deus, cujas leis regem não apenas o Universo, mas nossas vidas, planos e vontade. A cultura mundana, no entanto, nega a existência de Deus, ou então vive como se Deus não existisse (Sl 14; 53). Os valores cristãos possuem, pelo menos, três características principais. São universais, absolutos e imutáveis, pois procedem da vontade do Deus Pessoal Absoluto, Imutável e Universal. Vejamos em pormenor.

Universal. Os valores cristãos são universais em função de estarem fundamentados na moral divina. Nosso Deus é um ser moral. Os atributos divinos atestam que o Senhor é santo (Lv 11.44; 1 Sm 2.2), justo (2 Cr 12.6; Ed 9.15), bom (Sl 25.8; 54.6), e verdadeiro (Jr 10.10; Jo 3.33). Portanto, Ele é o padrão moral daquilo que é santo – oposto ao pecado –, daquilo que é justo – oposto a injustiça –, daquilo que é bom – oposto ao que é mau, e daquilo que é verdadeiro – oposto a mentira. Tudo o que é puro, justo, bom e verdadeiro têm sua origem no caráter moral de Deus. Logo, os valores morais são universais porque procedem de um Legislador Moral universal.

Absoluto. Absoluto é aquilo que não depende de outra coisa, mas existe por si mesmo. Os valores cristãos são absolutos porque procedem de um Deus pessoal que não depende de qualquer outro ser para existir. Ele é eterno (Dt 33. 27; Sl 10.16); existe por si mesmo (Êx 3.14), e tem a vida em si mesmo (Jo 5.26). Deus também é absoluto porque não está sujeito às épocas (1 Tm 1.17; 2 Pe 3.8; Jd 25). Ele governa eternamente o Universo (Sl 45.6; 145.13), e, seu reinado é de justiça (Hb 1.8). Portanto, as leis santas e justas de Deus são absolutas, porque procedem de um Legislador Absoluto.

Imutável. Imutável é a qualidade daquilo que não muda. Os valores cristãos são imutáveis porque o Senhor Deus é imutável. Ele não muda (1 Cr 29.10; Sl 90.2), é o mesmo em todas as épocas (Hb 13.8; Tg 1.17). Suas leis se conformam ao seu caráter moral, pois Ele é fiel (2 Tm 2.13). Portanto, os valores cristãos são imutáveis porque estão fundamentados no caráter perfeito e imutável de Deus. 

Lembremos que:

A verdade é absoluta, mas o conhecimento que os homens possuem sobre ela pode ser relativo. Até fins da Idade Média, as autoridades eclesiásticas de então, acreditavam, fundamentado no livro de Josué, que a Terra era o centro do Universo. Outros, acreditavam que a Terra era plana e que os mares eram habitados por serpentes aladas, sereias e outros terríveis monstros. No Iluminismo e na época contemporânea, sabe-se que a Terra é que circula em torno do Sol e, não o contrário. Que a Terra é uma esfera e não um cubo. O que mudou? A verdade ou o conhecimento do homem sobre ela? A Terra não mudou de cubo para esfera ou passou a girar em torno do Sol. O nosso conhecimento que mudou, passando de falso para verdadeiro e, não a absoluta verdade de que a Terra é uma esfera e que circula ao redor do Sol. 

A verdade é absoluta, não existem verdades relativas. A verdade de uma sentença matemática é universal: 5 + 5 = 10, isto em qualquer lugar a todas as pessoas. A verdade é absoluta ou veraz. A palavra veraz é a raiz da palavra “veracidade”, que significa “verdade”, ou aquilo que é sempre verdadeiro, sem qualquer sombra de dúvida. Quando você aprendeu a simples verdade de que 2+2=4, o seu professor estava falando com uma autoridade veraz. Este é um fato que não tem que ser arbitrado, discutido ou justificado. Ele é verdadeiro. É uma declaração irrefutável de um fato matemático. Como no exemplo acima, qualquer coisa que é verdadeira possui autoridade pelo fato de ser verdadeira. O apóstolo Paulo reconheceu isto: “Porque nada podemos contra a verdade... “ (2 Co 13.8).

A verdade tem Autoridade. Rejeitar a verdade é incorrer em julgamento: “Para que sejam julgados todos os que não creram na verdade (...)” (2 Ts 2.12). Deus, o Pai, fala a Verdade: Deus sempre diz a verdade; portanto, as palavras dele têm autoridade veraz: “Deus não é homem, para que minta... porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria e não o confirmaria” (Nm 23.19). A Bíblia é a Autoridade Veraz: É uma autoridade maior que qualquer posição na Igreja, na Ciência ou na Filosofia. (cf. Is 8.1). Deus engrandeceu o seu próprio nome e a sua Palavra acima de todas as coisas (Sl 138.2).




Filosofia e Religião
A descrença religiosa dos filósofos
Na filosofia, a religião não desfruta de uma definição unívoca. Os filósofos ocidentais a definiram de modo distinto e controverso. Uns criticaram acidamente a religião enquanto outros a conceituaram de modo positivo.

Entre os que se opuseram à religião encontramos FEUERBACH, que a considerava uma invenção humana que se origina na fobia, no medo; KARL MARX, a definiu como "ópio para o povo"; uma invenção da sociedade capitalista para exploração e um instrumento de evasão para os oprimidos e de justificação para os opressores; COMTE, patrono do positivismo, ao descrever as vias do conhecimento humano (religiosa, metafísica e científica), classificou a religião como um estágio de ignorância, ultrapassada pela ciência; já NIETZSCHE, que afirmara a “morte de Deus”, mas nunca apresentou a certidão de óbito, considerava a religião um empecilho ao desenvolvimento do super-homem. A teoria resistiu até mesmo após a mudança ortográfica! FREUD criticou a posição dos filósofos anteriores e acreditava que a religião era um processo de sublimação de uma luta primordial entre os membros do clã doméstico. Para Freud, Deus é uma projeção da culpa familiar e a religião uma neurose obsessiva universal da humanidade, isto é, "um delito coletivo". HEIDEGGER, por sua vez, sustentava que a filosofia não pode falar positivamente a respeito de Deus e da religião.

O fato de os filósofos da descrença negarem a religião não reduziu o seu valor e muito menos sua presença na mundanidade. Eles talharam a lápide, convocaram a elegia fúnebre, mas o defunto nunca compareceu ao enterro!
Hoje, entretanto, o desafio não é o da negação, mas da relativização da religião e do sagrado difuso, hedonista e unidimensional.


Visão escatológica do progresso
Visão da história e progresso na obra dos filósofos e artistas
Paul Klee, o mestre da escola Bauhaus, deixou à posteridade uma iconografia expressionista intitulada Angelus Novus. A pintura, por suas características rústicas, ilude o observador desatento. Porém, não escapou à interpretação de um dos mais destacados filósofos da Escola de Frankfurt, Walter Benjamin.

Em sua obra crítica, Teses Sobre a Filosofia da História (1940), Benjamin interpreta Angelus Novus de Klee como "um anjo a ponto de afastar-se para longe daquilo que está olhando fixamente", com os olhos arregalados, boca aberta e as asas estendidas. De acordo com a hermenêutica de Benjamin, o "anjo da história" deve ter este aspecto. Para o filósofo, a visão que os homens têm da história, como um encadeamento de acontecimentos racionais e positivos é, na visão do anjo, uma catástrofe singular, que empilha incessantes escombros diante de seus pés. Conclui, "o que chamamos de progresso é esta tempestade".

O progresso intempestivo e inconsequente mergulhou o homem num lamaçal de insegurança e desconfiança nos projetos rotos da modernidade. O sucateamento das reservas hídricas, a ilógica ótica industrialista predatória, e o progresso de rapinagem que depreda as florestas colocando a vida humana e planetária em perigo, deixaram o homem pós-moderno incerto acerca de seu presente e do futuro de suas gerações.

 A visão pessimista da história e progresso humanos de Benjamin só pode ser comparada à Ópera dos três vinténs, de Bertolt Brecht, que afirma em um dos versetos: "Pensa na escuridão e no grande frio que reinam nesse vale, onde soam lamentos."

Um futuro lúgubre e gélido, onde se encontram a dor e o lamento, já manifestos no presente histórico. Na pena dos artistas e filósofos, a visão escatológica da história semelha-se às denúncias dos profetas e apocalíptica cristã. A constatação óbvia por todos os observadores nacionais e internacionais, tanto no passado como no presente, é que o nosso mundo está enfermiço: pela avareza, ingratidão e violência e, como consequência, o planeta e suas reservas naturais estão comprometidos pela ganância de seu inquilino.

Os cristãos, nós não somos contrários ao progresso. Mas nos opomos à cultura industrial rapinante que hipoteca o futuro das próximas gerações. Somos mordomos, administradores desse lindo e maravilhoso lar ofertado pelo Criador! Não se pode salvar a terra, se primeiro não sararmos o homem. O homem, para ser verdadeiramente curado das mazelas que o aflige, necessita ser curado definitivamente da doença ignorada pela ciência, não reconhecida pela psicologia e desprezada pela educação, o pecado. Não é possível salvar o planeta se primeiro o homem não for salvo!




Teologia e Reducionismo Antropológico
As dimensões da natureza humana: mundanidade e espiritualidade
O eminente teólogo holandês, Edward Schillebeeckx (1914-2009), diante das ameaças do secularismo e do existencialismo, buscou resgatar a dimensão religiosa do homem de seu tempo. Schillebeeckx defendia o conceito de que o homem é antes de tudo um ser-no-mundo, mas que transcende o mundo tanto no plano horizontal, como também em uma trans-ascendência, definida pelo teólogo como uma abertura para Deus.

Schillebeeckx lutava contra a indiferença religiosa de seu tempo que, fundamentada no existencialismo heideggeriano e no secularismo, reduzia o homem às dimensões física, lógica e mundana sem qualquer abertura para Deus. Em sua antropologia teológica entendia que o ser não pode ser reduzido à horizontalidade com o mundo, ao plano da mundanidade, limitado à concepção da filosofia do Dasein – ser-aí. Mesmo que ser-aí implique em uma abertura e possibilidade para o mundo, não pode o homem ser particularizado às dimensões terrenal e secular. O homem não se reduz à matéria e mundanidade, mas sublima a horizontalidade na verticalidade, entendida como uma abertura para Deus.

O existencialismo e secularismo afirmavam o fim da metafísica e a independência do homem de sua dimensão espiritual, o início do engajamento humano nas realidades existenciais e terrenas, e a indiferença religiosa. Schillebeeckx, no entanto, afirmava a existência e realidades terrenas (ser-no-mundo), mas enfatizava a trans-ascendência do homem sobre o mundo ao abrir-se para Deus. O homem não se reduz a ser-no-mundo, mas transcende os limites terrenos através de sua verdadeira identidade e dimensão espiritual.

Para compreendermos essa assertiva, permita-me o letor a uma breve digressão. Segundo a Bíblia, na criação entraram em processo duas importantes dimensões humanas: a mundanidade e a transcendência. Criado do “pó da terra” e posto em um paraíso terreno, o ser-aí estava aberto para se lançar compreensivelmente sobre o seu mundo; aberto à descoberta, cultura, ciência, existência e humores, entretanto, não estava reduzido à mundanidade.

A dimensão terrena foi criada a partir de matéria já presente na criação, tornando o homem um ser terrenal. Todavia, o fôlego de vida, a natureza e verdadeira identidade do homem, os elementos que o constituem diferente de todos os seres vivos, não foram criados por mediação (matéria existente), mas por imediação e doação graciosa. Deus soprou em suas narinas o fôlego de vida e o homem foi feito ser vivente – cônscio de si, do mundo (horizontalidade) e de Deus (verticalidade). Foi uma doação livre, espontânea. Deus tirou de si e doou ao homem. Criaram-se, por originação, a real identidade e natureza do homem. O homem foi criado aberto para o mundo e para Deus. Portanto, limitar o homem à dimensão terrenal é reducionismo antropológico.

Portanto, é necessário que a teologia cristã resgate a dimensão religiosa do homem e vença a indiferença religiosa de nosso tempo. A história encarregou-se de provar que as teorias filosóficas, psicológicas, sociológicas ou antropológicas, entre muitas outras correntes do pensamento humano, de fato, à parte das Sagradas Escrituras, não são capazes de responder as mais profundas indagações existenciais do homem moderno. O problema não se circunscreve à exterioridade: falta de moradias, de educação, de trabalho, de cultura, mas à interioridade, ao distanciamento do homem de seu Criador. Longe do Criador restaram ao homem apenas o vazio e a espera. O vazio em razão de perder o sentido da vida autêntica dada por Cristo, e a espera, porque vive na expectativa de amuletos tecnológicos e religiosos que preencham o vazio existencial. O vazio e a inquietação humana serão plenamente preenchidos e satisfeitos na relação certa com o Criador, através de Cristo – a pessoa divino-humana.

Em 1968 Schillebeeck foi alvo de processo da Congregação para a Doutrina da Fé em razão de sua defesa positiva e aproximação com o secularismo, mas isso é outra história.....
 
Discernimento em tempos modernos
O desafio de discernir os modelos culturais modernos
O termo discernir, do hebraico nākar  e do grego diakrinō, quer dizer "distinção”, “separação”, “julgar”; isto é, “fazer distinção”, “fazer separação”. O termo hebraico aparece pela  primeira vez em Gênesis 27.23, no contexto em que Isaque é enganado por Rebeca e Jacó. O vocábulo é traduzido por “não o conheceu” (RC) ou “não o reconheceu” (RA). Na passagem em apreço, o termo significa literalmente “discernir algo por alto”. Contudo, outros vocábulos hebraicos traduzem o sentido considerado: sāpat(Êx 18.16); shama (2 Sm 14.17); yada (2 Sm 19.35); nākar (Ed 3.13), entre outros. Todos com o sentido que diz respeito à percepção, compreensão e julgamento (Jó 6.30; Sl 19.12; Ez 44.23; Jn 4.11).

No grego do Novo Testamento, a palavra diakrinō aparece dezoito vezes com o sentido de “julgar”, “discernir”, “fazer distinção”, “separar”. O termo descreve tanto o discernimento das coisas naturais quanto das espirituais. Nas páginas de o Novo Testamento o termo, ao que parece, é citado pela primeira vez em Mateus 16.3 (RC) aludindo ao “discernimento” dos tempos e estações naturais. Porém, o vocábulo não se restringe apenas a essa observação, mas prolonga-se no versículo, pois a supressão do vocábulo na parte seguinte pressupõe o seu uso: “...sabeis diferençar a face do céu e não conheceis os sinais dos tempos?”. Portanto, há o uso combinado de ginōskete diakrinein, isto é, “sabeis discernir”, nas duas sentenças: “sabeis discernir a face do céus”; “não sabeis discernir os sinais dos tempos”. Confira, por exemplo, o texto da RA “Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos?”.

No texto de 1 Coríntios 11.31, o vocábulo é usado em relação ao autojulgamento do crente: “Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos [heautous diekrinomen], não seríamos julgados”. Trata-se, na verdade, da auto-análise que o crente faz de si mesmo e, mediante a qual, participa conscienciosamente da Ceia do Senhor. Todavia, há outros que assentam-se à mesa do Senhor sem discerni-lhe o corpo: “Porque o que come e bebe indignamente come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo [diakrinōn to sōma] do Senhor”. 

O discernimento pode manifestar-se também como um conhecimento sobrenatural que o Espírito Santo concede a determinados membros do Corpo de Cristo para julgar ou discernir os espíritos: “...e a outro, o dom de discernir os espíritos [diakriseis pneumatōn]...”. O discernimento de espíritos, aludido no presente texto, é um dos extraordinários dons que concede ao crente a capacidade de discernir os espíritos, julgar as profecias e as motivações cristãs, entre outras espetaculares manifestações. Embora certos membros do Corpo de Cristo possuam este dom, todos os crentes são desafiados a “provar se os espíritos são de Deus, porque  já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1 Jo 4.1). O termo joanino para “provar”, não é diakrinō, mas dokimadzō, isto é, “colocar em prova”, “testar” ou “examinar”. Não somos escusados de frisar, que este último procede da raiz dok, cujo sentido é “perceber”, “pensar”, “pressupor”, “crer”. Traz a ideia de estar convencido de que isto ou aquilo está errado ou certo. Também pressupõe chegar a certeza das coisas mediante a repetidos testes. Portanto, somos advertidos e orientados pela Palavra de Deus a julgar a procedência das motivações humanas, das profecias, dos movimentos de caráter messiânico entre outros.

O discernimento, portanto, é uma capacidade do crente maduro de acordo com Hebreus 5.14: “Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal”. O crente maduro, no original teleiōn, é aquele que tem as suas faculdades cognitivas exercitadas na piedade e doutrina cristãs. Este é capaz de separar, julgar, testar, distinguir ou discernir tanto o bem como o mal [diakrisin kalou te kai kakou]. O termo kalōs, traduzido neste texto por “bem”, trata-se da capacidade para discernir a qualidade das ações morais humanas que lhes confere um caráter moral correto, bom ou útil. Já, o vocábulo kakōs, significa literalmente “erradamente”, “impiamente”, “mal”, ou seja, tudo o que se opõe à virtude, à probidade, à honra. Nesse âmbito, o crente é desafiado a discernir a cultura, a mídia, a política, a educação, a religião, comparando e confrontando-os com os postulados das Sagradas Escrituras.

Vejamos em perspectiva: 

Mídia:
O crente é desafiado a discernir a indústria de entretenimento de seu tempo. Muitos produtores de filmes, novelas e outros tipos de programas de entretenimento não possuem qualquer tipo de compromisso com os valores morais e com as Sagradas Escrituras.

Política:
O cristão exerce dupla cidadania – celeste e secular. É desafiado, portanto, a viver como cidadão dos céus, membro da família dos santos, mas sem deixar de relacionar-se com o contexto social que lhe é próprio. Neste sentido, deve exercer sua cidadania secular, participando como cristão das responsabilidades sociais que lhe cabe. É necessário e  plausível que o cristão discirna entre os partidos políticos e candidatos que disputam entre si pelo voto da igreja. Que valores defendem? O que pensam seus candidatos sobre o aborto, a igreja, a família? Quais as motivações que os levam ao pleito? Essas questões são pertinentes aos desafios da igreja hodierna.

Entretenimento:
O homem é um ser lúdico. Se compraz em atividades que despertam sentimentos de bem-estar, quietude, divertimento. Mas, quais são os entretenimentos apropriados para os cidadãos celestes? Que tipo de ocupação lúdica merece o precioso tempo dos cristãos? O cristão é desafiado, diante da atual indústria de entretenimento, a discernir as atividades lúdicas de nosso tempo. Muitas denominações cristãs têm cometido equívocos e extravagâncias neste ponto.

Religiosa:
O contexto religioso atual exige que o crente exerça mais do que nunca, o modelo discernente de Daniel e de seus companheiros diante do politeísmo babilônico. Quando se trata de religiões politeístas, antropomórficas ou animistas, o cristão prontamente as rejeita. Mas quando está em voga uma pseudodoutrina, que mistura o sentido correto de um texto bíblico com uma aplicação errônea, ou vice-versa, muitos crentes sucumbem. Outros correm atrás de doutrinas e ensinos espetaculares, de novidades, de shows motivacionais que em sua maioria torcem a cruz de Cristo.  Imagens religiosas que choram, que soltam raios, falsos cristos e profetas, falsas campanhas espirituais que prometem o céu na terra, terrenos no paraíso, entre outras mentiras materialistas, desafiam o crente fiel.

Visto que o crente santo e fervoroso, aspira por uma experiência que o eleve acima da mediocridade espiritual tão comum em tempos pós-modernos, é ele, e não os indolentes, quem mais necessita do discernimento espiritual.
 fonte CPAD NEWS





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