Antes
de qualquer coisa é preciso dizer que a intenção deste artigo não é denegrir a
imagem de ninguém e nem difamar quem quer que seja, especialmente porque
acreditamos sempre que existe a possibilidade de arrependimento e mudança de
atitude diante de uma postura errada, principalmente porque, como cristãos,
devemos sempre esperar que haja o exercício do arrependimento, confissão e
perdão (2Cr 7:14).
Um dos
problemas mais comuns e recorrentes na igreja evangélica brasileira diz
respeito às falhas de interpretação bíblica, quando alguns textos são
distorcidos, ora propositalmente ora por imperícia, imprudência ou negligência.
De uma forma ou de outra, a utilização inadequada de um texto ou de uma
passagem bíblica tem levado muitas pessoas ao engano e ao erro. É exatamente
isso o que ocorre com as práticas dos atos proféticos, tão comuns entre aqueles
que seguem o Movimento da Fé.
Mas,
afinal de contas, o que é um ato profético?
René
Terranova, que foi ungido apóstolo, depois “paipóstolo” e Patriarca, por Morris
Cerrullo, tem se destacado como um dos principais líderes defensores do Ato
Profético no Brasil. Ele diz: “A linguagem profética traz ao reino físico a
existência do mundo espiritual. Na maioria dos seus discursos, Jesus falava de
uma forma espiritual e o povo entendia na forma física, porque lhes faltava
discernimento espiritual” (TERRANOVA, 2009) [1].
Ainda,
o grupo Reavivamento Europa dá a seguinte definição para Ato Profético:
Como o
nome já sugere são ações realizadas por homens, profetas de Deus com
determinado sentido profético, com intuito de profetizar com ações e símbolos.
São sinais que apontam para o reino espiritual e que tem conseqüências no reino
físico. São ações expressas em atitudes e palavras [2].
Então,
na visão dos seguidores do Movimento da Fé, o Ato Profético seria uma ação
envolta em simbologia que supostamente traria ao mundo físico as realidades
espirituais. Para isso, os defensores desse pensamento utilizam passagens
bíblicas, especialmente do Antigo Testamento, em que Deus manda que os profetas
utilizem símbolos para transmitir a Sua mensagem, a exemplo dos umbrais das
portas com sangue na noite da décima praga do Egito (Ex 12), a pregação sem
roupas de Isaías (Is 20:3-4), as sete voltas em torno de Jericó (Josué), a
canga de Jeremias (Jr 27:2), o cinto de linho enterrado às margens do rio
Eufrates (Jr 13:1-11), a botija de barro quebrada diante do povo (Jr 19:1-11)
etc.
Em
primeiro lugar, as ações praticadas pelos profetas bíblicos não traziam nada à
existência, como afirmam os seguidores do Movimento da Fé. Antes, tinham um
caráter didático de ensino, instrução e orientação para o povo de Deus, a
exemplo do profeta Oséias que casou com uma prostituta. A ação de Oséias,
ordenada por Deus, visava fazer o povo entender que havia se prostituído diante
do Senhor, mas que Ele, o Senhor, continuava fiel ao Seu povo (Os 3) buscando
tirá-lo da prostituição, assim como Oséias fez com aquela mulher. Essa passagem
bíblica nos mostra que a situação de Gômer, a prostituta, era a mesma situação
do povo de Israel. Esse meio didático utilizado por Deus só demonstra que o
povo estava em prostituição.
Essas
ações proféticas encontradas na Bíblia não trazem à existência coisas espirituais.
Elas tinham um caráter didático para corrigir o povo, ensinar o povo ou trazer
juízo sobre um povo. Por isso diz-se que tais ações fazem parte dos atos
salvadores de Deus na história.
Por
essa razão é que o escritor aos Hebreus declara:
Havendo
Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro
de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da
glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra
do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à
direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos
quanto herdou mais excelente nome do que eles. (Hb 1:1-4)
Em
segundo lugar, a interpretação bíblica é distorcida com os Atos Proféticos da
atualidade. Isso ocorre porque tais pessoas confundem o que é relato histórico
e o que é ordem direta.
Um
relato histórico é a descrição de algo que ocorreu no passado. Por exemplo, a
Escritura relata que Judas traiu Jesus. E mais, a Bíblia revela que o próprio
Jesus disse: “O que fazes, faze-o depressa” (Jo 13:27). Ainda, a Bíblia revela
que Deus disse à Moisés: “tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que
estás é terra santa” (Ex 3:5). Ainda, a Bíblia revela que Jesus “cuspiu na
terra e, tendo feito lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego” (Jo 9:6).
Ainda, a Bíblia revela que quando os sacerdotes entrassem na tenda da
congregação, ou quando fossem ministrar no altar, deveriam lavar as mãos e os
pés com água para não morrerem, e “isto lhes será por estatuto perpétuo, a ele
e à sua posteridade, através de suas gerações” (Ex 30:20,21). Ou seja, se um
relato bíblico e histórico é entendido como uma ordem para o povo de Deus e
deve ser visto em forma de Ato Profético, deveríamos, então, trair Jesus, pois
Ele mesmo disse “O que fazes, faze-o depressa”; deveríamos tirar as sandálias
toda vez que entrássemos na presença de Deus em oração, na igreja ou em uma
reunião espiritual com irmãos (Ex 3:5); deveríamos cuspir na terra e fazer
“lodo” para passar nos olhos dos cegos para os quais oramos (Jo 9:6);
deveríamos lavar as mãos e os pés todas as vezes que fôssemos oferecer algum
tipo de serviço ao Senhor, para não sermos mortos (Ex 30:20,21) etc.
O fato
é que esses atos, encontrados em sua grande maioria no Antigo Testamento, são
direcionados à um povo, evento ou situação específica, e a Bíblia está apenas
relatando o que houve. A Bíblia não está estabelecendo uma regra ou dizendo que
deveríamos reproduzir o ato. Ainda, o leitor da Bíblia deve observar o que o
texto está dizendo, para quem está dizendo e para quando está dizendo. Muitas
vezes algumas pessoas erram porque se apropriam de promessas que dizem respeito
ao povo de Israel no Antigo Testamento, como se isso dissesse respeito a nós
hoje. Portanto, uma coisa é a Bíblia relatar um fato, e outra coisa
completamente diferente é a Bíblia dar uma ordem direta e aplicável a nós hoje,
como essa:
Mas,
agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for
impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com
esse tal, nem ainda comais. Pois com que direito haveria eu de julgar os de
fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará.
Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor. (1Co 5:11-13)
Em
terceiro lugar, erram por ignorar a suficiência das Escrituras.
A busca
por Atos Proféticos é gerada pela sensação de que a Bíblia não é suficiente
para nos falar, para nos corrigir e nem para nos orientar, e muito menos para
suprir nossas reais necessidades.
O
apóstolo Paulo alerta seu discípulo Timóteo sobre isso:
Conjuro-te,
perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua
manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer
não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois
haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão
de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos
ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu,
porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um
evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério. (2Tm 4:1-5)
Exatamente
por essa razão, Jesus disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder
de Deus” (Mt 22:29).
O fato
é que tais pessoas sentem a necessidade de algo mais, de uma nova experiência.
Isso ocorre porque se afastaram dos princípios elementares da fé cristã e do
Sola Scriptura. Para estes a Sagrada Escritura já não é suficiente, pois buscam
algo mais. Contudo, esquecem que os atos dos profetas no Antigo Testamento,
normalmente, estavam relacionados com o afastamento do povo dos princípios
estabelecidos pelo Senhor, e como este povo estava negligenciando a Sagrada
Escritura, Deus usa de outro meio para lhes falar ao coração. Por isso, ao
buscar um suposto e hipotético Ato Profético estão apenas confessando
publicamente o quão distante se encontram da Bíblia Sagrada.
Em
quarto lugar, erram na contextualização e na aplicação dos princípios
bíblicos.
Um
exemplo que pode ser citado para ilustrar a questão é a armadura de Deus, em
Efésios 6:10-20. Ali, naquele Texto, o apóstolo Paulo utiliza o artifício da
ilustração para falar de verdades espirituais, e essas verdades são ilustradas
através de uma realidade física. Ou seja, Paulo usa a armadura romana para
falar da verdade da batalha espiritual, alicerçada no Evangelho da Paz (sandálias),
Justiça (couraça), Salvação (capacete), Fé (escudo) e a Palavra de Deus
(espada). Isso não quer dizer que o cristão tenha que usar uma armadura de
verdade, ou que tenha que ter miniaturas de armaduras em sua casa como uma
mandala, patuá ou amuleto, para estar protegido, pois isso seria superstição.
Da mesma forma, os atos encontrados no Antigo Testamento, por exemplo, não
precisam ser repetidos em nosso meio hoje, pois semelhantemente isso seria
superstição, ou no mínimo seria o mesmo que achar que um método pode substituir
ou provocar a ação do Espírito Santo, o que seria recair no erro do
pragmatismo. Mas, é exatamente isso o que tem acontecido, quando essas
“práticas” e “ações” são executadas com a finalidade de “bloquear”, “anular”,
“derrubar” ou “vencer” fortalezas espirituais. Isso é o mesmo que os espíritas
fazem ao usar sabonetes e sal grosso para tomar banhos de descarrego, ou usar
alguns pós com supostos poderes especiais que acreditam poder livrar as pessoas
de mal olhado, ou quando usam o pé de pinhão roxo para proteger suas casas e
comércios, ou quando fazem um despacho para, supostamente, fechar o corpo
contra maus espíritos. Tudo isso não passa de superstição, paganismo,
feitiçaria e macumbaria.
Além do
mais, é preciso destacar que não encontramos nenhuma ordem bíblica para que
façamos tais coisas. É preciso relembrarmos que uma coisa é a Bíblia relatar
algo que ocorreu, e outra, completamente diferente, é a Bíblia ordenar que
pratiquemos algo.
Por
isso, mais uma vez é preciso repetir o que o escritor aos Hebreus declara:
Havendo
Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas, NESTES ÚLTIMOS DIAS, NOS FALOU PELO FILHO, a quem constituiu herdeiro
de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da
glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra
do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à
direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos
quanto herdou mais excelente nome do que eles. (Hb 1:1-4)
Portanto,
no passado Deus utilizou alguns meios didáticos para ensinar o povo e
conduzi-los à verdade da chegada e da presença do Messias, Jesus Cristo. Mas, a
partir de Jesus o meio que Deus tem utilizado é o próprio Jesus, mediante a
ação do Espírito Santo, por meio da Sagrada Escritura. Se no passado Deus usou,
por exemplo, o Urim e o Tumim (Ex 28:30), hoje Ele usa a Sua Sagrada Palavra,
revelada aos Seus filhos.
Porque
a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de
dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e
medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não
há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e
patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar. (Hb 4:12-13)
Tu,
porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de
quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras,
que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda
a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir,
para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja
perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra. (2 Tm 3:14-17)
A
TRANSFERÊNCIA DE GERAÇÃO COMO UM ATO PROFÉTICO
A ideia
de “Transferência de Geração”, praticada pelo grupo Diante do Trono, é
caracterizada simplesmente como uma distorção e afastamento das Escrituras,
baseada em manipulações de datas.
Para
ver o vídeo da “Transferência de Geração” no youtube, clique AQUI.
O
argumento utilizado para se defender a “Transferência de Geração” é de que
existe uma promessa em Joel 1:3, em que são citadas cinco gerações, sabendo que
uma geração dura em torno de 40 anos. Além disso, afirmam que um país só é
considerado como tal após a sua independência, e como a independência do Brasil
só ocorreu no dia 7 de setembro de 1822, a promessa de Deus é conduzida até
meados dos anos 1980. Os defensores deste pensamento afirmam especificamente o
ano de 1982. Então, essa geração de 1982 seria a responsável por promulgar um
santo jejum, convocar uma assembleia solene, congregar todos os anciãos e todos
os moradores da terra para a Casa do SENHOR e clamar à Ele (Joel 1:14).
O
primeiro problema com o argumento utilizado é para quem foi
destinada a promessa de Joel 1:3. Para quem o Texto está falando?
O
contexto do livro de Joel diz respeito a devastação da terra por uma dupla
praga, de locustas [3] e seca. Então, a promessa de Joel é de que se o povo de
Israel voltar à adoração do Deus verdadeiro, a sua terra será restaurada, tanto
da praga dos gafanhotos como da seca. Portanto, essa profecia diz respeito às
pragas derramadas sobre o próprio povo de Deus por sua apostasia, na época de
Joel. Dessa forma, se o fundamento para a transferência de Gerações, praticada
pelo Diante do Trono, é o texto de Joel, então esse grupo está confessando
publicamente a sua apostasia, assim como foi com o povo do profeta Joel.
O
profeta Joel alerta o povo de que essa praga não deveria ser esquecida, e, por
isso, precisava ser relembrada às gerações futuras para que estas gerações
entendessem que ela era a representação de um juízo ainda maior no porvir. Se
esta praga foi terrível, o Dia do Senhor será muito mais (Jl 2:1-11). Portanto,
o que deveria ser lembrado às gerações futuras era o derramamento do juízo de
Deus, que não tem nenhuma relação com a suposta Transferência de Gerações.
O
segundo problema com o argumento utilizado é que não há
nenhuma evidência bíblica de que uma geração dure 40 anos, como essas pessoas
desejam.
Orlando
Boyer afirmou que a geração é a “duração média da vida de um homem” (1998,
p.292) [4], e Werner Kaschel e Rudi Zimmer afirmaram que uma geração é a
“sucessão de descendentes em linha reta: pais, filhos, netos, bisnetos,
trinetos, tataranetos (Sl 112.2; Mt 1.17)” (1999, p.79) [5], ainda afirmaram
que geração pode ser o “conjunto de pessoas vivas numa mesma época” (Idem).
Então,
o texto bíblico de Mateus 1:17 nos diz que de Abraão até Davi são 14 gerações,
em que temos um tempo médio de mil anos. Portanto, cada geração dura em média
71 anos. Ainda, o Salmo 90:10 nos diz que “os dias da nossa vida chegam a
setenta anos”, que é a duração média de uma vida. Portanto, aqui, uma geração
dura em média 70 anos.
Com
isso, não há nada que faça pensar que uma geração dure 40 anos, como pretendem
os defensores dos Atos Proféticos e da Transferência de Geração.
O terceiro
problema com o argumento utilizado é afirmar que um país só
é considerado como tal após a sua independência. Mas a promessa de Joel não tem
nenhuma relação com a formação de um país, especialmente porque o Israel étnico
sempre existiu como nação, preservando a sua cultura e religiosidade, até mesmo
quando não tinha um território, e mesmo durante os cativeiros. Ainda, este povo
só passou a ser reconhecido como um país em 1948, quando foi fundado o Estado
Moderno de Israel.
O
quarto problema com o argumento utilizado é tentar fazer uma
correlação entre esta profecia e o Brasil. Não existe nada no texto,
absolutamente nada, que dê chance para isso. Dessa forma, podemos ver
claramente como esses grupos distorcem a Bíblia deliberadamente e como fazem isso
contando sempre com a falta de conhecimento, falta de discernimento e falta de
entendimento do povo. Esse é um claro exemplo de como a Bíblia tem sido tratada
com desprezo e descaso por esses grupos.
Para
piorar a situação, ainda mais, utilizam os textos de 1Samuel 16:13 e 2Coríntios
3:4-6 para fundamentar a prática de Transferência de Geração. Vejamos os
textos:
Tomou
Samuel o chifre do azeite e o ungiu no meio de seus irmãos; e, daquele dia em
diante, o Espírito do SENHOR se apossou de Davi. Então, Samuel se levantou e
foi para Ramá. (1Sm 16:13)
E é por
intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos,
sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo
contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos
ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra
mata, mas o espírito vivifica. (2Co 3:4-6)
O texto
de 1Sm 16:13 relata o encontro entre Davi e Samuel, quando Davi foi ungido pela
primeira vez. Esse texto fala da chamada de Davi ao trono de Israel, mas não
pode ser visto como algo que se repete nos dias de hoje, especialmente porque o
texto diz que nesse momento, com Davi, o Espírito do SENHOR se apossou dele.
Contudo, na Nova Aliança o Espírito Santo se apossa do convertido no momento da
conversão. Por isso que o apóstolo Paulo nos diz que “em um só Espírito, todos
nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer
livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1Co 12:13). E diz
mais, pois “não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de
Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é
dele” (Rm 8:9). Portanto, não podemos afirmar que o fato de alguém ser ungido
com azeite nos dias de hoje é o princípio para a chegada do Espírito Santo e
nem para a Sua descida. Muito menos que é sinal da aprovação Divina.
O que
vemos com isso, mais uma vez, é a apropriação indevida de um texto que está em
outro contexto, dentro de outra Aliança e que é dirigido à outra pessoa. Um
texto que é descritivo e que é manipulado para parecer uma ordem direta ou
orientação Divina para sua repetição na atualidade.
O texto
de 2 Coríntios 3:4-6 é outro que tem sido muito distorcido e mal interpretado
por muitas pessoas. Essa passagem diz respeito a Nova Aliança, em que todo
membro é um sacerdote, diferente da antiga Aliança. Se na antiga Aliança havia
um grupo exclusivo de sacerdotes, na Nova Aliança todo membro é um ministro e
sacerdote, como pode ser visto aqui. Portanto, todo aquele que nasceu de novo é
um ministro da Nova Aliança, e esta Aliança não é da letra, ou seja, não é
igual àquela que foi gravada com letras em pedras (3:7), porque a letra mata
(3:6). Mas que letra é essa? Como já foi dito, é a letra que foi gravada em
pedras (3:7), isto é, a Lei que foi dada à Moisés. Esta letra que mata,
portanto, não tem nenhuma relação com o estudo ou pesquisa, mas com a Lei do
Antigo Testamento.
Nesse
sentido, Moisés fez algo que poderia ser visto como um ato profético, pois ele
passou a usar um véu sobre a face. Porém, o apóstolo diz que “não somos como
Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem
na terminação do que se desvanecia” (3:13), e que para alguns, “até ao dia de hoje,
quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo
revelado que, em Cristo, é removido” (3:14). Por isso, não precisamos de certos
artifícios, porque se essa letra em tábuas de pedra é vista como “ministério da
condenação”, devemos entender que “em muito maior proporção será glorioso o
ministério da justiça” (3:9), que é o que vivemos hoje na Nova Aliança. E este
véu, usado por Moisés, foi apenas um artifício utilizado por ele para que o
povo não percebesse que a glória de Deus estava desvanecendo. Portanto, o uso
desse tipo de prática, nos dias de hoje, é apenas uma tentativa de ludibriar o
povo, um artifício, para que este pense que a glória de Deus está presente ali,
naquele “rosto”.
Por
isso, não precisamos de Atos Proféticos e nem de unções descabidas.
Por
isso, podemos ver com clareza como esses grupos distorcem a Sagrada Escritura,
a exemplo da utilização de 2Coríntios 3:17: “Ora, o Senhor é o Espírito e, onde
está o Espírito do Senhor, ali há liberdade”.
Bem, a
liberdade quando é do Senhor nem dá lugar à carne (Gl 5:13), nem deturpa a
verdade do Evangelho (1Pe 2:16) e nem causa escândalo (2 Co 6:3). Já que esse
não tem sido o caso desses grupos só podemos concluir, biblicamente, que essa
liberdade que têm utilizado não provém de Deus e que mais uma vez o texto
bíblico utilizado não fundamenta as suas práticas.
Por
último, só para entender com mais clareza como a prática do Ato Profético é uma
distorção e como tem sido utilizada para fins antibíblicos, vejamos o que René
Terranova diz sobre a relação que existe entre Ato Profético, mapeamento de
genealogia e maldição hereditária:
A
Bíblia relata que os judeus davam muita importância à genealogia, ao
conhecimento de suas origens. Os judeus ortodoxos têm o costume de registrar a
genealogia de suas famílias. Nós poderíamos ter essa cultura, mas nossa
história é muito mal formada. Mal conhecemos a identidade de nossos pais, muito
menos do nosso povo e nem sabemos como retratar nossa árvore genealógica.Um dos
nomes de Jesus é Raiz de Davi, porque no contexto messiânico se Jesus não fosse
a Raiz de Davi, não seria o Messias (Mt. 1). Em certas ocasiões, poderemos
tentar uma conquista de território, mas nosso argumento genealógico poderá ser
empecilho por não termos respaldo local ou não termos um nome de família
honrado. Deus pode mudar esse quadro restaurando a nossa genealogia com um ato
profético de quebra de maldições dos antepassados. Procure pelo menos descobrir
quem foram seus familiares até a quarta geração que lhe antecedeu. Quando
resgatamos a nossa história genealógica conhecendo nossas origens, fica mais
fácil quebrar maldições hereditárias [6].
Contudo,
Colin Brown Lothar demonstra que esse tipo de pensamento não passa de uma
heresia, e que já era praticada por grupos anticristãos a exemplo do
gnosticismo, ebionismo e pelos defensores dos misticismos judaicos:
Genealogia
ocorre no NT somente em 1Tm 1:4 e Tt 3:9, e alude especificamente à prática de
pesquisar a árvore genealógica a fim de estabelecer a descendência. Segundo
qualquer exegese direta, aqueles que assim faziam somente podem ter sido
judeus, que, a partir de genealogias do AT e de outras, estavam propagando
todos os tipos de “mitos judaicos”, bem como, provavelmente, especulações
gnósticas pré-cristãs. É também possível que os ebionitas empregassem
argumentos semelhantes para atacarem a doutrina do nascimento milagroso de
Jesus que circulava na igreja cristã [7].
Portanto,
a única coisa que podemos perceber com tudo isso é que estamos simplesmente
presenciando o surgimento de heresia em cima de heresia e que não há nada novo
debaixo do sol (Ec 1:9).
FONTE
www.napec.org
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