Nos tempos do
Novo Testamento grego era a língua falada por todas as terras da história da
Bíblia. Os livros do Novo Testamento foram escritos em grego - grego não
clássica, mas a linguagem cotidiana falada por pessoas comuns. Desde o início,
as pessoas fizeram cópias de cartas que Paulo e os outros tinham escrito, bem
como cópias dos registros do Evangelho, e os enviou para as igrejas longe e de
perto. Tudo isso levou tempo, e muitos anos se passaram antes que todos os
escritos foram reunidos para formar o Novo Testamento completo tal como a conhecemos
hoje .
Manuscritos
gregos eram de dois tipos, aqueles escritos inteiramente em letras unciais (ou
de capital), e aqueles escritos em letras minúsculas (ou minúsculas).
Escrevendo em uncials foi mais comum nos séculos anteriores, mas foi
gradualmente substituído pelo script minúscula mais conveniente.
Erros dos
copistas são mais comuns nos manuscritos gregos do Novo Testamento que nos
manuscritos hebraicos do Antigo Testamento. Mas as variações nos manuscritos
gregos não afetam seriamente a nossa compreensão do que os escritores do Novo
Testamento escreveram. Há na existência mais de cinco mil manuscritos do Novo
Testamento grego (em parte ou no todo), e embora estes aumentam o número de
variações, elas também aumentam a possibilidade de eliminar os erros.
Os manuscritos
mais valiosas vêm do período do quarto para o sexto séculos dC, embora existam
os anteriores. Como regra geral, quanto mais cedo o manuscrito, o mais provável
é ser correto. Por outro lado, um manuscrito mais recente poderia ser mais
preciso, se ele foi copiado de um manuscrito muito mais cedo e mais confiável.
Uma maneira de verificar a exatidão dos manuscritos é compará-los com as
primeiras traduções do Novo Testamento, ou com citações do Novo Testamento nos
escritos dos primeiros autores.
Como eles
estudam todas essas evidências, os especialistas são capazes de avaliar o valor
de manuscritos e organizá-los em grupos de acordo com suas características
comuns. Tornou-se evidente que os diferentes grupos de manuscritos pertenciam
originalmente a diferentes regiões (por exemplo, Roma, Alexandria, Bizâncio).
Isto dá estudiosos a indicação dos tipos de manuscritos que estavam em uso em
várias fases da história da igreja primitiva, e assim ajuda no sentido de
determinar a formulação exacta da escrita original.
Um texto
confiável
Usando todo o
material disponível para eles, os especialistas nos processos descritos acima
podem preparar edições precisas do hebraico o Antigo Testamento eo Novo
Testamento em grego. Estes livros são chamados de textos. As traduções modernas
da Bíblia são feitas a partir destes textos, não dos manuscritos antigos. A
maioria dos manuscritos são cuidadosamente preservados em museus ou locais de
aprendizagem em todo o mundo.
Sem dúvida, uma
vez que existem novas descobertas e novos insights sobre linguagens e práticas
antigas, haverá novas revisões do texto hebraico e grego. Qualquer alteração
será, provavelmente, apenas menor, como a história tem mostrado que as
alterações feitas no texto através de novas descobertas têm sido relativamente
poucas e sem importância. Apesar dos danos aos manuscritos antigos através de
desgaste, mau uso, erros dos copistas e oposição do governo, as Escrituras
foram preservadas, essencialmente, como eram quando primeiro escrito. Deus preservou
sua Palavra, de tal forma que nenhum ensinamento importante é em qualquer lugar
afetado.
fonteEvangélica
Dicionário de Baker de Teologia Bíblica
O Verdadeiro Tesouro dos Manuscritos do Mar Morto
“A lei do Senhor
é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos
símplices [...] são mais desejáveis do que ouro, [...] em os guardar há grande
recompensa [...] Para mim vale mais a lei que procede de tua boca do que
milhares de ouro ou de prata” (Salmo 19.7,10-11; Salmo 119.72).
Muhammad estava
agitado e inquieto. Sua cabra travessa tinha sumido. Ao vaguear sem rumo longe
de seu rebanho e de seus amigos, o beduíno chegou a uma caverna que ficava em
posição elevada e dava frente para a costa noroeste do Mar Morto. Por pensar
que o animal desgarrado tivesse se perdido dentro da caverna, o beduíno começou
a jogar pedras pela entrada da gruta a fim de fazê-lo sair lá de dentro. Quando
ele ouviu o ruído das pedras que batiam em peças de cerâmica, ficou intrigado.
Será que lá dentro da caverna poderia haver um tesouro escondido? Com toda a
empolgação, ele correu até a entrada da caverna, porém, no interior dela não
encontrou ouro, nem prata, apenas jarros grandes e antigos ao longo das
paredes, os quais continham rolos de pergaminhos despedaçados.
Ele pensou:
“pelo menos os pergaminhos de couro vão servir para fazer correias e tiras de
sandálias”. Lamentavelmente, Muhammad não conseguiu perceber a real importância
daquele momento. A teimosia de sua cabra o levara àquela que pode ser
considerada, nos tempos modernos, a maior descoberta de manuscritos: uma
incalculável reserva entesourada da Palavra escrita – os Manuscritos do Mar
Morto.
Beduínos não
marcam o tempo como os ocidentais, mas assemelham-se aos seus antepassados; sua
concepção de tempo e momento está relacionada com outros acontecimentos. Assim,
não se pode datar essa descoberta com precisão. Após uma revisão, a nova data
para a descoberta do primeiro rolo de manuscritos é a de 1935 ou 1936. A partir
de então até o ano de 1956, muitos outros manuscritos foram achados.
Acredita-se que esses manuscritos sejam de datas diferentes, as quais variam do
século III a.C. até o século I d.C.
A maior parte
deles foi descoberta em cavernas de formação calcária em Qumran, situadas exatamente
a noroeste do Mar Morto. A maioria dos pergaminhos é escrita em hebraico; o
restante deles é escrito em aramaico e grego. Foram achados mais de 900
documentos, que correspondem a 350 obras distintas em suas múltiplas cópias.
Muitos dos escritos bíblicos e extrabíblicos estão representados em
pequeníssimos fragmentos. Só em uma caverna foram encontrados 520 textos, na
forma de 15 mil fragmentos. Como se pode imaginar, juntar todos esses pedaços
de pergaminho na sua respectiva posição para que se faça a tradução tem se
constituído numa tarefa gigantesca.
A descoberta dos
Manuscritos do Mar Morto confirma aquilo que as pessoas que crêem na Bíblia
sempre souberam, ou seja, que a Bíblia, tal qual a temos na
atualidade, é um
texto que passa nos testes de fidedignidade. Na foto: as cavernas de Qumran.
A descoberta dos
Manuscritos do Mar Morto confirma aquilo que as pessoas que crêem na Bíblia
sempre souberam, ou seja, que a Bíblia, tal qual a temos na atualidade, é um
texto que passa nos testes de fidedignidade. Apesar dos ataques contra a
Bíblia, a Palavra de Deus permanece para sempre: “O caminho de Deus é perfeito;
a palavra do Senhor é provada; ele é escudo para todos os que nele se refugiam”
(2 Samuel 22.31).
Sempre houve
pessoas que questionaram a confiabilidade das Escrituras. Uma vez que o texto
foi copiado e re-copiado ao longo dos séculos, os críticos alegam que é
impossível saber-se com certeza o que os escritores bíblicos escreveram ou
queriam dizer originalmente. Os Manuscritos do Mar Morto invalidam tal hipótese
ou suposição no que se refere ao Antigo Testamento. Foram achadas entre 223 e
233 cópias das Escrituras Hebraicas, as quais foram comparadas com o texto
atual. O único livro do Antigo Testamento que não foi encontrado nessa
descoberta é o livro de Ester. É possível que ele esteja oculto numa caverna
ainda não identificada de algum lugar isolado.
Antes dessa
descoberta, os manuscritos mais antigos das Escrituras Hebraicas datavam do
século IX d.C. ao século XI d.C. Tais manuscritos constituem aquele que é
chamado de Texto Massorético, termo este originado da palavra hebraica masorah
que significa “tradição”. Os escribas judeus de Tiberíades, denominados
massoretas, procuraram meticulosamente padronizar o texto hebraico e sua
pronúncia; a obra que realizaram ainda é considerada uma referência confiável
nos dias de hoje. Os manuscritos de Qumran são, no mínimo, mil anos mais
antigos que o Texto Massorético. Na realidade, esses manuscritos são até mesmo
mais antigos que a Septuaginta, uma tradução grega do Antigo Testamento
elaborada no Egito durante o período de 300 a 200 a.C.
Vasos
encontrados em Qumran.
Comparações
minuciosas têm sido feitas entre o Texto Massorético e os Manuscritos do Mar
Morto. Encontraram-se diferenças insignificantes de ortografia e gramática. Os
críticos e céticos em relação à Bíblia ficaram surpresos quanto à maneira pela
qual o texto daqueles manuscritos se assemelha ao texto atual. Eles não
encontraram nenhuma objeção evidente às principais doutrinas das Escrituras Sagradas.
A parte bíblica da literatura descoberta em Qumran confirma o estilo de
expressão verbal e o significado do Antigo Testamento que temos em nossas mãos
na atualidade: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida
eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (João 5.39).
Além das cópias
das Escrituras do Antigo Testamento, as cavernas do Mar Morto também nos
proporcionaram outras obras escritas. Esses documentos descrevem o estilo de
vida e as crenças da misteriosa comunidade que viveu na região de Qumran.
Embora não sejam escritos bíblicos, são registros valiosos que possibilitam a
compreensão do contexto de vida e da cultura na época do Novo Testamento.
Infelizmente os estudiosos dão mais atenção a essas obras de menor relevância do
que às Escrituras, ainda que os textos bíblicos sejam mais importantes para os
problemas da vida, pois o legítimo plano de Deus para a redenção da humanidade
só se encontra no texto da Bíblia.
Uma Exatidão
Maravilhosa
O grande rolo de
Isaías, encontrado quase intacto em Qumran.
O Manuscrito do
Livro [i.e., rolo] de Isaías encontrado na caverna 1 da região de Qumran
oferece um sensacional exemplo da transmissão exata do texto na tradução.
Acredita-se que esse extraordinário manuscrito date de cem anos antes do
nascimento de Jesus Cristo. Foi um manuscrito semelhante a esse que Jesus
utilizou na sinagoga da aldeia de Nazaré, quando leu a seguinte passagem das
Escrituras: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para
evangelizar os pobres” (Lucas 4.18; Isaías 61.1). Ele continuou a leitura até
determinado ponto. Em seguida, devolveu o livro [i.e., rolo] ao assistente da
sinagoga e se sentou. Enquanto todos tinham os olhos fitos em Jesus, Ele
declarou que aquela porção das Escrituras acabara de se cumprir diante dos
ouvintes. Dessa forma, Jesus afirmou claramente ser Ele mesmo o Messias de
Deus, vindo ao mundo para conceder a salvação a todo aquele que O receber.
A mesma passagem
bíblica traduzida diretamente a partir do Manuscrito do Livro de Isaíasdescoberto
em Qumran (o qual é cerca de mil anos mais antigo do que o manuscrito hebraico
[i.e., o Texto Massorético] no qual se basearam as outras traduções), é
praticamente idêntica: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque YHVH
[N. do T., o tetragrama sagrado em hebraico que se refere ao nome supremo de
Deus: Yahveh ou Javé] me ungiu para pregar as boas novas aos quebrantados”. A
integridade da reivindicação de Cristo, conforme está escrita em nossas
Bíblias, se confirma.
É fascinante que
os manuscritos achados com mais freqüência em Qumran, sejam completos, sejam na
forma de pequenos fragmentos, referem-se aos mesmos livros da Bíblia geralmente
citados no Novo Testamento: Deuteronômio, Isaías e Salmos. Tal fato desperta um
interesse ainda maior à luz das próprias palavras de Jesus concernentes às
Escrituras Hebraicas:“A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu
vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim
está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lucas 24.44).
Muitos outros
exemplos poderiam ser citados. O fato principal acerca da Bíblia e desses rolos
de manuscritos resume-se naquilo que um grande expositor das Escrituras, o
inglês G. Campbell Morgan (1863-1945), certa feita compartilhou: “Não existe
vida nas Escrituras em si mesmas, porém, se seguirmos a direção para onde as
Escrituras nos levam, elas nos conduzirão até Ele e assim encontraremos a vida,
não nas Escrituras, mas nEle através delas”.
“Seca-se a erva,
e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente” (Is 40.8).
Infindáveis
argumentações e debates têm surgido acerca desses manuscritos. Contudo, os
crentes em Cristo podem estar certos de que tais manuscritos bíblicos antigos
ratificam, apóiam e dão credibilidade à Bíblia que temos nos dias de hoje. A
Palavra de Deus continua a ser a única fonte legítima da fé e da doutrina para
todo aquele que busca recompensa eterna.
“São mais
desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que
o mel e o destilar dos favos. Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em
os guardar, há grande recompensa” (Salmo 19.10-11).
Sendo assim,
pobre Muhammad! Ele tinha esperança de encontrar os tesouros deste mundo, mas
achou apenas pergaminhos despedaçados que só prestavam para fazer correias de
sandálias! Lamentavelmente o lucro deste mundo é uma prioridade que absorve a
pessoa completamente. O mundo considera as Escrituras Sagradas como algo sem
valor; ou com alguma utilidade, de vez em quando, para serem citadas como
“palavras da boca pra fora”, mas nunca para serem aceitas pela fé e praticadas.
Todavia, nós, os salvos em Cristo, temos um conhecimento mais apurado. Temos
conhecimento suficiente para não desprezar o tesouro verdadeiro e incalculável
que só pode ser descoberto quando se faz uma escavação no solo da Palavra de
Deus:
“E, se clamares
por inteligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria
como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o
temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus” (Provérbios 2.3-5). (Peter
Colón - Israel My Glory - h
A Mais Antiga das
Antigüidades
A cópia mais
antiga das Escrituras do Antigo Testamento conhecida até o dia de hoje foi
descoberta em 1979. São dois minúsculos rolos de manuscritos feitos de prata,
que eram usados como talismãs e foram descobertos dentro de um túmulo em
Jerusalém. O texto de sua inscrição foi cunhado em hebraico antigo. O
manuscrito, surpreendentemente, continha uma citação da benção sacerdotal
registrada em Números 6.24-26:“O Senhor te abençoe e te guarde;o Senhor faça
resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti
levante o rosto e te dê a paz”.
A inscrição data
do século VII a.C., por volta da época do templo de Salomão e do profeta
Jeremias. Portanto, esses versículos, provenientes do quarto livro da Torah
[i.e., do Pentateuco], são cerca de 400 anos mais antigos do que os Manuscritos
do Mar Morto.
fonte Revista
Notícias de Israel julho de 2007
Os rolos foram vistos por vários
estudiosos na parte posterior do ano 1947, e alguns deles confessam que na época,
menosprezaram-nos como sendo falsificações. Um dos professores que reconheceram
a verdadeira antiguidade dos rolos foi o falecido Prof. Eleazar L. Sukenik da
Universidade Hebraica, e ele conseguiu mais tarde comprar alguns deles. Outros
rolos foram levados para a Escola Americana de Pesquisas Orientais em
Jerusalém, onde o Diretor interino, Dr. John C. Trever, percebendo seu grande
valor, mandou fotografar os pedaços que foram levados a ele. Uma das suas fotografias
foi enviada ao Prof. William F. Albright, que imediatamente declarou que esta
foi “a descoberta a mais importante que já tinha sido feita no assunto de
manuscritos do Antigo Testamento”.
Os rolos que foram comprados pela
Universidade Hebraica incluíam o Rolo de Isaías da Universidade Hebraica
(lQIsb), que contém uma parte do Livro, a Ordem da Guerra, conhecido também
como A Guerra dos Filhos da Luz contra os Filhos das Trevas (1QM), e os Hinos
de Ações de Graças, ou Hodayot (1 QH).
Os rolos comprados pelo arcebispo
sírio e publicados pelas Escolas Americanas de Pesquisas Orientais incluíam o
Rolo de Isaías de São Marcos (lQI5a), que é um rolo do Livro inteiro, o
Comentário de Habacuque (lQpHab), que contém o texto dos caps. 1 e 2 de
Habacuque com um comentário, e o Manual de Disciplina (1QS), que contém as
regras para os membros da comunidade de Cunrã. Subseqüentemente, estes rolos
passaram a integrar o patrimônio do Estado de Israel, e são conservados num
santuário especial da Universidade Hebraica em Jerusalém. Têm sido publicados
em numerosas edições e recensões, e traduzidos para várias línguas, havendo
grandes facilidades para quem deseja estudá-los em tradução ou em fac-símile.
Depois da descoberta destes rolos,
que são de grande importância por ter sido quase unanimemente reconhecido que
pertencem ao último século a.C. e ao primeiro século d.C., a região onde foram
achados tem sido sujeitada a exploração sistemática. Numerosas cavernas têm
sido achadas, e até agora, onze destas cavernas têm oferecido materiais da
mesma época dos rolos originais. A maior parte destes rolos tem vindo da quarta
caverna a ser explorada (Caverna Quatro, ou 4Q), e outros de grande significado
foram achados nas cavernas 2Q, 5Q, e 5Q. Segundo as últimas notícias, as
descobertas as mais significativas têm sido as da caverna 11Q.
Só da caverna 4Q, os fragmentos
achado representam um mínimo de 382 manuscritos diferentes, e uma centena
destes são manuscritos bíblicos. Estes incluem fragmentos de todos os livros da
Bíblia hebraica menos Ester. Alguns dos livros são representados em muitas
cópias diferentes: há, por exemplo, 14 manuscritos diferentes de Deuteronômio,
12 manuscritos de Isaías, e 10 manuscritos dos Salmos, representados nos
fragmentos achados em 4Q; outros fragmentos destes mesmo livros têm sido
achados em 11Q, mas ainda não foram publicados. Um dos achados significantes,
que pode ter grande valor em avaliar teorias sobre data e autoria, diz respeito
ao Livro de Daniel, fragmentos do qual têm a mudança do hebraico para o
aramaico em Dn 2:4, e do aramaico para o hebraico em Dn 7:28-8:1, exatamente
como nos textos de Daniel que se empregam mais recentemente.
Além dos achados de Livros bíblicos,
descobriram-se fragmentos de livros deuterocanônicos, especificamente Tobias e
Eclesiástico, e também de vários escritos não canônicos. Alguns destes já eram
conhecidos: Jubileus, Enoque, o Testamento de Levi, etc. Outros foram
totalmente desconhecidos, especialmente os documentos que pertenciam ao grupo
de Cunrã: Salmos de ações de graças, o Livro da Guerra, os comentários sobre
trechos das Escrituras, etc~ Estes últimos nos oferecem uma visão da natureza e
das crenças da comunidade de Cunra.
Perto dos penhascos no planalto
aluvial que domina as praias do Mar Morto há os alicerces de um prédio antigo e
complexo, muitas vezes chamado de “mosteiro”. Este foi totalmente escavado
durante várias estações, e isto tem desvendado informações importantes quanto à
natureza, ao tamanho e à data da comunidade de Cunrã. As moedas achadas ali,
juntamente com outros vestígios, têm oferecido indicações para fixar a data da
comunidade entre 140 a.C. e 67 d.C.
Os membros eram quase todos
masculinos, embora que a literatura regulamente as condições para a admissão de
mulheres e crianças. O número de pessoas que viviam ali ao mesmo tempo seria
aproximadamente entre 200 e 400. Uns 2 km ao sul, em Ain Fexca, foram
descobertos remanescentes de outras construções, cuja natureza não tem sido
exatamente esclarecida. A água doce da fonte provavelmente foi usada para o
plantio, e para outras necessidades da comunidade.
Pela literatura que a seita deixou,
sabemos que o povo de Cunrã era judaico, um grupo que se separara da corrente
central do judaísmo que se situava em Jerusalém, e que até criticava e mostrava
hostilidade aos sacerdotes de Jerusalém. O fato de adotarem o nome “Filhos de
Zadoque”, levou alguns estudiosos a postular que os sectários de Cunrã fossem
vinculados aos Zadoquitas ou Saduceus; outros estudiosos acreditam que seria
mais correto identificá-los com os Essênios, uma terceira seita do judaísmo,
descrita por Josefo e Fílon. Não é impossível que haja elementos de verdade em
ambas estas teorias, e que tenha havido originalmente uma cisão na linhagem
sacerdotal ou saducéia que aderiu ao movimento chamado dos hasideanos, os
antepassados espirituais dos fariseus, seguida por outra separação posterior
para formar uma seita fechada, separatista, parte da qual se situou em Cunrã.
Devemos aguardar mais descobertas antes de procurar dar uma resposta final a
este problemas complexos.
A comunidade dedicava-se ao estudo da
Bíblia. A vida da comunidade era ascética, na sua mor parte, e suas práticas
incluíam o banho ritual, que às vezes tem sido chamado batismo. Alguns
estudiosos têm entendido que esta prática foi a origem do batismo de João
Batista. Uma comparação do batismo de João com o dos cunranianos mostra, no
entanto, que as duas práticas eram inteiramente distintas entre si. Isto sendo
o caso, mesmo se João tivesse pertencido a esta comunidade (o que não se
comprovou, e talvez nunca venha a ser provado), este deve ter desenvolvido
distinções importantes na sua própria doutrina e prática do batismo.
Alguns estudiosos acreditam que haja
elementos do zoroastrismo nos escritos de Cunrã, especificamente no que diz
respeito ao dualismo e à angelologia. O problema é extremamente complexo. O
dualismo do zoroastrismo desenvolveu-se consideravelmente na era cristã, e por
este motivo é precário argumentar que as crenças do zoroastrismo conforme hoje
as conhecemos representem as crenças de um ou dois séculos antes de Cristo.
As descobertas de Cunrã são
importantes para estudos bíblicos em geral. Não se pode tirar conclusões acerca
do cânon, sendo que o grupo de Cunrã era cismático desde o princípio, e além
disto, a ausência do Livro de Ester não implica necessariamente que rejeitava
este Livro do Cânon. Quanto à matéria do texto do Antigo Testamento, os rolos
do Mar Morto têm grande importância. O texto do Antigo Testamento Grego, ou
Septuaginta, e as citações do Antigo Testamento no Novo, indicam que tenha
havido outros textos além daquele que veio até nós (o Texto Massorético).
O estudo dos rolos do Mar Morto
revela claramente que, na época de serem produzidos, que seria mais ou menos na
época da elaboração dos manuscritos bíblicos utilizados pelos autores do Novo
Testamento, havia no mínimo três tipos de textos circulando: um pode ser chamado
o precursor do Texto Massorético; o segundo estava nitidamente relacionado com
aquele utilizado pelos tradutores da Septuaginta; o terceiro era diferente de
ambos. As diferenças não são grandes, e em passagem alguma envolvem assuntos de
doutrina; mas para um estudo textual pormenorizado é importante que nos
libertemos do conceito que o Texto Massorético seja o único texto autêntico. A
verdade é que as citações do Antigo Testamento que se acham no Novo, dão margem
para se compreender que não foi o Texto Massorético aquele que mais se
empregava pelos autores do Novo Testamento. Precisamos qualificar estas
declarações pela explicação que a qualidade do texto é diferente entre os
vários livros do Antigo Testamento, e que há muito mais uniformidade no texto do
Pentateuco do que em algumas outras porções da Bíblia Hebraica. Os rolos do Mar
Morto têm feito uma grande contribuição para, o estudo do texto dos Livros de
Samuel.
No que diz respeito ao Novo
Testamento, os rolos do Mar Morto são igualmente de grande importância.
Obviamente, não existe nenhum texto do Novo Testamento nas descobertas de
Cunrã, sendo que o primeiro Livro do Novo Testamento foi escrito muito pouco
tempo antes da destruição da comunidade de Cunrã.
Além disto, não há motivo algum para
que alguma escrita neotestamentária tenha sido trazido a Cunrã. Por outro lado,
há certas referências e pressuposições no Novo Testamento, mormente na pregação
de João Batista e Jesus Cristo, e nas escritas de Paulo e João, que podem ser
colocados contra um pano de fundo reconhecidamente semelhante àquele descrito
nos documentos de Cunrã. Por exemplo, o pano de fundo gnóstico de certas
escritas paulinas que antigamente foi considerado como situação histórica do
gnosticismo grego do segundo século d.C. — o que implicaria numa data posterior
para a composição da Epístola aos Colossenses — reconhecese agora como sendo o
gnosticismo judaico do primeiro século d.C. ou ainda antes da era cristã.
Semelhantemente, o estilo do Quarto Evangelho revela-se como sendo palestiniano
e não helenístico.
Muita coisa tem sido escrito no
assunto do relacionamento entre Jesus Cristo e a comunidade de Cunrã. Não há
evidência nos documentos de Cunrâ que Jesus tenha sido membro da seita, e nada
há no Novo Testamento que exija tal ponto de vista. Bem ao contrário, a maneira
de Jesus encarar o mundo, e mais especialmente, Seu próprio povo, é
diametricalmente oposta à cosmo visão de Cunrã, e podemos declarar, sem medo de
errar, que Jesus não tenha sido membro daquele grupo em tempo algum. Pode ter
sido alguns discípulos que tenham surgido de um passado deste tipo, mais
especificamente os discípulos que antes seguiam a João Batista, mas há muita
falta de provas neste assunto. A tentativa de comprovar que o Ensinador da
Retidão de Cunrã tenha servido como padrão da descrição de Jesus que se
registra nos Evangelhos não se corrobora pelo estudo dos rolos do Mar
Morto.
O Ensina-dor da Retidão era um jovem
magnífico com grandes ideais, que morreu cedo demais; não há, no entretanto,
nenhuma declaração clara que tenha sido condenado à morte, nem se pode inferir
que tenha sido crucificado para então ressurgir dentre os mortos, e que os
sectários de Cunrã tenham aguardado sua volta. A diferença entre Jesus e o
Ensinador da Retidão destaca-se nitidamente em vários pormenores: o Ensinador
da Retidão nunca foi considerado o Filho de Deus ou Deus Encarnado; sua morte
não se revestiu de natureza sacrificial; a refeição sacramental (se realmente
tenha sido isto mesmo), não era considerada como sendo uma lembrança da sua
morte nem como uma promessa da sua volta, e nada tinha que ver com a remissão
dos pecados. t óbvio que no caso de Jesus Cristo, todos estes aspectos são
claramente declarados, não só urna vez, mas repetidas vezes no Novo Testamento,
e, afinal, são doutrinas fundamentais sem as quais não poderia existir a fé
cristã.
Extraído do Livro: “Manual Bíblico –
Halley