ULTIMA PAGINA POSTADA DA ESCOLA DOMINICAL TODOS ASSUNTOS DO BLOG

sábado, 9 de abril de 2016

Historia e geografia da Babilonia (2)



          O urbanismo da cidade interior: arruamentos 


 Os eixos de comunicação terrestres eram igualmente importantes na estruturação do espaço urbano. O texto Tintir indica que cada porta se abria para uma grande avenida, mas as únicas que foram claramente identificadas no local são a Via Processional (Ay-ibur-šabu; "que o inimigo arrogante não passa") e outra que leh era transversal. A primeira tinha cerca de 900 metros, era retilínea, orientada aproximadamente na direção norte-sul, e ia desde a Porta de Ishtar até ao bairro sagrado. A segunda cruzava a Via Processional ao nível do complexo religioso, tinha pelo menos 500 metros de comprimento e ia até à ponte, passando entre a muralha do zigurate e do Esagila. Ambas eram pavimentadas com placas de cerâmica ligadas com betume. A Via Processional, que como o seu nome indica, era um eixo de primeira importância durante as cerimónias religiosas, tinha mais de 20 metros de largura e era decorada, pelo menos em parte, com frisos em tijolos vidrados com leões e rosáceas.O único bairro residencial que foi escavado situava-se no sítio do Merkes, a leste da Via Processional e do complexo sagrado, entre os antigos bairros de Ka-dingirra, Eridu e Shuanna. Os seus arruamentos são caraterizados por ruas estreitas aproximadamente retilínea que se cruzavam praticamente em ângulo reto. Trata-se possivelmente da herança de uma antiga planta ortogonal planeada que foi alterada devido oas rearranjos das construções, frequentes devido à alteração rápida das construções em tijolos crus, que têm que ser regularmente restauradas.

Os arruamentos do Merkes delimitam quarteirões de habitações com 40 a 80 metros de lado, onde foi escavada uma dezena de casas, datadas entre a época neobabilónica e a época parta, as únicas residências escavadas em Babilónia. Essas escavações possibilitaram ter uma ideia de aspetos materiais da vida dos antigos habitantes da cidade.Construídas em tijolos de argila crua, ocupam áreas entre 196 e 1 914 m² ao nível do solo (a superfície habitável é inferior, pois tem que se descontar p espaço ocupado pelas paredes). A área média é cerca de 200 m². Isto ilustra uma sociedade muito hierarquizada mas sem grandes separações entre ricos e pobres. Cada residência tem pelo menos 8 divisões e no máximo 20. São organizadas de forma caraterística em volta de um espaço central que pode ser aberto e de uma divisão de receção retangular, que dá acesso a outras salas cuja função é geralmente impossível de definir. Estas casas dispunham provavelmente de um andar (ou mesmo três ou quatro, a acreditar na descrição de Heródoto. Nas épocas helenística e parta, conservaram a mesma organização geral, mas os espaços centrais de algumas casas ricas foram reconstruídos para tomarem a forma de um pátio peristilo, o que testemunha uma influência grega. O mobiliário encontradas nas casas era modesto: essencialmente loiça em barro cozido por vezes em pedra ou em vidro, bem como algumas placas e estatuetas em cerâmica, representando génios ou demónios que sem dúvida teriam funções de proteção.

Os habitantes de Babilónia: economia e sociedade

Nas casas de Babilónia foram encontradas tábuas de argila escritas em cuneiforme, que lanaçam alguma luz, ainda que limitada, sobre a vida quotidiana dos antigos habitantes da cidade, em particular sobre as atividades económicas dos mais ricos. A vida dos habitantes da cidade mais povoada da antiga Mesopotâmia é por isso mal conhecida. A população da cidade era muito cosmopolita, com a vinda de deportados, mercadores, militares e de administradores da Síria do Levante e, mais tarde, de persas e de gregos.
Durante as escavações regulares e clandestinas foram encontrados vários conjuntos de textos que falam sobre as atividades privadas de famílias de notáveis dos períodos neobabilónico e aqueménida. Nas casas do Merkes foram achadas algumas tábuas com dados económicos, provenientes de famílias de uma espécie de classe média, que versam sobre compras imobiliárias, empréstimos e arrendamento de terrenos. Os lotes mais ricos provêm de escavações clandestinas e documentam os notáveis do bairro de Shuanna. O mais importante desses lotes é um de uma família de descendentes de alguém chamado Egibi, que é constituído por cerca de 1 700 textos datados entre os reinados de Nabucodonosor II (r. 605–562 a.C.) e de Xerxes I (r. 486–465 a.C.). A primeira geração conhecida, cujo chefe de família se chamava Shulaya, prosperou comercializando localmente bens alimentares. A segunda geração foi dirigida pelo seu filho Nabû-ahhe-iddin, que recebeu uma ampla educação que lhe permitiu integrar a administração e tornar-se juiz real durante o reinado de Nabonido (r. 555–539 a.C.). O seus sucessor Itti-Marduk-balattu assegurou os interesses da família durante o domínio persa. O património da família (em sentido lato) é bem conhecido pelo texto da sua herança, partilhada três descendentes; é constituído por terrenos em Babilónia e nos arredores, até às cidades vizinhas de Borsipa e de Kish. Pelos textos sabe-se também que a família estabeleceu laços familiares com outras famílias notáveis.
Pelos arquivos do mesmo período conhecem-se atividades similares de outras famílias, como a dos descendentes de Nur-Sîn e da dos descendentes de Nappāhu. Algumas dessas famílias tiveram uma ascensão social notável empreendendo diversas atividades, quer como titulares de cargos na administração real ou dos templos, nomeadamente na tomada de prebendas, serviços religiosos que davam direito a uma remuneração, quer em negócios privados, como empréstimos, aquisição de propriedades, operações comerciais, etc. Porém, os revezes são frequentes. Personagens deste tipo são igualmente conhecidos nos períodos seguintes, através dos arquivos de Muranu e do seu filho Ea-tabtana-bullit, no início da época helenística, e os de Rahimesu, que teve um cargo de gestão financeira no Esagila no início do perído parta.
No entanto, essas famílias não eram da elite da sociedade babilónica, a qual era constituída pelas pessoas mais próximas dos reis babilónicos, persas ou gregos. Essa elite é mal conhecida. O único personagem dessa categoria que é conhecido através de um lote de arquivos é Belshunu, governador da cidade ao serviço dos reis aqueménidas na segunda metade do século V a.C.. Este possuía ou tina a seu cargo várias propriedades agrícolas espalhadas por toda a província e estava envolvido noutros negócios, aparentemente com meios superiores aos dos notáveis da cidade. O arquivo está incompleto pois é proveniente de escavações clandestinas.
Os estratos sociais mais baixos também não estão bem documentados. Dele devem ter feito parte dependentes (escravos ou não) permanentes das instituições (palácios e templos) que dominavam a vida económica, além de trabalhadores livres que constituíam a mão de obra (uma espécie de proletariado) para os trabalhos oferecidos de forma temporária pelas instituições e pelas famílias ricas, nomeadamente na construção. Sabe-se que uma parte dos habitantes da cidade ocupavam-se de atividades agrícolas.
A cidade é o centro de diversas atividades económicas que servem de base aos negócios das famílias notáveis, em primeiro lugar a agricultura praticada nos campos cerealíferos e nos palmeirais-hortas situados no exterior das muralhas. Estes terrenos são os mais cobiçados pelos notáveis da cidade, pelo lucro que davam devido à sua proximidade do importante mercado de víveres que a cidade representava. Essas famílias dedicavam-se também à comercialização de produtos agrícolas tanto desses terrenos como de outros mais longínquos, usando a rede dos canais para o seu transporte. Iddin-Marduk, da família dos descendentes de Nur-Sîn montou uma rede de recolha e de encaminhamento para Babilónia das produções de camponeses estabelecidos nas proximidades de canais (sobretudo cereais, tâmaras, legumes). Babilónia era uma cidade comercial importante, que era um cruzamento regional e internacional graças às vias terrestres e fluviais que a serviam. Os mercadores afluíam à cidade para se abastecerem de matérias primas raras vindas de paragens longíquas. Não obstante, o comércio regional e local eram o mais importantes. São conhecidos vários espaços comerciais importantes na cidade: o porto fluvial (kāru, "cais") e a ponte referida acima, além de uma parte do bairro de Shuanna em redor da "Porta do Mercado" (uma porta interior).

Práticas funerárias
Estatueta em alabastro de uma deusa nua proveniente de um túmulo descoberto por P. Delaporte, do século I a.C. ou I d.C., Museu do Louvre
No decurso das vária campanhas de escavação realizadas em Babilónia desde meados do século XIX que foram postas a descoberto túmulos em vários locais. Eles cobrem um período que vai desde o período neobabilónico até ao fim do domínio parta. As práticas funerárias conheceram algumas modificações ao longo dos séculos, apesar dos elementos de continuidade serem numerosos. Os túmulos da época neobabilónica foram encontrados principalmente debaixo de residências, seguindo o hábito mesopotâmico de enterrar os defuntos da família sob a residência dos seus descendentes para manter a ligação entre mortos e vivos da comunidade, ligação essa que se manifesta notoriamente num culto dos mortos. Foram também encontrados vários jazigos subterrâneos familiares. Os mortos desse período eram colocados dentro de sarcófagos de cerâmica, alguns compridos e ovais, com uma tampa, e outros curtos, onde o cadáver era colocado numa posição flectida.
Durante o período aqueménida os túmulos são na sua maior parte em fosso. Durante os períodos selêucida e parta, torna-se mais comum o enterramento em posição alongada do que em posição flectida e o túmulos em fossa tornam-se minoritários em relação aos de jazigo. São conhecidos sarcófagos com a representação da forma da face do defunto no período selêucida. Os defuntos mais ricos eram geralmente enterrados em jazigos abobadados onde eram escavados nichos para acomodar o sarcófago.
O material funerário desses túmulos é diversificado e pode ser muito relevante arqueologicamente, apesar da maioridade dos túmulos desenterrados sejam de famílias menos ricas e por isso apresentarem materiais simples (cerâmicas, ornamentos pessoais, estatuetas, etc.). Contudo, alguns dos achados destacam-se dos restantes pela riqueza do seu conteúdo. Uma exemplo disso é um túmulo do período aqueménida de uma criança que foi depositada num vaso, que continha vários objetos e ricos ornamentos, como um cinto decorado com pedras preciosas. Foram igualmente descobertos túmulos ricos do período parta no tell Babil. O túmulo mais notável que foi escavado em Babilónia foi o descoberto por Pacifique Delaporte em 1862, datado provavelmente do século I a.C. ou I d.C. Trata-se de uma câmara funerária abobadada que continha cinco corpos em sarcófagos, dois deles com máscaras em ouro sobre as faces. Entre o rico espólio encontrado, estão estatuetas em alabastro e divindades típicas daquele período, além de joias e de objetos antigos como selos cilíndricos que remontam ao 4.º milénio a.C.


Antes de 539 a.C. e da conquista persa, Babilónia foi a capital do império mais poderoso do Médio Oriente, o que explica o seu crescimento. Os reis construíram ali vastos palácios que refletiam o seu poderio. Esses palácios foram na generalidade desenterrados durante as escavações. Esses edifícios continuaram a ser utilizados pelo poder político depois da perda da autonomia da cidade, pois foram a residência de um governador importante e foram usados por reis, como Alexandre, o Grande, que pensava fazer da cidade a sua capital antes de morrer. A vida das elites políticas de Babilónia é no entanto muito mal conhecida devido à ausência de fontes similares às dezenas de tábuas que se conhecem sobre as capitais do Império Assírio. Sabe-se muito pouco da corte e da administração central do império babilónico ou dos governadores dos impérios sucessores.

Os palácios de Nabucodonosor II

Mapa do palácio sul. A, B, C, D, E: pátios principais. 1: Sala do trono; 2: edifício abobadado; 3: bastião ocidental; 4: edifício persa; 5: Porta de Ishtar

Uma das decorações em tijolos vidrados das paredes da sala do trono do Palácio Sul: palmeiras, motivos florais e leões.Na época de Nabucodonosor II Babilónia tinha três palácios reais: dois no setor do Kasr, ao lado das muralhas e de bastiões, o "Palácio Sul" e o "Palácio Norte"; e outro isolado mais ao norte, no tell Babil, conhecido como o "Palácio de Verão". Só o primeiro foi devidamente explorado pelos arqueólogos, conhecendo-se mal os dois outros. Várias inscrições de fundação de Nabucodonosor II, que os restaurou ou reconstruiu, permitem conhecê-los um pouco melhor, mas não permitem saber com exatidão quais eram as funções exatas destes palácios e quais as ligações entre eles.[nt 12]
O "Palácio Sul" (Südburg na denominação dos arqueólogos alemães que escavam a cidade), chamado "Palácio do Maravilhamento do Povo" nas inscrições de Nabucodonosor II, é o palácio real melhor conhecido de Babilónia.] Trata-se de um grande edifício de planta trapezoidal adossado à muralha interior, que mede 322×190 metros. Era acessível através de uma porta monumental situada no lado oriental, que dá para a Via Processional, perto da Porta de Ishtar. O edifício, que tinha um andar superior, apresenta uma planta original: organizava-se em redor de cinco unidades arquiteturais que se sucediam de leste para oeste, cada uma organizada em volta de grandes pátios que asseguravam a comunicação. Os pátios separavam cada uma das unidades em dois espaços distintos, um a norte e outro a sul, que por sua vez eram organizados em pequenas divisões em tono de espaços centrais. Aparentemente, as divisões da parte norte tinham uma função administrativa, enquanto que as da parte sul constituíam os apartamentos reais. Contudo, a separação espacial entre essas duas funções não parece tão clara como nos palácios assírios.
O terceiro pátio, no centro do edifício, é o maior de todos (com 66×55 m) e abre-se por três portas pelo lado sul para a sala do trono. Esta grande divisão retangular, com 52×17 m, comportava um pódio para o trono no seu centro. As suas paredes eram decoradas com tijolos vidrados representando leões, palmeiras estilizadas e motivos florais. Uma outra parte notável do palácio é o "edifício abobadado", situado a nordeste, que mede cerca de 50×40 m e tem paredes espessas, que deve ter sido uma espécie de armazém. Foi ali que foi descoberto o único lote de arquivo palaciano notável da época neobabilónica, datado de 595 a 570 a.C., constituído por um conjunto de tábuas com registo das entregas e distribuição de produtos para as rações alimentares de cereais, tâmaras e azeite distribuídas aos dependentes do palácio. Entre estes encontram-se famílias reais deportadas para a Babilónia, nomeadamente Jeconias de Judá, preso na sequência da tomada de Jerusalém em 597 a.C., que é mencionado na Bíblia.
“      Tornei magnífica a minha morada real. Com enormes vigas de cedro vindas das altas montanhas, espessas vigas de madeira ašuhu (pinho?) e de cipreste fiz o telhado. Painéis em madeira musukannu (uma essência preciosa), de cedro e de cipreste, de buxo e de marfim, chapeados a prata e a ouro, umbrais e dobradiças de bronze, coloquei nas suas portas. Mandei colocar no cimo um friso de lápis-lazúli. Rodeei-o de um grande muro de betume e de tijolos, alto como uma montanha; além do muro de tijolos, construi um enorme muro de imensas pedras, provenientes das altas montanhas e elevei o seu cimo, alto como uma montanha. Fiz esta casa para o deslumbramento! Para o deslumbramento de todos enchia-a de mobiliário caro. Testemunhas majestosas, esplêndidas e arrepiantes do meu esplendor real foram espalhadas [neste lugar].     ”
       
— Inscrição comemorativa da construção do palácio de Nabucodonosor II.

Na extremidade ocidental do Palácio Sul, Nabucodonosor mandou construir o chamado Bastião Ocidental (em alemão: Westliche Auswerk), um edifício de forma retangular com paredes muito espessas (18 a 20 metros), em parte no leito do rio, cujo curso obstruía, o que obrigou a alterações no cais.
O chamado "Grande Palácio" (Hauptburg) ou "Palácio Norte" foi igualmente construído na época de Nabucodonosor II num alto sobre as muralhas imediatamente a norte do Palácio Sul.Assente sobre um terraço, formava uma espécie de cidadela de planta retangular com 170 a 180 por 115 a 120 metros. Era mais pequeno do que o Palácio Sul e nele foram identificados dois grandes pátios para os quais abriam vários corpos com divisões mal identificadas durante as escavações devido à erosão. Era protegido pelo Bastião Norte. Foi no Palácio Norte que foi encontrado um tesouro de guerra dos reis babilónicos, constituído por estátuas, estelas e outras obras levadas para a cidade na sequência de campanhas militares. O arqueólogo que dirigia as escavações qualificou o local da descoberta como "museu". As inscrições de Nabucodonosor parecem indicar que o edifício foi concebido como um espaço de lazer, ou seja, um verdadeiro palácio que servia de residência real. Possivelmente tratava-se mesmo da residência real principal, enquanto que o Palácio Sul teria funções mais administrativas.
A mais de dois quilómetros a norte do Kasr, à beira do Eufrates, no atual tell Babil, os arqueólogos alemães desenterraram um edifício a que chamaram Palácio de Verão (Sommerpalast), devido ao facto das salas parecerem ser ventiladas por uma espécie de poços de vento, que serviriam para refrescar as divisões interiores nos períodos de calor intenso. Erigido no final do reinado de Nabucodonosor II, as inscrições indicam que tinha uma função principalmente defensiva, ao norte da muralha exterior construída pouco tempo antes. Dele mais não restam do que os alicerces, que deixam perceber um edifício de planta quadrada com 250 metros de lado, organizado em redor de dois vastos pátios, que foi reconstruído em vários ocasiões depois da época neobabilónica.

Os "Jardins Suspensos


Desde as primeiras campanhas de escavações que se procura a "maravilha do mundo" de Babilónia — os Jardins Suspensos, descritos por cinco autores de língua grega e latina, nomeadamente Beroso (século III a.C.) e Diodoro Sículo (século I a.C.). Segundo uma das versões desses relatos, tais jardins teriam sido construídos por Nabucodonosor II para a sua esposa meda Amitis, que tinha saudades do seu país natal verdejante.[139] Não foi encontrada qualquer menção a tal estrutura nas numerosas inscrições de fundação do grande rei babilónico, pelo que a sua identificação não tem sido possível. Foram procurados vestígios dos jardins no setor palaciano do Kasr, seguindo as descrições encontradas nos textos antigos, privilegiando as construções de paredes espessas, adequadas a suportar os pesados jardins, e os edifícios cujas funções não estão devidamente identificadas. A dificuldade de localização dos jardins advém principalmente do facto de que se trata de uma construção em altura que forçosamente está desaparecida desde a Antiguidade, pelo que é impossível descobri-la apenas pelos achados arqueológicos, sem recorrer a indicações dos textos históricos. R. Koldewey propôs que os jardins se situariam sobre o "edifício abobadado" que tinha poços que poderiam servir para os irrigar, mas esta interpretação é atualmente rejeitada. As identificações mais verosímeis são as que os situam, em parte ou na totalidade, sobre o Bastião Ocidental. Segundo esta hipótese, apoiada por exemplo por Donald Wiseman e Julian Reade, os jardins seriam irrigados pela nascente existente no Bastião Oriental, uma construção que foi identificada como uma fortaleza pelos arqueólogos alemães mas que outros arqueólogos indentificaram posteriormente como sendo um vasto depósito de água.
Ante a impossibilidade de encontrar uma prova determinante da existência dos Jardins Suspensos da Babilónia, Stephanie Dalley propôs que fossem procurados em Nínive, onde os textos de fundação descrevem longamente grandes jardins e foi descoberto um baixo-relevo que os poderia representar. Esta reinterpretação não tem aceitação generalizada e está longe de ter posto termo à controvérsia, pois não há qualquer menção histórica explícita a jardins suspensos em Nínive e nada permite excluir a sua presença em Babilónia. Julian Reade e Béatrice André-Salvini admitem a possibilidade da existência de jardins suspensos em Nínive mas é da opinião que também existiam em Babilónia. Por seu lado, Jean-Louis Huot parece dar mais crédito à hipótese avançada por Dalley. Há também quem sugira que as descrições dos monumentais jardins suspensos derivam todas de um texto antigo que descrevia os jardins reais babilónicos de forma exagerada que teria servido como fonte única dos autores posteriores cujos escritos chegaram até nós. De facto, a única certeza é que existiam realmente jardins reais em Babilónia como existiam nas capitais da Assíria, nomeadamente os que são mencionados numa tábua do reinado de Merodach-Baladan II (r. 722–703 a.C.), que enumera as diversas plantas que cresciam num dos vários jardins, que em alguns casos eram prvenientes de regiões longínquas.

Os locais do poder político sob domínio estrangeiro

O setor dos palácios (Kasr) na atualidade, depois das reconstruções e degradações recentes.Após a conquista de Babilónia pelos persas, os palácios reais passaram a ser ocupados permanentemente por um governador e pela sua administração, além de em algumas ocasiões também terem sido usados com residência pelos reis aqueménidas quando eles se instalavam na cidade. Como referido antes, os níveis conhecidos do Palácio Sul são geralmente atribuídos aos reis neobabilónicos, mas uma parte do edifício data possivelmente do período aqueménida. A única construção da época persa claramente identificada nesse palácio pelos arqueólogos que escavaram o local é o "Edifício Persa" (Perserbau), construído sobre um terraço localizado a oeste, entre o palácio e o Bastião Ocidental, que é acessível a partir do primeiro por uma porta que dá para uma esplanada. Trata-se de um eidfício com 34,8 por 20,5 metros, erigido sobre um terraço artificial, cujas estruturas são pouco visíveis. Segundo a reconstrução dos arqueólogos, a sua entrada era um pórtico com colunas que abria para um hipostilo. Ali foram encontrados fragmentos de decoração em tijolos vidrados representando guerreiros e rosetas reminiscentes das dos palácios persas de Susa e de Persépolis.Depois da conquista do Império Persa por Alexandre, este residiu durante algum tempo num dos palácios de babilónia, onde morreu. Os selêucidas que dominaram a região após a morte de Alexandre estabeleceram a sua capital mesopotâmica em Selêucia do Tigre mas continuaram a habitar os palácios reais de Babilónia em algumas ocasiões, como foi o caso de Antíoco I, que residiu em Babilónia quando era o príncipe herdeiro. O governador da cidade deve também ter ocupado um dos palácios. O de Babil foi reconstruído nessa época, tendo sido dotado de um pátio com peristilo e é provável que o mesmo tenha acontecido com o palácio do Kasr.
No período parta, o palácio de tell Babil foi convertido numa fortaleza com paredes espessas. As autoridades políticas locais dos períodos selêucida e parta ocuparam novos locais. A comunidade dos cidadãos gregos reunia-se no teatro construído na parte nordeste, na "cidade nova", um vasto edifício cujas bancadas foram construídas sobre um aterro (o tell Homera), aparentemente constituído por detritos desenterrados durante as obras de terraplanagem empreendidas para a reconstrução do zigurate durante o reinado de Alexandre e dos primeiros monarcas selêucidas.[64] É confinado a sul por um vasto edifício com um pátio com colunas, erigido aproximadamente no fim do período selêucida e o início do período parta, que é identificado como um ginásio ou uma ágora. O órgão de governo que dirigia a comunidade babilónica autóctone, o conselho nomeado pela administração do templo do Esagila liderado pelo administrador deste último, reunia-se no "Edifício das Deliberações" (Bīt milki), situado num parque urbano conhecido como "Pomar dos Zimbros" (GIŠ.KIRI6 ŠEM.LI), que se localizaria na parte sul da cidade, perto da da Porta de Urash e onde também havia templos.

Uma capital religiosa

A "Porta dos Deuses" tornou-se progressivamente o principal centro religioso da Mesopotâmia, um processo evolutivo que é difícil não colocar em paralelo com a afirmação da cidade como capital política maior da parte sul do que era a região mais esplendorosa nos planos cultural e político. O clero do Esagila, certamente apoiado pelo poder real, elevou gradualmente o deus Marduque ao estatuto de principal deus do panteão mesopotâmico graças a uma produção teológica impressionante. Os santuários deste deus tornaram-se o conjunto mais vasto e mais prestigiado da Mesopotâmia antiga e a afirmação de Babilónia como cidade santa teve também repercussões no desenvolvimento de muitos outros santuários. Tudo isso deu origem a uma vida religiosa e intelectual muito dinâmica

Marduque e o panteão babilónico

O deus Marduque e o seu animal-símbolo, o mušhuššu (dragão-serpente).A divindade tutelar de Babilónia era Marduque, cujas origens são obscuras e que foi gradualmente elevada ao topo do panteão da Mesopotâmia, com o apio da realeza babilónica triunfante e pelo clero do Esagila, durante a segunda metade do 2.º milénio a.C. Trata-se sem dúvida de uma divinidade originalmente agrária, como ilustrado pelo facto de que tem uma pá como atributo. Tornou-se um deus padroeiro do exorcismo, tendo sido assimilado ao deus Asalluhi. Com a afirmação de Babilónia como potência política com a qual Marduque era identificado, pois ele era considerado o seu verdadeiro rei, toma o aspeto de deus soberano e concentra grandes poderes na teologia, que se baseia nomeadamente na “Epopeia da Criação” (Enūma eliš). Por vezes é chamado Bēl ("Senhor"). O seu nome entra na composição de numerosos nomes de pessoas de Babilónia, atestando a sua popularidade na cidade, mais forte do que noutras grandes cidades da Baixa Mesopotâmia que conservavam muito reverência pelas suas divindades locais.
Nas relações com os outros deuses, Marduque é considerado um filho de Ea e de Damkina; a sua consorte é Sarpanitu (por vezes chamada Bēltiya), uma deusa sem personalidade própria, que só existe através do seu esposo. O filho de ambos é Nabu, deus da sabedoria e divindade tutelar da cidade vizinha de Borsipa, mas que também tinha locais de culto em Babilónia. A outra grande divindade da cidade era Ishtar de Babilónia, conhecida também pelo epíteto de "Senhora da Babilónia"( Bēlet Bābili), hipóstase local da grande deusa mesopotâmica Ishtar, que tinha o papel de protetora das defesas da cidade.

O santuário de Marduque

O conjunto religioso principal de Babilónia é o que é dedicado ao deus da cidade, Marduque, chamado Esagila (em sumério: É.SAG.ÍL, que significa algo como "casa da cabeça alta", um termo que podia designar apenas o templo na parte inferior do complexo ou o conjunto do santuário, com o zigurate incluído). arqueólogos alemães apenas puderam escavar uma parte do templo devido ao facto do tell onde ele se encontra, Amran ibn Ali, ser ocupado por uma mesquita, o que limita as explorações. As áreas escavadas do antigo templo foram a parte ocidental, o pátio central para onde se abriam as celas das divindades e algumas das salas que o rodeavam. A parte oriental só foi estudada através de escavações em túnel nas quais foi descoberto o contorno do edifício nesse lado. Alguns textos antigos, — sobretudo a "Tábua do Esagila", um texto metrológico do qual foi descoberta uma cópia do século III a.C. mas cujo original certamente que datava do período neobabilónico, — permitiram completar os conhecimentos sobre as partes não escavadas, não só a área oriental, mas também os apartamentos de Marduque, o local mais importante do santuário.


O Esagila era constituído por um primeiro antepátio com cerca de 103 por 81 metros, rodeado por um primeiro conjunto de salas, acessível por uma porta monumental situada no lado oriental. Esse era o local onde se reunia a assembleia de deuses presidida por Marduque durante a festa de Ano Novo (Akitu). Este primeiro pátio dava para o pátio superior ("Pátio de Bel", ou seja de Marduque), que media 37,6 por 32,3 metros e e que foi escavado. Este pátio estava rodeado de salas que constituíam os apartamentos das divindades que residiam no templo (nomeamente Sarpanitu, a esposa de Marduque, e o seu filho Nabu), o que o tornava uma espécie de pátio do rei dos deuses. Este conjunto constituía o corpo principal do templo, que tinha um perímetro de 85,59 por 79,3 metros. A cela de Marduque era ricamente decorada e tinha numerosas ofertas. A estátua do deus, que se acreditava ser habitada pelo próprio deus, era esculpida em madeira preciosa e envergava ricas roupas e joias. O esagila estendia-se também a sul do primeiro pátio, numa unidade organizada em torno de um terceiro pátio, dedicado aos deuses Ishtar e Zababa, e cujas dimensões eram, segundo a "Tábua do Esagila", 95 por 41 metros.[carece de fontes]
90 metros a norte do Esagila erguia-se o zigurate Etemenanki (É.TEMEN.AN.KI; "Casa da Fundação do Céu e da Terra"), que passou à posteridade com o nome de Torre de Babel. Foi construído num recinto com 460 por 420 metros, que ocupava uma parte considerável do centro da cidade. O recinto muralhado incluía duas unidades arquitetónicas, organizadas em redor de um pátio situado a leste, ao lado da porta monumental que dava para a Via Processional, além de diversas divisões a sul. os arqueólogos não têm dúvidas de que se tratava do setor administrativo do santuário de Marduque — o Esagila tinha vastas propriedades e empregava muita gente. O zigurate propriamente dito desapareceu na Antiguidade e só as suas fundações (batizadas Sahn ["fogão"] durante as escavações devido à sua semelhança com aquele utensílio de cozinha) puderam ser escavadas. Além dessas escavações, os únicos dados de que se dispõem para ter uma ideia de qual seria o seu aspeto são os que constam da "Tábua do Esagila", que mencionam as dimensões e uma representação do edifício numa estela.
A base do zigurate era quadrada, com cerca de 91 metros de lado, e uma escadaria monumental conduzia ao cimo no lado sul. Foram encontrados vestígios dessa escadaria ao longo de 52 m. A torre tinha sete andares, que na prática eram seis terraços empilhados de tamanho sucessivamente menor, que suportavam um templo no alto (šahuru). Segundo a "Tábua do Esagila", tinha 90 metros de altura, mas este número é considerado fantasioso e as estimativas mais recentes apontam para uma altura de cerca de 60 m. O seu nome indica que o edifício simbolizava uma espécie de ligação entre a Terra, o mundo dos humanos, e o Céu, o mundo dos deuses, além de simbolizar o centro do mundo e o local onde Marduque o tinha criado. No entanto, a sua função de culto é mal conhecida: Heródoto fala num rito de tipo hierogâmico ("casamento sagrado") que era praticado no templo alto;[169] fragmentos de uma tábua escrita em cuneiforme evocam o que pode ser um ritual que tinha lugar no mesmo edifício, mas não há menções em quaisquer outros textos rituais. A sua função de culto era provavelmente limitada, com o templo baixo (o Esagila propriamente dito) concentrando a maior parte dos rituais.
Depois do período neobabilónico, os edifícios do santuário passaram por várias peripécias. O Esagila continuou a ser o principal local de culto da cidade. A possibilidade de ter sido destruído durante a repressão de uma revolta durante o reinado de Xerxes I é tema de debate, mas é evidente que ele continuou a funcionar. O zigurate pode ter sido destruído durante aqueles eventos. Em todo o caso, os textos que se referem ao período de Alexandre e ao início do domínio selêucida apresentam o complexo como estando em mau estado. O templo baixo, sem dúvida restaurado, ainda funcionava, ao passo que o zigurate foi nivelado com a intenção que acabou por nunca se concretizar de o reconstruir. Através de menções de outros autores gregos e latinos e de textos cuneiformes sabe-se que funcionava nos séculos I e II d.C.

Outros templos
Proposta de reconstituição do templo de Ninmah
Planta do templo de Ninmah"

O Tintir menciona os nomes de 43 templos situado no interior de Babilónia, dos quais 13 se encontravam no "bairro sagrado" de Eridu. Havia divindades que tinham vários templos: são mencionados cinco de Ishtar e três de Nabu. Foram escavados e identificados oito desses templos na parte ocidental da cidade interior, fora do complexo principal. São de diversas dimensões e isolados do tecido urbano, mesmo quando em alguns casos foram construídos em bairros residenciais, como o templo de Ishtar de Acádia escavado no Merkes. Seguem a planta típica dos templos locais, chamada "babilónica", também observada no templo de Marduque e que tem reminiscências das residências humanas: uma porta que se abre para um pátio, que por sua vez leva a uma antecela (vestíbulo) e depois à cela da divindade principal do santuário, uma capela ao fundo da qual se encontrava um nicho destinado a receber a estátua de culto. Várias salas rodeavam os espaços destinados à circulação. As portas principais podiam ser abobadadas. O pátio do templo de Nabu ša harê estav coberto de betume e as suas paredes apresentavam uma decoração sumária em branco e preto. O bīt akītu, o templo onde decorriam as cerimónias finais da festa do akītu, situava-se fora da muralha interior. É possível que as ruas ruínas sejam as que foram escavadas por arqueólogos alemães nos anos 1960, quando foi descoberto um complexo arquitetónico situado a norte do Kasr.

Culto religioso

Um dos leões representados nos tijolos vidrados da Porta de Ishtar, um animal-símbolo da deusa Ishtar.Os templos de Babilónia eram centros de intensa atividade, pois neles decorria o culto quotidiano das divindades que albergavam, que passava por alimentar simbolicamente e vestir a estátua e ofertas acompanhadas de rituais. Tais atividades justificavam a presença de uma categoria importante de pessoal de culto, os erīb bīti, as únicas pessoas autorizadas a entrar no espaço sagrado do santuário e a ali realizar os rituais. O culto necessitava ainda da participação de outros tipos de pessoal mais numerosos, nomeadamente os que forneciam alimentos e objetos de culto. Para levar a cabo essas tarefas, os templos dispunham de património constituído por terras, oficinas e outros bens, provenientes sobretudo de ofertas, com destaque para as dos reis, que era igualmente quem empreendia os trabalhos de restauro mais importantes. Toda esta organização explica o facto dos santuários terem sido também centros económicos importantes, em redor dos quais gravitava uma parte considerável da população da cidade e dos campos em volta.
O calendário litúrgico de Babilónia estava repleto de feriados religiosos mais ou menos regulares, alguns de frequência mensal e outros anuais, mais excecionais. A principal festa religiosa era o akītu, realizado no Ano Novo, no equinócio da primavera (21 de março), que durava 12 dias e exigia a presença em pessoa do rei.Durante essa festa, as estátuas de culto das grandes divindades da cidade reuniam-se no Esagila onde prestavam homenagem a Marduque, antes de se reunirem no bīt akītu. A “Epopeia da Criação” era recitada para recordar os grandes feitos desse deus durante uma procissão que percorria a cidade. O rei renovava simbolicamente o seu mandato. Esta festa, aparentemente grandiosa, tinha como objetivo celebrar a renovação da natureza na primavera, mas também afirmar a forte ligação entre o grande deus Marduque e o rei, considerado o seu representante na terra. Ela requeria a presença da estátua do deus e do soberano, o que não era possível em períodos de instabilidade ou após derrotas militares que tivessem envolvida a captura da estátua pelo inimigo, o que constituía um grande infortúnio.
Na cidade eram celebradas outros feriados importantes, como por exemplo um ritual de "casamento sagrado" (hašādu) entre Marduque e Sarpanitu, ou outro que no qual era representado um Marduque infiel perseguindo Ishtar enquanto ele próprio era seguido pela sua esposa legítima.

Local de conhecimento

A função de culto e os recurso económicos dos templos fizeram com que eles se tornassem os principais centros de cultura de Babilónia. Vários templos produziram tábuas com informações técnicas, científicos e obras literárias, que podem ter constituído acervos de manuscritos que podem ser caracterizados como bibliotecas. Também foram encontrados textos do mesmo tipo em residências privadas de pessoas letradas (que de qualquer forma trabalhavam para os templos), que em alguns casos serviam também como escolas de escribas. O lote mais importante desse tipo de textos foi o descoberto em 1979 no templo de Nabu ša harê, o deus que representava a sabedoria e que era o padroeiro dos letrados. É constituído por mais de 2 000 tábuas escolares que formam um depósito votivo oferecido ao deus pelos escribas aprendizes. Outras duas tábuas rituais encontradas num forno podem indicar a existência de uma biblioteca no templo.
O principal local de conhecimento de Babilónia era o Esagila, não obstante nele terem sido encontradas muito poucas tábuas fazendo alusão a atividades intelectuais comparativamente às descobertas relativas ao mesmo período em Nínive e em Uruk, que eram centros de conhecimento de nível comparável. É evidente que o templo albergava uma biblioteca e um grupo de letrados, constituído por sacerdotes especializados em várias disciplinas (astrónomos/astrólogos, adivinhos, exorcistas, etc.). As tábuas em cuneiforme mostram como o corpo de letrados do templo eram recrutados e mantidos entre o fim do período aqueménida e o período helenístico. Um texto descreve o recrutamento de um astrólogo/astrónomo: ele ocupava o cargo exercido pelo seu pai, o que era corrente entre os letrados da época, mas devia passar num exame perante o conselho do templo para provar as suas competências. Era remunerado com um salário anual e um terreno que lhe era concedido. Eram-lhe atribuídas obrigações: fazer as observações celestes, redigir textos técnicos, sem dúvida almanaques ou efemérides característicos da ciência que conhecia então o maior desenvolvimento na Babilónia. Esta organização era também aplicada nas outras especialidades e pode ter inspirados os gregos quando eles criaram a Biblioteca de Alexandria e o seu Μουσεῖον (Museion, "Museu") seguindo princípios que apresentam semelhanças com a organização do Esagila.
Várias obras da literatura mesopotâmica (em sentido lato, incluindo textos rituais e técnicos) são atribuíveis ao clero da Esagila. Pode estimar-se que os grandes textos exaltando Marduque (“Epopeia da Criação”, Enūma eliš) e a importância da cidade (TINTIR=Babilu, Tábua do Esagila) são da sua autoria, bem como os textos rituais ligados ao culto do grande deus babilónico e ainda vária crónicas históricas centradas em Babilónia ou nos seus templos e o texto sapiencial “Ludlul bel nemeqi” ("Louvarei o Senhor da Sabedoria", também conhecido como "Monólogo do Justo Sofredor"), um lamento em verso dirigido ao deus por um homem atingido pela injustiça. certos textos são atribuídos a autores cujo nome remete ao templo ou ao deus e que eram manifestamente sacerdotes do templo, como a “Epopeia de Erra”, de Kabti-ilani-Marduk, um relato que procura explicar o período caótico pelo qual passou Babilónia no início do 1.º milénio a.C. pelo abandono da cidade pelo seu grande deus Marduque, enganado pelo deus Erra, que personificava a guerra no seu aspeto destruidor; ou a “Teodiceia Babilónica”, um texto sapiencial redigido por Esagil-kina-ubbib em forma de uma discussão entre dois indivíduos sobre as relações entre deuses e homens.O exemplo melhor conhecido dos letrados do Esagila é Beroso, que no início do século III a.C. escreveu “Babyloniaka”, uma obra em grego da qual apenas nos chegaram citações e resumos, que visava apresentar a tradição babilónica a um público letrado grego. para escrever a sua obra, Beroso serviu-se das tábuas disponíveis na biblioteca do Esagila. Segundo os elementos biográficos conhecidos, ele teria terminado a sua vida a ensinar astronomia e astrologia na ilha grega de Cós a gregos e sabe-se que estes reconheciam a grande mestria que os babilónios tinham atingido nesse domínio.
O Esagila e os templos de Babilónia, juntamente com os de Uruk, foram os últimos locais onde se sabe que o conhecimento da Mesopotâmia antiga foi transmitido depois do período helenístico. Foi em Babilónia que foi descoberta a tábua em cuneiforme mais recente, que de forma muito significativa, é um almanaque astrológico, datado de 74 ou 75 d.C.

Babilónia mitificada

Dada a sua importância política e cultural, Babilónia tornou-se um elemento do imaginário e dos mitos de várias civilizações, até mesmo muito tempo depois da sua queda. Os relatos relativos à cidade, dificilmente dissociáveis da trajetória do reino do qual era a capital, concentraram-se sobretudo no estatuto de cidade de proporções gigantescas e com monumentos grandiosos, mas também, de forma mais negativa, no seu orgulho e nos seus pecados. As fontes antigas fornecem a matriz dessas representações: em primeiro lugar as fontes provenientes da própria teologia babilónica, nas quais a cidade é considerada sagrada e situada no centro do mundo, depois nos escritos dos autores gregos e latinos, que deixaram a imagem de uma vila gigantesca, e por fim os autores dos textos bíblicos, que a apresentaram quase sempre numa perspetiva negativa. Depois do seu desaparecimento, desenvolveu-se uma imagem de grande cidade e símbolo do pecado, nomeadamente na Idade Média, quando as fontes mais fiáveis sobre o que ela tinha sido realmente ficaram inacessíveis.

Nas civilizações antigas

Na Mesopotâmia

Depois, a partir do segundo ano,Do Esagila, réplica do Apsu, eles ergueram o cume.Construíram a alta Torre de andares deste novo Apsu,Ali instalaram um Habitáculo para Anu, Enlil e Ea.Então, em majestade (Marduque) ali foi tomar lugar na frente deles, [...]
O Senhor (Marduque), no Lugar-muito-augusto que eles tinha edificado para Habitáculo,Para o seu banquete convidou os deuses, seus pais."Eis Babilónia, o vosso habitáculo e residência:
Inclinai-vos! Enchei-vos com o seu júbilo!"      ”
       
— "A construção de Babilónia pelos grandes deuses para Marduque", na “Epopeia da Criação” (Enūma eliš) .
A ascensão política de Babilónia foi progressivamente transportada para o domínio religioso e mitológico na Mesopotâmia antiga, sobretudo devido à instigação dos letrados do templo da cidade, em primeiro lugar do Esagila. Isso conjuga-se com a afirmação da preeminência de Marduque como rei dos deuses, que se manifesta na redação do século XII a.C. da “Epopeia da Criação”. Este relato mitológico decreve como Marduque se tornou o rei dos deuses sendo o único capaz de salvá-los da ameaça representada por Tiamat, ancestral de todos eles que simbolizava o caos. Depois da sua vitória, Marduque criou o mundo com o cadáver de Tiamat e no seu centro, no local onde se juntavam o Céu e a terra, instalou os grandes deuses em Babilónia, a sua cidade que eles construíram, começando pelo seu grande templo. Esta ideia segundo a qual Babilónia era o centro do mundo encontra-se igualmente numa tábua que representa um mapa-múndi babilónico no qual a cidade aparece no seu centro.
O estatuto mítico de Babilónia transparece nos diversos textos topográficos relativos aos seus monumentos religiosos, como o Tintir, que mostra a que ponto o espaço da cidade é marcado pelo sagrado, ou a Tábua do Esagila, que informa das dimensões do zigurate Etemenanki com números simbólicos. Este último representava o centro do mundo no local onde ele foi criado e onde se ligam o Céu e a Terra (esse é o significado do seu nome). Essa função de capital do cosmos estendia-se a toda a cidade, pois entre os epítetos que a ela se aplicavam encontra-se um "Lugar entre o Céu e a Terra".
As crónicas históricas escritas pelo clero babilónico destacam a ligação entre a a importância religiosa da cidade e do seu deus e a sua importância política. Elas reconstroem um passado mítico colocando a evolução dos eventos sob o prisma da relação entre os grandes reis com Marduque e os seus templos de Babilónia: aqueles que mostram lhe pouco respeito acabam por ser punidos mais tarde ou mais cedo. Isso constitui uma mensagem para os reis seguintes, a quem eles aconselham tratar bem o deus e o seu grande templo.

Autores greco-romanos

Os autores gregos e latinos foram testemunhas da decadência de Babilónia mas preservaram a recordação da sua grandeza, dando uma imagem amplamente mitificada que sem dúvida refletia mal a realidade com que foram confrontados aqueles que realmente visitaram a cidade. O primeiro desses autores a deixar uma descrição foi Heródoto, na primeira metade do século V a.C.,  seguido por Ctésias no fim do mesmo século. Ambos descrevem uma cidade gigantesca, sem dúvida a maior do mundo que eles conheciam no seu tempo, e evocam grandes monumentos, nomeadamente as muralhas. Ctésias menciona ainda a sua outra maravilha, os Jardins Suspensos, e atribui a fundação a Semíramis. Esse topos de Babilónia como megalopolis encontra-se também, com os seus monumentos e soberanos lendários, por vezes com confusões com a história da vizinha Assíria, nos autores dos séculos da viragem da nossa era como Estrabão, Flávio Josefo e Plínio, o Velho, todos relatando o seu passado prestigioso e o facto da cidade ter caído em ruínas. Progressivamente, a recordação de Babilónia foi-se deformando, não obstante alguns autores que escreveram em grego ou latim terem registado informações relativamente fiáveis sobre a sua história e a sua cultura, baseando-se nos escritos do sacerdote babilónico Beroso ou em fontes locais, como foi o caso do filósofo Damáscio (séculos V e VI d.C.).

Na Bíblia hebraica e no Novo Testamento cristão

E vi uma mulher montada numa besta escarlate, cheia de nomes de blasfémia, com sete cabeças e dez cornos
Essa mulher estava vestida de púrpura e de escarlate, e adornada de ouro, pedras preciosas e de pérolas. Tinha na sua mão um cálice de ouro, repleto de abominações e de impurezas da sua prostituição.
Na sua testa estava escrito um nome, um mistério: Babilónia a grande, a mãe dos fornicadores e das abominações da terra.
E vi essa mulher embriagada do sangue de santos e do sangue de testemunhas de Jesus.

            Passagem do Livro do Apocalipse (17: 3 a 6)

Na Bíblia hebraica e a sua versão cristã (o Antigo Testamento) há várias passagens nas quais Babilónia ocupa um papel importante.[197] [198] A primeira é a descrição da Torre de Babel, relatada no Génesis, onde Babel remete a Babilónia, sendo a torre uma manifesta derivação do zigurate da cidade cujas primeiras testemunhas podem ter sido os exilados judeus na Babilónia. Este relato conta como os habitantes da cidade de Babel do país de Shinear, fundada pelo primeiro rei Nimrod, erigiram uma torre com o objetivo de atingir o Céu, mas o "o Eterno" os impediu-os disso, lançando a confusão[nt 16] entre eles fazendo-os falar várias línguas, de forma a que eles deixassem de se compreender uns aos outros.
Babilónia aparece também nos livros da Bíblia mais próximos da realidade histórica, nomeadamente o Segundo Livro dos Reis, que relata as vitórias de Nabucodonosor II sobre o Reino de Judá, e o Livro de Jeremias, que fala sobre os mesmos acontecimentos, evocando o princípio da deportação para a Babilónia. Nestes textos transparece uma imagem ambígua de Babilónia. Por um lado, ela é a cidade cidade odiada, capital do reino dominador e orgulhoso que deportou os judeus e os forçou ao exílio doloroso e à melancolia do país de origem "nas margens de rios da Babilónia" (Salmo 137), mas por outro lado por vezes Babilónia e Nabucodonosor são também apresentados como instrumentos da vontade divina. A imagem negativa da cidade é retomada no Novo Testamento dos cristãos, nomeadamente por ser assimilada a Roma, a nova potência dominadora e perseguidora. No Apocalipse de São João, a "Grande Prostituta" tem o nome de Babilónia e a cidade é citada várias vezes como símbolo do Mal e do engano.

A memória de Babilónia depois do seu fim
A recordação longínqua de uma grande cidade[editar | editar código-fonte]

A construção da Torre de Babel segundo a iluminura num manucristo russo do século XVI.Depois do desaparecimento de Babilónia, a maior parte dos testemunhos diretos referentes à cidade foram em grande medida esquecidos durante a Idade Média, quando a imagem da cidade se deformou ainda mais. As fontes bíblicas constituíam então o essencial da documentação de base que estava disponível. Os territórios que outrora tinha estado sob o domínio babilónico pertenciam agora a estados muçulmanos e vários autores de língua árabe e persa, sobretudo geógrafos e historiadores, preservaram a memória do local das ruínas da cidade, que evocavam como primeira capital do Iraque. As histórias que eles evocam a propósito da cidade baseiam-se largamente na Bíblia ou nas tradições históricas iranianas, nomeadamente as ligadas aos reis Nabucodonosor II (Bukht Naṣ[ṣ]ar) e Alexandre (Iskandar). A cidade só é referida uma vez no Alcorão.
No mundo medieval europeu, a imagem de Babilónia é ainda mais enevoada, baseando-se apenas nos textos bíblicos e nas ilustrações dos manuscritos ela aparece como uma grande cidade onde a arquitetura segue os padrões da época do artista. Com a redescoberta de textos de autores gregos e latinos a partir do século XV, as representações puderam passar a ser mais precisas, nomeadamente com a inclusão dos Jardins Suspensos. Estes eram considerados como uma das sete maravilhas do mundo[94] e contribuíram para cimentar a imagem de fausto e de civilização associado aquela grande capital antiga. Mas são principalmente dois aspetos da cidade que interessam aos autores do mundo cristão: o mito da Torre de Babel e a sua utilização com como símbolo do Mal.

O mito da Torre de Babel

O sucesso do mito da Torre de Babel é dos vetores essenciais da memória do passado de Babilónia no mundo cristão e, em menor escala, também no mundo muçulmano. Este mito tem uma conotação principalmente negativa, ligada ao pecado do orgulho dos homens atingidos pela sanção divina por terem querido elevar-se demasiado. Tornou-se um tema iconográfico muito prolífico durante o período medieval e ainda mais na época moderna entre o século XVI e XVII. Durante este último período, o mito é interpretado de forma mais ambígua em função das evoluções do tempo: sempre um símbolo de orgulho, mas também da divisão dos homens durante os períodos de guerra, nomeadamente as de cariz religioso, e de forma mais positiva, como símbolo de uma humanidade confiante nos seus meios. Nas representações, a torre apresenta formas muito variadas (piramidal, cónica, rampa helicoidal, base quadrada, etc.), refletindo as tendências arquitetónicas do tempo em que foram produzidas ou a imaginação do artista.

Um símbolo do Mal

O nome de Babilónia adquiriu gradualmente uma conotação negativa no mundo cristão, devido à imagem deixada pelos relatos da derrota e posterior deportação dos judeus para a Babilónia na época de Nabucodonosor II. Os textos dos dos Padres da Igreja mostram o seu desconhecimento da história da cidade e de uma deriva para a visão fantasiosa negativa sobre ela, que fica enraizada na tradição cristã seguinte. Babilónia tornou-se um símbolo do pecado e da perseguição. Roma foi identificada como uma nova Babilónia na época da perseguição das primeiras comunidades cristãs e bastante mais tarde quando os primeiros reformistas, com Martinho Lutero à cabeça, fizeram de Roma a cidade do pecado, retomando o topos da "Grande Prostituta" do Apocalipse. Na iconografia da Europa medieval, tanto no Ocidente como no Oriente, em Bizâncio e na Rússia, a imagem de Babilónia como cidade do Mal é generalizada, nomeadamente sendo associada a uma serpente simbolizando o pecado. O seu destino é marcado por um fim funesto, o da sua queda e abandono.

Esta imagem negativa do termo Babilónia permaneceu ao longo do tempo. Na atualidade, diversos movimentos messiânicos dos Estados Unidos ainda usam a metáfora babilónica para descrever a origem do que é considerada como uma perseguição e Nova Iorque é por vezes designada como uma "Babilónia moderna".[210] O nome da antiga cidade é também usado para condenar a opressão e corrupção nos discursos do movimento rastafári e de diversos estilos musicais como o reggae,e o rap.

Babilónia na cultura dos séculos XIX e XX

Cenário representando Babilónia no filme Intolerância de D. W. Griffith, onde se misturam temas iconográficos assírios com outros provenientes de civilizações exteriores à Mesopotâmia.A partir do século XVIII, alguns autores céticos em relação à perspetiva das autoridades religiosas matizam a imagem negativa de Babilónia, como por exemplo Voltaire, que faz referência à cidade em vários dos seus escritos. No início do século XIX, o romantismo e sobretudo o orientalismo despertam um novo interesse pelo passado antigo do Oriente, um movimento que acompanha as primeiras escavações de sítios antigos no Médio Oriente (não relacionados com a Babilónia) e gradualmente apuram os conhecimentos, que no entanto continuam fortemente marcados pela herança grega, romana e bíblica.
Babilónia surge em obras marcantes desse período, como a pintura La Mort de Sardanapale ("A Morte de Assurbanípal") de Eugène Delacroix (1827) e a ópera Nabucco de Giuseppe Verdi (1842). As descobertas arqueológicas já podiam então ser tidas em conta para fazer com que as representações da antiga Mesopotâmia se aproximassem da sua aparência real antiga nas obras artísticas a partir da segunda metade do século XIX, nomeadamente em pinturas como The Babylonian Marriage Market do pintor orientalista Edwin Long (1875) e mais tarde no filme mudo Intolerância de D. W. Griffith, realizado em 1916.[214] Depois disso, Babilónia aparece em diversas formas de expressão artística (literatura, artes plásticas, cinema, jogos de vídeo, etc.) que se inspiram, conforme os casos, em tradições externas antigas e sua posteridade ou em conhecimentos provenientes de estudos arqueológicos e assiriológicos.(Fonte wikipedia).




Nenhum comentário:

Postar um comentário

PAZ DO SENHOR

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.