HISTORIA DA BABILONIA
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Babilônia (português brasileiro) ou Babilónia
(português europeu) (em aramaico: Babel; em árabe: بابل; transl.: Bābil; em
acádio: Bāb-ili(m); em sumério: KÁ.DINGIR.RA) foi uma cidade da região
homónima, na Mesopotâmia, situada nas margens do rio Eufrates. As suas ruínas
encontram-se a norte do centro da cidade atual de Al-Hillah, capital da
província de Babil, no Iraque, situada 100 km a sul de Bagdade.
A partir do início do 2.º milénio a.C. a
cidade, até então pouco importante, tornou-se a capital de um reino que
estendeu progressivamente o seu domínio a toda a Baixa Mesopotâmia e até para
além dessa região. Conheceu o seu apogeu no século VI a.C., durante o reinado
de Nabucodonosor II, que governou um império que dominou grande parte do Médio
Oriente. Nessa época foi uma das maiores cidades do mundo, cujas ruínas ocupam
atualmente vários tells, numa área de cerca de 10 km². O prestígio da cidade
estendia-se para além da Mesopotâmia, nomeadamente devido aos seus monumentos
célebres que nela foram construídos, como as suas grandes muralhas, o zigurate
(Etemenanki), que possivelmente inspirou o mito da Torre de Babel ou os Jardins
Suspensos, cuja localização ainda não foi identificada.
Babilónia ocupa um lugar especial na história
devido a ter-se tornado gradualmente um mito após o seu declínio e o seu
abandono, que teve lugar nos primeiros séculos da nossa era. O mito chegou até
nós através de várias passagens bíblicas e de relatos de autores greco-romanos
que descreveram a cidade e asseguraram a longa posteridade da sua fama,
frequentemente de cariz negativo. Apesar da sua localização nunca ter sido
esquecida, só no início do século XX é que se realizaram as primeiras
escavações importantes, sob a direção do arqueólogo alemão Robert Koldewey, que
desenterrou os principais monumentos. A importante documentação arqueológica e
epigráfica descoberta na cidade, completada por informações provenientes de
outros sítios arqueológicos antigos que tiveram relações com Babilónia,
permitiram formar uma representação mais precisa da cidade, para além dos mitos.
Tal não obsta a que não haja lacunas no conhecimento que se tem daquele que é
um dos sítios arqueológicos mais importantes do Antigo Próximo Oriente, que
persistem devido aos trabalhos arqueológicos estarem parados devido à situação
política instável do Iraque nas última décadas.
Índice
1 Redescoberta da cidade
1.1 Primeiras investigações e escavações
1.2 Escavações alemãs
1.3 Escavações depois de 1945
1.4 Reconstruções e degradações
2 Fases da história de Babilónia
2.1 Origens da cidade e do seu nome
2.2 Dinastia amorita
2.3 Dinastia cassita
2.4 Segunda dinastia de Isin e período de declínio
2.5 Babilónia e o domínio assírio
2.6 Império Neobabilónico e apogeu de Babilónia
2.7 Domínio estrangeiro
2.8 Fim da Babilónia antiga
3 Babilónia no seu apogeu
3.1 Uma "megacidade" da Antiguidade
3.1.1 Organização geral do sítio
3.1.2 Muralhas e portas
3.1.3 O rio e os canais
3.1.4 O urbanismo da cidade interior: arruamentos e residências
3.1.5 Os habitantes de Babilónia: economia e sociedade
3.1.6 Práticas funerárias
3.2 Os monumentos do poder político
3.2.1 Os palácios de Nabucodonosor II
3.2.2 Os "Jardins Suspensos"
3.2.3 Os locais do poder político sob domínio estrangeiro
3.3 Uma capital religiosa
3.3.1 Marduque e o panteão babilónico
3.3.2 O santuário de Marduque
3.3.3 Outros templos
3.3.4 Culto religioso
3.3.5 Local de conhecimento
4 Babilónia mitificada
4.1 Nas civilizações antigas
4.1.1 Na Mesopotâmia
4.1.2 Autores greco-romanos
4.1.3 Na Bíblia hebraica e no Novo Testamento cristão
4.2 A memória de Babilónia depois do seu fim
4.2.1 A recordação longínqua de uma grande cidade
4.2.2 O mito da Torre de Babel
4.2.3 Um símbolo do Mal
4.2.4 Babilónia na cultura dos séculos XIX e XX
5 Notas
Redescoberta da cidade
Os estudos dos sítios arqueológicos da Mesopotâmia
antiga foram iniciados durante a primeira metade do século XIX e foram-se
intensificando nas décadas que se seguiram. Os primeiros estudos focaram-se nos
sítios assírios, cujas ruínas eram mais espetaculares. Apesar do sítio de
Babilónia ter atraído rapidamente a atenção devido à celebridade do nome, só
foi objeto de escavações no início do século XX, que no entanto foram levadas a
cabo por uma das melhores equipas de arqueólogos da sua geração. Seguiram-se
outras campanhas durante a segunda metade do século XX, que aprofundaram os
conhecimentos sobre o local, que no entanto continua por explorar na sua maior
parte.
Primeiras investigações e escavações[editar |
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Não obstante por vezes haver alguma confusão
com os sítios vizinhos de Birs Nimrud (Borsipa) e Aqar Quf (Dur-Kurigalzu),
onde as ruínas dos zigurates faziam lembrar a Torre de Babel, a localização de
Babilónia nunca foi realmente perdido e até o topónimo usado localmente — Bābil
— deriva do nome antigo da cidade. Vários viajantes europeus visitaram as suas
ruínas, como Benjamim de Tudela (século XII), Pietro Della Valle (século XVII)
e Pierre Joseph de Beauchamp (século XVIII).
Muralhas de Babilónia em 1970
O primeiro trabalho científico sobre as ruínas
foi realizado pelo britânico Claudius James Rich, que no início do século XIX
fez o primeiro trabalho cartográfico do local, que foi pioneiro na exploração
científica da Mesopotâmia. Seguiram-se vários compatriotas seus, nomeadamente
Austen Henry Layard em 1850 e Henry Rawlinson em 1854, dois dos principais
descobridores de sítios das capitais assírias, que ali estiveram pouco tempo
devido ao facto do sítio de Babilónia apresentar menos descobertas espetaculares
do que os do norte, o que explica que não tenha havido escavações nesse
período. Em 1852, uma equipa de franceses escava o local, sob a direção de
Fulgence Fresnel, assistido por Jules Oppert e Félix Thomas.
As poucas descobertas (sobretudo sepulturas) que
fizeram durante as escavações, realizadas num contexto complicado, não puderam
ser enviadas para França porque o comboio fluvial que transportava
principalmente baixos-relevos foi atacado por tribos hostis no sul do Iraque e
afundou-se em 1855. O sítio da antiga cidade foi regularmente escavado na
segunda metade do século XIX por vários arqueólogos depois daqueles primeiros
trabalhos. Em 1862, o cônsul francês Pacifique Delaporte encontrou um túmulo
parto com um rico espólio de objetos que foram enviados para o Museu do Louvre.
Os locais, que até então recolhiam sobretudo tijolos, começaram também a
recolher objetos antigos que encontravam para os venderem nos mercados
vizinhos. Essa atividade decorreu em paralelo com as escavações organizadas por
equipas britânicas, sob a direção de Hormuzd Rassam na década de 1870, que
descobriu vários objetos, alguns deles selecionados para serem enviados para o
Museu Britânico, nomeadamente o Cilindro de Ciro. As escavações britânicas
pararam e recomeçaram várias vezes e estiveram envolvidas em polémicas devido a
suspeitas de conluio entre os escavadores clandestinos e Rassam, até que os
alemães se interessaram pelas ruínas de Babilónia em 1897.
Escavações alemãs
Escavações alemãs no tell do Kasr no início do
século XX
Em 1897, Robert Johann Koldewey foi a
Babilónia e decidiu empreender as suas escavações numa escala sem precedentes.
No ano seguinte, foi criada a Deutsche Orient-Gesellschaft (DOG,
"Sociedade Oriental Alemã") para reunir os fundos necessários ao
projeto, para o qual também contribuíram os museus prussianos que iriam receber
os achados feitos nas escavações. O projeto teve também o apoio do imperador
Guilherme II, que era um entusiasta de antiguidades orientais.
Os trabalhos foram iniciados ainda em 1898 e
prolongaram-se até 1917, uma duração excecional para a época, tanto mais que as
investigações só eram interrompidas uma vez por ano, ao contrário do que é
usual acontecer atualmente. Devido à dimensão do sítio e aos objetivos das
escavações (redescobertas científicas, desenterramento de peças e envio das
mais importantes para Berlim), Koldewey e os seus assistentes, nomeadamente
Walter Andrae, montaram um elaborado sistema logístico. Foram escavados vários
locais em simultâneo — frequentemente três, por vezes cinco — e o número de
operários envolvidos chegou rapidamente aos 150 a 200, chegando a atingir 250.
O projeto tinha também como objetivo empreender escavações em outros sítios, o
que foi feito em Birs Nimrud (Borsipa), Fara (Shuruppak) e depois em Qala'at
Shergat (Assur), de que Andrae se ocupou de forma permanente entre 1903 e 1913.
As escavações em Babilónia puseram a
descoberto vários monumentos maiores e permitiram conhecer plantas e outros
dados com qualidade até então inédita sobre a história da Mesopotâmia. O
diretor das escavações, arquiteto de formação, estava sobretudo interessado na
reconstituição dos edifícios antigos, ao contrário de muitos dos outros
arqueólogos que o precederam, que se focavam principalmente em achar objetos
sem terem grandes preocupações em preservar os edifícios. O tell do Kasr, onde
se situavam os palácios reais principais, foi o primeiro tell a ser explorado,
antes do complexo de Marduque (situado nos tells Amran ibn Ali e Sahn). Aí
funcionaram os principais estaleiros. Os palácios do tell Babil foram também
explorados, bem como templos no tell de Ishin Aswad, a "Via
Processional" e o bairro residencial de Merkès, a partir de 1907.[4]
A partir de 1913, Koldewey publicou os
resultados das descobertas na obra “Das wiedererstehende Babylon” ("A
ressureição de Babilónia"), que teve várias reedições até à sua morte em
1925, e que se tornou um clássico da arqueologia mesopotâmica.[nt 1] Os
trabalhos dirigidos por Koldewey reuniram documentação impressionante pela sua
quantidade e qualidade, comparativamente aos trabalhos arqueológicos da sua
época, mas a dimensão do sítio faz com que apenas uma pequena parte dele seja
conhecida, apesar dos principais edifícios terem sido explorados. Tal como
estava previsto, muitos dos achados foram enviados para a Alemanha,
nomeadamente os relevos vidrados da Porta de Ishtar e da Via Processional, que
foram reconstruídos e estão em exposição no Museu de Pérgamo em Berlim. O ritmo
das escavações abrandou em 1914, com o início da Primeira Guerra Mundial,
durante a qual muitos alemães e locais envolvidos nas escavações foram
recrutados. Koldewey continuou a trabalhar no local até 1917 com uma equipa
limitada.
Escavações depois de 1945
As escavações em Babilónia só foram retomadas
várias décadas depois da partida de Koldewey. Em 1962 e entre 1967 e 1973,
equipas alemãs escavaram o setor do zigurate e de outros edifícios,
nomeadamente um complexo que pode ter sido i antigo templo da grande festa
religiosa do Akitu.
A partir de 1974, trabalhou no sítio uma
equipa italiana dirigida por G. Bergamini. O primeiro objetivo era efetuar
estudos topográficos e estratigráficos para corrigir e completar as escavações
da época de Koldewey. Estes estudos revelaram a elevação da cidade devido aos
problemas hidrográficos do local. Foram também postos a descoberto alguns
edifícios no setor de Ishin Aswad.[6]
Em 1979 e 1980, uma equipa iraquiana escavou o
templo de Nabu ša harê, onde foi encontrado um lote importante de tábuas de
barro escritas. Os trabalhos dessa equipa foram interrompidos em 1990 devido à
Guerra do Golfo.
Reconstruções e degradações
Durante as décadas de 1960 e 1970, as equipas
arqueológicas iraquianas empreenderam a restauração de monumentos antigos no
país, com objetivos turísticos, o que foi levado a cabo paralelamente com novas
escavações. Um dos monumentos restaurados em Babilónia foi o templo de Ninmah.
O sítio de Babilónia foi um dos que teve mais edifícios reconstruídos, em
grande parte devido a ter-se tornado um símbolo do Iraque, desde que o país foi
fundado em 1932. O programa de reconstruções intensificou-se a partir de 1978,
impulsionado por Saddam Hussein, que governou o Iraque entre 1979 e 2003. Um
dos objetivos era ligar o ditador ao passado da Mesopotâmia para fins de
propaganda, apresentando-o por vezes como sucessor de Hamurabi, de
Nabucodonosor II e de alguns soberanos assírios. As questões políticas
misturaram-se com os interesses turísticos e Babilónia passou a ser um local de
manifestação do poder. Foram restaurados alguns monumentos, como uma parte da
muralha e a Porta de Ishtar. Outros foram modificados, como o Palácio Sul, cuja
sala do trono foi adaptada para poder ser usada para concertos e receções, ou o
teatro grego, que foi dotado de 2 500 lugares para espetáculos. Saddam Hussein
foi ao ponto de mandar colocar inscrições de fundação, como faziam os antigos
soberanos babilónicos, e mandou construir um palácio sobre uma das três colinas
artificiais que foram então construídas no sítio. O local da antiga cidade
passou a ser palco de várias festividades, que se realizaram regularmente.
Essas obras são criticadas pelos arqueólogos pois elas impedem as escavações
num grande parte do sítio e aceleram a degradação de algusn monumentos antigos,
já danificados pelas escavações precendentes, que retiraram algumas partes
deles para museus europeus, e pela erosão que se intensificou desde que eles
foram desenterrados.
A degradação do sítio de Babilónia piorou na
sequência da invasão do Iraque por tropas americanas em 2003. No local foi
estabelecido o "Campo Alfa", uma base militar americano-polaca com
150 hectares e mais de 2 000 soldados, que incluía um heliporto militar. As
atividades militares danificaram alguns edifícios devido à passagem de veículos
militares como helicópteros e blindados com lagartas e principalmente a grandes
trabalhos de terraplanagem realizados no meio do setor monumental, entre o
Kasr, o tell Homera e o tell Sahn. Foram escavadas trincheiras em sítios
arqueológicos e o pavimento da Via Processional foi danificado pelos veículos.
As críticas às estragos levaram finalmente as autoridades militares a restituir
o sítio às autoridades iraquianas em dezembro de 2004. No entanto, a degradação
prosseguiu devido à falta de manutenção e à inexistência de qualquer projeto de
preservação.
Fases da história de Babilónia
Babilónia aparece tardiamente na história da
Mesopotâmia antiga, em comparação com outras grandes cidades dessa civilização,
como Kish, Uruk, Ur, Nipur ou Nínive. Por isso, a sua rápida ascensão é ainda mais
notável. A cidade é pouco mencionada na documentação da segunda metade do 2.º
milénio a.C., mas cresceu rapidamente sob o impulso de uma dinastia amorita que
obteve vários êxitos militares importantes, durante o período dito
"paleobabilónico" (2004–1595 a.C.). Durante o período seguinte, dito
"médio-babilónico" (1595–fim do século XI a.C.), Babilónia afirmou-se
de forma permamente como capital da Mesopotâmia meridional, tornando-se um
grande centro religioso além de um centro político, sob adinastia cassita e da
2.ª dinastia de Isin (1154–1027 a.C.).
O início do 1.º milénio a.C. foi marcado por
períodos turbulentos, que se prolongaram nas guerras provocadas pelas
tentativas de controlo da região da Babilónia pelos reis assírios. Estes foram
finalmente derrotados pelos reis que fundaram o poderoso império dito
neobabilónico (626–539 a.C.) e que empreenderam as obras que tornaram Babilónia
a cidade mais prestigiada do seu tempo. Depois da queda deste império,
sucederam-se várias dinastias estrangeiras na Babilónia; apesar da cidade não
ser a capital, ela conserva uma importância considerável até aos últimos
séculos a.C., durante as fases mais tardias da história babilónica, antes de
ser abandonada nos primeiros séculos da nossa era.
Origens da cidade e do seu nome
A menção mais antiga ao que pode ter sido o
nome da cidade de Babilónia encontra-se numa tábua datada por critérios
paleográficos de ca. 2 500 a.C. (período dinástico arcaico). Esse texto
menciona uma cidade chamada BA7.BA7 ou BAR.KI.BAR cujo soberano (ENSÍ) comemora
a construção do templo do deus AMAR.UTU, que em períodos ulteriores é a forma
suméria do nome de Marduque, a divindade tutelar de Babilónia, o que
aparentemente dá força à hipótese do texto se referir aquela cidade.O nome
"Babilónia" provém do grego, que por sua vez provém do acádio
bāb-ili(m), que significa "porta (bābu(m)) do deus (ili(m))", que se
encontra também nos textos sob a forma bāb-ilāni ("porta dos
deuses"). Terá tido origem no termo babal ou babulu, que sem dúvida fazia
parte da língua, atualmente desconhecida, de uma população anterior à presença
suméria e semita na Mesopotâmia, pelo que se desconhece o seu significado. Uma
outra hipótese é que se trate de um termo de origem suméria, que talvez
signifique "pequeno bosque". Esse termo original teria sido
interpretado, devido à proximidade fonética, pelos falantes de acádio que
povoaram a cidade como significando "porta do deus", pois ele aparece
com frequência nos textos mais antigos em logogramas sumérios, sob a forma
KÁ.DINGIR ou KÁ.DINGIR.RA, que tem o mesmo sentido (KÁ, "porta";
DINGIR "deus"; -RA como marca do dativo) e é uma tradução e não
apenas uma simples transposição fonética como acontece com outras adaptações da
palavra noutras línguas. O nome acádio da cidade, por sua vez, deu origem ao
hebraico Babel e ao árabe Bābil, que designa a cidade nessas línguas.
A primeira menção segura do nome Babilónia
encontra-se na forma suméria KÁ.DINGIR, num texto cuneiforme datado do reinado
de Charcalicharri (2 218–2 193 a.C.), soberano do Império Acádio que mandou
restaurar dois templos de Babilónia, que fazia parte do seu império. Depois
disso, Babilónia aparece em vários textos do período da 3.ª dinastia de Ur, no
século XXII a.C., quando a cidade era um centro administrativo secundário do
Império de Ur, dirigida por um governador que ostentava o antigo título real
ENSÍ. Tratam-se principalmente de documentos fiscais, dos quais se deduz que se
tratava de uma cidade pouco importante. Os estratos das ruínas do 3.º milénio
a.C. não foram escavados, pelo que é difícil datar as origens da cidade, apesar
de terem sido recuperados lguns objetos desse milénio durante prospeções.
Dinastia amorita
O rei da Babilónia Hamurabi em frente ao deus
Shamash, num detalhe da estela do Código de Hamurabi (século XVIII a.C.)
A ascensão de Babilónia dá-se com o surgimento
de uma dinastia de origem amorita, que se inicia em 1 894 a.C. com um soberano
de nome Samuabum (r. 1 894–1 881 a.C.).[16] Este período é designado como
"paleobabilónico" ou "babilónico antigo". Sumulael (r. 1
880–1 845 a.C.) foi o verdadeira ancestral da Primeira dinastia da Babilónia,
pois não era da família do seu predecessor e todos os seus sucessores foram
seus descendentes. Estes aumentaram progressivamente o reino, que no início
estava limitado à cidade e aos seus arredores. Durante o reinado de
Sin-muballit (r. 1 812–1 793 a.C.), Babilónia torna-se uma potência capaz de
rivalizar com os outros grandes reinos amoritas vizinhos de Larsa, Eshnunna,
Isin e Uruk. O seu filho Hamurabi (r. 1 793–1 750 a.C.) desempenhou com
inteligência o seu papel no cenário internacional do seu tempo e foi sob o seu
reinado que esta primeira dinastia babilónica se tornou uma potência regional
dominante. Durante a primeira parte do seu reinado não obteve qualquer vitória,
mas depois logrou submeter os reinos que em sua volta: Larsa, Eshnunna e, mais
tarde, Mari.
O reino babilónico tornou-se então a maior
potência política da Mesopotâmia. O filho e sucessor de Hamurabi, Samsu-iluna
(r. 1 749–1 712 a.C.), manteve durante algum tempo essa supremacia, mas
enfrentou várias revoltas que enfraqueceram o seu reino. Os monarcas seguintes
viram o seu território desagregar-se devido a rebeliões e ataques de povos
inimigos, principalmente os cassitas, mas também os hurritas, ao que se somou
uma crise agrária. O último soberano da dinastia, Samsu-ditana (r. 1 625–1 595
a.C.), governou praticamente encurralado pouco mais do que a cidade e os seus
arredores. Segundo a tradição babilónica ulterior, o golpe fatal a Samsu-ditana
foi infligido pelo rei hitita Mursilis I que comandou um raide à cidade em 1
595 a.C. A cidade foi saqueada, a dinastia amorita foi extinta e as estátuas de
culto ao deus Marduque e da sua consorte Sarpanitu foram levadas pelos
vencedores como símbolo da submissão da cidade vencida.
Sabe-se pouco deste período da primiera
dinastia babilónica. O grande desenvolvimento da cidade e do reino nesse
período deveu-se a vários fatores: em primeiro lugar, ao governo de uma
dinastia poderosa, mas também à situação geográfica que os governantes souberam
aproveitar, numa rica região agrícola irrigada, ao longo de um braço do rio
Eufrates e perto do rio Tigre, a qual constitui um eixo de comunicação
importante entre a Síria, a Alta Mesopotâmia, o planalto iraniano e o sul da
Mesopotâmia, que dá para o golfo Pérsico. A cidade tornou-se uma espécie de
cruzamento de rotas comerciais importantes.
Os estratos arqueológicos dessa época só foram
estudados numa área residencial, pois em geral estão cobertos pelo lençol
freático e irremediavelmente danificados. Os dados arqueológicos são escassos e
os achados mais significativos são vários conjuntos de tábuas escolares,
religiosas e económicas encontradas na zona do Merkes. A organização geral da
cidade fazia-se já em redor da zona religiosa, situada na margem esquerda
(leste) do Eufrates, que já existia, mas ainda se desconhece a extensão exata
da cidade. Não se sabe se a muralha já passava por algumas portas que um
milénio depois já se situavam no interior da cidade, como a porta de Lugalirra
ou porta do mercado, ou se já rodeava uma área mais vasta, correspondente à
cidade interior do tempo de Nabucodonosor II. Contudo, aparentemente a cidade
neste período já se estendia sobre a margem direita (a oeste, futuro bairro de
Kumar), onde a existência de vários templos é atestada por textos.[nt 3] As
melhores fontes de informação sobre as construções da cidade são as inscrições
de fundação e os nomes dos anos dos reis paleobabilónicos, comemorativos dos
seus trabalhos de construção.
O primeiro rei da dinastia, Sumulael,
construiu uma nova muralha e o palácio real que também foi ocupado pelos seus
sucessores, até que Ammi-ditana (r. 1 683–1 647 a.C. aparentemente construiu
outro (a menos que se trate de um restauro, pois os textos não distinguem
claramente os dois palácios). A vida no palácio real de Babilónia só é
conhecida por algumas tábuas do tempo de Hamurabi, provenientes de
correspondência diplomática do rei de Mari, que mencionam sobretudo transações
que interessavam a este rei. Além das obras na sua moradia, os reis
paleobabilónicos empreenderam regularmente obras na sua capital, sobretudo nas
muralhas, nas portas e nos numerosos templos, muitos deles localizáveis pois
são mencionados em textos de obras de épocas posteriores. Além das construções,
os reis faziam ofertas sumptuosas a algumas divindades da cidade. O Esagila, o
templo do grande deus local Marduque, era objeto de atenções especiais. O seu
zigurate não é mencionado, mas há dados arqueológicos que podem sustentar a
hipótese dele datar deste período. Os textos do Merkes indicam que o bairro
situado naquele local se chamava "cidade nova oriental" e que era
habitado por uma categoria de sacerdotisas chamadas nadītum, caraterísticas da
época paleobabilónica.
Dinastia cassita
Depois da tomada de Babilónia pelos hititas, a
situação política na região babilónica é particularmente obscura. A região fica
sob o controlo de uma dinastia de origem cassita em condições mal conhecidas.
Um texto do século VII a.C. encontrado em Nínive, na Assíria, apresenta-se como
uma cópia de uma inscrição do rei cassita Agum II (início do século XVI a.C.),
onde se lê que restituiu as estátuas de culto de Marduque e Sarpanitu a
Babilónia e restaurou o Esagila. Nada se sabe quanto à autenticidade desse
texto, tanto mais que esse rei Agum só é mencionado em textos posteriores ao
seu reinado.
Em face dos conhecimentos atuais do domínio
cassita sobre a Babilónia, este só é assegurado no início do século XV a.C. (um
século depois do ataque hitita e do suposto reinado de Agum II), com o reinado
de Burnaburiash I e principalmente dos seus sucessores Ulamburiash e Agum III.
Os reis desta dinastia, que se apresentam como monarcas de Karduniaš
(correspondente à região da Babilónia), mais frequentemente do que como
"reis de Babilónia" raramente aparecem relacionados com a cidade,
onde as suas obras são pouco ou nada mencionadas. O estatuto da cidade como
centro político não é claro: durante o reinado de Kurigalzu I ou Kurigalzu II,
no início do século XIV a.C., foi fundada uma nova capital em Dur-Kurigalzu
("forte Kurigalzu", do nome do seu fundador), situada a norte de
Babilónia, num local onde os rios Eufrates e Tigre estão mais perto um do
outro, à semelhança de outras futuras capitais de reinos estabelecidos na
Mesopotâmia, como Selêucia do Tigre, Ctesifonte ou, mais tarde, Bagdade.
Não obstante, Babilónia continuou a ser uma
cidade muito importante e prestigiada durante o período cassita, nomeadamente
porque o seu papel como centro religioso se desenvolveu, como é atestado pelo
facto do Esagila receber doações de terras e de Marduque se afirmar
gradualmente como figura divina soberana nos textos desse período.
Significativamente, as fontes consideram a tomada de Babilónia pelos seus
inimigos os revezes mais marcantes dos reis cassitas. Em 1 235 a.C., a cidade é
saqueada pelo rei Tukulti-Ninurta I da Assíria. Segundo a crónica histórica
babilónica “Crónica P”, esse rei derrubou as muralhas e levou a estátua de
Marduque, tendo depois mandado redigir no seu país um longo texto celebrando a
sua vitória.[34] [35] Os conflitos entre a Babilónia e a Assíria sucederam-se
até à intervenção de uma terceira potência, a dos reis de Elam Shutruk Nahunte
(r. ca 1 185–1 155 a.C.) e do seu filho Kutir-Nahhunte III (r. ca 1 155–1 150
a.C.), que se apoderaram de Babilónia em 1 158 a.C. e em 1 155 a.C. e roubam os
tesouros da cidade, entre os quais a estátua do grande deus.
O aspeto da cidade de Babilónia durante o
período cassita é ainda menos conhecido do que durante o período
paleobabilónico, já não se conhecem inscrições de fundação comemorativas de
obras na cidade e porque os estratos arqueológicos dessa época não foram
escavados pelas mesmas razões que os da época precedente, à exceção de alguns
níveis no setor do Merkes, onde foram descobertos vários lotes de tábuas sobre
negócios privados e um com textos religiosos pertencentes a uma adivinho.[38] É
possível que tenha sido neste período que a planta da cidade, com a sua muralha
principal, se tenha consolidado, se é que isso não aconteceu ainda no período
precedente.
Segunda dinastia de Isin e período de declínio
Os elamitas foram finalmente expulsos de
Babilónia por uma nova dinastia com origens em Isin, que logrou retomar a
cidade. O seu maior rei, Nabucodonosor I (r. 1 126–1 105 a.C.), derrotou depois
os elamitas no seu próprio país e trouxe de volta triunfalmente a estátua de
Marduque, um acontecimento que é relatado num longo texto que figura numa ata
de doação.[40] Este ato é particularmente importante para a história religiosa
de Babilónia, pois é neste período que se estabeleceu o primasia de Marduque
sobre as outras divindades mesopotâmicas, com a redação da “Epopeia da Criação”
(Enūma eliš), que narra como ele se tornou rei dos deuses. Nesta história,
Babilónia aparece como uma cidade construída pelos deuses e situada no centro
do mundo, no ponto de contacto entre o Céu e a Terra (materializado pelo
zigurate, cujo nome significa "Casa-ligação do Céu e da Terra").
Geralmente considera-se que foi também nessa época que foi redigido o texto
topográfico chamado TINTIR (o mesmo que Babilu), devido ao seu incipit, onde
está descrita a localização de todos os locais de culto da cidade, que tinha
então o estatuto de cidade santa. Acredita-se por isso que a cidade já tinha
então a sua planta praticamente definitiva, mesmo sendo possível que o texto (e
por conseguinte a organização interior final da cidade) seja mais tardio.
O retorno do reino babilónico ao primeiro
plano político foi, no entanto, de curta duração. A partir de cerca de 1 050
a.C., a região submersa com incursões de vários povos nómadas, como os arameus.
O fim do reinado de Nabu-shum-libur (r. 1 032–1 025 a.C.) marca o início de um
período de caos e de mudanças dinásticas frequentes, sobre o qual escasseiam
fontes sobre a Babilónia. Aparentemente, as grandes cidades da região passaram
por períodos de grande violência e Babilónia não deve ter sido exceção.
Babilónia e o domínio assírio
Baixo-relevo do palácio real de Nínive,
representando soldados assírios contabilizando o butim no decurso de uma
campanha na Babilónia.
A situação começou a estabilizar a partir do
século IX a.C., apesar de continuar muito agitada. Os reis de Babilónia lutaram
para afirmar o seu domínio sobre a região, mas as dinastias eram muito
instáveis.[44] A estes problemas somou-se o reinício das guerras contra a
Assíria, que se encontrava numa posição de força devido à sua maior
estabilidade interna. A degradação da situação acelerou-se durante o reinado do
rei assírio Tiglate-Pileser III (r. 745–727 a.C.), que após vários anos de
combates conseguiu conquistar Babilónia em 728 a.C., onde se proclamou rei.
O domínio assírio, porém, não ficou
assegurado, e Sargão II (r. 722–705 a.C.), que restaurou templos e as muralhas
de Babilónia, teve que enfrentar um duro adversário na Babilónia,
Marduk-apal-iddina II, que por duas vezes reinou na cidade. Senaqueribe, o
sucessor de Sargão II, tentanto fazer face a várias revoltas em Babilónia,
colocou um dos seus filhos no trono da cidade. Este ficou pouco tempo no poder
— foi capturado durante outra revolta e foi entregue aos aliados dos revoltosos,
os elamitas, que o executaram. A resposta de Senaqueribe foi terrível e o
relato que se conhece deixa claro o ódio contra os babilónios. O rei assírio
teria massacrado uma grande parte da população e destruiu grande parte da
cidade mudando o curso das águas para a inundar. Depois destruiu as muralhas e
o santuário de Marduque, de onde levou a estátua. Segundo o relato, a
destruição teria sido ordenada pelo deus Marduque, zangado com os babilónios, e
Senaqueribe foi apenas o braço da vingança divina. A verdadeira amplitude das
destruições é controversa e tudo indica que a cidade não foi completamente
destruída como o rei assírio queria fazer crer.
Assaradão (r. 681–669 a.C.), o filho e
sucessor de Senaqueribe, escolheu a via da pacificação e iniciou a reconstrução
da cidade, apesar disso ter sido supostamente proibido durante 70 anos por
Marduque. Esta proibição foi contornada com um artifício: o número 70 em
cuneiforme é escrito com dois símbolos; se for invertida a ordem desses
símbolos, o número representado passa a ser 11. Como já tinham passado mais de
11 anos, a reconstrução podia ser realizada.
A sucessão de Assaradão em 668 a.C. deu origem
a uma organização política especial: Assurbanípal reinava na Assíria, enquanto
que o seu irmão Shamash-shuma-ukin ocupava o trono da Babilónia, em posição de
vassalo, mas ao mesmo tempo guardião da estátua sagrada de Marduque, que voltou
à cidade para a sua entronização. Shamash acabou por revoltar-se contra o irmão
em 652 a.C., mas foi derrotado depois de uma guerra de quatro anos e do cerco
da cidade durante vários meses em 648 a.C. Foi morto durante o cerco, queimado
no incêndio do seu palácio, um acontecimento que deu origem ao mito grego de
Sardanápalo. Após uma primeira fase de repressão, Assurbanípal revelou-se menos
brutal do que o seu avô e mandou restaurar a cidade, à frente da qual colocou
um governante fantoche, Kandalanu. Os reis assírios marcaram profundamente a
história de Babilónia e a sua paisagem urbana.
Império Neobabilónico e apogeu de Babilónia
Mapa aproximado do Império Neobabilónico
A sucessão de revoltas na Babilónia
enfraqueceu a Assíria, ao mesmo tempo que na cidade o espírito de resistência
ficou cada vez mais forte e os resistentes ficaram cada vez mais ativos e mais
unidos. Após a morte de Assurbanípal em 627 a.C., os seus sucessores
envolveram-se em querelas que acabaram por ser fatais para o reino assírio.
Nabopolasar, governador em nome dos assírios do "País do Mar",
provavelmente de origem caldeia, aproveitou dos tumultos na Assíria para tomar
o poder em Babilónia em 625 a.C. e após isso entrou gradualmente em conflito
com o seu vizinho do norte. Após alguns anos de conflitos, ele consegue
finalmente derrubar o Império Assírio com a ajuda do rei dos Medos, Ciaxares,
entre 614 e 610 a.C.
O filho de Nabopolasar, Nabucodonosor II (r.
605–562 a.C.) sucedeu ao pai. Foi com ele que Babilónia conheceu o seu apogeu,
com o chamado Império Neobabilónico, que chegou a cobrir grande parte do
Oriente Próximo, desde o Egito até aos montes Tauro, na Anatólia, e aos limites
da Pérsia. Os reinados de Nabopolasar e de Nabucodonosor II foram um período de
profundas transformações na cidade, iniciadas pelo primeiro e prosseguidas pelo
segundo, que são conhecidas por numerosas inscrições de fundação. Foram essas
obras que contribuíram para a imagem lendária da cidade, reproduzida por
autores estrangeiros como Heródoto, Ctésias ou os redatores da Bíblia hebraica,
de uma cidade rodeada de muralhas impressionantes, dominada por monumentos
notáveis, que nessa época foram aumentados ou restaurados: os palácios reais,
templos, o zigurate, as ruas principais, entre elas a Via Processional que saía
da Porta de Ishtar, etc. A vida económica e social da cidade transparece
igualmente nos textos económicos, administrativos e escolares desse período.
Os sucessores de Nabucodonosor lograram manter
de alguma forma o seu império, mas não tiveram a tenacidade dos fundadores da
dinastia. O último rei da Babilónia, Nabonido (r. 556–539 a.C.) é um personagem
enigmático, que começou por desdenhar uma parte da elite do seu reino,
nomeadamente o clero de Marduque, pois aparentemente desinteressou-se deste
deus em favor do deus lunar Sin. Nabonido deixou a cidade de Babilónia e
instalou o seu governo na cidade-oásis de Teiman e a sua ausência de Babilónia
na prática impedia que os sacerdotes de Marduque de realizarem as celebrações
do Ano Novo, que requeriam a presença do rei.
Domínio estrangeiro
Quando o rei persa aqueménida Ciro II atacou
Babilónia em 539 a.C., com uma ofensiva de surpresa contra a Porta de Enlil, no
noroeste da cidade, os combates foram breves e cidade juntamente com todo o
império caíram nas suas mãos. A cidade perdeu a sua independência, mas o novo
soberano proclamou o seu desejo de preservar a cidade e ganhou os favores do
clero local proclamando um decreto que lhes era muito favorável, que se
encontra escrito num cilindro de barro conhecido como Cilindro de Ciro, o qual
foi descoberto nas ruínas de Babilónia. A queda do reino babilónico e o fim da
independência política não significaram o declínio da metrópole mesopotâmica,
que se revoltou em vária ocasiões: contra Dario I em 521 a.C., mais tarde
contra o seu filho Xerxes I (r. 518–465 a.C.), a quem autores gregos
posteriores atribuíram a decisão de destruir o santuário de Marduque como
represália, algo cuja amplitude real é controversa.
Babilónia continuou a ser uma cidade
importante no Império Aqueménida, apesar de não ser a capital, e a região
babilónica era um território crucial, onde a nobreza persa dispunha de vastos
domínios. Em 331 a.C., Babilónia abriu as suas portas ao rei macedónio
Alexandre, o Grande depois da sua vitória em Gaugamela e os invasores são
manifestamente bem acolhidos pela população. Alexandre patrocinou a restauração
de canais e do Esagila; depois da sua expedição à Índia, instalou-se na cidade
durante alguns meses, antes de morrer em junho de 323 a.C.
Foi na Babilónia que se esboçou a primeira
partição do império de Alexandre entre os seus generais, os diádocos, que
rapidamente se fragmentou em lutas que afetaram duramente a Babilónia e a sua
maior cidade. Esta encontrava-se enxague quando Seleuco I conseguiu consolidar
o seu domínio na região em 311 a.C. O novo soberano não manteve Babilónia como
capital, pois construiu uma nova cerca de 60 km a nordeste, Selêucia do
Tigre.[60] Apesar de tudo, Babilónia continuou a ser importante, como
testemunha, por exemplo, o facto do filho de Seleuco, Antíoco I, lá ter
residido vários anos antes de tomar o poder sozinho. Os novos governantes continuaram
a reconhecer o prestígio da cidade. Os dois primeiros imperadores selêucidas
mandaram reconstruir vários edifícios religiosos em Babilónia. Mais tarde o
centro de gravidade do império mudou-se para ocidente e Antioquia tornou-se a
capital principal dos sucessores selêucidas, que foram perdendo gradualmente a
Babilónia face ao avanço dos partas. Estes acabaram por dominar definitivamente
a região babilónica durante o reinado de Mitrídates II da (r. 123–88 a.C.).
Estes conflitos afetaram fortemente Babilónia e a região, principalmente devido
às extorsões e atos violentos do general parta Himério.[61]
Babilónia continuou a ser uma cidade
importante sob o domínio dos impérios estrangeiros da segunda metade do 1.º
milénio a.C. Sob a administração aqueménida, o governador da Babilónia — que
nos textos em cuneiforme é chamado pahāt e não pelo nome persa
"sátrapa" — dirigia uma vasta província que cobria todos os
territórios do antigo império babilónico, que ia até ao mar Mediterrâneo. Mais
tarde, a província foi reduzida para conter apenas a Mesopotâmia.
No Império Selêucida, Babilónia foi suplantada
por Selêucia como principal centro administrativo e tornou-se uma capital
provincial secundária. O imperador era ali representado por um personagem que
os textos locais designam šaknu ("oficial" ou
"funcionário", um título que era usado por dignitários dos antigos
reinos babilónicos) e que dirigia o pessoal do palácio real. A partir de 170
a.C., durante o reinado de Antíoco IV, Babilónia tornou-se uma cidade grega,
com uma comunidade de cidadãos (em grego: politai, que nos textos babilónicos
aparecem com a designação de puliṭē ou puliṭānu), dirigida por um epístata (em
grego: ἐπιστάτης; transl.: epistátes, que aparentemente aparece nas fontes
cuneiformes como pahāt). Os cidadãos reuniam-se no teatro, que entretanto foi
construído na cidade.
A comunidade babilónica indígena, que
continuou dominante em número, formava a terceira entidade política desta
sociedade complexa. Ela era representada junto das autoridades gregas pelo
pessoal encarregado do Esagila, que por isso passou a ter um peso dominante na
vida da cidade, pois era a única autoridade tradicional de origem local ainda
existente. Esse pessoal era dirigido por uma assembleia (kiništu) cuja
autoridade superior era o administrador do santuário (šatammu). Aparentemente,
durante o período parta funcionaram autoridades semelhantes — os partas não
modificaram a estrutura e política e social da cidade.
Para estes diferentes períodos, chegaram aos
nossos dias arquivos de textos em cuneiforme de famílias privadas e de
santuários em número considerável em comparação às outras cidades da região, de
onde foram desaparecendo progressivamente. Esses textos falam das atividades de
culto e económicas da cidade.
Fim da Babilónia antiga
Durante o período parta assistiu-se ao
declínio de Babilónia, que se despovoou progressivamente. Os grandes centros do
poder deslocaram-se definitivamente para norte, para as margens do rio Tigre
(Selêucia, Ctesifonte e, bastante mais tarde, Bagdade). Contudo, os seus
monumentos principais ainda mantiveram atividade. Plínio, o Velho escreveu no
início do século I d.C. que o templo continuava ativo, não obstante a cidades
estar em ruínas, e uma inscrição grega do século seguinte indica que o teatro
foi restaurado. Quando as primeiras comunidades cristãs se instalaram na
região, a cidade continuava a ser um centro de comércio ativo, onde se
encontravam comunidades de várias partes do mundo além das comunidades
babilónica e grega (que já se encontravam interligadas desde há muito tempo),
nomeadamente mercadores de Palmira.
No entanto, textos greco-romanos, como os de
Dião Cássio, que relata a visita à região do imperador romano Trajano durante a
sua campanha de 115 d.C., descrevem a cidade como um campo de ruínas, o que
ilustra a extensão do declínio, que impressionou vários autores que conheciam
os relatos sobre o esplendor do passado. O templo principal ainda funcionava no
início do século III e desconhece-se quando foi abandonado, nos séculos seguintes,
durante o domínio do Império Sassânida, o qual é geralmente considerado como o
período do desaparecimento definitivo da antiga cultura mesopotâmica na região
babilónica.
Durante o período islâmico, o local da cidade
ainda era conhecido, mas Bābil já mais não era do que uma pequena aldeia,
segundo o geógrafo ibne Hauqal (século X). Os autores dos séculos seguintes
apenas falam das ruínas, de como estas eram despojadas dos seus tijolos em
melhor estado para serem usados na construção de casas nas redondezas e no
significado das ruínas e das crenças a elas associadas pelos locais. A antiga
cidade passou ser mais uma lenda do que qualquer outra coisa.
Babilónia no seu apogeu
Os estratos antigos de Babilónia não foram
escavados, à exceção de algumas residências paleobabilónicas e os textos não
revelam informações suficientes para saber qual seria o aspeto da cidade nos
períodos mais antigos. A maior parte dos dados disponíveis sobre Babilónia,
quer resultantes de escavações, quer dos diferentes textos locais e exteriores,
são referentes ao período neobabilónico (624–539 a.C.) e ao período aqueménida
(539–331 a.C.).
Uma "megacidade" da Antiguidade
No seu apogeu, estima-se que a cidade de
Babilónia ocupava entre 950 e 975 hectares, o que torna Babilónia o maior
conjunto de ruínas da Antiguidade mesopotâmica e mesmo do do Próximo Oriente,
que atualmente cobre vários tells. As estimativas do número de habitantes são
praticamente impossíveis. Há autores que avançaram com 100 000 habitantes
apenas na cidade interior, mas não têm bases sólidas. para dar uma ideia da
ordem de grandeza, a população de Nínive no seu apogeu, a segunda maior cidade
da Mesopotâmia antiga, foi estimada em aproximadamente 75 000 habitantes,
baseada em dados mais seguros. Qualquer que fosse o número de habitantes,
tratava-se manifestamente de uma cidade muito povoada entre o período
neobabilónico e o período aqueménida, que pode considerar-se a primeira
"megacidade" da história,fervilhante de atividade, que inspirou a
imaginação de testemunhas exteriores.
O espaço urbano de Babilónia é conhecido de
forma muito desigual, pois ó foram realizadas escavações numa pequena parte do
sítio. Praticamente só as áreas centrais é que foram escavados, focando-se
sobretudo nos complexos monumentais. Não obstante, são conhecidos vários
aspetos do seu urbanismo, quer por via dos estudos arqueológicos (nas ruínas do
espaço urbano, mas também em sepulturas na cidade e nas suas proximidades),
quer pelas fontes textuais e epigráficas, nomeadamente os principais monumentos
oficiais (palácios e templos), os cursos de água, algumas áreas residenciais,
as muralhas e portas. A comparação dos dados arqueológicos com as fontes
textuais em cuneiforme, principalmente as tábuas topográficas, sobretudo o
texto conhecido como TINTIR,[nt 5] que descreve os diferentes nomes da cidade,
a localização dos seus grandes templos, os locais de culto mais modestos e em
greal todos os locais relacionados com religião, como por exemplo as portas e
muralhas batizadas com nomes de deuses. Esses textos possibilitam uma visão de
conjunto da cidade relativamente precisa, que é complementada pelos textos dos
autores gregos melhor informados, como Heródoto e Ctésias. Além dos textos
topográficos, há diversos textos em cuneiforme que fornecem informações
relevantes, como as inscrições reais comemorativas de obras importantes, ou
documentos de natureza administrativa ou comercial, que permitem conhecer
aspetos da sociedade, economia e organização política da cidade; ou textos
religiosos que descrevem as práticas de culto e ilustram o estatuto sagrado da
cidade.
Organização geral do sítio
O espaço urbano de Babilónia pode ser dividido
em três áreas principais. As duas primeiras foram as que foram ocupadas nas
épocas mais antigas e que foram as mais densamente povoadas nos períodos
neobabilónico e persa. A terceira área só foi integrada na cidade num período
mais recente, no reinado de Nabucodonosor II, ou seja no último quartel do
século XII a.C. O centro da cidade situava-se na margem esquerda (leste) do
antigo curso do rio Eufrates. O espaço situado nessa margem entre o rio e o
limite oriental da muralha interior cobre entre 450 e 500 hectares e é onde se
encontram os principais monumentos da cidade, como o setor palacial, situado no
tell do Kasr (ou Qasr),[nt e o complexo
do Esagila, o templo de Marduque, no tell Amran ibn Ali, com o Etemenanki, o
seu zigurate, adjacente a norte. Deste apenas resta o traçado no solo numa
depressão chamada Sahn. A leste do complexo religioso encontra-se o sítio do Merkes
("centro da cidade" em árabe), onde foi desenterrado um bairro
residencial.
Segundo o texto Tintir, esta parte da cidade
estava dividida em bairros, a maior parte deles com nomes sumérios:
KÁ.DINGIR.RA ("Porta ddo Deus", ou seja, "Babilónia"), junto
ao palácio; ERIDU (nome de uma antiga cidade sagrada da Mesopotâmia, cidade do
deus Enki, pai de Marduque), em volta do complexo do Esagila; ŠU.AN.NA
("Mão do Céu"), ao sul do anterior, em redor do tell Ishin Aswad;
TE.EKI, no canto sudeste; KULLAB (nome de uma antiga aldeia que foi integrada
na cidade de Uruk), no centro; e a "Cidade Nova" em acádio: ālu eššu,
no canto nordeste, em volta do tell Homera. Os três primeiros bairros formavam
o núcleo central da cidade e a parte mais antiga da cidade; os seus nomes por
vezes serviam para designar toda a cidade
O segundo conjunto urbano da cidade situava-se
na margem direita (ocidental) do antigo curso do Eufrates e cobria cerca de 130
hectares. Não foi escavado porque está parcialmente submerso pelo curso atual
do rio e também porque não tinha os monumentos mais relevantes. É impossível
determinar se foi ocupado paralelamente à margem esquerda ou se se trata de uma
extensão mais tardia da cidade que se expandiu para a outra margem para ocupar
mais espaço. Esta parte da cidade era rodeada de uma muralha, que juntamente
com a muralha da margem contrária, demarcava a chamada cidade interior da
cidade (que aparece a vermelho no mapa), a qual formava uma retângulo que era
cortado pelo rio na direção norte-sul. O texto Tintir indica que ali havia
quatro bairros: Bab-Lugalirra ("Porta de Lugalirra");[nt 8] KUMAR ou
KU'ARA e TUBA, nomes de duas antigas cidades sumérias; e outro cujo nome não
foi decifrado.
O terceira área da cidade era um vasto
triângulo protegido por uma muralha construída na época neobabilónica em volta
da primeira zona, na margem esquerda do rio. Estende-se até 2,5 km para norte,
até ao tell Babil, onde se situa o único monumento conhecido nessa parte da
cidade, o "palácio de verão". Este terceira área é pouco melhor
conhecida do que a segunda, mas pode afirmar-se que não foi completamente
urbanizada e que poderia ter espaços agrícolas. Não é mencionada no Tintir, o
qual foi redigido antes de ter sido incluída no espaço muralhado. Fora das
muralhas havia várias aldeias, que podem considerar-se arrabaldes de Babilónia,
povoados por comunidades agrícolas que exploravam os os campos em volta da
cidade, os quais são mencionados nos textos económicos.
Muralhas e portas
As muralhas de Babilónia depois de uma
reconstrução recente
O sistema defensivo de Babilónia era
constituído por várias muralhas que cercavam as suas diferentes partes.[86] Um
primeiro conjunto de muralhas mais fortes cercava a cidade interior em ambas as
margens do Eufrates. Na margem esquerda havia uma segunda linha de muralhas, de
forma aproximadamente triangular, que circundava a cidade exterior. Os textos
do tempo de Nabucodonosor II indicam que nos arredores havia também várias
construções defensivas, que se destinavam a retardar o avanço de eventuais
inimigos e que se estendiam para até Kish, a leste-sudeste, e até Sippar, a
norte, defendendo toda a região babilónica.
A muralha exterior rodeava a cidade na margem
oriental (esquerda) do Eufrates. No outro lado do rio não havia muralha exterior
e a parte da cidade muralhada desse lado cidade (erigida no tempo de
Nabucodonosor II) constituía o primeiro nível defensivo cidade interior
oriental.[88] [89] Os contornos da muralha exterior formavam uma espécie de
trapézio que na prática é quase um triângulo com perímetro entre 12 e 15 km,
dos quais foram escavados pouco mais de 800 metros. As muralhas eram
constituídas por três paredes sucessivas, das quais a do meio era a mais
sólida, separadas por fossos. Na parte exterior havia outro fosso com cerca de
50 metros de largura e cheio de água. Havia dezenas de torres defensivas
repartidas a intervalos regulares de 30 a 50 metros. Um texto refere a
existência de um total de 120 torres e 5 portas. O estudo arqueológico das
muralhas exteriores suscitou várias interrogações, nomeadamente a inexistência
de qualquer extensão ao longo da margem ocidental do Eufrates, o que teria
oferecido um ponto de acesso aos atacantes, o que constitui um erro de conceção
surpreendente a não ser que no lado ocidental do rio também tivessem existido
muralhas exteriores que entretanto desapareceram por completo.[90]
A muralha interior, delimitava um espaço
retangular, com aproximadamente 2 por 3 km. Era constituída por dois muros
paralelos; o interior é denominado Imgur-Enlil ("Enlil mostrou o seu
favor") e o exterior é denominado Nimit-Enlil ("muralha de
Enlil") em alguns textos. Foram reconstruídos por Assaradão (r. 681–669
a.C.) e pelo filho deste Assurbanípal e posteriormente pelos reis neobabilónicos
Nabopolasar (r. 626–605 a.C.) e Nabucodonosor II (r. 605–562 a.C.) O muro
interno tinha 6,5 metros de espessura e estava separado do muro externo por um
espaço com 7,2 m, o qual tinha 3.7 m de espessura. A cerca de 20 metros havia
um fosso cheio de água do Eufrates, com mais de 50 m de largura. O conjunto da
muralha dupla e fosso constituía um sistema defensivo com mais de 100 m de
largura, complementado por torres defensivas a intervalos regulares. Dois
fortins defendiam o ponto mais sensível do sistema, o setor dos palácios,
nomeadamente o "palácio Norte", situado junto às muralhas no lado
norte da cidade interior ocidental, entre o Eufrates e a Porta de Ishtar.
Todo este conjunto constituía um sistema
defensivo manifestamente impressionante que inspirou a imaginação de autores
estrangeiros. Alguns deles atribuíam às muralhas de Babilónia dimensões ainda
mais formidáveis do que as reais, como Heródoto e Diodoro Sículo. Para
Estrabão, as muralhas eram uma maravilha do mundo, ao mesmo nível dos Jardins
Suspensos.
Segundo o Tintir, as muralhas internas tinham
oito portas monumentais, todas à exceção de uma (a "Porta do Rei")
com nomes de divindades, as quais protegeriam as respetivas portas. Além do
nome da divindade, as portas eram decoradas com um "nome sagrado" que
enfatizava o seu papel defensivo: "o inimigo é-lhe repugnante" na
porta de Urash, "odeia o seu agressor" na porta de Zababa,
"Ishtar derruba o seu assaltante" na porta de Ishtar, etc. Quatro
delas, situadas na metade ocidental, foram desenterradas e identificadas (a de
Ishtar, a de Marduque, a de Zababa e a de Urash); as outras, da parte oriental,
localizadas de forma imprecisa, eram as portas de Enlil, do Rei, de Adad e de
Shamash.
A porta mais célebre é a de Ishtar, sem dúvida
o monumento melhor conservado da antiga Babilónia, que foi levada pelos
arqueólogos alemães para o Museu de Pérgamo de Berlim, onde foi reconstituída.
Tinha uma importância capital no urbanismo da cidade pois era por ela que
passava a Via Processional, o principal eixo de comunicação que ligava o grande
santuário da cidade e passava ao lado do palácio real. A sua organização é
similar à das outras portas escavadas: uma anteporta de tamanho reduzido e
defendida por duas torres avançadas dava acesso à porta principal flanqueada de
torres mais imponentes; o conjunto tinha um comprimento de cerca de 50 metros.
A porta de Ishtar é famosa sobretudo pela sua decoração constituída por painéis
de tijolos vidrados azuis ou verdes que representam leões, touros e dragões.
rio e
os canais
O centro de Babilónia era a parte ocidental da
cidade interior, situada na margem esquerda do Eufrates, que cobria perto de
500 hectares. Ali se encontravam todos os monumentos que fizeram a cidade
famosa. Está estruturada em volta de vários eixos principais, a começar nos
cursos de água. O Eufrates limita essa parte da cidade e muito provavelmente
esteve na origem da implantação de um povoado no local, pois trata-se de um
eixo de comunicação importante à escala regional e mesmo internacional. Para
facilitar o trânsito de mercadorias e de pessoas, os cais daquela área foram
reconstruídos no tempo de Nabucodonosor II. Eram planos, com muros ao longo do
rio, e eram perfurados em vários locais por uma espécie de poternas que
permitiam uma comunicação fácil entre o rio e a cidade. A atividade devia ser
intensa, pois os cais das cidades mesopotâmicas (kāru) eram tradicionalmente
espaços comerciais de primeira importância. Sabe-se por um texto datado de 496
a.C. (do tempo do reinado de Dario I) que era cobrada uma taxa pela administração
ao empresários privados sobre as mercadorias que eram ali desembarcadas, a qual
era calculada em função do valor das mercadorias.
Uma das maiores edificações ligadas ao
Eufrates é uma ponte com mais de 120 metros de comprimento, que passava por cima
do bairro sagrado e ligava as duas partes da cidade interior. A ponte é mencionada por Heródoto e Diodoro
Sículo e foi pode ser escavada pois atualmente encontra-se em terreno seco
devido à mudança de curso do rio. Era suportada por sete pilares em tijolo e
pedra. Três deles, em forma barco e medindo 21 por 9 metros, foram
completamente desenterrados. O tabuleiro era feito em pranchas de madeira e
segundo Heródoto era movido à noite (o que significa que uma parte do tabuleiro
era amovível). O texto mencionado acima que refere a taxa de desembarque indica
que a ponte também servia de local de trânsito de mercadorias, e que estava sob
a responsabilidade de três guardas remunerados por uma parte das taxas que ali
eram cobradas.
O curso do rio era parcialmente desviado para
canais que serviam de vias de comunicação à escala local e regional, além de
permitirem a irrigação dos campos em volta da cidade. Nos textos são
mencionados cerca de vinte canais , entre eles o Libil-he(n)galla ("que
traz a abundância"), que começava no rio e corria entre a zona dos
palácios e a do bairro sagrado em direção ao nordeste da cidade. A manutenção
dos canais foi uma preocupação contínua para as autoridades locais e sobretudo
para o rei, além do mais porque estavam integradas no sistema defensivo da
cidade.
A água do rio e dos canais constituía um risco
com que os babilónios tiveram que lidar.O curso médio do rio e do lençol
freático aparentemente subiram gradualmente ao longo do período neobabilónico,
o que levou a que os reis desse período impulsionassem vastos programas de
melhoramento das principais construções da cidade. A zona urbana era percorrida
por canais de drenagem e levavam as águas usadas e da chuva para o rio. Também
havia que combater a erosão das construções erigidas nas margens dos cursos de
água, o que esteve na origem de no tempo de Nabucodonosor II se ter construído
o forte ocidental, para proteger do rio o setor dos palácios. O Eufrates também
podia ser perigoso em períodos de cheias e algumas vezes o seu curso mudava. É
possível que durante a época aqueménida tenha surgido um segundo braço do rio,
que passava entre o setor do palácio e o de Marduque antes de se voltar a
juntar ao leito principal. Mais tarde, o curso principal desviou-se para oeste,
onde ainda corre, submergindo uma parte da metade ocidental da cidade interior.
(fonte WIKIPEDIA).
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