QUEM ERA MELQUISEDEQUE?
Artigo Mauricio Berwald
São poucas, mas profundas as informações da
Epístola sobre Melquisedeque, as quais fazem deste uma personagem enigmática,
de difícil compreensão quanto à sua origem, desenvolvimento e consumação de sua
obra. Cristo Jesus, ao contrário, sendo Deus, revelou-se de tal forma à
humanidade, que dEle se pode conhecer o que Deus quis revelar, tornando-se
nosso sacerdote eterno, perfeito e imaculado.
I. QUEM ERA
MELQUISEDEQUE
1. Era rei de
Salém. “E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho...” (Gn 14.18a;
Hb7.1); “e este era sacerdote do Deus Altíssimo” (Gn 14.18). Esta é a primeira
referência bíblica a Melquisedeque. Ele aparece nas páginas do Antigo
Testamento, quando foi ao encontro de Abraão, após este haver derrotado
Quedorlaormer, rei de Elão, e seus aliados. Salém veio a ser Jerusalém após a
ocupação da terra prometida por Deus a Abraão e seus descendentes (Gn 14.18; Js
18.28; Jz 19.10). Rei de Salém que dizer “rei de paz” (v.2b).
2. Era
sacerdote do Deus Altíssimo. “... e este era sacerdote do Deus Altíssimo” (Gn
14.18b; Hb 7.1). As funções de rei e sacerdote conferiam-lhe grande dignidade
perante os que o conheciam. Estas duas funções são relembradas em Hb 7.1: “Porque
este Melquisedeque, que era rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo...”.
3. Era de uma
ordem sacerdotal diferente. Estudiosos da Bíblia supõem que Melquisedeque
pertencia a uma dinastia de reis-sacerdotes, que tiveram conhecimento do Deus
Altíssimo pela tradição oral inspirada, transmitida desde o princípio, quando a
religião era única e monoteísta e que conservava a esperança do Redentor da
raça humana, conforme Gn 3.15. Ele não pertencia à linhagem sacerdotal arônica,
proveniente da tribo de Levi.
4. Recebeu
dízimos de Abraão (Hb 7.2). Isto nos mostra que a instituição do dízimo
remontava ao período bem anterior à Lei. Esse fato indica “quão grande” era
Melquisedeque (v.4). Ele abençoou Abraão, como detentor das promessas (vv.5,6).
5. Era rei de
justiça (v.2). Como um tipo de Cristo, Melquisedeque tinha as qualidades de um
rei justo e fiel.
6. Sem
genealogia (v.3). O texto afirma ter sido Melquisedeque “sem pai, sem mãe, sem
genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida...”. O que o sacro
escritor quer dizer é que não ficou registrada sua ascendência e sua
descendência, bem como os dados referentes a sua morte. Pelo contexto,
entende-se que ele era um homem com características especiais diante de Deus.
II. A MUDANÇA
DO SACERDÓCIO E DA LEI
1. O novo e
perfeito sacerdócio (v.11b). O sacerdócio levítico era imperfeito (v.11a).
Nele, os sacrifícios, as ofertas, o culto e a liturgia eram apenas sombra do
verdadeiro sacerdócio, que veio por Cristo. O sacerdócio de Cristo, não da
ordem de Arão ou de Levi, mas “segundo a ordem de Melquisedeque”, trouxe a
perfeição no relacionamento do homem com Deus.
O primeiro
sacerdócio, com suas imperfeições, não era capaz de salvar, mas Cristo como
Sumo Sacerdote, mediante o seu próprio sangue deu-nos acesso a Deus,
garantindo-nos a salvação plena.
2. Mudança de
lei (v.12). “Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também
mudança da lei”. Com Cristo, de fato, houve uma mudança não só do sacerdócio,
mas também da lei. Antes, era a lei da justiça, a lei das obras. Com Cristo,
veio a lei da graça, a lei do amor.3. A lei era ineficaz. “O precedente
mandamento”, ou seja, a antiga lei, foi “ab-rogado por causa de sua fraqueza e
inutilidade” (v.18). Ab-rogar quer dizer anular, cessar, perder o efeito,
revogar. Foi o que aconteceu quando Cristo trouxe o evangelho, ab-rogando a
antiga lei, a Antiga Aliança.
III. O
SACERDÓCIO PERPÉTUO E PERFEITO DE CRISTO
1. Jesus
trouxe salvação perfeita (v.25). Os sacerdotes do antigo pacto pereceram
(v.23). O sacerdócio arônico foi constituído por centenas de sacerdotes, que se
sucediam constantemente, visto que “pela morte foram impedidos de permanecer”.
Os sacerdotes arônicos apenas intercediam pelos homens a Deus, mas não os
salvavam. Jesus, nosso Sumo Sacerdote, não só “vive sempre para interceder” por
nós, como nos assegurou uma perfeita salvação por seu intermédio (v.25; Rm
8.34). Jesus garante salvação plena (Jo 5.24), sem depender de um suposto
purgatório ou de uma hipotética reencarnação.
2. Jesus,
sacerdote perfeito (v.26). A Palavra de Deus indica aqui as qualificações de
Cristo, que o diferenciam de qualquer sacerdote do antigo pacto. “Porque nos
convinha tal sumo sacerdote”:
a) Santo. O
sacerdote do Antigo Testamento teria que ser santo, separado, consagrado. Até
suas vestes eram santas (Êx 28.2,4; 29.29). Contudo, eram homens falhos,
imperfeitos, sujeitos ao pecado. Jesus, nosso Sumo Sacerdote, era e é santo no
sentido pleno da palavra.
b) Inocente.
Porque nunca pecou, Jesus não tinha qualquer culpa. Ele desafiava seus
adversários a acusá-lo (Jo 8.46).
c) Imaculado.
O cordeiro, na antiga Lei, tinha que ser sem mancha (Lv 9.3; 23.12; Nm 6.14).
Jesus, como o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29), não
tinha qualquer mancha moral ou espiritual.
d) Separado
dos pecadores. Jesus viveu entre os homens, comeu com eles, inclusive na casa
de pessoa de baixa reputação, como Zaqueu, mas foi “separado dos pecadores”.
Ele não se misturou, nem se deixou influenciar pelo comportamento dos homens
maus.
e) Feito mais
sublime do que os céus. Tal expressão fala da exaltação de Cristo, como dele
está predito na Bíblia: “Pela minha vida, diz o Senhor, todo joelho se dobrará
diante de mim, e toda língua confessará a Deus” (Rm 14.11).
f)
Ofereceu-se a si mesmo, uma só vez (v.27). Os sumos sacerdotes do Antigo
Testamento necessitavam de oferecer sacrifícios, muitas vezes, primeiro por
eles próprios e, depois, pelo povo. Mas Jesus, por ser imaculado, sem pecado,
não precisou fazer isso por si. Tão somente ofereceu-se num sacrifício
perfeito, uma vez, pelos pecadores. .
“Melquisedeque
(Hb 7.1). Melquisedeque, contemporâneo de Abraão, foi rei de Salém e sacerdote
de Deus (Gn 14.18). Abraão lhe pagou dízimos e foi por ele abençoado (vv.2-7).
Aqui, a Bíblia o tem como uma prefiguração de Jesus Cristo, que é tanto
sacerdote como rei (v.3) O sacerdócio de Cristo é ‘segundo a ordem de
Melquisedeque’ (6.20), o que significa que Cristo é anterior a Abraão, a Levi e
aos sacerdotes levítico, e maior que todos eles.
“Sem pai, sem
mãe (Hb 7.3). Isso não significa que Melquisedeque, literalmente, não tivesse
pais nem parentes, nem que era anjo. Significa tão somente que as Escrituras
não registram a sua genealogia e que nada diz a respeito do seu começo e fim.
Por isso, serve como tipo de Cristo eterno, cujo sacerdócio nunca terminará.
Vivendo
sempre para interceder (Hb 7.25). Cristo vive no céu, na presença do Pai (8.1),
intercedendo por todos os seus seguidores, individualmente, de acordo com a
vontade do Pai (cf. Rm 8.33,34; 1 Tm 2.5; 1 Jo 2.1). (1) Pelo ministério da
intercessão de Cristo, experimentamos o amor e a presença de Deus e achamos
misericórdia e graça para sermos ajudados em qualquer tipo de necessidade
(4.15; 5.2), tentação (Lc 22.32), fraqueza (4.15; 5.2), pecado (1 Jo 1.9; 2.1)
e provação (Rm 8.31-39). (2) A oração de Cristo como sumo sacerdote em favor do
seu povo (Jo 17), bem como sua vontade de derramar o Espírito Santo sobre todos
os crentes (At 2.33) nos ajudam a compreender o alcance do seu ministério de
intercessão (ver Jo 17.1). (3) Mediante a intercessão de Cristo, aqueles que se
chegam a Deus (i.e., se chega continuamente a Deus, pois o particípio no grego
está no tempo presente e salienta a ação contínua) podem receber graça para ser
salvo ‘perfeitamente’. A intercessão de Cristo como nosso sumo sacerdote é essencial
para a nossa salvação. Sem ela, e sem sua graça e misericórdia e ajuda que nos
são outorgadas através daquela intercessão, nos afastaríamos de Deus, voltando
a ser escravos do pecado e ao domínio de satanás, e incorrendo em justa
condenação. Nossa esperança é aproximar-nos de Deus por meio de Cristo, pela fé
(ver 1 Pe 1.5)” (Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD, págs. 1907-1909).
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