A Marca da Besta
Dentre todos os tópicos da Bíblia, talvez a marca da besta seja o que
mais tem suscitado especulações e argumentações ridículas e bombásticas.
Cristãos e não-cristãos debatem o significado de seu valor numérico. Mas o que
diz, realmente, o texto bíblico?
O Número 666: Marca Registrada da Tribulação?
A questão central da Tribulação é: Quem tem o direito de governar, Deus
ou Satanás?Deus vai provar que é Ele quem tem esse direito. Pela primeira e
única vez na história, as pessoas terão uma data limite para aceitarem o
Evangelho. Por enquanto, todos podem aceitar ou rejeitar essa mensagem em
diferentes momentos da vida; alguns o fazem na infância, outros no início da
fase adulta, outros na meia-idade, e alguns até na velhice. Mas, quando vier a
Tribulação, as pessoas terão que tomar essa decisão de forma imediata ou
compulsória por causa da marca da besta, de modo que toda a humanidade será
deliberadamente dividida em dois segmentos. O elemento polarizador será
precisamente a marca da besta.
A Bíblia ensina que o líder da campanha em defesa da marca da besta será
o falso profeta, que está ligado à falsa religião (Ap 13.11-18). Apocalipse
13.15 deixa claro que o ponto-chave em tudo isso é adorar "a imagem da
besta". A marca da besta é simplesmente um meio de forçar as pessoas a
declararem do lado de quem estão: do Anticristo ou de Jesus Cristo. Todos terão
que escolher um dos lados. Será impossível manter uma posição neutra ou ficar
indeciso com relação a esse assunto. A Escritura é muito clara ao afirmar que
os que não aceitarem a marca serão mortos.
Toda a humanidade será forçada a escolher um dos lados: "...todos,
os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos"
(Ap 13.16). O Dr. Robert Thomas comenta que essa construção retórica
"abrange todas as pessoas, de todas as classes sociais, [...] ordenadas
segundo sua condição financeira, [...] abrangendo todas as categorias culturais
[...]. As três expressões são um recurso estilístico que traduz
universalidade".[1] A Escritura é muito específica. O falso profeta vai
exigir uma "marca" em sinal de lealdade e devoção à besta, e essa
marca será "sobre a mão direita" – não a esquerda – "ou sobre a
fronte" (Ap 13.16).
A palavra "marca" aparece em muitas passagens da Bíblia. Por
exemplo, ela é usada várias vezes em Levítico, referindo-se a um sinal que
torna o indivíduo cerimonialmente impuro, e está geralmente relacionada à
lepra. É interessante notar que o modo como Ezequiel 9.4 usa a idéia de
"marca" é semelhante ao de Apocalipse: "E lhe disse: Passa pelo
meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal a testa dos homens
que suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio
dela". Nessa passagem, o sinal serve para preservação, assim como o sangue
espalhado nas ombreiras das portas livrou os hebreus durante a passagem do anjo
da morte, como relata o Livro do Êxodo. Em Ezequiel, a marca é colocada na
fronte, semelhantemente à do Apocalipse. Todas as sete ocorrências da palavra
"marca" ou "sinal" (gr. charagma) no Novo Testamento em
grego, encontram-se no Livro do Apocalipse, e todas se referem à "marca da
besta" (Ap 13.16,17; 14.9,11; 16.2; 19.20; 20.4). O Dr. Thomas explica o
significado desse termo na Antigüidade:
A marca deve ser algum tipo de tatuagem ou estigma, semelhante às que
recebiam os soldados, escravos e devotos dos templos na época de João. Na Ásia
Menor, os seguidores das religiões pagãs tinham prazer em exibir essas
tatuagens para mostrar que serviam a um determinado deus. No Egito, Ptolomeu IV
Filopátor (221-203 a.C.) marcava com o desenho de uma folha de trevo os judeus
que se submetiam ao cadastramento, simbolizando a servidão ao deus Dionísio
(cf. 3 Macabeus 2.29). Esse significado lembra a antiga prática de usar marcas
para tornar pública a fé religiosa do seu portador (cf. Isaías 44.5), e também
a prática de marcar os escravos a fogo com o nome ou símbolo de seu
proprietário (cf. Gl 6.17). O termo charagma ("marca") também era
usado para designar as imagens ou nomes dos imperadores, cunhadas nas moedas
romanas e, portanto, poderia muito bem aplicar-se ao emblema da besta colocado
sobre as pessoas.[2]
Alguns se perguntam por que foi usado um termo tão específico para
designar a marca do Anticristo. Essa marca parece ser uma paródia do plano de
Deus, principalmente no que se refere aos 144.000 "selados" de
Apocalipse 7. O selo de Deus sobre Suas testemunhas muito provavelmente é
invisível e tem o propósito de protegê-las do Anticristo. Por outro lado, o
Anticristo oferece proteção contra a ira de Deus – uma promessa que ele não tem
condições de cumprir – e sua marca é visível e externa. Como os que receberem a
marca da besta o farão voluntariamente, é de supor que as pessoas sentirão um
certo orgulho de terem, em essência, a Satanás como seu dono. O Dr. Thomas
afirma: "A marca será visível e identificará todos os que se sujeitarem à
besta".[3]
Uma Identificação Traiçoeira
Além de servir como indicador visível da devoção ao Anticristo, a marca
será a identificação obrigatória em qualquer transação comercial na última
metade da Tribulação (Ap 13.17). Este sempre foi o sonho de todos os tiranos da
história – exercer um controle tão absoluto sobre seus vassalos a ponto de
decidir quem pode comprar e quem pode vender. O historiador Sir William Ramsay
comenta que Domiciano, imperador romano no primeiro século, "levou a
teoria da divindade Imperial ao extremo e encorajou ao máximo a ‘delação’;
[...] de modo que, de uma forma ou de outra, cada habitante das províncias da
Ásia precisava demonstrar sua lealdade de modo claro e visível, ou então era
imediatamente denunciado e ficava impossibilitado de participar da vida social
e de exercer seu ofício".[4] No futuro, o Anticristo aperfeiçoará esse
sistema com o auxílio da moderna tecnologia.
Ao longo da história, muitos têm tentado marcar certos grupos de pessoas
para o extermínio, mas sempre houve alguns que conseguiram achar um meio de
escapar. Porém, à medida que a tecnologia avança, parece haver uma
possibilidade cada vez maior de bloquear praticamente todas as saídas. Essa
hipótese é reforçada pelo emprego da palavra grega dunétai – "possa"
(Ap 13.17), que é usada para transmitir a idéia do que "pode" ou
"não pode" ser feito. O Anticristo não permitirá que alguém compre ou
venda se não tiver a marca, e o que possibilitará a implantação desta política
será o fato da sociedade do futuro não usar mais o dinheiro vivo como meio de
troca. O controle da economia, ao nível individual, através da marca,
encaixa-se perfeitamente no que a Bíblia diz a respeito do controle do comércio
global pelo Anticristo, delineado em Apocalipse 17 e 18.
A segunda metade de Apocalipse 13.17 descreve a marca como "o nome
da besta ou o número do seu nome". Isso significa que "o número do nome
da besta é absolutamente equivalente ao nome, [...]. Essa equivalência indica
que, como nome, ele é escrito com letras; mas, como número, é o análogo do nome
escrito com algarismos".[5] O nome do Anticristo será expresso
numericamente como "666".
Calculando o Número
Nesse ponto da profecia (Ap 13.18), o apóstolo João interrompe
momentaneamente a narrativa da visão profética e passa a ensinar a seus
leitores a maneira correta de interpretar o que havia dito. Uma leitura do
Apocalipse demonstra claramente que os maus não entenderão o significado,
porque rejeitaram a Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Por outro lado, os
demais que estiverem atravessando a Tribulação receberão sabedoria e
entendimento para que possam discernir quem é o Anticristo e recusar a sua
marca. A Bíblia deixa claro que aqueles que receberem a marca da besta não
poderão ser salvos (Ap 14.9-11; 16.2; 19.20; 20.4) e passarão a eternidade no
lago de fogo. O fato de João usar essa passagem crucial para transmitir
sabedoria e entendimento aos crentes, com relação a um assunto de conseqüências
eternas, mostra que Deus proverá o conhecimento necessário para que o Seu povo
possa segui-lO fielmente.
Mas o que essa sabedoria e esse conhecimento permitem que os crentes
façam? A passagem diz que podemos "calcular". Calcular o quê? Podemos
calcular o número da besta.
O principal propósito de alertar os crentes sobre a marca é permitir que
eles saibam que, quando em forma de número, o "nome" da besta será
666. Assim, os crentes que estiverem passando pela Tribulação, quando lhes for
sugerido que recebam o número 666 na fronte ou na mão direita, deverão
rejeitá-lo, mesmo que isso signifique a morte. Outra conclusão que podemos
tirar é que qualquer marca ou dispositivo oferecido antes dessa época não é a
marca da besta que deve ser evitada.
Portanto, não há motivo para os cristãos de hoje encararem o número 666
de forma supersticiosa. Se o nosso endereço, número de telefone ou código
postal incluem esse número, não precisamos ter medo de que algum poder satânico
ou místico nos atingirá. Por outro lado, temos que reconhecer que muitos
ocultistas e satanistas são atraídos por esse número por sua conexão com a
futura manifestação do mal. Porém, o número em si não tem poderes
sobrenaturais. Quando um crente acredita nisso, já caiu na armadilha da
superstição. A Bíblia ensina que não há nenhum motivo para atribuir poderes
místicos ao número 666.
A Carroça na Frente dos Bois
Muitos têm tentado descobrir a identidade do Anticristo através de
cálculos numéricos. Isso é pura perda de tempo. A lista telefônica está cheia
de nomes que poderiam ser a solução do enigma, mas a sabedoria para
"calcular" o nome não é para ser aplicada agora, pois isso seria
colocar a carroça adiante dos bois. Esse conhecimento é para ser usado pelos
crentes durante a Tribulação.
Em 2 Tessalonicenses 2, Paulo ensina que, durante a presente era da
Igreja, o Anticristo está sendo detido. Ele será "revelado somente em
ocasião própria" (v.6). Ao escolher a palavra "revelado", o
Espírito Santo quis indicar que a identidade do Anticristo estará oculta até a
hora de sua revelação, que ocorrerá em algum momento após o Arrebatamento da
Igreja. Portanto, não é possível saber quem é o Anticristo antes da
"ocasião própria". O Apocalipse deixa bem claro que os crentes
saberão na hora certa quem é o Anticristo.
Como apontamos acima, o Apocalipse não deixa dúvida de que durante a
Tribulação todos os crentes saberão que receber a marca da besta será o mesmo
que rejeitar a Cristo. Durante a Tribulação, todos os cristãos terão plena
consciência disso onde quer que estejam. Nenhuma das hipóteses levantadas no
passado, ou que venham a ser propostas antes da Tribulação, merece crédito.
Apocalipse 13.17-18 diz claramente que o número 666 será a marca que as pessoas
terão que usar na fronte ou na mão direita. Em toda a história, ninguém jamais
propôs a utilização desse número em condições semelhantes às da Tribulação, de
modo que todas as hipóteses já levantadas a respeito da identidade do
Anticristo podem ser descartadas.
O mais importante nessa passagem é que podemos nos alegrar em saber que a
identificação do futuro falso Cristo ainda não é possível, mas o será quando
ele ascender ao trono. Com certeza, aquele a quem o número 666 se aplica é
alguém que pertence a uma época posterior ao período em que João viveu, pois
ele deixa claro que alguém iria reconhecer esse número. Se nem a geração de
João nem a seguinte foi capaz de discerni-lo, isso significa que a geração que
poderá identificar o Anticristo forçosamente estava (e ainda está) no futuro.
No passado, houve várias figuras políticas que tipificaram características e
ações desse futuro personagem, mas nenhum dos anticristos anteriores se encaixa
perfeitamente no retrato e no contexto do Anticristo do final dos tempos.[6]
A Relação entre Tecnologia e a Marca da Besta
Muitos têm feito as mais variadas hipóteses sobre a marca da besta.
Alguns dizem que ela será como o código de barras utilizado para identificação
universal de produtos. Outros imaginam que seja um chip implantado sob a pele,
ou uma marca invisível que possa ser lida por um scanner. Contudo, essas
conjeturas não estão de acordo com o que a Bíblia diz.
A marca da besta – 666 – não é a tecnologia do dinheiro virtual nem um
dispositivo de biometria. A Bíblia afirma de forma precisa que ela será:
a marca do Anticristo, identificada com sua pessoa
o número 666, não uma representação
uma marca, como uma tatuagem
visível a olho nu
sobre a pele, e não dentro da pele
facilmente reconhecível, e não duvidosa
recebida de forma voluntária; portanto, as pessoas não serão ludibriadas
para recebê-la involuntariamente
usada após o Arrebatamento, e não antes
usada na segunda metade da Tribulação
necessária para comprar e vender
recebida universalmente por todos os não-cristãos, mas rejeitada pelos
cristãos
uma demonstração de adoração e lealdade ao Anticristo
promovida pelo falso profeta
uma opção que selará o destino de todos os que a receberem, levando-os ao
castigo eterno no lago de fogo.
Talvez na história ou na Bíblia nenhum outro número tenha atraído tanto a
atenção de cristãos e não-cristãos quanto o "666". Até mesmo os que
ignoram totalmente os planos de Deus para o futuro, conforme a revelação
bíblica, sabem que esse número tem um significado importante. Escritores religiosos
ou seculares, cineastas, artistas e críticos de arte fazem menção, exibem ou
discorrem a respeito dele. Ele tem sido usado e abusado por evangélicos e por
membros de todos os credos, tendo sido objeto de muita especulação inútil.
Freqüentemente, pessoas que se dedicam com sinceridade ao estudo da profecia
bíblica associam esse número à tecnologia disponível em sua época, com o
intuito de demonstrar a relevância de sua interpretação. Mas, fazer isso é
colocar "a carroça na frente dos bois", pois a profecia e a Bíblia
não ganham credibilidade ou legitimidade em função da cultura ou da tecnologia.
Conclusão
O fato da sociedade do futuro não utilizar mais o dinheiro vivo será
usado pelo Anticristo. Entretanto, seja qual for o meio de troca substituto, ele
não será a marca do 666. A tecnologia disponível na época da ascensão do
Anticristo será aplicada com propósitos malignos. Ela será empregada,
juntamente com a marca, para controlar o comércio (como afirma Apocalipse
13.17). Sendo assim, é possível que se usem implantes de chips, tecnologias de
escaneamento de imagens e biometria para implementar a sociedade amonetária do
Anticristo, como um meio de implantar a política que impedirá qualquer pessoa
de comprar ou vender se não tiver a marca da besta. O avanço da tecnologia é
mais um dos aspectos que mostram que o cenário para a ascensão do Anticristo
está sendo preparado. Maranata!
Robert L. Thomas, Revelation 8-22: An Exegetical Commentary (Chicago:
Moody Press, 1995), pp. 179-80.
Thomas, Revelation 8-22, p. 181.
Thomas, Revelation 8-22, p. 181.
Sir William Ramsay, The Letters to the Seven Churches (New York: A. C.
Armstrong & Son, 1904), p. 107.
Thomas, Revelation 8-22, p. 182.
Thomas, Revelation 8-22, p. 185.
CHAMADA.COM
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