Um Ladrão na Noite
“Portanto, vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor.
Mas entendam isto: se o dono da casa soubesse a que hora da noite o ladrão
viria, ele ficaria de guarda e não deixaria que a sua casa fosse arrombada.
Assim, também vocês precisam estar preparados, porque o Filho do homem virá
numa hora em que vocês menos esperam” (Mt 24.42-44, NVI).
Para muitos de nós, nascidos por volta da década de 1950, o início dos
anos 1970 foi um tempo bem estimulante! O Movimento de Jesus viu centenas de
milhares de jovens virem a Cristo. Foi um tempo no cristianismo dos Estados
Unidos em que houve grande ênfase na profecia bíblica, especialmente no
Arrebatamento da Igreja.
Embora eu tivesse crescido na igreja, fui pela primeira vez apresentado à
profecia bíblica e ao Arrebatamento durante essa época, quando estava
terminando a adolescência. Havia um ar de expectativa de que Cristo poderia
realmente vir para Sua Igreja a qualquer momento, o que não vi acontecer desde
aqueles dias. Naquela época, muitos estavam aguardando a vinda do Senhor
enquanto alcançavam os perdidos com o Evangelho para que eles não perdessem o
Arrebatamento. Eu tinha muitos amigos que aceitaram a Cristo durante aqueles
dias por causa da urgência da hora.
Evangelismo nos anos 1970
Primeiro, creio que o Espírito Santo estava extremamente ativo,
movendo-se sobre minha geração rebelde como Ele jamais havia feito. O Senhor
usou livros como O Grande Planeta Terra, de Hal Lindsey, o qual certamente fez
milhões virem a Cristo por meio de sua influência. Filmes como A Thief in the
Night [Um Ladrão na Noite], de Russell Doughten,[1] ensinavam sobre o
Arrebatamento antes da Tribulação e também foram um catalisador que levou
muitas pessoas a Cristo. Doughten apresenta o Arrebatamento como Cristo vindo feito
um ladrão na noite.
Começando em 1969, surgiu em cena o que foi na época chamado de música
“Jesus Rock” [N.T.: um trocadilho entre Jesus como sendo a Rocha, e o Rock de
Jesus]. O enfoque de grande parte da música do movimento incluía a crença de
que Jesus voltará em breve e que é melhor você confiar nEle como Salvador para
não perder o Arrebatamento. Larry Norman foi considerado o fundador e líder do
“Jesus Rock”, com sua conhecida canção sobre o Arrebatamento “I Wish We’d All
Be Ready” [Gostaria Que Todos Estivéssemos Prontos]. Larry compôs uma outra
canção, em torno de 1970, chamada “Right Here in America” [Bem Aqui na
América], uma balada de sete minutos e meio sobre a vinda da perseguição sobre
os cristãos.
Ele colocou as seguintes palavras na canção:
Oro para que nós, cristãos, nos levantemos do sofá,
E fiquemos em pé em favor do que cremos.
O tempo é muito curto e Cristo está voltando.
É melhor nos aprontarmos para partir.
Nós, que somos cristãos, deveríamos acender a luz,
Para que a luz brilhe como o dia.
Jesus virá como um ladrão na noite,
E levará todos os que O amam.
A letra também vê a vinda de Cristo no Arrebatamento como “um ladrão na
noite”. Para mim, isto levanta a questão: o Arrebatamento está ou não
diretamente ligado com o tema “um ladrão na noite”.
Uso bíblico
A idéia do “ladrão” em relação à vinda de Cristo é usada sete vezes,
apenas no Novo Testamento (Mt 24.43; Lc 12.39; 1Ts 5.2,4; 2 Pe 3.10; Ap 3.3; Ap
16.15). Cristo usa “um ladrão vindo no meio da noite” na ilustração do pai de
família sensato apresentada em Mateus e Lucas (Mt 24.43; Lc 12.39). Nenhum
desses textos se refere ao Arrebatamento da Igreja; em vez disso, ambos os
contextos apóiam a noção de que Jesus se referiu à Sua Segunda Vinda. Nessas
passagens Jesus fala da nação de Israel durante o tempo da Tribulação de sete
anos, quando os crentes judeus fiéis daquela época estarão aguardando o retorno
do Senhor, diferentemente daqueles que não estavam esperando pela chegada do
Messias em Sua primeira vinda.
À medida que nos movemos cronologicamente através do cânon do Novo
Testamento, chegamos a uma importante passagem dos escritos de Paulo que se
refere duas vezes a um ladrão vindo de noite (1Ts 5.2,4). 1 Tessalonicenses
5.1-11 é uma seção que segue o parágrafo anterior (1Ts 4.13-18), no qual Paulo
fala sobre o Arrebatamento (1Ts 4.17). Paulo usa a frase transitiva do grego
peri de (“relativamente”) em 1 Tessalonicenses 5.1, à medida que muda do
assunto profético do Arrebatamento para “o Dia do Senhor”.
John MacArthur explica o significado:
Paulo empregou palavras gregas conhecidas para indicar a mudança
referente aos tópicos dentro do mesmo tema geral da profecia (cf. 4.9,13; 1Co
7.1,15; 8.1; 12.1; 16.1). A expressão aqui aponta para a ideia de que, num
contexto mais amplo sobre o tempo final da vinda do Senhor Jesus, o tema está
mudando de uma discussão a respeito do arrebatamento dos cristãos para o
julgamento dos incrédulos.[2]
Deve-se observar que Paulo identifica claramente seu tópico como “o dia
do Senhor”, que “vem como ladrão de noite” (1Ts 5.2b). O Arrebatamento não é
mencionado como algo que vem como um ladrão à noite. O versículo 3 nos fala
daqueles que estarão dizendo: “Paz e segurança, então, de repente, a destruição
virá sobre eles, como dores à mulher grávida; e de modo nenhum escaparão”. Os
incrédulos, descritos como “das trevas” (v. 5), são aqueles que serão pegos
desprevenidos e despreparados para a ira de Deus durante a Tribulação.
Na verdade, o versículo 9 lembra aos crentes que eles não experimentarão
a ira de Deus durante a Tribulação, pois diz: “Porque Deus não nos destinou
para a ira, mas para recebermos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus
Cristo” (1Ts 5.9). O meio de livramento da ira de Deus será o Arrebatamento da
Igreja mencionado por Paulo no final do capítulo 4.
A figura do ladrão também é usada em 2 Pedro 3.10, onde o Dia do Senhor é
o assunto abordado por Pedro. Fica bem claro que essa passagem não é uma
referência ao Arrebatamento, uma vez que diz: “Os céus desaparecerão com um
grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o
que nela há, será desnudada”.
“Mas se você não estiver atento, virei como um ladrão e você não saberá a
que hora virei contra você” Apocalipse 3.3
As duas últimas referências ao tema do ladrão ocorrem em Apocalipse 3.2 e
16.15. Jesus está falando diretamente à igreja carnal de Sardes, a quem Ele diz
para acordar da inércia espiritual e se arrepender: “Mas se você não estiver
atento, virei como um ladrão e você não saberá a que hora virei contra você”
(v.3 – NVI). Esta passagem certamente não está relacionada ao Arrebatamento,
mas a uma promessa de juízo para aqueles dentro da Igreja que não se
arrependerem.
Apocalipse 16.15 é um enunciado intercalado que ocorre entre a sexta e a
sétima taça de juízo. Desta forma, dezoito dos dezenove juízos da Tribulação já
aconteceram. Como a última taça de juízo está associada à preparação para a
Segunda Vinda de Cristo, ela é uma admoestação para os santos da Tribulação
observarem os sinais que apontam para o retorno de Cristo, o que está descrito
na segunda metade de Apocalipse 19. Esta certamente não é uma referência ao
Arrebatamento.
Conclusão
Embora haja outras questões de maior importância do que analisar se o
Arrebatamento pode ser comparado com a chegada de um ladrão na noite, creio que
é importante manejarmos adequadamente a Palavra de Deus (2Tm 2.15),
relacionando frases e descrições bíblicas da mesma forma que a Bíblia o faz.
Pode acontecer que, quando aplicamos mal o imaginário bíblico, não apenas
criamos associações falsas, mas também deixamos escapar a aplicação do tema que
a Bíblia está realmente ensinando. Este poderia ser o caso da linguagem do
ladrão na noite.
A figura do ladrão na noite nunca se aplica ao Arrebatamento. Tal
linguagem é geralmente descritiva dos incrédulos e da ira de Deus ou do juízo
relacionado com a Tribulação ou com a Segunda Vinda. A figura de um ladrão na
noite mostra que ela se aplica aos incrédulos que são pegos desapercebidos, uma
vez que eles nunca realmente crêem que Deus vai julgar a história. O incrédulo
pensa que vai sair impune, mesmo ignorando Deus por toda a sua vida; portanto,
Deus não é um fator decisivo, pensa ele.
O que a Bíblia quer enfatizar é: “Algum dia ele vai ter uma grande
surpresa”, exatamente como o indivíduo que é roubado por um ladrão. Ser roubado
é um acontecimento que interrompe o estado normal de voltarmos para casa todos
os dias, encontrando-a da maneira como deveria estar. Como o aluno indolente, que
nunca está pronto para o exame e, portanto, é pego desprevenido quando chega
realmente a hora da prova, assim o incrédulo nunca estará preparado, já que ele
não acredita em Deus de jeito nenhum, ou não acredita que Deus um dia o
responsabilizará por seus erros.
A canção de Larry Norman diz: “Jesus virá como um ladrão na noite, e
levará todos os que O amam”. Cristo não levará nada como um ladrão no
Arrebatamento. Ele virá para Sua Noiva – a Igreja, o Corpo de Cristo. Os
crentes são chamados “filhos da luz” em 1 Tessalonicenses 5.5 e instruídos por
Paulo a ficarem despertos durante o tempo presente, que antecede o
Arrebatamento, ao qual ele dá o nome de noite. “Mas vocês, irmãos, não estão
nas trevas, para que esse dia os surpreenda como ladrão. Vocês todos são filhos
da luz, filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas” (1Ts 5.4-5). No
contexto de 1 Tessalonicenses 5, o dia se refere ao Dia do Senhor, que é o
tempo da ira de Deus, que geralmente chamamos de Tribulação.
Os acontecimentos dos últimos dias pegarão o mundo desapercebido, já que,
mesmo em seus sonhos mais desvairados, as pessoas não crêem que aqueles
cristãos malucos e sua Bíblia poderiam estar certos. Todavia, nós, crentes,
conhecemos a verdade e não nos surpreenderemos quando os acontecimentos da
profecia bíblica começarem a se desenrolar. Maranata!
Fonte (Thomas Ice - Pre-Trib Perspectives - Chamada.com.br)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
PAZ DO SENHOR
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.