A natureza do caráter cristão
Caráter: Conjunto das qualidades de uma pessoa que determina sua conduta
em relação a Deus, a si mesma e ao próximo.Ao longo deste trimestre estudaremos
o caráter de vários personagens bíblicos. A despeito de ter sido criado à
imagem e semelhança de Deus: santo, justo e perfeito (Gn 1.26,27; Ec 7.29; Ef
4.24), o homem não permaneceu nessa condição. Atingido pelo pecado, teve sua
natureza moral corrompida (Rm 1.18-32), necessitando assim da nova vida em
Cristo (2 Co 5.17). Nesta lição refletiremos sobre o que afirma a Bíblia acerca
do caráter do ímpio e do justo.
I. O CARÁTER HUMANO
1. Definição. Caráter é o conjunto das qualidades boas ou más de um
indivíduo que determina sua conduta em relação a Deus, a si mesmo e ao próximo.
Essas especificidades são responsáveis pela maneira como uma pessoa age,
regulando suas escolhas e decisões (Pv 5.21; 16.2,9; 20.6,11). O caráter de uma
pessoa, portanto, não apenas define quem ela é, mas também descreve seu estado
moral e a distingue das demais de seu grupo (Pv 11.17; 12.2; 14.14; 20.27).
2. Aspecto bíblico-teológico do caráter. A Bíblia é farta de ensinamentos
referentes à virtude, à moral e ao caráter cristão. Os preceitos da Lei,
especialmente os do Decálogo (Êx 20), as mensagens éticas dos profetas (Is
10.1,2; Hc 2), os ensinos de Jesus (Mt 5-7), e as doutrinas exaradas nas
epístolas (Rm 12.9-21; 1 Pe 3.8-16), revelam a vontade Deus para a vida moral
do homem (2 Tm 3.16).
3. O trabalho do Espírito no caráter do homem. Ao aceitar a Cristo como
Salvador, o homem recebe da parte de Deus um novo caráter (2 Co 5.17). O
Espírito Santo, por meio de suas ministrações (Rm 8.1-17; Gl 5.22-26),
aperfeiçoa-o gradualmente (2 Co 3.18; 1 Pe 1.2). Na continuação, o Espírito da
Verdade passa a controlá-lo por completo, de modo que suas ações passam a ser
moldadas por Ele (Rm 8.5-11). Uma vez que a imagem perdida no Éden fora
restaurada, o homem passa a experimentar e demonstrar uma vida de integridade
(Gn 3.11-13; Rm 5.12; 1 Co 15.22,45; Ef 4.23,24).
O caráter cristão está fundamentado no Decálogo, na mensagem ética dos
profetas, nos ensinos de Jesus e nas doutrinas epistolares. Essas normas
revelam a vontade de Deus para a vida moral do homem.
II. CARÁTER DOENTIO
1. Insensibilidade moral. O pecado tem subtraído do ser humano toda a sua
sensibilidade concernente aos princípios e valores morais. Sem que se perceba,
sua natureza moral é corrompida (Rm 1.18-32), seu coração é endurecido (Hb
3.7-19) e sua consciência é cauterizada (1 Tm 4.2; Ef 4.18). É nesse ponto que
o homem se torna insensível à voz do Espírito, passando a praticar todo tipo de
pecado, entristecendo ao Todo-Poderoso (Ef 4.31).
Portanto, é dever de todos os crentes observarem os limites estabelecidos
pela Palavra de Deus, para que vivam “como astros no mundo” (Fp 2.15).
2. Permissividade. É o que acontece quando o homem não resiste às forças
do mal (Rm 12.2; Tg 4.7; 1 Pe 5.8,9). Há crentes aceitando e outros até
buscando no comércio e na sociedade, o que Jesus terminantemente rejeitou no
deserto (Mt 4.3-11).
3. Mentira. Há muitas formas de mentira. Uma informação falsa passada
como se fosse verdadeira constitui uma mentira. Alguém já disse que a mentira é
qual cabo de ferramenta que dá em qualquer uma delas. É um tipo de pecado que
permeia toda a raça humana em todas as épocas, culturas e civilizações (Sl
116.11). A mentira é do Diabo (Jo 8.44). Mas, Cristo é a Verdade que liberta
(Jo 3.16; 8.32,36) e conduz o homem a uma vida pautada na realidade.
4. Malícia. As palavras são o instrumento pelo qual o ser humano
manifesta seus pensamentos, sentimentos, idéias e desejos, conforme as
circunstâncias em que vive e com que se defronta (Mt 15.11,18-20). O que o
homem pensa e fala reflete seu caráter (Sl 5.9; 7.9). A malícia é um pecado que
macula e subverte o caráter cristão (Rm 1.29). Os maliciosos geralmente pensam
e falam o pior acerca dos outros e vêem maldade em tudo (Sl 10.7; Lc 11.39).
Para os tais, nada é puro (Tt 1.15). A fim de estarmos comprometidos com os
valores celestiais (Fp 4.8; Cl 3.2,3), a Palavra de Deus nos admoesta a
abandonarmos definitivamente toda malícia (1 Co 14.20; Ef 4.31; Cl 3.8; Tt 3.3-5;
1 Pe 2.1-3).
5. Concupiscência. Trata-se dos desejos desenfreados, malignos, impuros,
corruptores e pecaminosos que afetam o caráter do homem (Rm 1.24; Cl 3.5; 1 Pe
2.11; 1 Jo 2.15-17). A concupiscência se manifesta mediante o desejo
descontrolado pelas coisas naturais desta vida a ponto de conduzir o indivíduo
à satisfação desses impulsos por meios imorais e ilícitos (Tg 1.14,15). A
Bíblia afirma que a única maneira eficaz de se vencer a concupiscência é andar
no Espírito (Gl 5.16).
6. Cobiça. A cobiça é um desejo impetuoso e desequilibrado de adquirir
bens materiais, inclusive alheios. A prática da cobiça leva o homem à dívida,
ao roubo, à desonra, ao egoísmo, à fraude e, até, ao homicídio (1 Tm 6.10).
7. Ambição. O lado negativo da ambição é o desejo incontrolável de obter
bens materiais ou posições, mesmo que a pessoa já possua essas e outras coisas.
Esta atitude é o primeiro passo para que entre no coração do homem o orgulho.
Deus, porém, aborrece tais coisas (Pv 16.5; Tg 4.6,16). A ambição torna o homem
egoísta, rebaixa seus valores e transforma a sua maneira de agir com os seus
semelhantes.
O caráter doentio é caracterizado pela insensibilidade moral,
permissividade, mentira, malícia, concupiscência, cobiça e ambição.
III. COMO PRESERVAR O VERDADEIRO
CARÁTER CRISTÃO
1. Manter-se em comunhão com o Espírito. O ser humano traz em sua
natureza uma forte inclinação para o pecado (Rm 7.18-23; Pv 4.14-17). Trata-se
de uma tremenda força maligna impossível de ser superada sem a ajuda divina. É
justamente por isso que Deus nos enviou seu Espírito para habitar em nós,
dando-nos a condição de andarmos em novidade de vida (Rm 6.4; 2 Co 5.17).
Somente pelo Espírito Eterno, o crente pode caminhar seguro, resistindo aos
desejos da carne (Rm 8.1,9,13; Cl 5.16).
Em Gálatas 5, o apóstolo Paulo enumera várias obras da carne que
contaminam o caráter do homem sem Cristo (Gl 5.19-21). Todavia, nesse mesmo
capítulo, encontramos um conjunto de valores espirituais que garante a saúde
moral do crente (v.22).
2. Conhecer a Palavra de Deus. A Bíblia Sagrada é a única regra de fé e
prática do cristão. Ela nos apresenta o padrão de comportamento necessário ao
homem que deseja viver uma vida justa, sóbria e piedosa neste mundo (Tt 2.12).
Ao longo da narrativa bíblica deparamo-nos com uma série de valores e virtudes
morais e espirituais estabelecidas por Deus para o homem. Todavia, estas
qualidades indispensáveis ao ser humano, só foram plenamente identificadas e
vividas em Jesus. Hoje sabemos que essas santas virtudes estão ao alcance de
todos, por meio da extraordinária obra do Espírito. É imprescindível ao homem
conhecer muito bem as Escrituras e o poder de Deus para que não erre na busca
de uma vida virtuosa diante de Deus e do próximo (Mt 22.29).
3. Disciplina. A oração e o jejum, apesar de serem armas espirituais
poderosas, são também instrumentos que auxiliam na disciplina do caráter
cristão. O jejum, por exemplo, é um sacrifício que agrada a Deus e promove
disciplina ao crente (Jz 20.26; 1 Sm 7.6). Portanto, o homem pode e deve pedir
a Deus que o auxilie durante o tempo em que busca as virtudes espirituais,
éticas e morais expostas na Palavra de Deus.O caráter cristão é preservado
mediante a comunhão do crente com o Espírito Santo, pelo conhecimento da
Palavra e através de uma vida cristã disciplinada.
Quando uma pessoa aceita a Cristo como Salvador de sua alma, experimenta,
imediatamente, uma profunda modificação em seu interior. Essa mudança é
demonstrada não apenas nos relacionamentos, mas também nas escolhas, atitudes e
responsabilidades assumidas durante a sua nova vida (Cl 3.1-17).
“Disciplina
da Integridade
Para o cristão, o fato mais deprimente é este: existe pouca diferença, na
estatística, entre as práticas éticas dos religiosos e a dos não-religiosos.
Nas estatísticas do Instituto Gallup, 43 por cento de não-freqüentadores de
igrejas admitem que furtam material de escritório, contra 37 por cento dos
freqüentadores. Mas, será isto verdade com relação aos verdadeiros cristãos? A
resposta é sim. A conduta ética geral dos cristãos varia muito pouco em
comparação com os não-cristãos, com grandes exceções, é óbvio. Tristemente, os
cristãos são quase idênticos aos não-cristãos:
Falsificam sua declaração de
imposto de renda;
Cometem plágio/colam;
Copiam programas de computador
ilegalmente;
Roubam tempo;
Dizem aos outros o que estes
gostariam de ouvir;
Obedecem apenas as leis que lhes
interessam, seletivamente.
Muitas razões podem ser citadas para reforçar este argumento. A culpa
popular recai no subjetivismo e no relativismo moral de nossos dias. Mas a
razão principal para a crise de integridade é que nós, humanos, somos
fundamentalmente desonestos, mentirosos congênitos (Rm 3.13). Ninguém teve de
nos instruir na desonestidade. Mesmo depois de regenerados, se não nos
disciplinarmos sob o domínio de Cristo, voltaremos a enganar, da mesma maneira
como o pato volta para a água”.(HUGHES, R. K. Disciplinas do homem cristão.
3.ed., RJ: CPAD, 2004, p.115-6.).
APLICAÇÃO
PESSOAL
Para que você se torne o homem ou a mulher que o Senhor deseja, é
necessário que seu temperamento, personalidade e caráter se tornem
subservientes aos projetos de Deus para a sua vida. Até que Deus prevaleça
sobre nossas vidas, alguns precisam ser jogados numa cisterna, como José (Gn
37.20); outros, ser alimentados por corvos, como Elias (1 Rs 17.6); e, alguns,
apresentar sua língua aos serafins, como fez Isaías (Is 6.6,7).
O caminho que Deus escolhe para forjar o caráter de seus cooperadores
algumas vezes é íngreme e inóspito. Mas, quando eles saem da fornalha, é
perceptível até mesmo para os pagãos que eles andaram com o quarto Homem na
fornalha (Dn 3.25-27). Deus jamais chama alguém para uma grande missão sem que
esse escolhido passe por uma profunda transformação moral.
Se você deseja que Deus faça em sua vida o mesmo que fez com José, Elias
e Isaías, coloque-se no altar do Espírito; apresente a sua personalidade àquEle
que a todos transforma segundo a imagem de Cristo. Só assim você será a pessoa
que Deus deseja que você seja.
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PAZ DO SENHOR
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