SUBSIDIO CPAD ADOLESCENTES N.4
Primeira Viagem Missionária de Saulo
(por volta de 48 d.C.)
Antes de nos ocuparmos com os apóstolos
em sua viagem, cabe aqui uma observação sobre como as coisas mudaram. Eles
partiram, devemos observar, não do velho centro, Jerusalém, mas da Antioquia,
uma cidade de gentios. Isto é significativo. Jerusalém e os doze perderam a
posição quanto à autoridade e poder para com o exterior. O Espírito Santo chama
a Barnabé e Saulo para a obra, os prepara para isto, e os envia, sem a
jurisdição dos doze.
Não será de esperar que em um livro,
cujo conteúdo se propõe a ser resumido, possamos tomar nota dos vários eventos
ocorridos nas viagens de Paulo. O leitor os encontrará em Atos e nas Epístolas.
Propomos meramente traçar um esboço e dar destaque a determinados pontos de
referência, pelos quais o leitor será capaz de traçar, por si mesmo, as várias
jornadas do maior dos apóstolos - o maior dos missionários - o maior dos
obreiros que já viveu, com exceção do bendito Senhor. Mas em primeiro lugar,
gostaríamos de observar seus companheiros e seu ponto de partida.
Barnabé foi, por algum tempo, o
companheiro mais próximo de Saulo. Ele era um levita da ilha de Chipre. Ele
tinha sido chamado logo no início da história da igreja para seguir a Cristo, e
"possuindo uma herdade, vendeu-a, e trouxe o preço, e o depositou aos pés
dos apóstolos." (Atos 4:37). Comparando sua liberalidade com o belo
testemunho que o Espírito Santo dá sobre ele, ele permanece diante de nós com
um amável e requintado caráter. E, a partir de seu apego a Paulo desde o
início, e de sua cordialidade em apresentá-lo aos outros apóstolos, podemos
julgar que ele era mais franco e tinha um coração maior do que aqueles que
tinham sido treinados na estreiteza do judaísmo; mas faltava-lhe ainda, quanto
ao serviço, o rigor e a determinação de seu companheiro Saulo.
João Marcos era um parente próximo de
Barnabé - "o sobrinho de Barnabé" (Colossenses 4:10). Sua mãe era uma
certa Maria que morava em Jerusalém, e cuja casa parece ter sido um local de
reunião para os apóstolos e primeiros cristãos. Quando Pedro foi liberto da
prisão, ele foi direto para "a casa de Maria, mãe de João, que tinha por
sobrenome Marcos" (Atos 12:12). Supõe-se que ele tenha sido convertido por
meio de Pedro, pois depois Pedro fala dele como "meu filho Marcos" (1
Pedro 5:13)
A partir disso aprendemos que ele não
era nem um apóstolo nem um dos setenta - que ele não havia acompanhado o
bendito Senhor durante Seu ministério público. Mas podemos supor que ele estava
ansioso para servir a Cristo, pois se uniu a Barnabé e Saulo, embora mais tarde
pareça que sua fé não era páreo para as dificuldades da vida missionária.
"E, partindo de Pafos, Paulo e os que estavam com ele chegaram a Perge, da
Panfília. Mas João, apartando-se deles, voltou para Jerusalém." (Atos
13:13). Supõe-se que Marcos tenha escrito seu Evangelho por volta do ano 63
d.C.
A Antioquia, a antiga capital dos
selêucidas, foi fundada por Seleuco Nicator por volta de 300 a.C. Foi uma cidade
que só ficava atrás de Jerusalém no que diz respeito ao início da história da
igreja. O que Jerusalém tinha sido para os judeus, a Antioquia era agora para
os gentios. Era um ponto central. Nessa época ocupava um lugar de grande
importância na propagação do cristianismo entre os pagãos. Aqui a primeira
igreja gentia foi plantada (Atos 11:20,21). Aqui os discípulos de Cristo foram
primeiramente chamados de cristãos (Atos 11:26). E aqui nosso apóstolo começou
seu trabalho ministerial público.
Retornemos agora à missão.
Barnabé e Saulo, com João Marcos como
auxiliar no ministério, são então enviados pelo Espírito Santo. Os judeus, em
virtude de sua conexão com as promessas, tiveram o evangelho primeiramente
pregado a eles; mas a conversão de Sérgio Paulo marca, de maneira especial, o
início do trabalho entre os gentios. Também marca uma crise na história do
apóstolo. Aqui seu nome é mudado de Saulo para Paulo; e agora - com exceção de
Jerusalém (Atos 15:12-22) - não vemos mais "Barnabé e Saulo", mas sim
"Paulo e os que estavam com ele" (Atos 13:13). Ele toma a dianteira;
os outros são apenas aqueles que estão com Paulo. Mas o cenário tem ainda um
caráter típico.
O procônsul era, evidentemente, um
homem prudente e pensativo, e sentiu a necessidade de sua alma. Ele chama a
Barnabé e a Saulo, e deseja ouvir a Palavra de Deus. Mas Elimas, o encantador,
resiste a eles. Ele sabia bem que, se o governador recebesse a verdade que
Paulo pregava, ele perderia sua influência na corte. Ele, portanto, procura
afastar o deputado da fé. Mas Paulo, em dignidade consciente e no poder do
Espírito Santo, "fixando os olhos nele" (Atos 13:9), e em palavras de
mais fulminante indignação, o repreende na presença do governador. "Ó
filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a
justiça, não cessarás de perturbar os retos caminhos do Senhor? Eis aí, pois,
agora contra ti a mão do Senhor, e ficarás cego, sem ver o sol por algum tempo.
E no mesmo instante a escuridão e as trevas caíram sobre ele e, andando à roda,
buscava a quem o guiasse pela mão. Então o procônsul, vendo o que havia
acontecido, creu, maravilhado da doutrina do Senhor." (Atos 13:10-12). O
poder de Deus acompanha a palavra de Seu servo, e a sentença pronunciada é
executada no mesmo instante. O deputado fica tomado pela glória moral da cena,
e se submete ao evangelho.
"Eu não duvido", disse
alguém, "que neste miserável Barjesus (Elimas) vemos uma figura dos judeus
no tempo presente, acometidos de cegueira por algum tempo, por causa dos ciúmes
da influência do evangelho. A fim de preencher a medida de sua iniquidade, eles
resistiram à pregação do evangelho aos gentios. A condição deles é julgada; sua
história é dada na missão de Paulo. Em oposição à graça e buscando destruir
seus efeitos sobre os gentios, eles foram acometidos de cegueira; no entanto,
apenas por um tempo." *
(* Synopsis of
the Books of the Bible, volume 4, página 53,54. [Segunda Edição, Janeiro de 1950])
Durante essa primeira missão entre os
gentios, um grande e abençoado trabalho foi feito. Compare Atos 13 e 14. Muitos
lugares foram visitados, igrejas foram plantadas, anciãos foram nomeados, a
hostilidade dos judeus manifestada, e a energia do Espírito Santo demonstrada
no poder e progresso da verdade. Em Listra, o cristianismo foi confrontado,
pela primeira vez, com o paganismo; mas em todo lugar o evangelho triunfa, e os
vários dons de Paulo como obreiro aparecem de maneira abençoada. Seja ao
abordar os judeus, que conheciam as Escrituras, ou bárbaros ignorantes, ou
cultos gregos, ou multidões enfurecidas, ele prova ser um vaso divinamente
escolhido para sua grande obra.
A Antioquia, na Pisídia, merece atenção
especial pelo que aconteceu na sinagoga. Embora haja uma grande semelhança no
discurso de Paulo comparado aos de Pedro e Estêvão nos primeiros capítulos de
Atos, ainda podemos notar certos toques estritamente paulinos em seu caráter.
Seu estilo conciliador de abordagem, o modo como ele apresenta a Cristo, e sua
ousada proclamação de justificação pela fé somente, podem ser consideradas como
típicas de suas póstumas abordagens e Epístolas. Nenhum dos escritores sagrados
fala da justificação pela fé como Paulo fala. Seu apelo final tem sido um texto
evangelístico favorito de muitos pregadores em todas as eras. Em poucas
palavras, ele afirma a bem-aventurança de todos que recebem a Cristo, e a
terrível desgraça daqueles que O rejeitarem, provando assim que não poderia
haver um meio-termo ou terreno neutro quando Cristo está em questão.
"Seja-vos, pois, notório, homens irmãos, que por este se vos anuncia a
remissão dos pecados. E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser
justificados, por ele é justificado todo aquele que crê. Vede, pois, que não
venha sobre vós o que está dito nos profetas: Vede, ó desprezadores, e
espantai-vos e desaparecei; porque opero uma obra em vossos dias, obra tal que não
crereis, se alguém vo-la contar." (Atos 13:38-41)
Tendo sido cumprida a missão deles,
eles retornam à Antioquia na Síria. Quando os discípulos ouviram o que o Senhor
tinha feito, e que a porta da fé foi aberta aos gentios, eles deviam apenas
louvar e bendizer Seu santo nome. Devemos agora retornar, por um momento, a
Jerusalém.
O efeito da primeira missão de Paulo
sobre os discípulos em Jerusalém levou a uma grande crise na história da
igreja. O ciúme e a mente farisaica estava tão excitada que uma divisão entre
Jerusalém e Antioquia foi ameaçada naquele período inicial da história da
igreja. Mas Deus governou em graça, e o problema quanto à Antioquia foi
felizmente resolvido. Mas o fanatismo dos crentes judeus era insaciável. Na
igreja em Jerusalém eles ainda conectavam ao cristianismo os requisitos da lei,
e procuravam impor esses requisitos aos crentes gentios.
Alguns dos cristãos judeus de cabeça
mais fechada desceram à Antioquia, e asseguraram aos gentios que, a menos que
eles fossem circuncidados segundo o costume de Moisés, e que guardassem a lei,
eles não poderiam ser salvos. Paulo e Barnabé não tiveram pequena discussão e
contenda com eles; mas como era uma questão muito pesada para ser resolvida
pela autoridade apostólica de Paulo, ou por uma resolução da igreja em
Antioquia, foi decidido que uma delegação deveria subir à Jerusalém e pôr a
questão diante dos doze apóstolos e dos anciãos. A escolha de quem deveria
levar a questão, naturalmente, caiu sobre Paulo e Barnabé, já que tinham sido
os mais ativos na propagação do cristianismo entre os gentios.
A
Segunda Viagem Missionária de Paulo
(por volta de 51 d.C.)
Depois de Paulo e Barnabé terem ficado
algum tempo com a igreja em Antioquia, outra viagem missionária foi proposta.
"Tornemos", disse Paulo, "a visitar nossos irmãos por todas as
cidades em que já anunciamos a palavra do Senhor, para ver como estão. E
Barnabé aconselhava que tomassem consigo a João, chamado Marcos. Mas a Paulo
parecia razoável que não tomassem consigo aquele que desde a Panfília se tinha
apartado deles e não os acompanhou naquela obra. E tal contenda houve entre
eles, que se apartaram um do outro. Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou
para Chipre. E Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu, encomendado pelos irmãos
à graça de Deus. E passou pela Síria e Cilícia, confirmando as igrejas."
(Atos 15:36-41)
Com uma jornada tão importante, tão
cheia de provações, que exigia coragem e perseverança - segundo a opinião de
Paulo - ele não podia confiar em Marcos como companheiro; ele não podia
facilmente desculpar aquele cujos laços familiares o tornaram infiel no serviço
ao Senhor. O próprio Paulo deixava de lado todas as considerações e sentimentos
pessoais quando a obra de Cristo estava em questão, e ele desejava que os
outros fizessem o mesmo. A afeição natural, nesta ocasião, pode ter traído
Barnabé a, novamente, pressionar seu sobrinho ao serviço; mas uma severa
seriedade caracterizava Paulo. Os laços dos relacionamentos naturais e dos
apegos humanos ainda tinham grande influência sobre o caráter cristão ameno de
Barnabé. Isto é evidente pela sua conduta em Antioquia na ocasião da fraca
complacência de Pedro para com os judaizantes de Jerusalém (Gálatas 2). A
disseminação do evangelho no mundo gentio era sagrada demais aos olhos de Paulo
para admitir experimentos. Marcos tinha preferido Jerusalém à obra, mas Silas
preferiu a obra a Jerusalém. Isto pesou na decisão de Paulo, embora, sem
dúvida, ela tenha sido guiado pelo Espírito.
Barnabé leva Marcos, seu parente, e
navega para Chipre, sua terra natal. E aqui nos despedimos de Barnabé, aquele
amado santo e precioso servo de Cristo! Seu nome não é mais mencionado em Atos.
Essas palavras, "parente" e "terra natal" devem ser
deixadas a falar por elas mesmas ao coração de cada discípulo que lê estas
páginas. Se estivéssemos meditando sobre essa cena dolorosa, em vez de dar um
mero esboço de uma grande história, poderíamos ter muito o que dizer sobre o
assunto; mas o deixamos com duas felizes reflexões: 1) Isto foi direcionado de
modo que redundou em benção para os pagãos; as águas da vida agora fluíam em
duas correntes no lugar de uma só. Isso, no entanto, é a bondade de Deus, e não
dá sanção à divisão entre cristãos. 2) Paulo, mais tarde, fala de Barnabé com
inteira afeição, e deseja que Marcos vá até ele, tendo-o achado útil para o
ministério (1 Coríntios 9:6; 2 Timóteo 4:11). Não temos dúvida de que a
fidelidade de Paulo se tornou uma benção para ambos. Mas o mel das afeições
humanas nunca poderão ser aceitas no altar de Deus.
Tendo sido encomendados pelos irmão à
graça de Deus, eles iniciam sua jornada. Tudo é maravilhosamente simples.
Nenhum desfile é feito pelos seus amigos ao vê-los partir, e nenhuma grande
promessa é feita por eles quanto ao que eles estavam determinados a fazer.
"Tornemos a visitar nossos irmãos", são as poucas, simples e
despretensiosas palavras que nos levam à segunda grande viagem missionária de
Paulo. Mas o Mestre estava pensando em Seus servos e provendo para eles. Eles
não precisavam ir longe até encontrar um novo companheiro em Timóteo de Listra,
um que havia de suprir o vazio causado pela ausência de Barnabé. Se Paulo
perdeu o companheirismo de Barnabé como amigo e irmão, ele encontrou em
Timóteo, como seu próprio filho na fé, uma simpatia e um companheirismo que só
combinava com a vida do apóstolo. "Paulo quis que este fosse com
ele", mas antes de partirem, Paulo "o circuncidou, por causa dos
judeus que estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era
grego." Paulo, nesta ocasião, inclina-se ao preconceito dos judeus, e
circuncisa Timóteo por segurança.
Timóteo era filho de um daqueles
casamentos mistos que sempre foram fortemente condenados tanto no Antigo quanto
no Novo Testamento. Seu pai era um gentio, mas seu nome nunca é mencionado; sua
mãe era uma piedosa judia. Dada a ausência de qualquer referência ao pai, tanto
em Atos quanto nas Epístolas, supõe-se que ele possa ter morrido pouco tempo
depois do filho ter nascido. Timóteo foi, evidentemente, deixado na infância ao
único cuidado de sua mãe Eunice e de sua avó Lóide, que o ensinou, desde
criança, a conhecer as Sagradas Escrituras. E, das muitas alusões nas Epístolas
de Paulo ao carinho, sensibilidade, e às lágrimas de seu amado filho na fé,
podemos acreditar que ele manteve por toda a vida as impressões daquele gentil,
amável e santo cuidado doméstico. O maravilhoso amor de Paulo por Timóteo, e
suas afáveis lembranças de sua casa em Listra, e seu treinamento inicial ali,
ditaram algumas das mais tocantes
passagens dos escritos do grande apóstolo. Quando já um homem idoso - na
prisão, passando necessidades, e com o martírio diante de si - ele escreve:
"A Timóteo, meu amado filho: Graça, misericórdia, e paz da parte de Deus
Pai, e da de Cristo Jesus, Senhor nosso. Dou graças a Deus, a quem desde os
meus antepassados sirvo com uma consciência pura, de que sem cessar faço
memória de ti nas minhas orações noite e dia; desejando muito ver-te,
lembrando-me das tuas lágrimas, para me encher de gozo; trazendo à memória a fé
não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua
mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti." (2 Timóteo 1:2-5).
Ele insiste e repete seu urgente convite a Timóteo para ir e vê-lo.
"Procura vir ter comigo depressa" - "Procura vir antes do inverno"
(2 Timóteo 4:9,21). Podemos permitir-nos a crer que um filho tão ternamente
amado pôde chegar a tempo de acalmar as últimas horas de seu pai em Cristo, de
receber seu último conselho e bênção, e de testemunhá-lo terminando sua
carreira com alegria.
Silas, ou Silvano, aparece pela
primeira vez como um mestre na igreja em Jerusalém; e provavelmente ele era
tanto um helenista quanto um cidadão romano, como o próprio Paulo (Atos 16:37).
Ele foi apontado como responsável por acompanhar Paulo e Barnabé em seu retorno
a Antioquia com os decretos do concílio. Mas, como muitos detalhes tanto da
vida de Timóteo quanto de Silas naturalmente aparecerão ao traçarmos o caminho
do apóstolo, não precisamos dizer nada mais sobre eles no presente momento.
Procedamos com a viagem.
Paulo e Silas, com seu novo
companheiro, percorrem as cidades, ordenando-lhes a manter os decretos
ordenados pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém. Os decretos foram deixados
com as igrejas, de modo que os judeus tinham a própria decisão de Jerusalém de
que a lei não era para ser imposta aos gentios. Após visitar e confirmar as
igrejas já plantadas na Síria e Cilícia, eles procederam para a Frígia e
Galácia. Aqui fazemos uma pausa e nos deteremos nestas palavras: "pela
Frígia e pela província da Galácia" (Atos 16:6). A Frígia e a Galácia não
eram meras cidades, mas províncias, ou grandes distritos do país. E ainda assim
o historiador sagrado usa apenas essas poucas palavras ao recordar a grande
obra feita lá. Quão diferente é a energia condensada do Espírito comparada ao
estilo inflado do homem! Aprendemos da história, segundo Neander, que somente
na Frígia, no sexto século, havia sessenta e duas cidades. E parece que Paulo e
os que estavam com ele tinham percorrido todas as que existiam naquela época.
As mesmas observações quanto ao
trabalho se aplica à Galácia. E aprendemos pela Epístola de Paulo aos Gálatas
que, nessa época, ele estava sofrendo no corpo. "E vós sabeis que primeiro
vos anunciei o evangelho estando em fraqueza da carne" (Gálatas 4:13). Mas
o poder da sua pregação contrasta de maneira tão impressionante com a fraqueza
da sua carne que os gálatas foram movidos até mesmo a extravasar em simpatia e
sentimentos generosos. "E não rejeitastes, nem desprezastes isso que era
uma tentação na minha carne, antes me recebestes como um anjo de Deus, como
Jesus Cristo mesmo. Qual é, logo, a vossa bem-aventurança? Porque vos dou
testemunho de que, se possível fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos
daríeis." (Gálatas 4:14-15). Aprendemos pela história que os gálatas eram
de origem celta, impulsivos e de caráter instável.* A Epístola inteira é uma
triste ilustração da instabilidade deles, e dos tristes efeitos do elemento
judaizante entre eles. "Maravilho-me de", disse Paulo, "que tão
depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro
evangelho; o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem
transtornar o evangelho de Cristo." (Gálatas 1:6-7). Mas retornemos à
história narrada em Atos.
(* Veja História do Novo Testamento, de
Smith)
O caráter e os efeitos do ministério de
Paulo, como relatados nos capítulos 16 a 20, são realmente maravilhosos. Eles
deveriam até se destacar nas páginas de toda a história. Todo servo de Cristo,
e especialmente o pregador, deveria estudá-los cuidadosamente e lê-los com
frequência. "O vaso do Espírito", disse alguém de maneira tão bela,
"brilha com uma luz celestial através de toda a obra do evangelho; ele
condescende em Jerusalém; trovoa na Galácia quando almas estão sendo pervertidas,
guia os apóstolos a decidirem pela liberdade dos gentios, e usa, ele mesmo, de
toda a liberdade de ser um judeu de judeus, e como um sem lei para aqueles que
não tinham a lei, como não estando debaixo da lei, mas sempre sujeito a Cristo.
Ele também 'procurava sempre ter uma consciência sem ofensa' (Atos 24:16). Nada
que havia dentro dele dificultava sua comunhão com Deus, de onde ele tirou suas
forças para ser fiel entre os homens. Ele podia dizer, e [talvez, N. do T.]
ninguém além dele: 'sede meus imitadores, como também eu de Cristo' (1
Coríntios 11:1). Assim também ele podia dizer: 'Tudo sofro por amor dos
escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus
com glória eterna.' (2 Timóteo 2:10)"*
(* Sinopse dos Livros da Bíblia, por J.
N. Darby.)
Os modos do Espírito para com o
apóstolo nesses capítulos são também dignos de nota. Ele, e somente Ele, dirige
o apóstolo em seu maravilhoso caminho, e o sustêm em meio a muitas provas e
circunstâncias opostas. Por exemplo, Ele proíbe Paulo de pregar a Palavra na
Ásia - Ele não o deixa ir à Bitínia, mas o direciona por meio de uma visão à
noite para que ele fosse à Macedônia. "E Paulo teve de noite uma visão, em
que se apresentou um homem da Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à
Macedônia, e ajuda-nos. E, logo depois desta visão, procuramos partir para a
Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o
evangelho. E, navegando de Trôade, fomos correndo em caminho direito para a
Samotrácia e, no dia seguinte, para Neápolis; e dali para Filipos, que é a
primeira cidade desta parte da Macedônia, e é uma colônia." (Atos 16:9-12)
A
Terceira Visita de Paulo a Jerusalém
(por volta de 50 d.C.)
Quando eles chegaram a Jerusalém,
encontraram a mesma coisa [fanatismo dos crentes judeus pela guarda da lei
pelos gentios, N. do T.], não apenas nas mentes de alguns poucos irmãos
inquietos, mas no próprio seio da igreja. A fonte da confusão estava lá, não
entre judeus incrédulos, mas entres aqueles que professavam o nome de Jesus.
"Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram,
dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de
Moisés." (Atos 15:5). Esta declaração clara trouxe toda a questão diante
da assembleia, e suas importantes deliberações começaram. O Capítulo 15 de Atos
contém o relato do que ocorreu e como a questão foi resolvida. Os apóstolos,
anciãos, e todo o corpo da igreja em Jerusalém não estavam apenas presentes,
mas também tomaram parte na discussão. Os apóstolos nem assumiram nem
exercitaram poder exclusivo sobre o assunto. Este é geralmente chamado "O
primeiro Concílio da Igreja", mas pode também ser chamada de último
concílio da igreja que podia dizer: "Pareceu bem ao Espírito Santo e a
nós" (Atos 15:28).
Muitos, de acordo com noções modernas
de "essencial e não-essencial", sem dúvida diriam que a mera
cerimônia de circuncidar ou não circuncidar uma criança não tinha muita
importância. Mas não é assim de acordo com a mente de Deus. Era uma questão
vital. Afetava o próprio fundamento do cristianismo, os profundos princípios da
graça, e toda a questão sobre a relação do homem com Deus. A Epístola de Paulo
aos Gálatas é um comentário sobre a história dessa questão.
Não havia rito ou cerimônia que o judeu
convertido fosse tão averso a deixar para trás como a circuncisão. Era o sinal
e o selo do seu próprio relacionamento com Jeová, e das hereditária bênçãos da
aliança com seus filhos. É da opinião de alguns em todas as eras que o
"batismo de crianças" foi introduzido pela igreja para atender ao
forte preconceito judaico. Mas se isto tivesse sido a pretensão do Senhor, o
concílio em Jerusalém seria o próprio lugar para anunciá-lo. Isto acabaria com
toda a dificuldade, e resolveria a questão diante deles, e restauraria a paz e
unidade entre os duas "igrejas-mãe" [a igreja em Jerusalém, sendo a
primeira igreja onde predominavam os judeus, e a igreja em Antioquia, sendo a
primeira igreja onde predominavam os gentios, N. do T.]. Mas nenhum dos
apóstolos ou dos outros aludiram a isto.
Antes de deixarmos essa importante e
sugestiva parte da história do nosso apóstolo, pode ser bom observar certos
fatos trazidos em Gálatas 2, mas que não são mencionados em Atos. Foi nesta
ocasião que Paulo subiu, por revelação, a Jerusalém com Tito. Em Atos temos a
história de Paulo vista de fora, cedendo aos motivos, desejos e objetivos do
homem; nas Epístolas temos algo mais profundo - aquilo que governava o coração
do apóstolo. Mas Deus sabe como combinar essas circunstâncias externas com a
direção interna do Espírito. A liberdade cristã ou a servidão da lei estavam em
debate: se a lei de Moisés - em particular, o rito da circuncisão - deveria ser
imposta aos gentios convertidos. Paulo, guiado por Deus, sobe a Jerusalém, e
leva com ele Tito. Perante a face dos doze apóstolos, e de toda a igreja, ele
traz a Tito, que era grego, e que não tinha sido circuncidado. Isto foi um
passo ousado - introduzir um gentio, e incircunciso, no próprio centro de um
judaísmo intolerante! Mas o apóstolo foi lá por revelação. Ele tinha
comunicações positivas, vindas de Deus, sobre o assunto. Foi a maneira divina
de decidir a questão, de uma vez por todas, entre ele mesmo e os cristãos judaizantes.
Este passo era necessário, como ele diz: "E isto por causa dos falsos
irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade,
que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão; aos quais nem ainda por
uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse
entre vós." (Gálatas 2:4-5)
O apóstolo, então, tendo atingido seu
principal objetivo, e tendo comunicado seu evangelho aos de Jerusalém, vai
embora, com Barnabé, e retorna aos cristãos gentios em Antioquia. Os dois
representantes, Judas e Silas, carregando os decretos do concílio, os
acompanham. Quando a multidão de discípulos se reuniu e ouviu a epístola lida,
se alegraram e foram consolados.
Assim termina o primeiro concílio
apostólico, e a primeira controvérsia apostólica. E, pelo que aprendemos desses
assuntos em Atos, podemos concluir que a divisão entre os cristãos judeus e
gentios tinha sido completamente curada pela decisão da assembleia; mas
sabemos, pelas Epístolas, que a oposição do partido judaizante contra a
liberdade dos cristãos gentios nem sequer cochilava. Logo começava de novo, e
Paulo tinha que, constantemente, confrontar e lutar contra a questão.(NOTAS ANDREW MILLER , HISTORIA DA IGREJA).
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