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sexta-feira, 11 de agosto de 2017

UM SÓ SENHOR (2)




NÃO TERÁS OUTROS DEUSES

II. O PRIMEIRO MANDAMENTO

1. Um código monoteísta.

O Decálogo é monoteísta e introduz essa doutrina no sistema mosaico que influenciou o pensamento teológico dos antigos hebreus, vindo a se culminar com a manifestação do Filho de Deus. O monoteísmo aqui era uma inovação, visto que as nações da época eram politeístas. A Mesopotâmia é o berço da civilização humana e o centro irradiador da idolatria. A terra do Nilo foi grandemente afetada por essa idolatria. E Israel e seus ancestrais tiveram vínculos com as culturas mesopotâmica e egípcia.
Abraão veio da Mesopotâmia e a nação de Israel se formou no Egito. Como nação, Israel seguia em direção à Terra Prometida, onde estavam os cananeus, idólatras como todos os seus vizinhos. A idolatria era a cultura predominante na época. Esse era o mundo religioso do Oriente Médio de então, com cultos envolvendo sacrifício de crianças e prostituição.Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 27-28.

MONOTEÍSMO. O judaísmo, o islamismo e o cristianismo são os três grandes expoentes dessa idéia da divindade. Segundo essa posição, existe apenas um único Deus, em sentido absoluto, não querendo isso dizer que ele é o nosso deus e que existem outros deuses de outros povos. Antes, somente um ser é o possuidor da divindade autêntica. É interessante observarmos que esse ensino foi antecipado ou mesmo parcialmente duplicado dentro da filosofia platônica, em seu conceito de bondade universal, como também no conceito do «intelecto puro», de Aristóteles. Essa doutrina é ensinada francamente na idéia de «Yahweh», segundo o judaísmo posterior, segundo a qual Deus é o Deus de todos, e não meramente da nação israelita. Na realidade, ele é o Deus de todos os universos, de tudo quanto existe, sem importar se pertence à categoria terrena ou celestial, humana ou angelical, material ou espiritual.
Ordinariamente as seguintes idéias são vinculadas ao monoteísmo:
a. Deus é um ser infinito ou absoluto. Daí a origem da introdução do vocábulo «omnis», em «onipotente», «onipresente» e «onisciente». Isso nos leva à suposição de que Deus é, em grau infinito, aquilo que experimentamos apenas em pequena medida.
Naturalmente os conceitos sobre a infinitude na realidade são negativos, porquanto não possuímos qualquer experiência sobre qualquer coisa infinita. Assim que alguém começa a tentar descrever o «infinito», por motivo de suas próprias descrições já começou a reduzir o infinito à mera finitude. Não obstante, temos fé suficiente para crer que apesar de nada realmente sabermos sobre a infinitude, e apesar de não possuirmos linguagem capaz de descrevê-la, podemos atribuir a qualidade da infinitude a Deus, supondo que aquilo que possuímos, de forma finita, ele possui em grau infinito. Discussões semelhantes ao raciocínio que aqui expomos mostram-nos quão pouco realmente conhecemos sobre Deus, visto que nossas descrições e nossa mentalidade não se prestam muito para descrever a natureza infinita de Deus.
b. Além disso declaramos que esse Deus possui tanto a vida necessária como a vida independente. Em outras palavras, Deus possui aquela forma de imortalidade verdadeira, que não pode deixar de existir. Esse é um dos pontos doutrinários mais exaltados do evangelho de João, onde há comentários nos trechos de João 5:26 e 6:57 no NTI. Todos os demais seres possuem uma vida que não é necessária, isto é, aquela variedade de vida que pode deixar de existir. No entanto, o ensino do evangelho de João é que Deus outorgou essa vida necessária a Jesus Cristo, como homem — e através dele, a todos os seres humanos que nele vierem a crer; e assim o homem pode tornar-se possuidor da imortalidade verdadeira, o mesmo tipo de vida que Deus tem e que caracteriza agora a vida do Senhor Jesus. Mas a vida de Deus é igualmente «independente», isto é, uma vida que existe por si mesma, sem depender de outra qualquer, para sua origem e continuação. Ora, os remidos, por intermédio de Cristo, por semelhante modo tornar-se-ão possuidores dessa «vida independente», que também caracteriza a verdadeira imortalidade.
c. Ordinariamente, o conceito do monoteísmo inclui a idéia de que Deus é o criador de todas as coisas, que somente ele existiu desde a eternidade, e que todo o resto da existência, sem importar se pertence à natureza física ou à natureza espiritual, se deriva dele. O conceito da criação, conforme aparece como idéia filosófica, não requer a introdução de um início absoluto; ou, em outras palavras, pode ser encarado no mesmo sentido em que dizemos que um objeto físico «cria» uma sombra quando exposto à luz. Nesse caso, a sombra realmente co-existe com o objeto, mas este último é a «causas» da sombra, ou seja, o «criador» da sombra. Por semelhante modo, no conceito da emanação (conforme ensinado pelo panteísmo estóico), embora a criação seja vista como parte integrante do criador, e, por isso mesmo, co-eterna com ele, contudo, ainda assim poderíamos falar em criação, pois Deus teria criado tudo emanando a si mesmo.
Não obstante, tanto o judaísmo como o cristianismo ensinam que os mundos físicos, juntamente com tudo quanto existe, tiveram início em um ponto do tempo, deixando somente Deus como eterno. Isso tem criado, para alguns, o pseudoproblema que indaga: «E o que Deus estava fazendo quando somente ele existia?» Orígenes, para resolver esse problema, supôs que a criação seria um ato eterno de Deus, de tal forma que nunca teria havido um tempo em que Deus esteve inativo. Mas outros estudiosos da Bíblia ensinam que o tempo pertence somente à criação, e que, por isso mesmo, antes da criação, não havia tempo. Ainda outros intérpretes, em busca da solução para esse problema, têm sugerido que a criação é eterna apenas como um conceito de Deus, isto é, existente na mente de Deus desde a eternidade. Todavia, a idéia ordinária, aceita pela maioria dos teólogos cristãos, é que Deus criou todas as coisas em um ponto inicial do tempo, mediante a sua própria energia, como que «do nada»; embora a criação, através da própria energia divina, com a qual Deus teria formado a matéria, baseado em princípios espirituais, não é realmente uma criação do nada. Quanto a outras notas expositivas sobre a «criação», ver Heb. 11:3 e João 1:1-3 no NTI. Ver também o artigo sobre Criação.
d. Como parte usual da teologia monoteísta avulta o conceito de que Deus é um ser pessoal, e não alguma força cósmica impessoal. Deus é um ser inteligente; e podemos saber algo a seu respeito mediante o exame do ser humano, — que foi criado à sua imagem. Mais perfeitamente ainda, podemos saber sobre Deus através do Senhor Jesus Cristo, que refletiu a sua glória, Deus é Espírito, no que faz contraste com a matéria, ainda que não saibamos no que consiste um «espírito», exceto que não pode ser compreendido em termos das coisas materiais. Além disso, Deus possui natureza emocional. Deus tem vontade e razão, de uma maneira infinita, ainda que, até certo ponto, o homem seja um reflexo dessas verdades, possuindo tais propriedades mais ou menos da mesma maneira que Deus as possui, posto que em grau muito menor. Por conseguinte, somos levados à conclusão de que Deus não é alguma força cósmica, remota, impessoal, sem qualquer consciência da existência do homem. Pelo contrário, é um ser vivo que tem todo o conhecimento dos homens, que os guia, que os castiga ou galardoa, segundo as suas ações, e que determina os eventos e o destino de cada ser humano. Ora, essa é a posição do «teísmo».

e. Ao Deus único, o Deus apresentado pelo monoteísmo, também atribuímos a qualidade da moralidade. Deus é bom, amoroso e santo, sendo o grande despenseiro da justiça. O seu amor, entretanto, não é da qualidade do «eros» ou amor erótico, sensual, e, sim. é «agape». um amor sem causa, sem começo e puro em seu princípio, consistindo em um interesse genuíno e eterno pelo bem-estar de todas as suas criaturas. Esse amor, outrossim, é independente, ou seja, não é cnado ou mantido por qualquer coisa existente no objeto amado; pelo contrário, devido à sua suprema natureza amorosa, Deus é quem dá corpo ao princípio da bondade e da justiça, não precisando indagar, de quem quer que seja, o que seria bom e o que não o seria. Assim, pois, Deus é o padrão final de todos os valores morais.CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 4122-4123.

Êxo 3.3 Não terás outros deuses. Temos aqui a regra do monoteismo Neste ponto, o monoteismo substitui todas as outras possíveis noções de Deus. Todavia, não basta acreditar na existência de um Deus. Esse Deus único precisa ser reconhecido e obedecido como a autoridade moral de todos os atos humanos. Também só há um Deus no atinente à questão da adoração e do serviço espirituais. O Deus único merece toda honra. Isso labora contra o panteísmo e todo o seu caos. Este último adiciona muitas informações àquilo que comentamos aqui. Ver também Êxo. 23.13.
A nação de Israel estava cercada por povos que eram leais a um número impressionante de divindades. As pragas do Egito tinham mostrado que só Yahweh é Deus (ver Êxo. 5.2 e 6.7). Há uma profunda verdade na idéia que um homem só pode adorar a um Deus. Jesus abordou essa questão em Mateus 6.24. Os homens adoram aquelas coisas que lhes parecem importantes, incluindo o dinheiro. Há deuses externós e internos. Mas todos eles são deuses falsos.
Yahweh é um Deus zeloso que não tolera rivais (vs. 5; 34.14). Naturalmente, temos nisso uma linguagem antropomórfica. Divindades rivais seriam algo contrário ao caráter único de Deus. E um deus que não é único não é o verdadeiro Deus. Ver os vss. 22,23. A desobediência ao primeiro mandamento foi a principal razão dos cativeiros (ver a esse respeito no Dicionário) que, finalmente, Israel sofreu.CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 388.

O primeiro mandamento: “Não terás outros deuses além de mim” (Êx 20.3), tem força especial contra esse pano de fundo e tudo que Moisés recontou dos tempos primevos e dos patriarcas. Esse mandamento não é tanto (nem mesmo principalmente) um argumento pelo monoteísmo, mas uma reivindicação do Senhor de exclusividade sobre Israel como o único Deus de Israel.” Sem dúvida, mesmo nessa época, a fé monoteísta fazia parte do dogma normativo hebraico (cf. Êx 9.14; Dt 4.35,39; 32.12,39), mas a intenção da proibição aqui era garantir que Israel dedicasse submissão integral ao Senhor em contraposição a todos as outras deidades reais ou imaginárias. O sentido literal do texto é: “Que não haja para você outros deuses em meu lugar”. Se as nações do mundo queriam crer em outras deidades e adorá-las, que fosse assim, mas Israel devia reconhecer só o Senhor como seu Deus.
Pode-se achar que fosse desnecessário dar essa ordem a Israel naquele momento decisivo de redenção e de concessão da aliança, mas isso seria interpretar erroneamente a predileção congênita da nação (e nossa) de procurar e adorar deuses inventados pelo homem. Os ancestrais patriarcais tinham lutado com essa questão (Gn 31.34; 35.2-5), e Israel não se comprometeria tão rápido com a aliança em vista aqui quanto se comprometeu com a construção de um bezerro de ouro, atribuindo a este a maravilhosa libertação do êxodo (Êx 32.4). Dessa época em diante — pelo menos até o retorno do exílio babilônio — Israel e Judá sucumbiram quase continuamente às lisonjas da idolatria pagã, assunto que documentaremos com detalhes.
Sem apresentar desculpas para Israel, é importante entender alguma coisa do ambiente cultural e religioso em que a nação veio à existência. As grandes civilizações do mundo do Oriente Próximo da Antiguidade, sem exceção, estavam mergulhadas em uma visão de mundo que explicava todos os fenômenos, naturais e sobrenaturais, como manifestações aleatórias de incontáveis deuses e deusas, os quais tinham de ser apaziguados a fim de que não descarregassem sua vingança sobre a humanidade ou deviam ser induzidos por vários meios a trazer fortuna e bem-estar para o homem.12 Abundância ou necessidade, saúde ou doença, paz ou guerra, vida ou morte — todos dependiam do capricho de seres poderosos que, de alguma maneira, deviam ser invocados ou apaziguados a fim de que a vida trouxesse alguma satisfação.
 Israel vivia nesse mundo, tendo chegado a algum sentido de um Deus verdadeiro e vivo só por meio da graça deste em afastar Abraão do paganismo sumério e em pôr a ele e seus descendentes para amadurecer em uma relativa incubação em uma Canaã muitíssimo desabitada e em uma parte isolada do Egito. Mas a remoção total daquele mundo era impossível, e Israel viu-se presa nas contra-correntes da vida cultural e religiosa da época e, mais uma vez, levada ao limiar do desastre espiritual até que, por fim, foi para o exílio assírio exatamente por causa de sua infidelidade à aliança em seguir outros deuses (2Rs 17.7-22).
Não obstante, Israel ter experimentado a provisão de Deus de proteção e do êxodo redentor, seria imensa a tentação da nação em um mundo largamente governado pela ligação de causa e efeito na atribuição de bênção por parte dos deuses da natureza. Portanto, o mandamento para não ter outros deuses não é um princípio teológico enunciado nos seguros limites da abstração acadêmica, mas afeta a vida e o pensamento diários. Ater-se a esse mandamento exigiria recursos que estavam além da capacidade de meros seres humanos; desobedecer- lhe, por sua vez, provocaria a mais severa punição; pois ter outro deus que não o Senhor seria um ato, da mais alta magnitude, de infração e de deslealdade com a aliança.Eugene H. Merrill. Teologia do Antigo Testamento. Editora Shedd Publicações. pag. 324-326.

2. Idolatria do Egito.

As Religiões do Egito

1. História envolvida e caracterização geral. A história da religião, no antigo Egito, começa paralelamente à sua história secular, ou seja, em 3000 A.C., e, então, continua até o advento do islamismo (após 642 D.C.). Somente então podemos falar em termos do Egito medieval e do Egito moderno. Talvez somente na época do monoteísmo de Aquenaton (1372-1354) tenha havido qualquer coisa parecida com um movimento unificador na religião; mas, mesmo assim, foi um esforço de pouca duração, imposto de cima para baixo. Em tudo o mais, a religião egípcia era pluralista, estando envolvida em desenvolvimentos e práticas de cunho local, pois cada localidade tinha seu próprio deus, seu sacerdócio e seu culto religioso.
2. Características mais antigas. Muitas culturas seguem as mesmas diretrizes gerais. As primeiras divindades são sempre personificações das forças da natureza, como o sol, as estrelas, certos animais como o touro, o falcão, o crocodilo, ou então o trovão, o relâmpago, os poderes infernais (estes últimos sugeridos pelas atividades vulcânicas), a força das tempestades, dos ventos, da chuva, etc. Depois disso aparecem os espíritos dos mortos ou outros espíritos, que inspiram o terror nos homens, e os levam a adorá-los. A necessidade das colheitas, para a continuação da vida, fornecem aos homens seus deuses e deusas da fertilidade, e o desejo pelos prazeres é a inspiração dos deuses e deusas da alegria e da fertilidade. Acrescente-se a isso a inevitável atividade antropomórfica, que faz deuses e deusas serem concebidos em termos de seres humanos, embora ampliados, mas que têm virtudes e vícios melhores e piores do que as virtudes e vícios dos homens.
3. Divindades protetoras. Antes que Menes unificasse o Egito sob o seu governo, o país estava dividido em dois reinos (o Alto e o Baixo Egitos). Subseqüentemente, foi dividido em distritos, bem como em um certo tipo de cidades-estados. Cada cidade ou distrito contava com seu deus protetor ou patrono. Alguns dos deuses mais importantes eram os seguintes:
Anúbis, de Cinópolis, um deus com cabeça de chacal, que era o deus dos mortos. Atom, de Heliópolis, mais tarde identificado com o deus-sol Rá (que vide). Bastete, a deusa-gata de Bubástis. Hator (que vide), a deusa- vaca de Denderá e de Afroditópolis. Horus, o deus - sol, em forma de falcão, de Bedete. Edfu, o deus real do Egito. Khnum, o deus com cabeça de carneiro de Elefantina, que também era adorado sob a forma da catarata existente na região. Khonsu, o deus-lua de Tebas. Min, o deus-peixe fálico de Cóptos. Akhmim, um deus agrícola. Montu, o deus da guerra de Hermontis e que tinha cabeça de milhafre. Amom, o deus do carneiro sagrado, que substituiu a Montu, em Tebas. Neite, a deusa de Sais e de Esna. Necbete, a deusa corvo de El-Kab. Ptá, o deus-boi de Mênfis, que era considerado o patrono especial dos artistas. Sebeque, o deus-crocodilo de Fayum e de Kom Ombo. Tote (vide),—o deus com cabeça de íbis de Mermúpolis, que, supostamente, teria inventado a arte da escrita e que era o santo patrono da erudição e que era também representado pelo babuíno!
Os deuses animais patronos, no Egito. Além de adorarem deuses que eram representados por seres animalescos, os egípcios também adoravam diretamente a certos animais. Assim, havia ápis (vide), um touro negro com manchas brancas, adorado em Mênfis Mnevis, um boi de cor clara, que era o deus de Heliópolis. Havia ainda outros deuses-boi, relacionados a outras localidades egípcias. Outros animais sagrados, formando uma lista difícil de nela acreditarmos, incluíam o babuíno, o musaranho, o cão, o lobo, o chacal, o gato, o leão, o hipopótamo, o carneiro, a vaca e vários pássaros, como o abutre, o gavião e o ganso. Também não nos devemos esquecer da serpente, considerada uma divindade em muitos lugares do Egito. Até mesmo insetçs, como o escaravelho, vieram a fazer parte do panteão egípcio. É curioso, todavia, que a adoração direta a certos animais não garantia aos mesmos uma longa vida, conforme se dá na índia, no caso da vaca sagrada, que ninguém toca. Muito pelo contrário, os egípcios comiam o boi sagrado.
Apesar desse costume, os túmulos dos bois sagrados, em Sacara, encontram-se entre os mais impressionantes túmulos do Egito. O gato, por sua vez, era um animal considerado sagrado e muitos gatos mumificados têm sido encontrados naquele país. Ver o artigo separado sobre o Gato.
O deus-chacal, Anúbis, tinha a tarefa especial de proteger os espíritos dos mortos que vagueavam, no após-vida. Também havia cáes de guarda para os vivos e o grande Cão de Guarda para os mortos! A imaginação dos homens mostra-se ridícula, para dizermos o mínimo.
Deuses que eram forças da natureza. Entre esses havia Rá, o sol; Hapi, o rio Nilo; Num, o oceano; Sou, o ar; Tefnute, o orvalho; e Gebe, a terra.
4. Movimento de unificação da V Dinastia e outras unificações. Os teólogos de Heliópolis, nesse tempo (2560-2420 A.C.), identificaram sua divindade local, Atom, com o deus-sol, Rá. Isso deu origem a uma espécie de religião nacional, embora não tivessem sido eliminados os muitos deuses locais, o que se evidencia pelas muitas divindades descritas antes. Antes mesmo desse tempo, porém, tinha havido outras unificações, como quando Sete e Ombos tornaram-se divindades especiais no Alto Egito, e Horus tornou-se outro tanto, no Baixo Egito. Em uma outra ocasião, a deusa corvo, Necbete, do Alto Egito, obteve proeminência maior que a de outros deuses, e o deus- serpente, Buto, tornou-se muito importante no Baixo Egito. Posteriormente, Horus foi identificado com Atom-Rá-Haracte, de Heliópolis. E foi então que se tornou a divindade real dos Faraós, conferindo-lhe grande proeminência no panteão egípcio.
5. Amenopofis IV (Icnaton, 1375-1358 A.C.), da XVIII Dinastia, promoveu a causa do monoteísmo, tendo negado o poder de deuses solares, como Amon, que haviam recebido a lealdade de cidades como Tebas. Esse Faraó opôs-se abertamente à casta sacerdotal de Amom, fazendo com que Atom-Rá-Haracte se tornasse o único deus - sol do Egito. Os estudiosos referem-se a Aten como o nome do deus que resultou dessa consolidação. 
Outros deuses foram proscritos no Egito, embora, aparentemente, continuassem sendo reconhecidos como entidades. Portanto, temos então muito mais o fenômeno do henoteísmo do que o fenômeno do monoteísmo dos hebreus, e também diferente do fenômeno do politeísmo pagão, embora, na prática, tivesse sido estabelecido no Egito, um monoteísmo de breve duração. Todavia, essa adoração unificada não contava com qualidades morais especiais, conforme se verificou no monoteísmo hebreu. Aten era retratado como um criador benévolo, como sustentador da vida. É curioso que Aquenaton tenha se casado com a sua própria filha, embora isso não tivesse resultado de qualquer convicção religiosa, pois outros Faraós haviam feito a mesma coisa. Esse Faraó é que tem sido visto, nas visões de místicos modernos, como o progenitor do anticristo (biológico ou espiritualmente, ou ambas as coisas?)
6. Osiris. a. Pano de fundo. Os primórdios desse culto podem ser encontrados no Antigo Reino Egípcio, bastante anterior à época de Abraão e dos patriarcas de Israel. Toda uma família de deuses desenvolveu-se em torno de Osiris, o que incluía um culto muito elaborado. No entanto, nos primeiros dias do Reino Antigo, essa família divina ainda não havia sido imaginada. Ao que parece, o próprio Osiris a princípio fora o deus Nilo de Busiris, no Delta. Em tempos remotos, Osiris, ísis, Horus e Sete tinham sido divindades tribais independentes. Horus acabou sendo adorado em companhia dela, considerado seu filho. Sete era adorado como uma espécie de figura divina igual a Horus. Osiris, quando unido a essa família, tornou-se o esposo de ísis. Com a passagem do tempo, — Sete deixou de ser igual a Horus, e acabou sendo o irmão mau de Osiris. Então Osiris tornou-se o pai bom, Horus tornou-se o filho bom, e ambos faziam oposição a Sete. É deveras curioso que alguns teólogos mórmons supõem que Satanás é um irmão desviado do Filho e que tanto o Filho quanto o Pai agora se opõem a Satanás. Assim, apesar das relações serem diferentes, a idéia é idêntica: uma família de deuses na qual um dos membros erra e sofre oposição. Além disso, Osiris veio a ser imaginado como irmão de ísis, que se casou com ela, de acordo com um antigo costume entre os egípcios. Sete também tinha uma irmã, chamada Nebate, que se casou com ele. Mas, em algumas representações, Osiris teria uma segunda esposa, essa mesma Nebate, que tinha um filho divino, Anpu, ou Anúbis.
b. Osiris era o deus dos mortos, o que explica a grande proeminência dessa divindade na teologia egípcia. Para uma egípcia, a felicidade eterna dependia de ser ela favorecida e transformada por Osiris. Seu nome veio a tornar-se um sinônimo virtual de bem-aventurado. O reino de Osiris era descrito em termos vagos e indistintos; mas, antropomorficamente, de tal modo que o após - vida era visto essencialmente como uma existência análoga à do mundo presente. O famoso Livro dos Mortos, até hoje existente em várias traduções, era o roteiro para alguém chegar ao reino de Osiris. Uma cópia desse livro com freqüência era deixada nos túmulos, a fim de guiar os mortos e servir-lhes como uma espécie de amuleto. Osiris atuava como um juiz. Cada alma era pesada em comparação com a verdade e era submetida a um longo questionário referente, principalmente, àquilo que alguns chamariam de pecados mortais. Se uma alma fosse aprovada entrava na felicidade eterna. Se fosse rejeitada, ela seria expulsa sob a forma de um porco, para alguma sorte desconhecida.
c. Osiris e a ressurreição. Os mitos que circundavam essa família de deuses inclui a idéia de que Osiris foi assassinado por Sete. Horus, porém, conseguiu reunir os pedaços de seu corno desmembrado, para restaurar o seu corpo à vida. Portanto, temos aí a curiosa doutrina do filho que ressuscitou ao pai, o contrário da ressurreição de Jesus Cristo, no Novo Testamento. Naturalmente, outras religiões antigas também contavam com histórias de ressurreições, pelo que não há nenhuma conexão direta entre Osíris e o Novo Testamento, excetuando aquela esperança que os homens sempre tiveram de que a morte, de alguma maneira, pode ser derrotada mediante algum ato divino. No relato da ressurreição de Osíris, também há o paralelo com o cristianismo de que essa mesma vida pode ser dada aos homens, sob a condição deles seguirem pela vereda espiritual. Em algumas versões, quem ressuscita a Osíris, após seu assassinato, não é o filho dele, Horus, e, sim, a sua esposa, ísis.
d. O submundo e o céu . Osíris, antes de tudo, era o deus do submundo, das regiões infernais. Em tempos posteriores, entretanto, ele passou a ser imaginado como um habitante dos lugares celestiais, onde se encontraria sentado em um trono, para julgar todas as coisas.
e. Faráo e Osíris. Isso envolve uma doutrina de filiação, visto que o Faraó era tido como filho de Osiris, ou seja, divino por seu próprio direito. O conceito do rei divino exercia grande poder sobre a política e a religião do Egito.
f. A imortalidade obtida por Osíris. Um aspecto da teologia egípcia que circunda a figura de Osíris diz que ele mesmo obteve a imortalidade mediante obras piedosas, e através de ritos religiosos apropriados. Quão parecido com a doutrina católica romana! O sacerdócio que servia a Osíris é retratado como os preservadores da fórmula para a obtenção da imortalidade. Eles exortavam os homens a seguirem o exemplo deixado pelo próprio Osiris, para poderem obter o mesmo tipo de vida que ele teria obtido. Há nisso, igualmente, um curioso paralelo com a doutrina mórmon, que diz que o próprio Deus, no passado distante, foi um homem como qualquer outro, mas obteve a sua augusta posição e natureza através da obediência perfeita às leis divinas superiores.
g. Adaptações romanas. Nos tempos dos romanos, Osíris e ísis foram unidos como as divindades protetoras de certa religião misteriosa que falava sobre um deus que morrera, mas foi trazido de volta à vida.
h. Proeminência de Osiris e fsis. A adoração que circundava Osiris e a sua família tornou-se tão dominante nos tempos helénicos que os visitantes gregos do Egito, como Heródoto (ver II.42), tinham a impressão de que Osíris e Isis eram as únicas divindades nacionais do Egito. Os estudiosos das religiões do mundo supõem que essa popularidade devia-se à ênfase sobre a imortalidade alcançável que esse culto prometia aos homens. De fato, a maioria das pessoas tem a esperança de sobreviver à morte, encontrando uma vida imortal melhor do que a vida atual.
i. Unificações. Quando Osíris se tornou o fator principal da fé egípcia, esse deus começou a incorporar em si mesmo as funções e poderes de outras divindades locais. Ele absorveu deuses anteriores do submundo, como Khentamentiu, o deus com cabeça de cão de Abidos, Ptá-Socar, de Mênfis, e Gebe. Visto que os mitos afirmavam que seu corpo fora desmembrado, vários santuários afirmavam possuir algum pedaço de seu corpo. Entretanto, sua cabeça estaria guardada em um certo túmulo, em Abidos. Ali, esse alegado túmulo era exibido aos visitantes, pelo que o local tornou-se um dos principais centros desse culto. O paralelo católico romano, que envolve relíquias e ossos de santos, nem precisa ser comentado. O deus Anúbis, com cabeça de chacal (um dos filhos de Osíris), era quem teria a tarefa de dar as boas vindas às almas, levando-as ao trono de julgamento.
7. Algumas Formas religiosas. — Essas formas variavam de uma região para outra. A descrição sob o terceiro ponto, Deuses Protetores, sugere a grande variedade de formas de adoração do Egito. Antes de tudo, temos uma fantástica idolatria, que representava as divindades sob uma variedade quase interminável de figuras.
Em segundo lugar, havia castas religiosas que cuidavam dos templos, com ritos os mais elaborados. Os deuses eram sen/idos com libações (líquidos) e com alimentos sólidos. A vida após-túmulo era retratada como um estado onde as pessoas trabalhavam, pelo que pessoas proeminentes teriam escravos, os quais eram mortos e sepultados juntamente com eles, para garantir que continuariam sendo servidos do outro lado da existência. Alguns eruditos pensam que sacrifícios humanos eram comuns no Egito, embora as evidências quanto a isso não sejam conclusivas. Em tempos posteriores, em vez de serem sepultados pessoas reais, bastavam estátuas representando as mesmas, pelo que a morte só envolvia os mortos.
Amuletos e encantamentos. Não havia fim desses objetos entre os egípcios, que chegaram até nós desde os tempos mais remotos. Os amuletos incluíam objetos como olhos sagrados de cavalos, imagens de deuses, cabeças de chacal, vespas e outros insetos, todos os quais teriam propriedades mágicas e divinas.
O culto a Osíris oferecia alguns fatores interessantes. A adoração efetuada nos grandes templos incluía a veneração pessoal dos deuses. Uma parte dessa veneração incluía o ato de alimentá-los (simbolicamente, através de sacrifícios). Além disso, os ídolos que os representavam eram grandemente ornamentados. Esses serviços pessoais usualmente cabiam aos sacerdotes de cada culto. Em dias de festa religiosa ou de observância cúltica, a imagem do deus (escondida por algum véu ou cortina, para dar uma aura de mistério à coisa) era transportada em uma procissão. Quando surgiu o cristianismo, o paganismo, com suas antigas formas religiosas, sofreu um retrocesso; mas, com o tempo, o paganismo ressurgiu, sob a forma de doutrinas e cerimônias, primeiramente fora da cristandade, até 390 D.C., mas, pouco a pouco, como parte do culto cristão. Nos dias de Teodósio I, foram fechados os grandes e antigos templos pagãos. A religião pagã havia percorrido um longo caminho no Egito, e agora uma nova fase da história da religião haveria de começar.
8. A natureza e o destino da alma. A grande pluralidade envolvida na religião, no Egito, naturalmente produziu muitos conceitos sobre a alma. Alguns aspectos são dignos de menção, embora tudo quanto se diga não represente uma doutrina unificada. Um corpo embalsamado presumivelmente poderia ressuscitar, tornando-se, novamente, um veiculo da alma. O ká, ou seja, o congênere do corpo físico, ou o seu fantasma, teria início quando do nascimento do corpo, era imortal e ficava a vaguear após a morte do corpo físico. Não se pode duvidar que essa doutrina foi inspirada por experiências com fantasmas e formas espirituais, que, algumas vezes, podem ser vistas, até com certa freqüência, por algumas pessoas. 
O ká era associado a um outro elemento formativo do complexo humano, chamado de khaib ou «sombra», simbolizado pela sombra da pessoa à luz do sol. Esses dois elementos, segundo se concebia, estariam vinculados ao corpo material e mesmo em algum sentido também material. Todavia, também haveria elementos imateriais no complexo humano, que incluíam o bá, a verdadeira alma, simbolizada por uma ave com cabeça humana e que voaria para dentro e para fora do túmulo da pessoa morta. Naturalmente, a ave é um símbolo universal da imortalidade, um dos arquétipos do espírito, dentro da psique humana. O bá dos monarcas era simbolizado pelo falcão. Também haveria o khu, ou glória, que seria o espírito, representado pelo pássaro de crista. E também haveria o ab, simbolizado por um coração. Igualmente havia o sekhem, ou força; e, finalmente, o ran, ou nome. Porém, exatamente como esses diversos elementos se combinavam ao bá, de acordo com o pensamento egípcio, e até que ponto seriam meros sinônimos de uma mesma coisa, não é muito claro.
Relação entre e Ká e o Bá. Esse é um ponto interessante, porquanto os estudos mais recentes demonstram a existência de um fantasma aparentemente semimaterial, ou vitalidade, em contraste com o corpo físico, que é verdadeiramente material. Isso posto, o homem seria composto, pelo menos, de três níveis de energia: o corpo físico (material); a vitalidade (semimaterial); e o espirito, ou alma (imaterial). Também há provas incipientes de que o homem real é o superego, um ser semelhante ao anjo guardião do pensamento cristão. Nesse caso, o verdadeiro ser humano seria um poder elevadíssimo (semelhante aos anjos, abaixo dos quais os espíritos humanos foram postos, temporariamente, conforme se vê em Salmos 8:5 e Hebreus 2:7), capaz de manipular tanto a alma quanto o corpo, quando se trata de aprender alguma coisa. Seja como for, o contraste entre o ká e o bá também pode ser observado em alguns escritores gregos, embora não com esses nomes e nem de forma sistemática e coerente. Mas, pelo menos, fica esclarecido que o ká é o responsável por algumas formas de aparições fantasmagóricas e, talvez, das manifestações de poitergeist (que vide). Também pode estar por detrás de certos fenômenos associados às sessões espíritas ou de mediunidade. Já o bá, ou alma verdadeira, é uma outra questão; e, algumas vezes, tem contacto com os homens mortais.
Idéias Simples. De acordo com os egípcios, após a morte física, a alma ficaria pairando por sobre o túmulo da pessoa sepultada, exigindo alimentos e bebidas, uma idéia compartilhada por muitos outros povos antigos. Isso deu origem a vários ritos religiosos, mediante os quais homens mortais cuidariam de almas imortais. Em tempos posteriores, oferendas reais foram substituídas por ofertas simbólicas, sob a forma de desenhos ou pinturas, nos túmulos. Se esses sacrifícios não fossem realizados, a alma tinha de depender da deusa árvore, a fim de receber nutrição. Essa deusa viveria nas árvores existentes nos cemitérios e nas áreas onde havia túmulos, pelo que sempre havia tal deusa, com esse propósito. Por qual motivo os homens gostam de sepultar seus mortos em áreas arborizadas, até em nossos próprios dias? Porventura alguma memória antiga da raça chegou até nós? Ou simplesmente associamos a árvore à vida física, pelo que sentimos um certo consolo, ao depositarmos os corpos de nossos mortos sob a sombra das árvores? O bá, segundo os egípcios, podia entrar ou sair de um túmulo, à sua vontade.
Em tempos posteriores e mais sofisticados, os egípcios supunham que a alma iria a juízo, na presença de Osíris, podendo participar de sua bem-aventurança, se fosse aprovada por ele. Da mesma maneira que Osíris conseguira atingir uma feliz imortalidade, outro tanto poderia ser feito pela alma. E, visto que um rei podia tornar-se divino, é seguro supormos que o ensino egípcio posterior dizia que as almas humanas que são aprovadas em juízo, passam a participar da natureza divina, embora eu esteja especulando quanto a isso. O que é inegável é que a imortalidade era um aspecto importante da adoração a Osíris, tendo sido o elemento responsável, pelo menos parcialmente, pela popularidade que o culto a Osíris contava entre as massas populares do Egito.CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 4196-4199.(estudalicao.blogspot.com)

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