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sábado, 27 de agosto de 2016
Subsidio CPAD maternal mulheres que ajudaram n.10
SUBSIDIO MATERNALCPAD MULHERES
QUE AJUDARAM A JESUS N.10 1
SAMUEL 14.1-13
Ao longo dos séculos, em muitos lugares, as mulheres
foram tratadas como objetos e estiveram à margem da sociedade. As mulheres
ainda são, em algumas culturas, consideradas seres inferiores e por isso são
discriminadas. Na cultura oriental, a qual pertenceu Jesus de Nazaré, era assim
também que se enxergava as mulheres.
Um dos fatos que fica logo patente no Evangelho de
Lucas é o tratamento que Jesus dispensou às mulheres. Essas mulheres
esquecidas, discriminadas e maltratadas encontraram no Mestre a manifestação do
amor de Deus. A forma que elas encontraram para retribuir foi segui-lo e
servi-lo com seus bens. Um exemplo a todos aqueles que querem também agradar a
Deus. [Comentário: Na época de Jesus a mulher não era mais do que uma
propriedade do seu marido. Este possuía servos, propriedades e a mulher. Ela
era considerada pecadora e mentirosa por natureza. Seu testemunho em um
julgamento era considerado de pouco valor. Ela devia ao esposo total lealdade,
mas, por princípio, era considerada como naturalmente infiel, desvirtuada e
falsa. Por esta razão, sua palavra diante de um juiz não tinha praticamente
valor algum. Embora ela fosse obrigada a ser fiel ao matrimônio, o marido não
tinha os mesmos deveres matrimoniais. Além de tudo, ele podia rejeitá-la por qualquer
motivo, mesmo que, legalmente, não pudesse negociá-la como qualquer outra
propriedade. Dificilmente a esposa poderia, por iniciativa própria, se desligar
do casamento. Uma mulher envolta em laços conjugais não podia jamais ser
contemplada por outro homem, ou por ele ser abordada, mesmo que fosse para uma
simples saudação. No interior da sociedade judaica, ela ocupava uma posição bem
inferior à do homem. Até na esfera espiritual a mulher era considerada
desigual, e para ela estava reservado um local à parte no templo, assim como
era obrigada a caminhar, na rua, distante dos homens. Legalmente ela era
proibida de tudo e estava constantemente submetida a todas as punições civis e
penais imagináveis, sujeita até mesmo à pena capital. Também nos momentos das
refeições a mulher era isolada, pois ela não podia se alimentar ao lado dos
homens. Assim, ela permanecia em pé, pronta para ajudar o marido a qualquer
instante. Normalmente as mulheres viviam reclusas em suas residências e as
janelas, quase sempre, eram construídas com grades para que elas não pudessem
ter seus rostos vislumbrados pelos passantes nas ruas. Se um homem tentasse se
dirigir a uma mulher, cometia um pecado muito sério. Por esta breve visão já é
possível perceber o quanto Jesus, em sua época, revolucionou o tratamento
oferecido pelos homens às mulheres. Um dos episódios mais chocantes do
Evangelho é justamente aquele no qual Ele se dirige à mulher samaritana. Este
povo era aguerrido adversário dos hebreus, desde a cisão entre as tribos de Israel.
Assim, ao se revelar claramente como o Messias para alguém desta comunidade,
especialmente a uma mulher, Ele deixou tanto samaritanos quanto judeus
perplexos. Além disso, Jesus mantinha, entre seus discípulos e seguidores,
diversas mulheres, entre elas, Maria Madalena, vista com preconceito pelos
judeus, que a consideravam uma traidora de seus princípios, como uma
prostituta. Não bastando isso, Ele curava indistintamente homens e mulheres, e
procurava integrar socialmente aquelas que tinham sido excluídas. Ele até mesmo
perdoou a mulher adúltera, a qual os judeus costumavam apedrejar até a morte. E
foi justamente uma mulher que testemunhou sua Ressurreição, embora até os
discípulos mais fiéis de Jesus encarassem suas palavras, inicialmente, com desvelado
ceticismo. Na época, mesmo a mulher não sendo infiel ao esposo, se este fosse
dominado pelo espírito do ciúme, como está descrito na lei mosaica, sob o
título de ‘A Oferta do Ciúme’, ele poderia levá-la diante do sacerdote, mesmo
sem nenhum testemunho ou flagrante, e realizaria então esta oferta ritual.
Desta forma, ela ficaria para sempre marcada e amaldiçoada diante da sociedade
judaica.
I - JESUS, O JUDAÍSMO E AS MULHERES
1. A presença feminina no ministério de Jesus. O
Novo Testamento dá amplo destaque à presença feminina no ministério de Jesus. O
terceiro Evangelho põe essa realidade em relevo. A lista é extensa: Maria, mãe
de Jesus; Isabel, mãe de João, o Batista; Ana, a profetisa; a viúva de Naim; a
pecadora na casa de Simão; Marta e Maria de Betânia; Maria Madalena; a sogra de
Pedro; a mulher do fluxo de sangue; a mulher encurvada; Joana, a mulher de
Cuza, e Suzana. Algumas dessas mulheres foram curadas, outras libertas de
demônios e ainda outras tornaram-se seguidoras de Jesus juntamente com os Doze.
[Comentário: As mulheres não só participaram, como protagonizaram boa parte dos
momentos cruciais da vida de Cristo. Da concepção à crucificação, enquanto
homens traíam ou fingiam não conhecer o Messias, elas não se acovardaram diante
das dificuldades. Encontramos Maria a mãe de Jesus e as outras mulheres, as
discípulas que permaneceram com Jesus ao pé da Cruz. Jesus interfere na ordem
da sociedade patriarcal, desperta a potencialidade da mulher, a chama para
serem também suas discípulas e isto aconteceu. Jesus tem outra visão sobre a
mulher do seu tempo. Ele altera o relacionamento homem - mulher. Numa sociedade
que dava privilégios ao homem Ele procura tirar estes privilégios. Um exemplo
podemos citar em Mt 19,7-12, que trata a questão do divórcio. Jesus apresenta
outra atitude em relação ao Homem e Mulher, para ele deve existir igualdade
entre ambos, nem mais e nem menos. Nos evangelhos encontramos muitas mulheres
que seguiam Jesus desde a Galiléia, e tornaram-se suas discípulas (Mc 15,41; Lc
8,1-13; Lc 8,43-49). Para Jesus não havia distinção no revelar os seus
segredos, ele falava tanto para os homens e mulheres que o seguiam e aceitavam
a sua proposta. 1.1. - Maria de Nazaré, Mãe de Jesus. Nenhum outro ser foi mais
íntimo de Jesus na terra do que sua mãe, Maria. Todos os Evangelhos e o Livro
de Atos falam sobre ela como uma mulher preparada de modo especial para
participar da vida de seu Filho na terra. Maria não foi apenas a mulher que
Deus escolheu, por sua soberana vontade, para dar à luz o Cristo Menino, mas
foi também uma humilde e devotada seguidora do Messias.
1.2. - Isabel, mãe de João Batista é descrita por
Lucas como uma mulher íntegra e obediente (Lc 1.6). Sendo filha e esposa de
sacerdote (v.5) ela vivia uma vida justa, muito embora carregasse uma tristeza
secreta por não ter filhos. Isabel foi a primeira pessoa a reconhecer que Maria
de Nazaré era a mãe do Messias. Isabel se destaca como mentora extraordinária
por sua interação com a jovem Maria. Isabel podia ter enfrentado a velhice com
sentimento de fracasso e fé esmorecida, mas seu espírito vibrante faz com que
nos lembremos que Deus zela por todas as mulheres com cuidado e amor. Isabel
confiou em Deus, e ele a recompensou, Isabel se mostrou disponível para
aconselhar Maria liberalmente e, com certeza, instruiu seu filho nos caminhos
do Senhor por meio de seu exemplo de fé.
1.3. - Ana, a profetisa; tinha 84 anos e era viúva
havia muitos anos. Ana fazia parte do corpo de obreiros que residia no templo
de Jerusalém e se dedicava continuamente ao serviço. O texto não indica por que
ela é chamada de “profetisa”. Seu marido, cujo nome não é mencionado, pode ter
sido profeta, ou talvez ela mesma tenha se dedicado a louvar e a dar testemunho
ou até mesmo a prever acontecimentos futuros sob a inspiração divina. Ana era
uma mulher por meio de quem Deus falava. O modo como Lucas descreve Ana ajuda o
leitor a compreender o respeito e a veneração que ela inspirava. Uma vida
inteira de orações e jejuns tornou suas observações dignas de serem registradas.
Ela, reconhecida profetiza, confirmou o dom divino da redenção, e suas palavras
alcançavam a todos os que esperavam a salvação (Lc 2. 38). Ana é modelo para
nós, pois devemos viver como Ana viveu “no presente século” sensata, justa e
piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do
nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt 2, 12, 13).
1.4. - A
Viúva de Naim: - Essa mulher, cujo nome não é mencionado, aparece unicamente no
Evangelho de Lucas, numa das muitas referências bíblicas às viúvas. – Nenhuma
família acompanhou a mulher solitária, que estava enterrado seu único filho.
Enquanto a multidão observava, Jesus aproximou-se do esquife, ignorando as
formalidades e a cerimônia e até se contaminando no contato com um corpo morto.
1.5. - Joana: - Nome que significa “Presente de
Javé”, era mulher de Cuza, procurador de Herodes Antipas. Sem dúvida, ele dava
a Joana bela casa e todos os luxos daquela época. A vida era difícil para as
mulheres que serviam a Jesus e seus discípulos, mas Joana juntou-se a elas,
ofertando, altruisticamente, não apenas o seu tempo e energia, mas também os
recursos de que podia dispor para apoiar a obra do Senhor. Joana foi para o
túmulo de Jesus na manhã de domingo, após a crucificação. Ela é citada como uma
das mulheres que anunciaram a ressurreição de Jesus aos doze discípulos.
1.6. - Suzana – Suzana “lírio”, e ela foi uma das
muitas mulheres que acompanharam Jesus em seu ministério, de cidade em cidade,
assim como Maria Madalena e Joana, Suzana foi curada por Jesus de uma
enfermidade debilitante ou de possessão demoníaca. Depois disso, tornou-se
líder entre as mulheres que serviam e davam apoio financeiro a Jesus e seus
discípulos. Jesus amava e respeitava esse grupo de mulheres dedicadas. Ele as
valorizava e, obviamente, apreciava sua dedicação generosa e
desinteressada. As atitudes de Jesus em
relação às mulheres expressavam, frequentemente, sua satisfação pelas
habilidades que Deus lhes deu. Além disso, ele ensinava às mulheres da mesma
forma que aos homens. Lucas registra as palavras de dois homens que falaram com
as mulheres no túmulo vazio, lembrando-lhes as palavras que Jesus tinha dito a
respeito de sua crucificação e ressurreição, quando ainda estavam na Galiléia. (Lc 24. 8). Jesus queria que as mulheres
estivessem envolvidas na obra de Deus e, durante o breve período de seu
ministério, lançou o firme fundamento sobre o qual as mulheres têm edificado
fielmente nos últimos dois milênios.
1.7. – Marta – Jesus visitava, com frequência, a
casa de Marta. Aparentemente, ela era solteira, não se sabe se por escolha
própria ou não, e morava com os irmãos Maria e Lázaro. O comentário de João mostra que Jesus tinha
profundos laços de amizade com essa família de Betânia (Jo 11. 5).
1.8. - Maria
de Betânia – Maria, de Betânia, é um modelo para todos os discípulos dedicados
a Cristo. Aparentemente, ela era solteira e vivia com sua irmã, Marta, e seu
irmão, Lázaro. A casa deles era um lugar onde Jesus descansava entre amigos, os
quais, talvez, fossem da mesma faixa etária que ele. Maria, mais do que
qualquer outra personagem do Novo Testamento, é associada com o sentar-se aos
pés de Jesus, um testemunho de sua fome de ouvir e compreender as verdades
espirituais (Lc 10. 39; Jo 11. 32; 12. 3). Ela, porém, não se limitou a apenas
ouvir os ensinamentos de Jesus, mas também o servir, ungindo-o com óleo
precioso para demonstrar que seu desejo não era apenas obter, mas também
atender necessidades práticas.
1.9. – Maria
Madalena. - Maria vivia em Magdala,
importante centro agrícola, pesqueiro e comercial, localizada ao sul da
planície de Genesaré, nas praias do mar da Galiléia. Sofrendo de possessão
demoníaca, Maria encontrou Jesus face a face, e isso mudou a vida dela. Jesus
expeliu os sete espíritos demoníacos que controlavam e perturbavam a vida de
Maria Madalena. (Mc 16. 9). Após a cura, Maria se tornou uma devotada seguidora
de Cristo. De fidelidade inabalável, ela foi contada entre o pequeno grupo de
mulheres que servia a Jesus e a seus discípulos com seus próprios recursos,
enquanto eles pregavam e ministravam às multidões. Maria tornou-se importante
líder entre as mulheres que ministravam. As Escrituras mencionam o seu nome 14
vezes. Ela se mostrou uma seguidora que dedicou seu tempo, energia e recursos
financeiros à obra do Senhor, seguindo-o, fielmente, durante todo o seu
ministério. Maria permaneceu ao lado de Jesus até o momento da cruz e assistiu
à sua morte dolorosa. Maria permaneceu fiel a Jesus muito depois dos outros já
terem perdido a esperança. De madrugada, depois de terminado o sábado dos
judeus, ela saiu furtivamente, encoberta pela escuridão, antes do nascer do
sol, e foi até o sepulcro. Em seus braços, carregava as especiarias para
preparar o corpo do Senhor para o sepultamento. A fidelidade de Maria foi
plenamente recompensada pelo Senhor, pois, ao chegar ao sepulcro, a pesada
pedra que selara a entrada quadrada de um metro de lado havia sido removida.
Maria descobriu, horrorizada, que o túmulo estava vazio, mas sua dor
transformou-se em alegria quando ela se viu novamente face a face com jesus: O
Senhor ressurreto. Em sua inimaginável graça, Deus escolheu uma mulher fiel,
Maria de Magdala, para proclamar aos discípulos e ao mundo as gloriosas
notícias transformadoras de que Jesus Cristo havia ressuscitado. Maria Madalena personifica as muitas mulheres
por quem Cristo demonstrou sua profunda misericórdia e seu perdão.
1.10. – A Sogra de Pedro – Todos os Evangelhos
Sinóticos incluem o registro da história da cura da sogra de Pedro por Jesus. O
significo dessa história é duplo: primeiro, a restauração imediata da saúde;
segundo, sua natureza simbólica. Mateus usa esse acontecimento para enfatizar a
soberania de Cristo; Marcos para ilustrar seu espírito de servo; Lucas para
demonstrar sua compaixão humana. A cura também chamou a atenção para a piedade
de Jesus por sua própria raça. Ele demonstrou seu poder a uma mãe judia,
símbolo de seu profundo desejo de que sua própria nação reafirmasse sua aliança
com Deus. É mais um toque do indescritível amor de Deus. A mulher retribuiu com
seu serviço a Jesus, um exemplo clássico para toda mulher que se sente tocada
por ele.
O Evangelista Lucas diz: “e muitas outras, as quais
lhe prestavam assistência com os seus bens”. Lc 8. 3b).].
2. Jesus valorizou as mulheres. Causa admiração
quando fazemos um contraste entre o tratamento dado às mulheres no Novo
Testamento e aquele que era praticado no judaísmo do tempo de Jesus. No
judaísmo do primeiro século, a mulher não participava da vida pública. Nem
mesmo lhe era permitido aparecer em público descoberta, sendo dessa forma
impossível ver a sua fisionomia. Não tinha voz nem rosto. A mulher era,
portanto, tida como objeto, uma coisa que poderia ser usada e descartada. Ao
contrário de tudo isso, Jesus não tratou as mulheres como coisa ou objeto. Ele
as tratou como gente! Jesus mostrou que a mulher era um ser especial para Deus
e fez com que elas se sentissem assim. Não são poucas as passagens do Novo
Testamento que dão destaque às mulheres, e o Evangelho de Lucas não foge a essa
regra (Lc 1.13,42; 7.48; 8.2,43; 13.12; 16.18; 23.27). [Comentário: É
importante observar que, enquanto Sócrates, Aristóteles, Demóstenes, os rabinos
e os homens da comunidade de Qumran tinham as mulheres em baixa estima, Jesus,
em harmonia com o ensino do Antigo Testamento, lhes designava um lugar de
elevada honra. Além disso, é especialmente no Evangelho de Lucas que se
enfatiza a ternura e a profunda consideração de Jesus pelas mulheres. A
primeira a ser mencionada aqui entre as mulheres é Maria chamada Madalena', ou
seja, Maria de Magdala (que significa A Torre), localizada na costa ocidental
do Mar da Galiléia e ao sul de Cafarnaum. Ela aparece de forma destacada nos
quatro relatos da Paixão. Ela foi uma das mulheres que mais tarde: (a)
presenciaram a crucificação (Mt 27.55, 56; Me 15.40; Jo 19.25); (b) viram onde
o corpo de Jesus foi colocado (Mt 27.61; Me 15.47; Lc 23.55); e (c) saíram no
raiar do domingo para ungir o corpo do Senhor (Mt 28.1; Me 16.1; Lc 24.10).
Além disso, ela iria ser a primeira pessoa a quem o Cristo Redivivo apareceria
(Jó 20.1-18; veja também o disputado final de Marcos, 16.9). Um comportamento
físico ou mental, estranho ou lamentável, com frequência se associa à possessão
demoníaca, podendo também ser caso de prostituição, lesbianismo,
homossexualismo ou adultério. (Lc 4.33, 34; 8.27-29; 9.37-43. Quanto a Joana,
esposa de Cuza, o mordomo da casa de Herodes, ela estava também entre as
mulheres que iriam ouvir as boas-novas: “Ele não está aqui, mas ressuscitou”
(Lc 24.6, 10). A importância da referência que Lucas faz a ela já realçada.
Lucas foi o único a fazer referência a ela (8.3; 24.10). Acerca de Susana,
mencionada somente aqui em Lucas 8.3, nada mais se sabe. Entretanto, seu nome
jamais deveria ser esquecido. Seus atos de bondade para com o Senhor e seus
discípulos eram puros e fragrantes, que por conseguinte nos lembra um belo
“lírio” (que é o significado de seu nome). Alegra-nos ler que além das três
mulheres já mencionadas havia “muitas outras”. O que temos aqui, pois, é uma
verdadeira Sociedade que as mulheres nunca adotaram uma atitude contrária a
Jesus ou a sua causa carece de cuidadosa delimitação. Não obstante, é um fato
que, salvo algumas poucas exceções, as moças e senhoras mencionadas no Novo
Testamento estavam lado a lado com o Senhor. Em linhas gerais, é verdade que,
embora Pedro negasse a Cristo, Judas o traísse, Herodes o desdenhasse e Pilatos
o condenasse, as mulheres o honraram e ministraram às necessidades dele e de
seus discípulos. Na extensão em que fizeram isso, as consoladoras palavras de
Mateus 25.34-40 podem ser-lhes aplicadas com toda propriedade. "Porque
tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era
estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me;
estive na prisão, e foste me ver. Então os justos lhe responderão, dizendo:
Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos
de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?
E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei,
lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus
pequeninos irmãos, a mim o fizestes". Mateus 25:35-40 William Hendriksen -
Comentário do Novo Testamento - Volume 1 - Lucas - Editora Cultura Cristã.].
*As
mulheres no judaísmo
"Na sociedade hebraica, a mulher comum tinha
uma posição secundária e era legalmente considerada parte da propriedade de um
homem (Gn 31.14,15). Normalmente, as filhas não recebiam nenhuma herança quando
seu pai morria (cf. Nm 27. 1-8).
II – MULHERES COM DISPOSIÇÃO PARA OBEDECER
1. Maria, a mãe do Salvador. A doutrina católica
acerca da pessoa de Maria se fundamenta na tradição e não conta com apoio
bíblico. Não é fundamentada nos Evangelhos, mas na tradição apócrifa que
começou a circular por volta do segundo século de nossa era. Crenças como a
perpétua virgindade de Maria, imaculada conceição e sua ascensão não fazem
parte do cânon neotestamentário. Esse é um lado da história. O outro é a
rejeição à pessoa de Maria que prevalece entre muitos protestantes por conta do
anticatolicismo. O que a Escritura mostra de fato é que Maria foi uma pessoa
agraciada por Deus para fazer parte diretamente do Plano da Salvação. A sua
disposição em aceitar e crer no plano de Deus está demonstrada em suas
palavras: "Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua
palavra [...]" (Lc 1.38). [Comentário: Maria, a mãe de Jesus, era uma
mulher que foi descrita por Deus como “agraciada”. A palavra “agraciada” vem do
grego, e significa, essencialmente, “muita graça”. Maria recebeu a Graça de
Deus. Graça é “favor imerecido”, que significa que é algo que recebemos apesar
do fato de que não o merecemos. Maria precisava de graça de Deus, assim como o
resto de nós precisa. Maria compreendeu este fato, como declara em Lucas 1:47,
“E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador.” Maria reconheceu que
precisava ser salva, que ela precisava de Deus como seu Salvador. A Bíblia
nunca diz que Maria foi qualquer coisa além de uma mulher comum que Deus
escolheu para usar de uma forma extraordinária. Sim, Maria era uma mulher
correta e favorecida (agraciada) por Deus (Lucas 1:27-28). Ao mesmo tempo,
Maria era também um ser humano pecador como todos os outros, que necessitava de
Jesus Cristo como seu Salvador, como todas as outras pessoas (Eclesiastes 7:20;
Romanos 3:23; 6:23; I João 1:18). Maria não teve uma “concepção imaculada” –
não há qualquer razão bíblica para crer que o nascimento de Maria tenha sido
qualquer coisa que não seja um nascimento humano normal. Maria era virgem
quando deu à luz Jesus (Lucas 1:34-38), mas a idéia de uma virgindade perpétua
de Maria não é bíblica. Mateus 1:25, falando de José, declara: “E não a
conheceu ATÉ que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus.”
A palavra “até” claramente indica que José e Maria tiveram união sexual após o
nascimento de Jesus. José e Maria tiveram vários filhos juntos depois que Jesus
nasceu. Jesus tinha quatro meio irmãos: Tiago, José, Simão e Judas (Mateus
13:55). Jesus também tinha meia irmãs, mas não são nomeadas e nem se conhece
seu número (Mateus 13:55-56). Deus abençoou e agraciou Maria dando a ela vários
filhos, o que naquela cultura era a mais clara indicação de que Deus estava
abençoando uma mulher. Uma vez, quando Jesus estava falando, uma mulher na
multidão proclamou: “Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que
mamaste” (Lucas 11:27). Nunca houve melhor oportunidade para Jesus declarar que
Maria era verdadeiramente digna de louvor e adoração. Mas qual foi a resposta
de Jesus? “Antes bem aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam”
(Lucas 11:28). Para Jesus, a obediência à Palavra de Deus era MAIS IMPORTANTE
do que ser a mulher que o pôs no mundo. Em nenhum lugar das escrituras Jesus,
ou qualquer outra pessoa, dirige qualquer louvor, glória ou adoração a Maria.
Isabel, parente de Maria, a louvou em Lucas 1:42-44, mas seu louvor é baseado
no fato de que Maria daria à luz Jesus. Não foi baseado em qualquer glória
inerente a Maria. Maria estava perto da cruz quando Jesus morreu (João 19:25).
Maria estava com os apóstolos no dia do Pentecostes (Atos 1:14). Entretanto,
jamais se menciona Maria depois de Atos capítulo 1. Os Apóstolos, em nenhum lugar,
dão a Maria papel proeminente. A morte de Maria não é registrada na Bíblia.
Nada é dito sobre Maria subindo aos Céus, ou tendo qualquer forma de papel
exaltado no Céu. Maria deve ser respeitada como a mãe terrena de Jesus, mas ela
não é digna de nossa adoração ou exaltação. A Bíblia, em nenhum lugar, indica
que Maria pode ouvir orações, ou que ela possa ser mediadora entre nós e Deus.
Jesus é nosso único defensor e mediador no Céu (I Timóteo 2:5). Se fosse
oferecida adoração, exaltação ou orações, Maria diria o mesmo que os anjos:
“Adora a Deus!” (Apocalipse 19:10; 22:9). A própria Maria dá para nós exemplo,
direcionando sua adoração, exaltação e louvor somente a Deus: “Disse então
Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, E o meu espírito se alegra em Deus
meu Salvador; Porque atentou na baixeza de sua serva; Pois eis que desde agora
todas as gerações me chamarão bem-aventurada, Porque me fez grandes coisas o
Poderoso;
2. Isabel, a mãe do precursor. Isabel, esposa do
sacerdote Zacarias, aparece na história bíblica como uma pessoa também
agraciada por Deus. Ela foi escolhida para ser a mãe de João Batista, o último
profeta da Antiga Aliança (Lc 1.8-24; 16.16). A revelação do nascimento de João
foi dada a seu marido Zacarias, que inicialmente não creu. O relato de Lucas,
de que Isabel "ficou cheia do Espírito Santo" quando foi visitada por
Maria, deixa claro também a sua disposição em crer e aceitar o plano de Deus
para ela (Lc 1.41-43). Assim como Maria, Isabel foi uma mulher obediente e sua
obediência foi recompensada. [Comentário: A vida de Isabel como esposa era um
modelo para as mulheres mais jovens. Ela era submissa ao esposo e realmente era
uma “ajudadora”. Cumpria suas tarefas como “dona-de-casa”: preparando a comida
nos horários, mantendo a casa limpa e arrumada, as roupas em ordem. E ainda
sobrava tempo para ler e meditar na Palavra, orar, adorar com cânticos e se
ocupar de alguma atividade social. O nome de Isabel significava “Deus é meu
juramento”. E Isabel sempre pensava que o Deus de Israel, o seu Deus, era um
Deus de aliança, de compromisso. Para uma mulher em Israel não havia pior
maldição do que ser estéril. E, ainda que Zacarias e Isabel não tivessem
filhos, sua fé e confiança em Deus não vacilavam. Seu filho deveria ser um
nazireu (Lc 1.15). Ele jamais beberia vinho nem bebida forte e seria cheio do
Espírito Santo desde o seu nascimento (Lc 1.15 comparar com Nm 6.2). As bebidas
alcoólicas não tem lugar na vida de um crente cheio do Espírito Santo. Da mesma
maneira que um anjo anunciou a Zacarias o nascimento de João, também o anjo
Gabriel visitou Maria para revelar o plano de Deus. Mesmo olhando pela
perspectiva humana, o plano parecia impossível, tanto que o anjo lembrou a
Maria que para Deus tudo é possível. E, com confiança, Maria se dispôs a ser um
instrumento da vontade de Deus. Isabel abençoou a Maria pelo fato de ela ter
sido eleita por Deus para ser a mãe do Senhor e porque ela havia crido na
revelação que lhe fora dada por Deus. A fé demonstrada por Maria na capacidade
de Deus de cumprir Sua promessa é um modelo para os cristãos atuais. As bênçãos
na vida de Maria não vieram sem dificuldades, mas ela estava segura de que o
Senhor estava com ela (Lc 1.28). Enfrentou as acusações a respeito de sua
gravidez, a jornada para Belém, a fuga para o Egito e finalmente a dolorosa
morte de seu Filho no Calvário. Passou por todas estas dificuldades, mas não
perdeu o senso da presença do Deus que a amava. Ele a susteve, sempre. A visita
de Maria a Zacarias e Isabel serviu para confirmar tudo que o anjo lhe falara.
Isabel, de fato, estava esperando um filho e suas palavras de bênçãos
aumentaram a confiança de Maria em Deus. Ela estava tão cheia de amor e
desejosa de adorar a Deus que passou a cantar em louvor (Lc1.46-55). Leia sobre
as qualidades de Maria que a prepararam para ser a mãe de Jesus (Lc 1.26-38;
1.39-45; 2.16-19). Em sua vida, Maria demonstrou uma coerente dependência de
Deus e completa confiança em Sua direção. As palavras de Simeão (Lc 2.33-35)
serviram para lembra-la de que a missão de Jesus em favor da humanidade
resultaria em sofrimentos para ela também. Então, seu Filho não lhe traria
apenas alegrias, mas também pesares ao cumprir a tarefa para a qual fora
chamado. Um estudo da vida de Maria e de Isabel pode nos ajudar a entender que Deus
não necessita de homens e mulheres ricos, famosos ou poderosos para cumprir
seus planos. O que mais Deus necessita é que estejamos dispostos a dedicar
nossa vida a Jesus Cristo.].
Isabel e Maria eram mulheres de fé, tementes e
obedientes ao Senhor.
III - MULHERES COM DISPOSIÇÃO PARA SERVIR
1. Mulheres servas. Logo após ser curada por Jesus
de uma febre muito alta, a sogra de Pedro se levantou e passou a servi-lo (Lc
4.39). O verbo "servir" é a tradução do vocábulo grego diakoneo. As
mulheres aparecem com frequência no Evangelho de Lucas a serviço do Mestre.
Maria Madalena se destacou das demais. Ela foi a primeira mulher mencionada em
Lucas 8.1-3 e aparece de forma destacada nos Evangelhos de Mateus, Marcos e
João. Ela foi uma das mulheres que mais tarde presenciaram a crucificação (Mt
27.55, 56; Mc 15.40; Jo 19.25); viram onde o corpo de Jesus foi colocado (Mt
27.61; Mc 15.47; Lc 23.55); e saíram no raiar do domingo para ungir o corpo do
Senhor (Mt 28.1; Mc 16.1; Lc 24.10). Além disso, ela iria ser a primeira pessoa
a quem o Cristo ressurreto apareceria (Jo 20.1-18). [Comentário: Jesus criou um
movimento novo, rompeu uma série de preconceitos culturais e entre suas
inovações está o discipulado feminino. No seu discipulado, eram admitidas
mulheres, em igualdade de condições com os homens. Jesus convive com elas,
conversa, quer em particular, quer em público, procura escutá-las. elas
participam ativamente e são beneficiadas com milagres e curas. Quebra os
preconceitos da impureza, deixa-se tocar pela hemorroíssa. Ele mesmo toca o
cadáver da filha de Jairo conforme (Mc 5,25-43). Jesus não se esquiva de ser
tachado de imoral e escandaloso, pelos fariseus, enquanto desafia os preceitos
legais e entra em casa de mulheres sozinhas, como a de Marta e Maria (Lc 10,38-42).
Jesus chama as mulheres: no caso do seu discipulado, há um chamado por parte
dele, isto é, o mestre toma a iniciativa, costume diferente de outros filósofos
e rabinos. Jesus rompe as discriminações e chama os “impuros”, como o publicano
Levi, zelotes, como Simeão e mulheres como Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e
Salomé. As mulheres com gratuidade e prontidão dão resposta e tem presença
marcante no discipulado de Jesus. As mulheres seguiam e serviam Jesus, conforme
Mc 15,41. O mesmo Evangelista em 14,3-9 diz que uma mulher anônima unge a
cabeça de Jesus com perfume de nardo puro (óleo perfumado, muito caro por causa
de sua escassez). Essa era uma prática típica dos profetas, quando ungiam os
reis: sinal de que as discípulas perceberam, na convivência com Jesus, o seu
messianismo. Essa mulher é Maria Madalena que foi a primeira a ser enviada para
anunciar a Ressurreição, foi a primeira a ser “ordenada” para o serviço da
evangelização. Portanto houve mulheres discípulas e apóstolas que exerceram seus
ministérios. Maria Madalena se destacou entre os homens e mulheres que seguiam
Jesus rompendo preconceitos, superou barreiras para chegar até Jesus
ungindo-lhe os pés. Assim, Jesus aprova esse gesto de amor e confirma “em
verdade vos digo que, onde quer que venha a ser proclamado o evangelho, a todo
mundo, também o que ela fez será contado em sua memória” (Mc 14,9). Ela que
padeceu aos pés da Cruz, foi compensada com a Boa Nova da Ressurreição e a
anunciou aos onze e a todos os outros (Lc 24,9).
2. Mulheres abnegadas. O Evangelho de Lucas revela
que Jesus teve em seu ministério a ajuda de mulheres abnegadas (Lc 7.36-50). O
evangelista mostra Jesus sendo ungido por uma mulher tida como pecadora na casa
de Simão, um dos fariseus. Essa mulher, visivelmente emocionada, usou o
unguento que levou em um vaso de alabastro para ungir Jesus enquanto
beijava-lhe os pés. O Evangelho de João mostra um fato semelhante ocorrido com
Maria de Betânia, que não deve ser confundido com o relato de Lucas (Jo
12.1-8). No texto de João, é destacado que Maria de Betânia também preferiu
derramar sobre os pés de Jesus o perfume
do vaso do que usá-lo em benefício próprio. Esse seu gesto sofreu duras
críticas de Judas Iscariotes, que estava de olho nos trezentos denários que
esse unguento poderia render. Ela considerou muito mais valioso o perdão que o
Salvador lhe deu do que os ganhos que esse perfume poderia lhe trazer. [Comentário: A mulher pecadora passou por
cima de todo e qualquer tipo de convenção quando entrou naquela casa cheia de
fariseus e de pessoas que queriam ouvir Jesus. Um fariseu jamais receberia uma
pecadora em sua casa mas ela, corajosamente, entrou na casa de Jairo trazendo
com ela um vaso de alabastro cheio de ungüento. O vaso de alabastro era
produzido com um tipo de pedra frágil, transparente, que pode ser facilmente
polida ou esculpida. Era muito usada para substituir o vidro. Os frascos com
perfume de alabastro eram selados e descartáveis. Eram quebrados ao abrir e
jogados fora quando vazios. Chegando até onde Jesus estava, ela "...
começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua
cabeça; e beijava-lhe os pés, e ungia-lhos com o ungüento" (Lc 7.38). O
que mais perturbou o dono da casa não foi tanto a presença dela mas, principalmente,
aquilo que ela fez. Ele, realmente, deixou transparecer revolta, e uma grande
perturbação. Não sabemos se por ela está usando em Jesus o ungüento que era tão
caro ou porque não achava Jesus digno de ser ungido assim como eram os reis.
Jesus, que é Deus, onisciente, com certeza conhecia o coração de Jairo e sabia
o porquê da sua revolta].
"'Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes,
e Suzana' (Lc 3.3). O Herodes mencionado aqui é Herodes Antipas, governador da
Galileia. O registro não diz de que mal Joana foi curada - se era uma possessão
demoníaca ou uma enfermidade física. A sua posição mostra que as pessoas
proeminentes também eram levadas a Cristo. Supõe-se que nesta época ela fosse
viúva. Sobre Suzana não se sabe nada, exceto seu nome. Apenas três nomes são mencionados - sem
dúvida devido à sua importância. Mas houve muitas mais, constituindo uma grande
sequência de mulheres que o serviam com suas fazendas. Isto talvez signifique
que todas eram mulheres de posses, possivelmente membros da classe alta"
(Comentário Bíblico Beacon. Vol. 6. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.402).
IV - MULHERES COM DISPOSIÇÃO PARA OFERTAR
1. O trabalho rabínico. Lucas registra que Jesus
"andava de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o
evangelho do Reino de Deus; e os doze iam com ele" (Lc 8.1). A dedicação
de Jesus e seus doze discípulos ao ministério da Palavra era exclusiva. Como se
dava, então, a manutenção desse ministério? Jesus orientou seus discípulos
quando estivessem em missão a que "ficassem na mesma casa, comendo e
bebendo do que eles tiverem, pois digno
é o obreiro de seu salário. Não andeis de casa em casa" (Lc 10.7).
O trabalhador era digno de seu salário. Um rabino
não podia receber pagamento pelo que ensinava, mas a cultura hebraica
considerava uma obrigação e um privilégio sustentar um rabino. Há um princípio
válido aqui - o obreiro não deve ter valores materiais como a motivação do seu
ministério. Por outro lado, aqueles que se beneficiam desse ministério, devem
ajudá-lo em sua manutenção. [Comentário: “Digno é o trabalhador do seu
salário" (Lucas 10.7) é um dito de Jesus dirigido aos obreiros do
evangelho. Os doze apóstolos foram encaminhados à missão em Israel com este
ditado (Mateus 10.10)42. Os setenta receberam a mesma recomendação (Lucas
10.7). Paulo citou duas vezes este dito, uma vez fazendo referência à sua
pessoa e aos obreiros em geral (1 Coríntios 9.14) e outra vez falando
especificamente sobre os bispos da igreja (1 Timóteo 5.18)44. A forma como o
ditado aparece em Mateus 10.10 é um pouco diferente da que ocorre no outros
textos: "Digno é o trabalhador do seu alimento". O uso do termo
"salário" (em Mateus 10.10) ou "alimento" (em Lucas 10.7)
não altera o sentido básico do provérbio. O sentido deste provérbio é duplo: o
obreiro vai receber o que merece e o obreiro vai merecer o que recebe. Ele vai
receber o que merece no sentido de sua segurança pessoal: ele não vai morrer de
fome. Ele vai merecer o que recebe no sentido de que não há vergonha nenhuma em
ser sustentado: ele é um homem honrado e digno. Ele merece. Assim o Mestre fala
aos obreiros de segurança e honra, ligadas ao sustento que recebem por pregar o
evangelho. O provérbio de Jesus, "Digno é o trabalhador do seu
salário", sugere muita aplicações práticas que já foram notadas acima.
Queremos reforçar os seguintes pontos:
1. Honremos aos obreiros que vivem do evangelho.
Gálatas 6.6 diz que o aluno deve fazer o seu professor participar das coisas
boas que ele tem. Isto quer dizer que o aluno "divide" seus bens com
o professor. Não é certo deixar em dificuldades de sustento aqueles que nos
instruem no evangelho. O salário (ou melhor: honorário) do obreiro deve servir
para honrar aquele que o recebe e não ofendê-lo (1 Timóteo 5.17-18). Por isto
Gálatas 6.7-10 adverte para não zombar de Deus pela negligência ao sustento dos
professores. Se investimos (semeamos) apenas nas coisas pecaminosas, só
havermos de colher corrupção. Deve-se semear para o que é ligado ao Espírito
Santo, e então teremos os resultados na vida eterna. Assim, é para fazer o bem
a todos, começando com a família da fé, e no contexto, os primeiros a serem
atendidos são os professores da Palavra de Deus.
2. Não aceite extremos. Num extremo está o obreiro
que não é atendido dignamente pela irmandade. No outro está o mercenário que
muda de igreja em igreja, conforme a melhor oferta de emprego. Nenhuma destas
situações pode ser permitida. Não há nada errado em ser bem pago pela igreja.
De fato, há casos em que isto precisa ocorrer por mandamento (1 Timóteo
5.17-18). O erro é ter isto como método de vocacionar obreiros ou como alvo de
carreira ministerial. Por outro lado, sujeitar um obreiro e sua família a uma
situação degradante, recebendo o menor salário possível, é zombar de Deus e
incorrer em grave perigo espiritual.
3. Não se desculpe. Os obreiros não devem ceder à
pressão social que qualifica seu trabalho como desnecessário ou indigno. Quem
acha que o obreiro esforçado e trabalhador é um homem que ganha sem fazer nada,
provavelmente teria feito o mesmo juízo de Jesus, se tivesse convivido com ele.
"Digno é o trabalhador do seu salário/alimento".
4. Um apelo à fé. Pregar o evangelho é o trabalho
mais importante do mundo. A igreja tem o privilégio de mostrar sua fé no valor
do evangelho sustentando financeiramente aqueles que ela mesma reconhece como
vocacionados por Deus para realizar esta tarefa. O obreiro também deve mostrar
sua fé, confiando que Deus vai assegurar-lhe o necessário, de um modo ou de
outro, para que ele continue a pregar a Palavra de Deus.
2. Apoio feminino. Na cultura judaica do tempo de
Jesus, a participação das mulheres na vida pública era bem limitada. As
mulheres, por exemplo, não podiam estudar e não podiam ensinar. Mas nem por
isso deixaram de participar do ministério do Mestre. Lucas diz que elas
serviam o Senhor com suas fazendas, isto
é, com seus bens (Lc 8.3). Enquanto Jesus e seus doze apóstolos se dedicavam ao
ministério da Palavra, essas mulheres lhes davam suporte financeiro e material.
Por trás de grandes ministérios, sempre há alguém dando suporte, seja
financeiro, seja, espiritual. Não podemos negar que atualmente as mulheres têm
desempenhado um papel importante na obra do Senhor. Muitas têm se dedicado à
oração, ao serviço social, à contribuição, à obra missionária, etc. Grande
parte da obra missionária é feita por mulheres. São milhares de servas que
dedicam suas vidas à seara do Senhor. O serviço de Deus é para todos que amam
ao Senhor, independentemente de gênero [Comentário: A mulher judaica trabalhava
duramente em casa e no campo. Plantava, colhia, moía o trigo, a cevada e outros
cereais. Preparava o pão, cozinhava, buscava água nas fontes e poços. Fiava e
tecia o linho e a lã para fazer as roupas. Cuidava da família e educava os
filhos. Lucas fez algo que os outros não tiveram cuidado em fazer: ouviu as
mulheres. O que elas disseram e perceberam foi igualmente importante para o
registro fiel da história de Jesus. Ele registra o nome das mantenedoras do
ministério itinerante de Jesus (8.1-3). Lucas enfatiza o lugar das mulheres
piedosas no ministério de Jesus, chamado especial atenção ao apoio financeiro.
Maria Madalena se tornou uma mulher profundamente agradecida ao Senhor! Sua
vida foi restaurada e ela, agora, desejava servi-Lo para sempre. Lucas registra
que as mulheres que serviam a Jesus com seus bens tinham uma característica em
comum: elas haviam sido curadas de enfermidades de libertas de espíritos
malignos. Quando lemos esse registro, não há como não perceber que contribuição
dessas mulheres partia de um coração grato pela libertação que haviam recebido.
E Jesus de forma alguma limitaria essa expressão de gratidão. Curiosamente, no
capítulo anterior (Lucas 7:36-50), é relatada a história de uma mulher que
ungiu com perfume os pés de Jesus. Ao olhos de alguns, essa oferta poderia
parecer desnecessária, uma excentricidade. Porém, o Mestre não apenas a recebe
como também destacou que a motivação da daquela mulher era o seu amor e sua
gratidão por saber que havia sido muito perdoada (Lc. 7:36-50). Jesus não
poderia impedir aquela mulher de demonstrar seu coração grato.].
"É importante reconhecer que quando Deus criou
a humanidade, quando fez os seres humanos à sua imagem, Ele os criou macho e
fêmea (Gn 1.27), e não 'um ou outro'. Portanto, a imagem de Deus aparece tanto
no homem (o macho) quanto na mulher (a fêmea), e as características peculiares
de cada sexo são completamente necessárias para espelhar a natureza de Deus. A
própria palavra ishsha para 'mulher' sugere as suas sensibilidades e dons
especiais dados por Deus no campo emocional. Estas características servem para
realçar a humanidade. A mulher possui uma sensibilidade especial para as
necessidades humanas que lhe permitem entender intuitivamente as situações e os
sentimentos das outras pessoas" (Dicionário Bíblico Wycliffe. 1.ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2006, p.1312).
No judaísmo do tempo de Jesus, conversar com uma
mulher era considerado um ato vergonhoso (Jo 4.27). Mas Jesus conversou,
ensinou, curou, libertou e valorizou as mulheres como homem algum jamais o fez.
Lucas nos mostra que as mulheres tiveram uma participação expressiva na
implantação do Reino de Deus. Graças a Deus pelo trabalho das mulheres na Seara
do Senhor [Comentário: As mulheres tinham uma importância maior na vida e
ministério de Jesus do que normalmente se reconhece. A maioria das pessoas
concentra as atenções em Maria, sua mãe, entretanto os relatos bíblicos mostram
algo bem mais amplo. Revelam um relacionamento com um grupo específico de
mulheres que estavam entre seus seguidores mais íntimos. Mostram sua
preocupação em comunicar-se com todas as mulheres, usando linguagem que as
incluía. Claramente rejeitava uma porção de estereótipos da sua época, e se
dirigia às mulheres fundamentalmente como pessoas. Jesus inaugura uma
experiência do Reino que recupera as pessoas, restituindo-lhe sua integridade e
sua dignidade.]. NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio
da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”,(FONTE CPAD).
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