Foram quarenta anos. Quarenta anos não são
quarenta dias. Moisés até mesmo desaprendeu a língua egípcia, assim como a
própria língua hebraica, vez que vivia entre os midianitas. Cuidava das ovelhas
de seu sogro, que era um sacerdote, e já não tinha mais a menor perspectiva de
que viria a libertar o seu povo. Não passava de um “peregrino em terra estranha”,
mas, quando chegou o tempo, Deus Se apresentou a Moisés no monte Horebe, “o
monte de Deus”.
Estava Moisés a apascentar as ovelhas de seu
sogro, quando teve a sua atenção voltada para uma chama de fogo no meio duma
sarça, sarça esta que ardia mas não era consumida pelo fogo (Ex.3:2). Moisés,
então, tomou a decisão de se virar para lá e ver aquela grande visão. Esta
“virada” de Moisés foi o início da terceira e última fase de sua vida. Com 80
anos de idade, Moisés estava pronto para se tornar o grande libertador de seu
povo.
- De pronto, vemos que é necessário que o homem se
vire para Deus para que possa iniciar uma vida de comunhão com Ele. “Agora me
virarei para lá” foi a decisão de Moisés e deve ser a decisão de todo ser
humano que quer servir a Deus. Não há como se tornar um líder no meio do povo
de Deus sem que se vire para ver o que o Senhor está a mostrar. Necessário é
que nos voltemos a Deus, que nos cheguemos a Ele, para que Ele possa Se chegar
até nós (Tg.4:8).
- Muitos querem liderar, na atualidade, porque
entendem ter capacidade ou porque são escravos do poder, do desejo de mando.
Estes, por se acharem superiores, jamais serão líderes abençoados por Deus,
porque não têm a humildade de se virarem para Deus, de se voltarem para Ele.
Outros, embora tenham sido chamados pelo Senhor, infelizmente, ao longo de seu
ministério, também se deixam envaidecer e não se voltam mais para o Senhor.
Aprendamos esta lição com Moisés: a liderança começa quando nos viramos para
onde está o Senhor.
- Mas, além desta importante lição, Moisés também
nos mostra que um líder deve, antes de mais nada, ser um grande observador,
estar sempre vigilante e, mais do que isto, perceber nas pequenas coisas as
grandezas de Deus (Zc.4:10). Depois de quarenta anos no “curso do deserto”,
Moisés pôde ter a sensibilidade para perceber uma sarça arder no monte Horebe e
verificar que esta sarça ardia mas não se consumia.
- Num deserto, ver uma planta tão insignificante
como a sarça pegar fogo era uma visão corriqueira, sem qualquer importância, à
primeira vista. Com efeito, a sarça é uma planta espinhosa da família das
febáceas, do gênero acácia, aparentada com a roseira, de pequena estatura. No
entanto, Moisés pôde perceber que o fogo fazia a sarça arder mas não a consumia
e que isto, apesar da insignificância da planta, era uma “grande visão”. O
líder deve ser alguém, portanto, que saiba ver, nas pequenas coisas, a grandeza
da presença de Deus. Sem esta sensibilidade espiritual, não se pode liderar o
povo de Deus!
- Quando Moisés se dirigiu para ver a “grande
visão”, o Senhor Se dirigiu a Moisés pelo seu nome e Moisés respondeu a este
chamado. Imediatamente, Deus mandou que Moisés tirasse os seus sapatos porque o
lugar onde estava era terra santa (Ex.3:4,5). Nesta simples passagem, vemos
algumas lições importantíssimas a respeito da liderança no povo de Deus: o
líder deve ser chamado por Deus. Na obra de Deus não há lugar para oferecidos,
mas somente para aqueles a quem Deus chama. Deus chamou a Moisés e pelo seu
nome.
- A segunda lição que aprendemos nesta passagem é
que Deus chama, mas deixa ao homem a liberdade de atender, ou não, ao seu
chamado. Moisés teve de responder “Eis-me aqui” ao Senhor, para que o Senhor
continuasse a dialogar com Ele. Deus fez o homem livre (Gn.2:16) e respeita
esta liberdade de o homem atender, ou não, ao Seu chamado.
- A terceira importante lição que aprendemos nesta
passagem é que não é possível a comunhão com Deus e o serviço sem a santidade.
Moisés precisou tirar os seus sapatos dos pés porque o lugar onde estava era
terra santa. A santidade do lugar não era inerente ao monte Horebe, mas, sim,
resultado da presença de Deus naquele local. Onde Deus está, há santidade e
para nós nos aproximarmos de Deus faz-se necessário que nos santifiquemos, que
nos tornemos santos, o que somente é possível se tivermos nossos pecados
perdoados, o que ocorre quando aceitamos a Jesus como nosso único e suficiente
Salvador.
- Muitos têm se esquecido que a santificação é uma
necessidade para que venhamos a ter comunhão com Deus e para que possamos ser
utilizados na Sua obra. Não nos iludamos: sem a santificação, ninguém verá o
Senhor (Hb.12:14). A recomendação bíblica é que os santos se santifiquem ainda
(Ap.22:11). Lamentavelmente, muitos são os que, na atualidade, têm se
descuidado deste requisito indispensável para a salvação e têm participado da
“abominação da desolação no lugar santo” (cfr. Mt.24:15), uma das
características do nosso tempo.
- Deus, então, Se identifica para Moisés, dizendo
ser o Deus das promessas feitas a Abraão, Isaque, Jacó e que tinham sido
compartilhadas a Moisés, na sua tenra infância, pelos seus pais. Vemos a
importância da educação doutrinário-bíblica no lar, pois foi através dela que
Deus Se começou a manifestar a Moisés. Deus, então, mostra-Se como sendo o Deus
que ouve o clamor do Seu povo, não um Deus ausente, que não se importa com a
sua criação, como pintam os deístas, tão abundantes na atualidade, mas um Deus
presente, que Se compadece do homem e quer ajudá-lo e salvá-lo. Deus, então,
fala a Moisés que ele fora escolhido para livrar o povo de Israel do Egito.
- A objetividade divina revela-se aqui de forma bem
clarevidente. Deus foi direto ao assunto, sem rodeios. Moisés havia sido
escolhido para livrar os filhos de Israel do Egito. Era esta a missão de
Moisés: livrar o povo do Egito e levá-lo para uma terra que manava leite e mel,
terra então ocupada pelo cananeu, heteu, amorreu, perizeu, heveu e jebuseu
(Ex.3:8). Deus continua o mesmo, não muda e, por isso, ao chamar alguém, diz-lhe
exatamente o que deseja que ele faça no meio do Seu povo. Nosso Deus não é Deus
de confusão! Por isso, não podemos admitir os “chamados” que não sabem o que
querem nem o que devem fazer na igreja.
- Ao receber esta incumbência, Moisés sentiu-se
impotente. Deu início a uma série de obstáculos para a tarefa. Muitos vêem
nestes argumentos de Moisés uma tentativa de escape, uma recusa ao chamado
divino. Embora respeitemos este entendimento, dele não compartilhamos.
Parece-nos que, antes de uma recusa ou de uma tentativa de esquivar-se, Moisés
denuncia um novo sentimento, resultado do seu “curso do deserto”. Em vez do
homem violento, cheio de si, prepotente de quarenta anos atrás, que achava que
suas habilidades e posição eram suficientes para libertar o seu povo, vemos um
homem que se sente impotente, fraco e sem quaisquer condições de empreender
esta tarefa. Moisés estava, definitivamente, no ponto de ser usado por Deus:
considerava-se ninguém, um fraco e é este tipo de pessoa que está em condições
de se tornar integralmente dependente do Senhor e, em virtude disto, poder se
tornar um forte nas mãos de Deus (II Co.12:10).
- Moisés reconhece diante do Senhor a sua nulidade:
“Quem sou eu que vá a Faraó e tire do Egito os filhos de Israel? “(Ex.3:11).
Moisés dá um passo importante para se tornar líder: elimina o seu “eu”. Ah, se
muitos líderes no meio do povo de Deus tomassem esta decisão de anular o seu
“eu” e compreender que sem Jesus nada pode ser feito (Jo.15:5 “in fine”). Se
dissessem “quem sou eu”, teriam boa parte dos problemas que hoje enfrentam
resolvidos. Foi por ter achado que era ninguém que Moisés, antes de criar um
obstáculo, credenciou-se para ser o libertador do povo de Israel.
- Deus, então, prometeu que estaria com Moisés e
que a prova disto é que o povo serviria a Deus no monte Horebe, também chamado
Sinai (nome que vem “seneh”, que, em hebraico, significa “sarça”). Como podemos
verificar, portanto, a maior prova de que Deus está com um líder é o fato de o
povo servir a Deus. No Sinai, Israel fez um pacto com Deus, aceitou receber a
lei (Ex.19:3-8) e esta foi a confirmação de que Moisés era um líder chamado por
Deus e que havia libertado o povo do Egito. Um líder é eficaz, ou seja, “que
tem a virtude ou o poder de produzir, em condições normais e sem carecer de
outro auxílio, determinado efeito”, “que executa, obra, que leva a cabo,
poderoso”, na obra de Deus, quando o povo serve a Deus, quando aceita receber o
seu senhorio.
- Infelizmente, na atualidade, muitos têm se
preocupado em se mostrar como líderes através de números, da quantidade de
pessoas que freqüentam as reuniões no templo ou nas casas, de pessoas batizadas
nas águas, de contribuintes e outros índices, esquecendo-se, porém, que o sinal
da liderança está no serviço do povo, ou seja, na adoração do povo a Deus, na
vida de santidade que tenham os liderados. Foi este o sinal que Deus, que não
muda (Ml.3:6), deu a Moisés como prova do seu chamado.
- Mas, além de se considerar ninguém, Moisés quis
saber quem era Deus. Como se apresentar diante do povo sem, ao menos, dizer
quem o estava enviando? Moisés, ao querer saber o nome de Deus, demonstrou
querer ter maior intimidade com o Senhor, conhecer-Lhe o caráter. O Senhor
identificou-Se para Moisés, dizendo ser “Yahweh” – EU SOU O QUE SOU. Para ser
líder, Moisés percebeu que não só era necessário reconhecer que nada era, mas
também era necessário saber quem Deus era. O conhecimento do nome de Deus,
saber quem Deus era, constituía-se no primeiro passo para que pudesse ser um
instrumento nas mãos do Senhor.
- Deus prontamente deu a conhecer a Moisés o Seu
nome, numa prova de que tinha Moisés razão. Muitos, porém, na atualidade,
querem liderar o povo de Deus, querem servir ao Senhor sem conhecê-lO, sem
sequer saber quem Ele é. Necessitamos conhecer e prosseguir em conhecer ao
Senhor (Os.6:3). Conhecer a Deus não é apenas ter domínio intelectual de Sua
Palavra, mas, sobretudo, ter com Ele intimidade, deixar-se dominar pelo Senhor,
estar envolvido como a erva é envolvida pela chuva abundante. Muitos, porém,
ouvirão aquela dura palavra do Senhor no dia do juízo, quando, apesar de tantas
“atividades”, serão tratados como pessoas que jamais foram conhecidas por Deus
(Mt.7:23). Para servir a Deus, é preciso conhecer ao Senhor e ser dEle
conhecido (Jo.10:14).
- Mas, após ter Se identificado, Deus mandou que
Moisés fosse até o povo de Israel e se apresentasse a eles, bem como divulgasse
a mesma mensagem que acabara de receber (Ex.3:15-22). O líder não é alguém que
deva guardar para si a mensagem divina e a reter, divulgando-a conforme as suas
conveniências. Mesmo na época de Moisés, em que ainda Deus não Se revelara
completamente na pessoa de Jesus Cristo e quando ainda não estava derramado o
Espírito Santo no povo, Deus não permitiu que o líder fosse um guardador de
segredos. Deus queria ser conhecido de todo o povo e, embora Moisés tivesse
sido escolhido para liderar o povo e houvesse os anciãos, também dotados de
alguma parcela de autoridade, todo o povo deveria saber quem era Deus e qual o
Seu propósito.
- Nos dias difíceis em que vivemos, muitos se dizem
“líderes” no meio do povo de Deus e “portadores de segredos”, que só são
revelados em reuniões fechadas, apenas a alguns, como se Deus não desejasse ser
conhecido de todo o Seu povo. Tais “encontros”, “pré-encontros” e tantas
invencionices são completamente sem qualquer respaldo bíblico e estão
totalmente fora do propósito de Deus, que é o de que todos os homens se salvem
e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4). Moisés nada deveria omitir aos
anciãos e ao povo do que lhe estava sendo revelado, e isto no tempo antigo.
Como, pois, admitir “portadores de segredo” e “reuniões secretas” em plena
dispensação da graça? Fujamos destas heresias!
- A primeira tarefa do líder é o de divulgar a
Palavra de Deus. Foi a primeira coisa que o Senhor mandou que Moisés fizesse.
Sem o ministério da palavra, não há possibilidade de se exercer qualquer
ministério no meio do povo de Deus. O líder comprometido com o Senhor, chamado
por Deus e que se dispõe a obedecer-Lhe é, antes de mais nada, alguém que dá
prioridade à Palavra do Senhor. Disto, aliás, nos dão exemplo os apóstolos logo
no limiar da história da Igreja (At.6:2,4). Uma das formas de discernimos quem
são os verdadeiros homens enviados por Deus (“enviado” em grego é “apóstolos”)
e os que são oferecidos na igreja, qualidade que o Senhor espera que tenhamos
(Ap.2:2), é o comportamento que têm em relação à Palavra. Se dão prioridade à
pregação e ao ensino da Palavra, são homens enviados por Deus. Se, porém, fogem
da Palavra, escondem-se atrás de técnicas de pregação, de emocionalismos, de
louvorzões, tenhamos a certeza de que estamos diante de charlatães, de falsos
ministros, de lobos cruéis que não perdoam o rebanho (At.20:29). Afastemo-nos
deles!
- Mas, imediatamente após lhe ter sido ordenado que
pregasse a Palavra, Moisés apresentou uma dificuldade ao Senhor: a
incredulidade do povo. Sem dúvida, tinha razão Moisés ao levantar este
problema, pois aquela geração, realmente, não entrou na Terra Prometida por
causa da sua incredulidade (Hb.3:19). A pregação não resulta automaticamente em
fé. Uma coisa é pregar; outra, crer. Devemos pregar a Palavra, mas devemos
saber que muitos não darão ouvidos ao que for pregado. A fé depende do
livre-arbítrio de cada um e não será o pregador, mesmo enviado de Deus, que
promoverá a salvação ou o nascimento da fé na vida de cada ouvinte. Por isso,
façamos a nossa parte, pregando a Palavra, deixando o convencimento com o
Espírito Santo de Deus.
- Mas, diante desta dificuldade apresentada, o
Senhor diz a Moisés que ele faria sinais e maravilhas, a fim de que o povo
pudesse ter motivos adicionais para crer. Os sinais serviriam, assim, de
confirmação da Palavra de Deus, o que continua a ocorrer na atual dispensação (Mc.16:20).
Não podemos inverter a ordem estabelecida por Deus: Palavra e, depois, sinais
que confirmam a Palavra. Se corrermos atrás de sinais, correremos sério risco
de ser enganados pelo adversário de nossas almas (Mt.24:24,25).
- Deus mandou que Moisés jogasse a vara que tinha
em suas mãos e ela se tornou em cobra. Depois, mandou que Moisés pusesse a sua
mão no peito e ela se tornou leprosa. Estes dois sinais seriam suficientes para
superar a incredulidade do povo e, se mesmo assim, os israelitas não cressem, o
Senhor prometera a Moisés que tornaria as águas do rio Nilo em sangue
(Ex.4:1-9).
- É interessante observar que Deus prometeu fazer
sinais com aquilo que Moisés tinha à sua disposição, ou seja, a vara que estava
em suas mãos (e, por quarenta anos, aquela vara tinha estado à disposição de
Moisés…) e as próprias mãos de Moisés. Deus faz coisas extraordinárias mas quer
que nos utilizemos daquilo que já temos, que Ele nos concedeu para que as
maravilhas se realizem. Deus não precisa mas faz questão de nossa participação
e de nosso esforço na demonstração do Seu poder.
- Moisés, então, pôs uma nova dificuldade: a
comunicação. Fazia quarenta anos que estava no deserto, já não sabia se
expressar corretamente seja na língua egípcia, seja na língua hebraica. Era
este o sentido da expressão de que não era eloqüente, “pesado de boca” e
“pesado de língua” ou, na tradução da Bíblia Hebraica, “fala lenta” e “língua
trêmula”. Temos aqui mais uma importante lição dada por Moisés: o líder tem de
ter a preocupação de se comunicar bem com o povo. É indispensável que haja uma
sintonia entre o líder e os liderados. Sem comunicação, não pode haver comunhão
e sem comunhão, não há como se construir uma união onde o Senhor possa Se
manifestar e realizar a Sua obra (Sl.133).
- Se o papel do líder é, principalmente, o de falar
a Palavra de Deus, divulgá-la e ensiná-la, como fazer isto sem que se tenha uma
mesma língua que os liderados? Como realizar o ministério da Palavra sem uma
comunicação eficaz? Muitos têm fracassado ou, pelo menos, prejudicado seu
ministério porque não se importam em ser compreendidos pelos liderados, porque
não têm qualquer preocupação em estabelecer um canal de comunicação.
- Deus, diante desta nova dificuldade apresentada
por Moisés, em primeiro lugar, mostrou que Ele é suficiente. Disse que Ele fez
a boca do homem, como também o mudo e o surdo. A obra é de Deus e o Senhor não
precisa de técnicas humanas para poder fazer valer a Sua vontade e o Seu
senhorio. Deus havia resolvido livrar o Seu povo n Egito e isto seria
realizado. Esta observação do Senhor para Moisés é muito atual: quantos não têm
tentado substituir o Espírito Santo na obra de Deus por “planos”, “visões”,
“estratégias” e “técnicas”? Entretanto, nada disso pode substituir o próprio
Deus, pois Ele, e Ele só, é o Senhor!
- Ao mesmo tempo em que o Senhor mostra a Moisés
que as técnicas humanas nada significam, nada representam ante o poder de Deus,
não considerou que a preocupação de Moisés fosse de todo vã. Moisés não poderia
confiar nas habilidades humanas, mas tanto era pertinente a sua preocupação que
Deus disse que iria atendê-lo, fazendo com que Arão, irmão de Moisés, se
tornasse o seu porta-voz, o seu canal de comunicação com o povo de Israel. No
entanto, o Senhor deixou bem claro, o vaso que Ele havia escolhido para a
libertação era Moisés e não algum outro.
- Moisés, então, diante de todas as soluções dadas
por Deus às dificuldades por ele apresentadas, rendeu-se ao chamado divino e se
apartou de seu sogro, voltando para o Egito, com a sua família (Ex.4:20). No
meio do caminho, porém, houve uma ocorrência que quase resultou em tragédia,
ocasião em que os filhos de Moisés foram circuncidados (Ex.4:24,25). Moisés,
havia se rendido ao Senhor, assumido a sua identidade hebraica, mas não tinha,
ainda, circuncidado seu filho. Não poderia, sem atentar para o pacto que Deus
selara com Abraão, iniciar a libertação de seu povo. Primeiro, precisamos
governar bem a nossa casa, pô-la de acordo com a vontade do Senhor, se temos um
chamado para liderar o povo de Deus (I Tm.3:4,5). Quantos têm sido guindados ao
ministério, na atualidade, de modo precipitado, visto que ainda não puseram as
suas casas debaixo do senhorio de Cristo.
- Após seu encontro com Arão, Moisés foi e se
apresentou ao povo e cumpriu aquilo que Deus lhe havia determinado, anunciando
a Palavra de Deus e confirmando a Palavra com sinais. O povo, então, creu e
adorou a Deus (Ex.4:30,31). Surgira um novo líder em Israel.
- Depois de ter legitimado sua liderança diante do
povo, Moisés, então, inicia a sua missão, indo ao encontro de Faraó, a fim de
obter o livramento do povo. O encontro não foi nada amistoso. Faraó desprezou a
Moisés e a sua proposta para que deixasse o povo sacrificar a Deus e, como
conseqüência deste pedido, afligiu ainda mais o povo, não mais fornecendo palha
aos israelitas e ordenando que eles mantivessem a mesma produção de palha
(Ex.5:1-19).
- Pela vez primeira, então, Moisés tem a sua
liderança questionada. Como o povo só recebera aflição em virtude da atitude de
Moisés de querer a libertação do povo, os israelitas começaram a culpá-lo pela
situação, pedindo a Deus que julgasse o que estava a acontecer, pois Israel se
fizera de “cheiro repelente a Faraó” (Ex.5:20,21).
- A liderança de um servo de Deus fará, sempre, o
povo de “cheiro repelente” ao inimigo de nossas almas. O líder genuíno da parte
de Deus não tem qualquer comunhão com o pecado e com o mal e, por isso,
certamente os seus liderados sofrerão maiores aflições, visto que o inimigo
será perturbado, ficará furioso com a atuação segundo a vontade de Deus. Quando
nos sujeitamos a Deus, passamos a lutar contra o mal, o inimigo fica incomodado
e a sua reação não tarda. Muitos, porém, na atualidade, não querem enfrentar o
adversário, permitem que o pecado e a impureza dominem entre os seus liderados
e nesta “trégua” com o inimigo, acham que levam alguma vantagem. Infelizmente,
não é isto que nos ensina a Bíblia e o que se verá é que estes “pacificadores”
estarão sendo envolvidos pela iniqüidade e farão eterna companhia ao adversário
no lago de fogo e enxofre.
- Moisés, ante a aflição vivida pelo povo e a
rejeição de que foi vítima, foi aos pés do Senhor. Moisés fez a melhor coisa
que poderia ter feito: ido ao encontro do Senhor. No momento da angústia, da
dor, da solidão, da oposição, quando as coisas parecem estar todas indo numa
direção oposta ao que foi prometido por Deus, o servo do Senhor deve correr aos
pés do Senhor. “Então tornou Moisés ao Senhor” (Ex.5:22). Que bom quando,
nestes momentos difíceis, recorremos a Deus e Lhe pedimos a devida orientação.
De onde nos virá o socorro? O socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra
(Sl.121:1,2).
- Moisés, no momento desta dificuldade tão grande,
demonstrou, também, ter compaixão dos seus liderados. O que lhe doeu não foi a
rejeição do povo, a incompreensão, mas a aflição que o povo teve de passar:
“por que fizeste mal a este povo?” (Ex.5:22). Um verdadeiro líder é aquele que
sente compaixão pelos seus liderados, ou seja, é capaz de sentir aquilo que
eles estão sentindo, não demonstrando qualquer interesse próprio ou pensamento
em si, mas o bem-estar daqueles que estão sob sua responsabilidade. Moisés, nos
quarenta anos do “curso do deserto”, havia aprendido a buscar o bem-estar das
ovelhas, a viver em função delas e a sentir o que elas sentiam.
- A compaixão de Moisés era tanta que questiona a
sua chamada, não porque duvidasse dela, mas porque ela só havia produzido dor
ao povo de Israel. Por causa da chamada de Moisés, o povo estava sendo
maltratado e não ocorrera qualquer livramento. Moisés, já no início de seu
ministério, mostra que o líder deve amar os seus liderados, não buscar o seu
próprio proveito e, se necessário for, anular-se em prol do grupo.
- Deus, então, em resposta à oração de Moisés,
mostra-lhe que o livramento viria somente depois que o povo de Israel pudesse
conhecer a Deus. Não bastava que Moisés tivesse dito quem era Deus. Deus queria
ser conhecido de Seu povo e, para tanto, era necessário que o Seu poder fosse
mostrado antes do livramento. Deus queria que Israel se tornasse o Seu povo,
que se firmasse um pacto entre Deus e Israel, mas, para tanto, necessário era
que Deus Se revelasse a Israel como o único e verdadeiro Deus, como o Senhor de
toda a terra. Para tanto, seriam necessários sinais que demonstrassem que Deus
era maior do que todos os deuses egípcios, que deuses, aliás, não eram. Foi
este, aliás, o sentido das dez pragas, cada uma delas mostrando que o Senhor
era o único e verdadeiro Deus e que os deuses egípcios deuses não eram.
- À medida que as pragas ocorriam e os deuses
egípcios eram cada vez mais demonstrados falsos, a liderança de Moisés se
fortalecia. A prova disto é que, antes da última praga, a dos primogênitos,
Deus mandou que Moisés determinasse ao povo que celebrasse, pela vez primeira,
a páscoa e todo o povo o atendeu, crendo unanimemente na palavra anunciada por
Moisés, confiança que aumentou quando da morte dos primogênitos, a ponto de o
próprio Faraó concordar com a saída de Israel do Egito.
- Quando Israel saiu do Egito, Moisés, embora
tivesse sua liderança confirmada pelos fatos, não deixou de reconhecer que o
senhorio era de Deus. Saindo do Egito, não tomou o caminho que lhe pareceria
mais fácil, mas seguiu a direção de Deus. Moisés estava à frente do povo, mas a
orientação, a direção era de Deus (Ex.13:17). Que exemplo a ser seguido!
- Quarenta anos antes, certamente não tinha sido
este o caminho escolhido por Moisés para fugir de Faraó. Mas, agora, o Moisés
que estava à frente do povo de Israel não era, em absoluto, aquele Moisés que
escapara das mãos de Faraó. Estava-se diante de um servo de Deus, que sabia que
quem deveria dirigir o povo era o Senhor. Temos seguido a direção de Deus ou
confiado em nossas habilidades?
- A passagem do mar Vermelho foi um grande teste na
vida de Moisés. Embora na direção de Deus, de uma hora para outra, Moisés se
viu em uma situação sem saída. Atrás, vinha Faraó e seu exército e, à frente,
estava o mar. Moisés, uma vez mais, clamou a Deus, mas o Senhor simplesmente
mandou que Moisés dissesse ao povo que marchasse (Ex.14:15). Há instantes na
vida do líder em que é preciso que haja uma iniciativa do líder. O Senhor já
havia dito a Moisés o que iria fazer (Ex.14:1-14) e, por isso, nada mais cabia
a Deus fazer senão esperar a iniciativa do líder e do povo de Israel.
- Um líder deve ter iniciativa, mas uma iniciativa
de acordo com a vontade do Senhor. Uma vez Deus tendo dito o que fará, cabe ao
líder, que sabe se comunicar com os seus liderados e que se apresenta
legitimado por estar na direção de Deus, dar o primeiro passo para que tenha a
vitória sobre o inimigo. Moisés levantou a vara, estendeu a mão e um vento fez
com que se abrisse um caminho seco no mar. O povo passou e foi seguido pelo
inimigo que, porém, foi destruído no mar. Tudo aconteceu para que o povo
pudesse ver a grande mão poderosa do Senhor e cressem em Deus e em Moisés, Seu
servo (Ex.14:31).
- Em gratidão a Deus, Moisés fez um cântico e
cantou com o povo. Cantava a Deus porque o Senhor havia Se exaltado e derrotado
os inimigos do povo. Moisés louvava a Deus e, publicamente, engrandecia o nome
do Senhor. Não se vangloriara pela posição que estava a ocupar, nem tentou
tirar vantagem desta grande vitória para o seu ministério, mas se limitou a
engrandecer o nome do Senhor, a mostrar que Deus era o Deus de seu pai, que
deveria ser exaltado, que Ele era varão de guerra, que Seu nome era “Eu Sou o
que Sou”. Que exemplo de humildade de espírito, que espírito de adoração!
- Moisés ensina-nos, neste cântico, que foi Deus
quem despedaçou o inimigo, que Deus é santo, que Deus é o único Deus, que Deus
é poderoso, que Deus é beneficente, que Deus é salvador, que Deus é o guia do
Seu povo, que Deus é rei e que iria conduzir o Seu povo para a Terra Prometida.
Deus é tudo e só Ele deve ser adorado e louvado. Era este o ensino de Moisés, o
cântico que ensinou Israel a cantar. Tem sido esta a nossa mensagem aos nossos
liderados? Ou será que há muitos “aparecidos de Jesus” atrapalhando a adoração
a Deus em nossas igrejas locais?
- Em seu louvor, Moisés exalta única e
exclusivamente a Deus e também leva o povo a fazê-lo. Este é o verdadeiro
louvor: aquele cujo objetivo e propósito é glorificar o nome do Senhor. Quão
diferente deste cântico de Moisés são os “cânticos” da atualidade, que enaltecem
o crente, que se voltam única e exclusivamente para o ser humano, deixando de
ter como alvo e objetivo a Deus. Não permitamos que este louvor ao homem venha
a ocupar espaço em nossas vidas devocionais e em nossas reuniões.
Fonte movendo montanhas
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PAZ DO SENHOR
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