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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Subsidio (1) conectar vida e legado de Moises n.12




INTRODUÇÃO

Moisés foi, sem dúvida alguma, uma das maiores personalidades e um dos maiores heróis da fé de todos os tempos. O seu legado para o povo de Israel, para a humanidade como um todo e para a Igreja até os dias de hoje é enorme. Neste capítulo, dentro do que nossa proposta sintética permite, queremos apresentar alguns pontos importantíssimos desse legado, relembrando aspectos especiais e inspiradores da vida e da obra desse homem de Deus, destacando os efeitos de seu ministério até os nossos dias e a importância do exemplo de Moisés para os crentes em Cristo de todos os tempos.

Primeiro, falaremos do legado de Moisés para o povo judeu; em seguida, de sua importância para a humanidade como um todo; e, por fim, e mais atentamente, analisaremos os exemplos instigantes de sua vida e ministério para a vida do crente.

O Legado de Moisés para o Povo Judeu A formação de uma nação

Moisés foi o instrumento que Deus usou para que Israel se tornasse, enfim, uma nação, conforme Ele havia prometido aos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó (Gn 15.5,7; 17.5-8; 26.3,4,24; 28.4,13-15; 35.9-13). Toda nação precisa de uma identidade, de uma cultura própria, de uma língua, de valores, de leis pelas quais serão regidos, e Moisés foi usado por Deus para dar tudo isso a Israel.
Por meio de seu ministério, a identidade religiosa e os valores que deveriam pautar e guiar o povo foram definidos em detalhes; uma cultura nova foi formada, diferente em muitos aspectos da cultura das nações vizinhas; a língua hebraica ganhou o seu primeiro grande texto — a Torá (o Pentateuco) — que lhe daria perpetuidade e ser-lhe-ia referência na história dos povos; e uma legislação revolucionária e um completo sistema de organização social foram concedidos aos israelitas, que, agora, finalmente, podiam se perceber e ser reconhecidos como uma nação, um novo povo.Mesmo quando sofreu o exílio e a diáspora, Israel continuou a ser reconhecido como uma nação, conquanto seu território tenha passado, durante séculos, sem a sua presença maciça ou o seu governo.

Uma fé e uma religião estruturadas

O Deus de Israel era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, porém a fé e o culto hebreus ainda careciam de uma normatização e organização, até que Deus os estruturou, por intermédio de Moisés, como vimos detidamente nos capítulos 9, 11 e 12 deste livro. Em Romanos 9.4,5, o apóstolo Paulo lembra que Deus deu a Israel sete coisas: tornou os israelitas seus filhos por adoção, repartiu com eles um pouco da sua glória, fez-lhes uma aliança e deu-lhes os patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó), a legislação, o culto e as promessas; e ainda, por meio deles, o Messias, Jesus (Rm 9.5). Tudo isso é o que distinguia Israel das outras nações, fazendo dele o povo eleito. Porém, como sabemos, houve a rejeição de Israel à vontade de Deus e, consequentemente, a rejeição divina a Israel, que são os temas dos capítulos 9 a 11 de Romanos, os quais terminam "Moisés foi o instrumento que Deus usou para que Israel se tornasse, enfim, uma nação, conforme Ele patriarcas Jacó” revelando que a rejeição de Israel não é final e que Deus haverá de restaurar Israel no fim dos tempos (Rm 11.25-28).

As Escrituras Sagradas do Pentateuco, um salmo e, provavelmente, o Livro de Jó O grande legado de Moisés está expresso em suas obras que atravessaram séculos, chegando até os nossos dias e formando parte significativa e basilar do cânone veterotestamentário. São de Moisés o Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), o Salmo 90 (que é, portanto, o mais antigo salmo de Israel) e provavelmente também o belíssimo Livro de Jó. A riqueza e a importância histórica, social, espiritual e literária dessas obras para o mundo revelam a grandeza do ministério desse grande homem de Deus para o seu povo e para toda a humanidade.

As Escrituras Sagradas do Pentateuco, um salmo e, provavelmente, o Livro de Jó.
O grande legado de Moisés está expresso em suas obras que atravessaram séculos, chegando até os nossos dias e formando parte significativa e basilar do cânone veterotestamentário. São de Moisés o Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), o Salmo 90 (que é, portanto, o mais antigo salmo de Israel) e provavelmente também o belíssimo Livro de Jó. A riqueza e a importância histórica, social, espiritual e literária dessas obras para o mundo revelam a grandeza do ministério desse grande homem de Deus para o seu povo e para toda a humanidade.

O Legado de Moisés para a Humanidade A legislação hebraica

Já nos dedicamos, no capítulo 10, a demonstrar alguns dos muitos aspectos revolucionários da legislação hebraica para a história do Direito no mundo. Ela foi revolucionária para a sua época e, tempos depois, serviria de inspiração para muitos avanços legais saudáveis com os quais já estamos muito habituados em nossos dias, mas que, na época de Moisés, se constituíam uma grande inovação. Dentre seus muitos aspectos revolucionários, a legislação hebraica, por exemplo, “atribuía um grande valor à vida humana, exigia um grande respeito para com a honra da mulher e conferia mais dignidade à posição do escravo do que poderíamos encontrar em qualquer um dos códigos legais das outras nações do Oriente Próximo”. Mais detalhes no já referido capítulo 10.

Os valores judaicos

Não à toa, costuma-se chamar os valores tradicionais do Ocidente, que foram responsáveis pela sua formação e se constituem a base de todas as suas conquistas, de valores judaico-cristãos. Os princípios do Decálogo (Ex 20.1-17), por exemplo, ajudaram a moldar todos os valores do Ocidente, juntamente com o cristianismo.

COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 146-149.

I - OS ÚLTIMOS DIAS DE MOISÉS

1. As palavras de despedida.

Último Cântico e Exortação de Moisés (32.1-47)

Os críticos pensam que esse cântico data da época da monarquia de Israel. “Este salmo, que contrasta a fidelidade de Deus com a infidelidade de Israel, é uma interpretação da fé mosaica, e não uma composição do próprio Moisés. Provavelmente data de algum tempo durante a monarquia de Israel” (Oxford Annotated Bible, comentando sobre Deu. 31.30). Mas os estudiosos conservadores aceitam a situação histórica do cântico (entregue nas planícies de Moabe, antes da invasão da parte ocidental da Terra Prometida) como válida. A línguagem posterior em que 0 cântico está expresso pode ser devida à adaptação histórica da sua linguagem, e não porque a própria composição seja tardia.

O cântico interpreta a história à luz dos lapsos morais de Israel, que teve lugar por causa da natureza rebelde daquela nação, por todo 0 desenrolar de sua história, conforme Moisés havia predito (ver Deu. 31.29). Ele sabia que as coisas acabariam muito azedas, porquanto Israel não corresponderia ao seu caráter histórico ímpar (ver Deu. 26.19 e suas notas expositivas). Mas, embora 0 cântico prediga a humilhação e 0 desastre da nação, a composição também vê longe, futuro adentro, para indicar 0 triunfo eventual de Israel, embora em um futuro remoto. Ver os vss. 36 e 43 deste capítulo.
“Um pensamento exaltado busca as mais belas expressões. Os poetas da Grécia, da índia, da Inglaterra, da Alemanha e da Itália têm-se valido de seus escritores clássicos como motivo inspirador; e outro tanto é verdade no tocante à Bíblia. Aqui, dentro do arcabouço da história de Israel, um poema didático, composto por uma mão antiga, retrata 0 poder da palavra falada em despertar um povo abatido para uma nova vida e um renovado esforço.

Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra como 0 orvalho; como chuvisco sobre a selva.

Encontramos nesse poema o autêntico espírito profético. Implícita em cada página dos escritos proféticos, acha-se a convicção de que um ser humano não pode afundar tanto que a Palavra de Deus não seja capaz de alcançá-lo. Por conseguinte, o pregador é a mais importante profissão de qualquer época. Ele mexe com os valores sem os quais nenhuma verdadeira civilização é capaz de existir'’ (Henry H. Shires, in loc.).

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 877.

Procedimento de Impeachment: O Cântico do Testemunho, 32.1-47

O típico tratado do Oriente Próximo continha uma lista de testemunhas das cláusulas do concerto. Outra característica era a determinação dos procedimentos a tomar em ação contra o vassalo rebelde. Continha muitos dos elementos do próprio concerto, mas reformulados na forma de ação judicial. O Cântico de Moisés une estes dois elementos: testemunhas e ação judicial.
Há quem assevere que a forma de Deuteronômio 32 é mais que ação judicial normal, pois pondera sobre a restauração depois do julgamento (26-43). Por esta razão, dizem que o capítulo é reformulação posterior do padrão de ação judicial com o propósito de confissão e ensino. Contudo, Deuteronômio não é mero documento legal. Quando se serve de formatos legais, usa-o para finalidades próprias. E não há motivo para ter se adaptado ao padrão de ação judicial secular para transmitir sua mensagem. A linguagem e a estrutura poética tendem a confirmar esta concepção. Mais tarde, esta ação. Os altos céus que ouviram o voto solene / Continuarão a ouvir diariamente a renovação do voto / Até que, no último momento de vida, eu me curvar / E bendizer na morte um laço tão querido.
judicial ou padrão controverso se tornou arma legal nas mãos dos profetas para acusar Israel de violação da fé (cf. Is 1.2; Os 4.1; 12.2; Mq 6.2).

1. A Convocação das Testemunhas (32.1-3)

O procedimento para levar os rebeldes a julgamento começa com a  convocação das testemunhas do concerto, os céus e a terra (1), para testificarem que o pacto foi feito de forma legal. Mas a convocação também implica em uma afirmação da probidade do concerto.
A doutrina (2) ou “ensino” (NTLH; NVI) do concerto tem o efeito que a chuva faz na vegetação, porque é a palavra de Deus. Deve ser recebida neste princípio vital (3). O termo doutrina (2, leqah) é usado somente na literatura sapiencial, como, por exemplo, em Provérbios 1.5; 4.2; Jó 11.4 e Isaías 29.24.

2. A Declaração Preliminar da Acusação (32.4-6)

O Deus de Israel é a Rocha (4; cf. 15,18,30,31,37), a essência da estabilidade e confiança. Sua administração política do mundo é perfeita, porque todos os seus caminhos são justos. Esta perfeição de desempenho governamental é mera expressão da perfeição do seu caráter, que é “fiel e correto” (NTLH), justo e reto. Seu povo apresenta um triste contraste, e com o versículo 5 inicia a acusação. “Seus filhos têm agido corruptamente para com Ele, já não são seus filhos, por causa da mancha que possuem” (5, RSV). No versículo 6, a acusação é imposta interrogativamente. Onde está a sabedoria em repudiar teu Pai, que salvou a nação da escravidão no Egito? (Cf. 8.1-5.) Não é ele que te fez e te estabeleceu?

3. A Acusação em Detalhes (32.7-18)

A acusação contra os israelitas é que eles retribuíram a Deus com maldade pelas suas múltiplas bênçãos recebidas. Esta ideia, esboçada nos versículos 4 a 6, agora é minuciosamente desenvolvida, recontando a bondade de Deus nos versículos 7 a 14. Os versículos 15 a 18 descrevem a ingratidão de Israel. A benevolência de Deus data dos dias da antiguidade (7), na verdade, desde o estabelecimento das nações (8), quando cada uma recebeu sua herança. Naqueles tempos antigos, as nações foram dispostas de modo a deixar espaço adequado para Israel (cf. Gn 10.32). O povo de Israel se tornou a porção do SENHOR (9).
No versículo 10, o pensamento avança para as peregrinações no deserto — deixando de lado a libertação do Egito para enfatizar o cuidado divino. Israel foi encontrado no deserto, como uma criança abandonada (10; Ez 16.3-6). Deus cuidou dessa criança como a menina do seu olho. Considerando que Deus está constantemente cuidando de Israel, sua imagem está refletida na pupila dos olhos divinos. A metáfora da águia (11, abutre) que empurra as avezinhas recém-emplumadas para fora do ninho para lhes ensinar a voar, mas paira por perto para sustentá-las se caírem, enfatiza ainda mais o cuidado de Deus. Aproxima acusação é prevista pela afirmação de que só Deus conduziu os israelitas sem a ajuda de qualquer deus estranho (12).
A terceira marca do favoritismo de Israel é a ocupação da Terra Prometida, “que mana leite e mel”. A posse das alturas da terra (13) dá a entender propriedade incontestável. Depois do parco regime alimentar no deserto, ainda que tivesse sido suficiente, o produto suculento dos campos e rebanhos era mesmo abençoador (13,14).
Como prova de que o cântico não era mosaico, certos expositores afirmam que os versículos 7 a 14 rememoram o Êxodo e a ocupação da terra do ponto de vista de acontecimentos do passado remoto. Esta interpretação visa menosprezar ou negar seu elemento profético, como nas passagens anteriores nas quais estão baseados (e.g.,28.15-68; 9.16—30.10).
Nos versículos 8 a 14, vemos o cuidado de Deus para com seu povo na descrição “Como Águias”. 1) Deus empluma o ninho, 8-10,12-14; 2) Deus agita o ninho, 11a; 3) Deus ensina os filhotes a voar segundo a natureza, 11b; 4) Deus sustenta os que caem, 11c (G. B. Williamson).
O esplendor da beneficência divina serve apenas para realçar a baixeza da resposta de Israel. O vocábulo Jesurum (15, “ereto, íntegro”) vem do mesmo radical que a palavra “Israel”, à qual é uma opção. Pode ser um nome carinhoso. Há grande ironia em seu uso aqui. Israel reagiu à bondade de Deus como um animal super alimentado, ficando teimoso e até desdenhoso do Deus que o fez. Não satisfeito em ignorá-lo (18), Israel se voltou a deuses estranhos (16) e às abominações que vinham  com eles (cf. 18.9-12). Estes deuses são chamados diabos (17). No Salmo 106.37, a única outra ocorrência no Antigo Testamento da palavra, eles são os recebedores dos sacrifícios humanos. Estes eram deuses que eles nunca conheceram; novos deuses de quem seus pais nunca tinham ouvido falar. Qualquer deus era suficientemente bom e não muito ruim para Israel servir (16,17), ao passo que o Deus “que os gerou” e “os fez nascer” (18, NVI) foi ignorado.

4. A Sentença (32.19-25)

Chegou a hora da sentença, dada em duas partes. Os versículos 19 a 21 enfatizam o princípio; os versículos 22 a 25 acrescentam pormenores. O princípio é a justiça rígida. Visto que seus filhos o ignoraram (18), Ele esconderia deles o rosto (20).
Visto que querem seguir os próprios caminhos, Ele os deixará para ver qual será o seu fim. Note a fórmula periódica em Romanos 1.24,26,28: “Deus os entregou [abandonou]”. Dodd escreve: “Paulo [...] vê que o fato realmente terrível é cair das mãos divinas, e ser deixado a si mesmo em um mundo onde a escolha do mal ocasiona a própria vingança moral”. Visto que Israel provocara Deus com um não-Deus e ídolos inúteis, Ele os provocará com um não-povo e uma nação louca (21; “insensata”, NVI). Preferem a insensatez; eles a terão. A perfeita combinação com um deus que é a negação de tudo que é divino é um povo que é a negação de tudo que é civilizado — uma horda de bárbaros selvagens. Tendo tudo o que se quer, como descobriu Midas, é uma boa definição de inferno. Este abandono judicial por Deus, longe de ser sinal de desdenho da responsabilidade de sua parte, é um fogo (22) aceso contra o pecado que engloba o universo e alcança as profundezas do mundo inferior. O mais profundo do inferno é, aqui, o “Sheol” (NVI), a sepultura; não é o domicílio eterno dos ímpios, como no Novo Testamento.

A segunda parte da sentença expõe o modo no qual a pena será estabelecida: a imposição das maldições do concerto (cf. 28.15-68). Como caçador em franca perseguição, Deus esgotará as suas setas contra eles (23). A fome (24), a peste e a praga serão o ponto culminante na invasão. A guerra de ruas não poupará o jovem, a virgem, a criança de mama ou o homem de cãs (25).

5. A Promessa de Misericórdia (32.26-43)

A sentença, que obviamente está a ponto de ser dada na morte e aniquilação de Israel, é subitamente encurtada. E detida pelo temor divino do efeito que esse fim causaria no invasor. Por todos os cantos os espalharia (26) é melhor “para longe os espalharia” (RSV). Na estupefação do triunfo sobre Israel, o inimigo (27) deduziria que fora seu poder que lhe trouxera vitória. A ira do inimigo quer dizer “a provocação  do inimigo” (ARA; cf. NVT). Não estranhem significa “entendesse[m] mal” (NVI), ou seja, não vissem a verdade. Longe de revelar a glória de Deus, tal reação a colocaria em dúvida.
Esta interpretação enganosa da vitória inimiga pelos conquistadores de Israel é desenvolvida nos versículos 28 a 35. Se tivessem perspicácia, eles perceberiam que o julgamento último seria o seu fim (29; cf. 34,35). A derrota dos exércitos de Israel obtida pelos adversários fracos teria somente uma explicação: Deus tinha abandonado Israel (30). Com certeza não podia ser explicada pela superioridade moral dos inimigos, cuja vinha é a vinha de Sodoma (32). Se é que eles são piores que os israelitas. Por conseguinte, o julgamento é inevitável. A colheita mortal está selada nos depósitos de Deus (34). Logo virá a hora da vingança (defesa) divina quando sobrevier a ruína (35).
O pensamento agora se volta diretamente para os israelitas (36-43). À beira da destruição total, no último instante eles veem a maré virar. No momento de abandono, quando não houver fechado nem desamparado (36; “escravo nem livre”, ARA; NVI), Deus interferirá para fazer justiça ao seu povo e se arrepender pelos seus servos. Ele defenderá seu povo e lhe mostrará compaixão. A profundidade do fundo do poço em que os israelitas se encontrarem os compelirá a reconhecer o poder divino. Os deuses em quem ternamente confiavam — a rocha (37), como são ironicamente chamados — os decepcionaram. Há apenas um Deus, o Único que tem o poder da vida e da morte (39). E agora Ele jura que afiará a sua espada (41) e dará aos adversários o que merecem. Ele ergue a mão, fazendo um juramento que, como eu vivo para sempre, assim a justiça será feita (40,41). No versículo 42, a espada entra em ação. “Embriagarei as minhas setas de sangue (a minha espada comerá carne), do sangue dos mortos e dos prisioneiros, das cabeças cabeludas do inimigo” (42, ARA). Os cabelos compridos caracterizavam a aparência feroz e desleixada ou indicavam a dedicação religiosa à guerra (SI 68.21).
O cântico termina com uma convocação a todas as nações (43): Elas devem se alegrar na intervenção justa de Deus. A salvação dos israelitas é causa de alegria, pois por eles todas as nações da terra serão abençoadas (Gn 12.3). A ocasião de alegria é, primeiramente, a exibição da justiça, e em segundo lugar, o exercício da misericórdia. Terá misericórdia tem o sentido de “fará expiação” (ARA; cf. NVI; NTLH). O mesmo Deus que se vinga do pecado, o perdoa e limpa; Ele é ao mesmo tempo “Deus justo e Salvador” (Is 45.21), a um só tempo “justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.26).

6. A Exortação de Moisés (32.44-47)

Como indicado pelo texto de 31.14,19, Josué estava associado com Moisés em escrever o cântico e ensiná-lo para Israel. Oséias (44, Salvação) era o nome original que Moisés mudou para Josué (Jeová é Salvação, Nm 13.8,16). A ocorrência de Oséias aqui é provavelmente erro de ortografia, criado pela omissão de um til (cf. Mt 5.18). Moisés exorta que todo o Israel (45) preste atenção a todas as palavras (46) do cântico, de forma que ele as ensine ã geração em formação. Esta mensagem não é vã (47, insignificante, inútil; cf. NVI), pois a vida de Israel está em jogo. O Cântico de Moisés é grandiosa exposição da doutrina do julgamento de Deus na história, visto que a história de Israel é exemplo notável disso. A doutrina bíblica do senhorio divino da história — do qual o julgamento é apenas um aspecto — é, aqui, dramaticamente afirmada. Se Deus tem um acordo com o povo de Israel para abençoá-lo, também tem um procedimento concordante para autuá-lo em caso de pecado e rebelião. Deus não fica, como pensou Carlyle, sentado no céu sem fazer nada. Há momentos e lugares que parece que o certo é desconsiderado e o erro fica impune, de forma que é difícil “justificar os caminhos de Deus aos homens”. Em tais ocasiões, unindo-nos com Forsyth, “confiemos em Cristo” nos quesitos que não podemos “investigar acerca dos acontecimentos”. Moisés, primeiro, e Israel, depois, descobriram que a justificação de Deus no ato pelo qual Ele perdoou o pecado, também o condenou (32.43). Na mais ampla medida, podemos descobrir que por esse ato semelhante Ele fez o mesmo pelo mundo inteiro. Foi demonstração sublime de sua justiça e amor na cruz do seu Filho (Rm 3.21-26).

Jack Ford; A. R. G. Deasley. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 484-488.

Dt 32. 1 — O céus[...] ouça a terra. De forma similar, Isaías invocou os céus e a terra como testemunhas (Is 1.2).
Dt 32. 2 — Esta canção é uma expressão de sabedoria, a minha doutrina (Pv 1.5;4.2;9.9). As quatro analogias que se referem a ela — chuva, orvalho, chuvisco e gotas de água — transmitem a refrescante e revigorante natureza da instrução.
Dt 32. 3 — Dai grandeza a nosso Deus. A verdadeira sabedoria e a obediência sempre instigam o louvor a Deus (SI 145.3; 150.2).
Dt 32 .4 — Diferente da ineficácia dos deuses pagãos (v. 37), Deus dá a vida, a estabilidade e a felicidade ao povo (v. 15,18,30,31). A vida abundante que Ele concede é baseada em Sua obra perfeita. Como uma Rocha firme que permanece inabalável diante das águas furiosas de um mar revolto, o Senhor e Sua obra continuam sólidos perante o caos produzido pelas vidas em pecado.
O Todo-poderoso é a fundação segura de toda verdade num mundo decadente. Além disso, Ele nunca deixará as mentiras corromperem a justiça (Sf 3.5). Ao contrário, como um juiz justo e reto, protegerá os oprimidos. No momento anterior à entrada dos israelitas na Terra Prometida para que a nova nação fosse estabelecida, Moisés enalteceu Deus, que é o alicerce perfeito para qualquer sociedade.
Dt 32. 5 — Geração perversa e torcida é. Moisés contrastou os israelitas com seu Deus fiel. Com' parados ao Deus perfeito, eles eram corruptos, maculados e enganadores (v. 20).
Dt 32. 6 — Os antigos israelitas sabiam que Deus era seu Pai (Is 63.16;64.8), mas raramente confessavam esta grande verdade. Logo, essas palavras são excepcionais e impressionantes porque, ao mesmo tempo em que expressam a relação próxima dos filhos de Israel com o Senhor, castigam-nos por abandonar seu Pai. Deus os escolheu, amou, e cuidou deles. Yahweh os libertou do Egito e estabeleceu-os como nação ao dar-lhes instruções detalhadas.
Dt 32. 7 — Lembra-te[...] ele te informará. Neste versículo, a canção usa a linguagem da sábia literatura para exortar os israelitas a buscar os caminhos do Senhor. As Escrituras enfatizam repetidamente que a sabedoria é baseada no Deus de toda verdade.
Dt 32. 8,9 — Altíssimo. Esta designação para o Senhor pautada em Sua supremacia é singular em Deuteronômio. Ele é soberano sobre todas as nações, até mesmo sobre os termos dos povos. Mesmo sendo da vontade de Deus que todas as nações existissem, Ele favoreceu Israel com Sua graça, Suas promessas e Sua aliança, pois a porção do Senhor é o seu povo.
Dt 32. 10 — A expressão na terra do deserto é uma referência poética ao Egito. Deus deu ao povo de Israel Sua revelação e Suas leis, isto é, instruiu-o, com o objetivo de liderá-lo em verdade. Ademais, guardou-o como a menina do seu olho. Este é um símbolo de um tenro amor cuidadoso por uma coisa preciosa que tem necessidade de proteção.
Dt 32. 11 — A águia é uma ave de rapina encontrada geralmente em regiões desérticas. Na canção, o modo como ela cuida de seus filhotes é comparado às ações de Deus para com Israel. Ele não só protegeu o Seu povo, como também supriu todas as suas necessidades, incentivou-o, zelou por ele e guiou-o à Terra Prometida (Êx 19.4). Ao realizar esses feitos, o Senhor provou ser um Pai amoroso para os israelitas (v. 6).
Dt 32.12 — Só o Senhor... não havia com ele deus estranho. Deuteronômio é um grande documento contra a idolatria e o paganismo. Neste sentido, observamos que, na verdade, os israelitas não tinham razão para abandonar o Deus da graça e do amor que havia suprido todas as suas necessidades.
Dt 32. 13,14 — Ele o fez cavalgar sobre as alturas da terra. O Senhor tinha grandes planos para Seu povo (Is 48.17-19). Deus supriu os israelitas com plantações, boa comida, azeite de oliva e até mesmo laticínios na Terra Prometida, de acordo com as expressões comer as novidades do campo, chupar mel e azeite. Em suma, o Altíssimo proporcionou tudo aquilo que as pessoas não tiveram no deserto. A gordura da flor do trigo e o vinho puro, símbolos da misericórdia de Deus, também foram concedidos a Israel.
Dt 32. 15,16 — ]esurum, nome poético de Israel, significa íntegro. Esta parte da canção estabelece um contraste entre o que Israel deveria ter sido e o que se tornou. Visto que o povo recebeu a revelação de Deus e Sua Lei, ele tinha a obrigação de ser íntegro (v. 4). Entretanto, os israelitas engordaram e tornaram-se rebeldes.
Mesmo prosperando por causa das bênçãos divinas, os hebreus rejeitaram não só a fonte de toda a graça, mas também a própria salvação, como afirma a sentença desprezou a Rocha da sua salvação. Em vez de seguir as instruções de Deus, os israelitas abraçaram os deuses estranhos, que não tinham feito nada por Israel (v. 12).
Dt 32. 17 — Raramente são encontradas no Antigo Testamento referências a diabos e a poderes demoníacos (SI 106.37; Am 2.1). Embora as Escrituras deixem claro que os falsos deuses não existiam como tal, esta passagem identifica o poder por trás dos deuses estranhos: os demónios.
Dt 32.18,19 — Que te gerou literalmente significa fez com que existisse. Este é um dos vários textos em que Deus é retratado com termos que assemelham Sua função à de uma mãe, que nutre e dá a vida (compare com Is 66.13).
Dt 32.20,21 — Verei qual será o seu fim. Mesmo que Israel rejeitasse Deus, Ele seria paciente com Seus filhos rebeldes.
Dt 32. 22,23 — A expressão mais profundo do inferno combina a palavra Sheol (que pode ser traduzida por sepultura, profundezas, pó ou morte) com o termo profundo, sugerindo que há gradações na condenação eterna, assim como pode haver gradações na glória (o terceiro céu, 2 Co 12.2).
Dt 32. 24 — Fome[...] carbúnculo[...] peste amarga. Ao invés de abençoar o povo que escolheu, Deus o amaldiçoaria a fim de discipliná-lo. Pelo uso dos termos dentes de feras, com ardente peçonha de serpentes do pó, pode-se observar que a criação se voltaria contra as pessoas.
Dt 32. 25,26 — Jovem... homem de cãs. O emparelhamento de vocábulos opostos no versículo 25 indica que o julgamento de Deus seria abrangente. Ele afetaria toda a sociedade. Estruturas similares a esta em Joel 2.28,29 falam do amplo alcance das bênçãos do Senhor.
Dt 32. 27 — Se eu não receara. Deus não destruiria completamente Seu povo para que as nações arrogantes e independentes não se vangloriassem de sua valentia e destreza.
Dt 32. 28 — Este versículo antevê o julgamento divino de Israel e Judá nos dias de Isaías (Is 1.3;6.9,10).
Dt 32. 29,30 — Geralmente, a palavra fim é entendida como um futuro glorioso. Nestas passagens, esse vocábulo fala de um “futuro ruinoso” para os rebeldes israelitas, que não possuíam entendimento sobre Deus. A afirmação se a sua Rocha os não vendera indica que a proteção do Senhor sobre Seu povo era tão certa que a conquista deste pelos inimigos só poderia acontecer se o Todo-poderoso entregasse os israelitas aos oponentes.
32.31-33 — As nações inimigas eram como as pessoas de Sodoma e Gomorra - cruéis, imorais e tiranas.
32.34-36 — Não está isso encerrado comigo, selado nos meus tesouros1 Este questionamento denota que os planos definitivos e os propósitos de Deus são secretos. Além disso, do Senhor é a vingança. Ele fará justiça ao seu povo, pois apenas Deus, que é completamente justo, pode julgar e corrigir todas as coisas erradas que foram cometidas (Rm 12.19; Hb 10.30).
Haverá um momento específico para a vingança do Senhor, quando Ele se arrependerá pelos seus servos. Um dia, Ele distinguirá entre os justos e os perversos (Ml 3.16). Ele tratará amavelmente aqueles que restaram porque o amaram e seguiram.

Esta é a base de todas as mensagens proféticas acerca dos remanescentes de Israel.

Dt 32.37,38 — Onde estão os seus deuses! A canção menospreza aqueles que decidiram seguir falsos deuses. Eles abandonaram a Rocha da verdade por uma rocha que não era sequer uma pequena pedra. Quando a gordura era queimada e o vinho entornado nos altares dos falsos deuses, acreditava-se que estes comiam e bebiam tais ofertas. Contudo, esses ídolos sequer existiam, por isso nunca comeram nem beberam o ofertado.
Dt 32.39 — Que eu, eu o sou. Esta é uma gloriosa afirmação da incomparabilidade de Deus (SI 113.4-6). Deus sozinho controla todas as coisas. Por ser totalmente livre para fazer o que quiser, apenas Ele pode amaldiçoar ou abençoar, ferir ou curar, matar ou dar vida.
Dt 32.40-42 — Levantarei a minha mão aos céus. Deus jurou a si mesmo que vingaria Seu povo (Gn 22.16; Hb 6.13-18). Ele tornaria certo tudo o que estivesse errado.
Dt 32.43-45 — Jubilai, ó nações, com o seu povo. Deus, nessa canção dada a Moisés, convidou todas as nações para se unirem em adoração, para louvá-lo por prometer restaurar a justiça.
Dt 32.46 — Lei, neste versículo, pode remeter à canção de Moisés ou a Deuteronômio como um todo (compare com Dt31.26).
Dt 32.47 — Prolongareis os dias na terra. A intenção das instruções de Deus era mostrar aos israelitas o caminho que levava à plenitude da vida e às ricas bênçãos.

EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 354-356.

2. Moisés incentiva o povo a meditar na Palavra.

Sl 1.1 Bem-aventurado. O hebraico diz aqui, literalmente, ‘'oh, felicidade de" ou, simplesmente, “feliz”. O justo tem tanto alegria interior como felicidade exterior. Ver na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia o artigo chamado Bem- aventuranças de Jesus. Compreendemos que a alegria aqui mencionada é dada por Deus, como recompensa aos piedosos que a merecem por terem observado a lei. Presume-se que o guardador da lei seja um homem espiritual, inspirado pelo Espírito a ser bom e a praticar o bem.

Anda. Ver no Dicionário o artigo sob o título Andar, Metáfora do.
A Trilogia Negativa. Há três coisas que o homem bom não faz:
1. Ele não participa dos conselhos dos ímpios nem aceita seus conselhos; ele não adota seus planos nem seu padrão de vida. Cf. Jó 10.3 e Jer. 7.24.
2. Ele não imita os caminhos dos ímpios nem age como eles. Ele não se detém no caminho dos pecadores nem é companheiro deles.
3. Ele não se assenta junto aos zombadores. Em outras palavras, não acompanha os ímpios nos lugares onde eles se reúnem para planejar, promover e praticar atos pecaminosos e rebeldes. Ninguém encontra um homem bom em companhia de tais indivíduos. Cf. Sal. 26.4,5.
Notem-se as trilogias poéticas: andar, ficar de pé e assentar-se (para descrever os caminhos dos pecadores). Além disso, fala-se em ímpios, pecadores e escarnecedores, termos que descrevem a natureza dos ímpios.
O homem bom luta e ganha a vitória contra essas tendências viciosas, mas os ímpios se submetem voluntariamente a elas. Não me tenho assentado com homens falsos, e com os dissimuladores não me associo. Aborreço a súcia de malfeitores e com os ímpios não me assento. (Salmo 26.4,5)
Sl 1.2 Antes o seu prazer está na lei do Senhor. O vs. 1 deste salmo declara negativamente qual é o comportamento do homem bom: ele não imita os ímpios nem desfruta sua companhia. Quanto ao lado positivo, o piedoso deleita-se na lei do Senhor, o código mosaico, que é o seu manual de fé e conduta. O deleite de tal homem é a sua ocupação, conforme se lê no hebraico posterior. Ver Pro. 31.13; Ecl. 3.1,17; 8.6. O principal interesse de estudo do homem piedoso é seguir a lei mosaica. O conteúdo dessa lei, conforme visto nos salmos, é indicado em Sal. 19.7-10. Cf. Pro. 3.1-3. Ver também Sal. 119.
Medita. Esta palavra traduz um termo hebraico que indica proferir sons baixos, inarticulados, como aqueles que uma pessoa faz ao ler para si mesmo, mas não em voz alta. A palavra também é usada com o sentido de murmurar, como faz uma pomba (ver Isa. 27.14), ou como lamentam os homens (ver Isa. 16.7), ou como faz um leão ao rugir baixo (ver Isa. 31.4), ou como encantamentos sussurrados (ver Isa. 8.19). Ver no Dicionário o verbete chamado Meditação.
“Não se trata de um estudo ocasional para o homem piedoso. Antes, trata-se de seu trabalho dia e noite. Seu coração dedica-se a esse mister. É o seu emprego. Seu estudo é frequente e, de fato, perpétuo" (Adam Clarke, in loc.). “Tal meditação necessariamente envolve estudo e retenção da matéria estudada” (Allen P, Ross, in loc.).
Josué foi orientado a dar esse tipo de atenção à lei (ver Jos. 1.8). Ver também Sal. 119.97. “Isso deve ser compreendido com diligente leitura e consideração da lei, com o emprego do raciocínio e um estudo profundo... diariamente” (John Gill, in loc.). O versículo, naturalmente, exalta o lado intelectual como uma ajuda ao crescimento espiritual. As experiências místicas não representam tudo, nem são a única forma de desenvolvimento espiritual. Ver no Dicionário o artigo chamado Desenvolvimento Espiritual, Meios do. E ver também o verbete denominado Misticismo.

A Lei de Moisés - Ideias dos Hebreus:

1. A lei transmite vida. Originalmente, isso significava longa e próspera vida física (teologia patriarcal), mas nos Salmos e nos Profetas surge em cena a ideia de uma vida além-túmulo, visto que a doutrina da imortalidade da alma emergiu nessa época. Ver as notas em Deu. 4.1; 5.33; 6.2; 22.6,7; 25.15 e Eze. 20.1.
2. Israel tornou-se uma nação distintiva mediante a possessão e o uso da lei de Moisés. Ver Deu. 4.4-8. A lei era a marca distintiva de Israel, o que fazia a nação ser o que era, em contraste com os povos destituídos da lei.
3. A lei compunha-se de estatutos eternos. Não havia no judaísmo a expectação de que algum outro sistema substituiria a lei mosaica como medida justificadora e santificadora. Ver Êxo. 29.42; 31.16; Lev. 3.17 e 16.29.
4. A tríplice designação revela algo de seu caráter. Ver Deu. 6.1.
5. A possessão da lei era o âmago do pacto mosaico. Ver as notas introdutórias em Êxo. 19. A guarda do sábado era o sinal desse pacto.
6. A desobediência conduz ã morte. Na teologia patriarcal, isso significava a morte física, especialmente a morte física prematura. Porém, de acordo com o pensamento posterior dos hebreus, surgiu a noção de uma espécie de segunda morte, envolvendo a alma, embora não houvesse nenhuma doutrina acerca de recompensas para os bons e castigo para os maus. Essas doutrinas só se desenvolveram nos livros do período entre o Antigo e o Novo Testamento, ou seja, nos livros apócrifos e pseudepígrafos. As chamas do inferno foram acesas no livro de Enoque, e não no Antigo Testamento. Ver as muitas ameaças de morte em Êxo. 20, onde ameaças de sérias infrações foram lançadas. Ver também a morte pelos próprios pecados, em Deu. 25.16 e Eze. 18.20. Ver a morte pelos pecados dos pais, em Êxo. 20.5.
Caros leitores, o sistema hebreu de fé religiosa era o da justificação mediante a observância da lei, uma vez que a doutrina da alma começou a fazer parte da fé hebreia. Embora a fé fizesse parte do ensino veterotestamentário, e possamos ilustrar a graça divina a partir de certas passagens, é inútil e anacrônico forçar a justificação pela fé a entrar naquele documento. Essa foi uma contribuição do apóstolo Paulo, e, de fato, tratava-se uma nova doutrina. Até no Novo Testamento a antiga posição persistiu, como se vê no livro de Tiago, onde temos fé e obras (da lei) combinadas como a base da justificação. Ver Tia. 2.14 ss., e a controvérsia sobre o legalismo em Atos 15. Ver na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia o artigo chamado Legalismo.
Sl 1.3 Ele é como árvore. Prosperidade Espiritual e Econômica. O homem piedoso, que já prosperava espiritualmente, pelo decreto de Deus também deve prosperar economicamente. Essa era a fé constante dos hebreus, que eles mantinham mesmo quando a adversidade parecia ensinar o contrário. Portanto, o homem bom é como uma árvore que conta com um suprimento de água abundante infalível, a saber, o rio da vida que passa próximo. Alguns estudiosos pensam que este versículo significa valetas da irrigação (ver Deu. 11.10,11), uma prática empregada pelos egípcios e babilônios, mas não muito usada na Palestina. A lei de Deus controlava o que um homem fazia (Sal. 1.2) e então dava a ele bom suprimento, acima de suas expectações. Há o plantio, o cultivo e a colheita de bons frutos. Ver no Dicionário o artigo chamado Agricultura, Metáfora da, quanto a um desenvolvimento detalhado das ideias deste versículo.
Correntes de águas. No hebraico temos a expressão palgey mayim, correntes ou divisões de águas, em alusão ao costume de preparar irrigação nos países do Oriente, onde as correntes de águas são construídas pela mão humana, com base em rios e correntes de águas naturais referidas em Deu. 11.10 como a “rega da terra”. A figura é a de um lugar desértico que conta com pouca ou mesmo nenhuma água. Apesar disso, a provisão adequada contribui para a frutificação nas estações do ano apropriadas. O fruto é algo a ser esperado e produzido no tempo devido, por haver permanente provisão de água. Ver no Dicionário o artigo chamado Água, que inclui informações acerca de usos metafóricos.
Para outras comparações entre o homem bom e uma árvore, ver Sal. 52.8 (a oliveira), Sal. 128.3 (a videira); Osé. 14.6 (a oliveira e o cedro). Apresento vários artigos no Dicionário sobre Árvore.
Cf. Jer. 17.8. Ver Gál. 5.22,23, quanto ao fruto do Espirito, o que aponta para o cultivo de virtudes por parte do crente, pelo poder de Deus. Ver também Eze.
31.4 nessa conexão."... o rio do amor de Deus... a fonte das águas vivas chegadas do Líbano, para reavivar, refrescar, suprir e consolar o povo de Deus... as graças do Espírito” (John Gill, in loc.).
Sl 1.4 Os ímpios não são assim. Os ímpios, em contraste, não são comparados nas Escrituras com uma árvore bem regada e frutífera. Antes, são como a palha inútil dos campos, que o vento dispersa. O julgamento de Deus cai sobre eles, em lugar das bênçãos abundantes. Visto serem estéreis, serão eliminados. A figura, neste versículo, é o ato de trilhar as sementes. As espigas produzem seu grão, e o que resta é inútil. O vento dispersa parte da palha inútil, e os homens queimam o restante. Os homens lançam ao ar a palha, para que o grão dela se separe, e o que sobra, sendo de menor peso, é soprado pelo vento. O que cai de volta ao chão é então queimado, no tempo apropriado.
As versões da Vulgata, o etíope e o árabe duplicam aqui a negativa, como um reforço: “Não são assim os ímpios, não são”. “O ímpio nunca se mostra constante. Seus propósitos são abortados. Sua conversação é leviana, emocional e tola. Suas profissões e amizades são insignificantes, ocas e insinceras. Tanto ele quanto suas obras são levados para a destruição, pelo vento dos julgamentos de Deus” (Adam Clarke, in loc.).
Cf. Jó 21.28; Isa. 17.13; Osé. 13.3 e Mat. 3.12. “No Oriente, existem eiras em lugares altos. 0 grão trilhado é lançado ao vento para ser levado e tangido como se fosse palha” (Fausset, in loc.).
A figura simbólica denota “a ruína fácil dos ímpios que se precipita sobre eles em um único instante. Eles não podem evitar as lufadas de ar, nem podem resistir diante de Deus. Como a palha, são soprados para longe” (John Gill, in loc.).
Sl 1.5 Por isso os perversos não prevalecerão no juízo. A palavra juízo, aqui usada, não indica o julgamento para além-túmulo, em algum sentido cristão. A própria doutrina do seol (ver a respeito no Dicionário) ainda não estava bem desenvolvida quando os salmos foram escritos. Antes, o autor sagrado nos deu uma ideia geral e deixou os detalhes nas mãos de Deus. Os ímpios terminam muito mal, tanto física quanto espiritualmente. Eles não podem suportar, temporal ou espiritualmente, os julgamentos de Deus (cf. Sal. 10.3; 37.9,13,15,17,35,36). Estamos falando sobre os julgamentos divinos, prontos a cair sobre qualquer
indivíduo, e não sobre determinado dia escatológico de julgamento. Os livros pseudepígrafos e apócrifos (pertencentes ao período entre o Antigo e o Novo Testamentos) é que desenvolveram a ideia do “julgamento escatológico". O Novo Testamento levou avante o processo. As chamas do inferno foram acesas no livro de I Enoque. O julgamento escatológico será terrível, mas também remedial, e não somente retributivo (ver I Ped. 4.6). Ver, na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, o artigo intitulado Julgamento de Deus dos Homens Perdidos. Ver somente retribuição no julgamento é condescender diante de uma teologia inferior.
No ato de trilhar o grão, o trigo e a palha eram separados; e os juízos de Deus exercem esse efeito separador. Ver em Mat. 13.25 ss. como o trigo e o joio são separados um do outro, e como o joio é queimado.

Na congregação dos justos. Há um grande exagero aqui em ver o “céu” onde os justos se reúnem, mas de onde os impios são separados. A palavra “congregação”, no livro de Salmos, refere-se a “Israel”, em contraste com os pagãos. Ou então, pode referir-se aos homens fiéis que se reuniam para adorar no templo. A congregação devia ser santa (ver Núm. 16.3). Os ímpios serão excluídos dos lugares de reunião dos bons. A idéia é de “separação” para os bons. Seja onde for que os bons estiverem, os maus não estarão, quando Deus tiver julgado os homens.
Sl 1.6 Pois o Senhor conhece o caminho dos justos. 
0 conhecimento especial de Yahweh (o nome divino usado neste versículo) mantém os piedosos separados dos ímpios. Yahweh sabe com o que se parecem os homens e ameaça-os de acordo com esse conhecimento. Ele conhece o caminho dos bons e o caminho pervertido dos ímpios. O caminho dos justos conduz à vida, mas o caminho dos ímpios leva à destruição. Ver o uso que Jesus fez da metáfora dos “dois caminhos”, em Mat. 7.13,14. “... os ímpios terminam em nada, mas o Senhor recompensa os justos” (William R. Taylor, in loc.). Ver no Dicionário os artigos Caminho e Caminho de Deus, que ilustram este versículo. Ver na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia o artigo intitulado Caminho, Cristo como. Quanto aos nomes divinos, ver no Dicionário o verbete intitulado Deus, Nomes Bíblicos de, bem como o artigo separado chamado Yahweh.

Conhece. Isto é, reconhece com um discernimento cheio de discriminação e apreciação (cf. Sal. 31.7; 144.3; Êxo. 2.25; João 10.14). Assim disse Shakespeare, em seu livro intitulado As You Like it: “Sei que és meu irmão mais velho e, na gentil condição de sangue, você deveria conhecer-me” (Ellicott, in loc.).

O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel

(Provérbios 12.10)

Essa declaração ilustra a noção de que Deus conhece os que Lhe pertencem. Cf. Sal. 112.10, quanto ao conhecimento negativo de Deus. O termo “caminho” significa a atitude geral e as ações da vida de uma pessoa, o que ela é e o que ela faz. Deus tem consciência de tais coisas e age em conformidade. O vs. 6 é a conclusão do vs. 1, formando um paralelo entre a ideia de dois caminhos distintos para os bons e os ímpios, e mostrando como cada qual tem sua própria conclusão natural, de acordo com a Lei Moral da Colheita segundo a Semeadura.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2063-2065.

Um Estudo em Contraste, 1.1-6

O primeiro salmo pode ser considerado o prelúdio da coleção inteira. E bem possível que ele tenha sido composto com esse objetivo. Ele não contém um título, mas foi evidentemente escrito e conhecido antes da época de Jeremias, visto que Jeremias 17.5-8 parece ser uma paráfrase e expansão de uma parte deste salmo.
Este salmo é considerado um salmo sapiencial. Ele traça um contraste acentuado entre os justos e os ímpios que encontramos na literatura sapiencial. Ele demonstra o que tem sido chamado de “a doutrina da retribuição”. Os justos prosperam e são felizes. Os ímpios são afligidos e têm uma vida curta. No entanto, conheciam-se exceções muito claras em casos individuais a essa regra. Mas o princípio geral era aceito como verdadeiro e válido.
1. A Bênção dos Santos (1.1-3)

O homem piedoso é descrito, primeiramente, em termos do que ele não faz. Ele é bem-aventurado (1; asher) ou feliz. A LXX usa makarios, o mesmo termo grego encontrado nas Bem-aventuranças em Mateus 5.3-11.
O justo é feliz naquilo que ele não faz. A religião consiste em mais do que aspectos negativos, mas ela também inclui essa faceta. Não é possível construir um prédio sem escavação; semelhantemente, não pode haver vida santa sem renúncia do mal. A felicidade do justo consiste primeiramente no fato de que ele não anda segundo o conselho dos ímpios (hb., rashaim, os perversos). Kirkpatrick sugere que “se a noção primária da palavra hebraica rasha é inquietação (veja Jó 3.17; Is 57.20,21), a palavra expressa de uma maneira clara a desarmonia que o pecado incutiu na natureza humana, afetando o relacionamento do homem com Deus, com o próximo e consigo mesmo”.1 Nem se detém no caminho dos pecadores. A forma intensa do termo traduzido por pecadores indica que o autor tinha em mente transgressores habituais e determinados. Os escarnecedores, com frequência descritos no livro de Provérbios, são “os ímpios da pior qualidade; eles são arrogantes, briguentos, injuriosos, inimigos da paz e ordem entre os homens e em suas comunidades, e zombadores da bondade”.

Existe um progresso inequívoco aqui, descrevendo o caminho que o justo evita com todo cuidado. Anda significa uma associação casual ou passageira com aqueles que estão fora de sintonia com Deus. Detém é uma comunhão contínua com pessoas que são continuamente pecaminosas em atitudes e atos. Assenta implica que a pessoa está à vontade no meio daqueles que zombam de Deus e da religião. A pessoa justa recusa-se a dar um passo sequer em direção a esse caminho inferior.
O caráter do justo é então descrito positivamente. Uma pessoa que é verdadeiramente feliz faz o seguinte: Ela tem o seu prazer na lei do Senhor (2), o ensino ou instrução de Javé. O termo hebraico torah tem um significado muito mais amplo do que é sugerido por “lei”. Ela representa todo o caminho revelado de vida contido nos ensinos de Moisés e nos profetas e é usada paralelamente com a expressão “a palavra do Senhor”. Estes termos são virtualmente sinônimos. O termo hebraico para medita vem da raiz que sugere o murmúrio (sussurro) daquele que está estudando à meia voz as palavras de um livro. “A verdadeira felicidade não se encontra no próprio pensamento do homem, mas na vontade revelada de Deus”. O cristão é “gerado, guiado e nutrido pela Bíblia”.
Os resultados de uma vida justa são descritos por meio de símbolos conhecidos. Esse homem é como a árvore plantada junto a ribeiros de águas (3). A imagem é de uma árvore bem irrigada, favoravelmente colocada (“transplantada”, Anchor) junto a um ribeiro ou canal de irrigação, cultivada e cuidada, e, como consequência disso, frutífera. Esse não é um crescimento silvestre, que sobrevive por acaso. A menção de folhas que não caem e a abundância de água sugere que se tinha em mente uma tamareira. Nas palavras tudo quanto fizer o salmista abandona a figura da árvore e se refere diretamente ao justo. Está inferida, é claro, a ideia de que esse homem vai fazer aquelas coisas por meio das quais o Senhor o possa fazer prosperar.

2. A Carga do Pecador (1.4-6)

O pecador está em completo contraste com o justo. Os ímpios (4) são os rashaim do versículo 1. Ao contrário da árvore com raízes profundas, eles são como a moinha (palha) que o vento espalha. Esta é uma referência ao local de debulha onde a palha era batida e separada do trigo. Esse local geralmente ficava no topo de uma colina ou num lugar alto onde o vento soprava mais forte. O trigo e a palha juntos eram jogados para cima com pás. O trigo mais pesado caía no chão para então ser cuidadosamente recolhido, mas a palha leve e imprestável era levada pelo vento.
As pessoas ímpias são semelhantes à palha, sem raízes ou frutos, incapazes de subsistir no juízo (5). Os ímpios não conseguirão sobreviver ao julgamento do último dia nem ao julgamento contínuo do peneirar providencial de Deus do caráter humano. Nem resistirão os pecadores na congregação dos justos. Esses pecadores são persistentes e habituais, como no versículo 1. A congregação dos justos é o ideal bíblico para a verdadeira comunidade de fé. O propósito dos julgamentos atuais de Deus bem como do seu julgamento final no porvir (Mt 13.24-30, 36-43) é remover o mal e os malfeitores de sua Igreja.
Um resumo do contraste entre justo e ímpio no Salmo 1 pode ser observado no seu último versículo. A primeira parte do versículo 6, Porque o Senhor conhece o caminho dos justos, resume os versículos 1-3. A segunda parte resume os versículos 4-5. O Senhor conhece, não no sentido abstrato de estar ciente ou informado, mas no sentido concreto e pessoal de cuidar, aprovar, guiar e estar atento. E possível, em alguns contextos, traduzir yada, “conhecer”, por “cuidar” ou “se importar”. De modo inverso, o caminho dos ímpios perecerá, terminará em ruína, “caminhos da morte” (Pv 14.12). As primeiras e últimas palavras do salmo resumem o contraste que é traçado entre os justos e os ímpios: bem-aventurado e perecerá.

W. T. Purkiser, M. A.. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 3. pag. 113-115.

O Homem Bem-aventurado Vv. 1-3

O salmista começa com o caráter e a condição de um homem devoto, aquele que pode primeiramente experimentar o conforto que lhe pertence. Aqui está:

Uma descrição do espírito e do caminho do homem devoto, que nós mesmos devemos experimentar. O Senhor conhece aqueles que são seus por nome, mas nós devemos conhecê-los por seu caráter. Isso é agradável a um estado de provação que nós podemos estudar para responder ao caráter, que é de fato tanto a ordem da lei a que estamos sujeitos com a obrigação de obedecer quanto a condição da promessa a que nós estamos sujeitos e interessados em realizar. O caráter de um homem bom é mostrado aqui por meio das regras que ele escolhe seguir e tomai- providências. 
O que nós levamos na nossa partida e em cada volta, como guia da nossa conversa, seja no curso desse mundo ou na palavra de Deus. tem consequências materiais. Um erro na escolha do nosso padrão de conduta pode ser fatal; porém, se nós estamos bem aqui, isso significa que nós estamos no caminho justo para fazer o bem.
1. Um homem devoto que quer evitar o mal renuncia formalmente ao companheirismo dos malfeitores e não será conduzido por eles (v. 1): Ele “não anda segundo o conselho dos ímpios’’. Essa característica do seu caráter é colocada em primeiro lugar, porque aqueles que manterão os mandamentos do seu Deus devem dizer aos malfeitores: “Apartai-vos de nós” (SI 119.115) e apartar-se do mal é onde começa a sabedoria. (1) Ele vê malfeitores ao seu redor; o mundo está cheio deles; eles caminham por todos os lados. Eles são aqui descritos por três características: ímpios, pecadores e escarnecedores. 
Observe quais são os passos que os homens dão para chegar à altura da impiedade. Nemo repente fit turpissimus - Ninguém alcança o auge do vício de uma vez. Eles são primeiro ímpios, afastando-se do temor de Deus e vivendo na negligência de suas obrigações para com ele: mas lá eles não descansam. Quando os cultos são deixados de lado, eles se tornam pecadores, ou seja, eles começam uma rebelião aberta contra Deus e envolvem-se no culto ao pecado e a Satanás. As omissões abrem caminho para as comissões e assim o coração fica tão endurecido que aos poucos eles se tornam escarnecedores, isto é, eles desafiam abertamente tudo que é sagrado, zombam da religião e do pecado. Então o caminho da iniquidade é um declive; os maus tendem a piorar, os pecadores tornam-se tentadores dos outros e advogados de Baal. Aqueles que nós chamamos de ímpios são instáveis, não almejam um fim certo e caminham em suas próprias regras, e eles estão no comando de toda cobiça e por trás de cada tentação.
 Os pecadores são determinados pela prática do pecado e o praticam como se fosse o negócio deles. Os escarnecedores são aqueles que voltam as suas bocas contra o céu. Isso o homem bom vê com o coração triste; eles são uma aflição constante para a sua alma íntegra. Entretanto: (2) Ele foge deles sempre que os vê. Ele não faz como eles fazem; e por isso, ele não conversa familiarmente com eles. [1] Ele “não atida segundo o conselho dos ímpios’’. Ele não está presente em seus conselhos, nem recebe deles aconselhamento; mesmo eles sendo tão espirituosos, sutis e estudados, se eles são ímpios, não devem ser os homens do seu conselho. Ele não consente com eles, nem “consente com seus atos” (Lc 23.51). Ele não consente com eles, nem “consente no conselho deles” (Lc 23.51). Ele não toma os princípios deles como parâmetro, nem age segundo os conselhos que eles dão e pedem. Os ímpios têm a tendência de dar seus conselhos contra a fé e isso é gerenciado de forma tão astuciosa que nós temos motivos para ficarmos felizes se conseguirmos evitar ser corrompidos e enlaçados por isso. [2] Ele “nem se detém no caminho dos pecadores'’; ele evita agir como eles agem; o caminho deles não deve ser o caminho do crente; ele não herdará isso, muito menos dará continuidade a isso, como faz o pecador, que “põe-se evi caminho que não é bom” (SI 36.4). 
Ele evita (o quanto pode) ser como eles são. Ele não pode imitá-los, ele não se associará a eles, nem os escolherá para companhia dele. Ele não fica no caminho deles para ser escolhido por eles (Pv 7.8), mas permanece longe deles como de um lugar ou indivíduo infectado por uma peste, por medo de contágio (Pv 4.14,15). Aquele que quer se manter longe do mal deve se afastar do caminho do mal. [31 Ele “nem se assenta na roda dos escarnecedores”; ele não descansa com aqueles que se firmam em sua loucura e se satisfazem com a sequidão de suas consciências. Ele não se relaciona com aqueles que se sentam a fim de fazer intriga, para descobrir maneiras e sentidos de apoiar e promover o reino do diabo, ou que fazem um julgamento aberto e direto para condenar a geração dos justos. O assento dos bêbados é “a canção dos bebedores de bebida forte” (SI 69.12). Feliz é o homem que nunca se assenta com eles (Os 7.5).

2. Um homem devoto e que faz aquilo que é bom e fiel, submete-se à orientação da palavra de Deus e se familiariza com ela (v. 2). E isso que o mantém longe do caminho do ímpio e o fortifica contra as tentações. “Pela palavra dos teus lábios me guardei das veredas do destruidor” (SI 17.4). Nós não precisamos cortejar a sociedade dos pecadores, nem por prazer, nem por superioridade, quando nós temos sociedade com a palavra de Deus e com o próprio Deus, pela sua palavra. “Quando acorda res, falará contigo” (Pv 6.22). Nós devemos julgar nosso estado espiritual com a pergunta: “O que a lei de Deus é para nós? O que nós devemos fazer dela? Que lugar ela tem em nossa vida?” Veja aqui: (1) Toda afeição que um homem bom tem pela lei de Deus: tem o seu prazer nela. Ele tem prazer nela, mesmo sendo uma lei, uma regra, porque é a lei de Deus, que é santa, justa e boa, e que ele consente livremente seguir e tem então prazer nela, “segundo o homem interior" (Rm 7.16,22). Todos aqueles que estão satisfeitos por existir um Deus devem estar satisfeitos pela existência da Bíblia, a revelação de Deus, da sua vontade e do único caminho para a felicidade nele. (2) O conhecimento íntimo que um homem devoto tem com a palavra de Deus: “na sua lei medita de dia e de noite”-, e assim seu prazer parece estar nela, pois nós amamos pensar naquilo que amamos (SI 119.97). 
Meditar na palavra de Deus é aprofundar nosso entendimento sobre os grandes temas contidos nela, com uma aplicação imediata, uma fixação de pensamento, até que nós estejamos adequadamente influenciados por tais conteúdos e experimentemos o seu sabor e poder em nosso coração. Isso nós devemos fazer “de dia e de noite”-, nós devemos ter um hábito constante de respeitar a palavra de Deus como o regulamento das nossas ações e a libertação do nosso conforto e, consequentemente, nós devemos tê-la em nossos pensamentos, em qualquer situação da vida, seja dia ou noite. 
Não há tempo inadequado para meditar na palavra de Deus, nem estação imprópria para tais meditações. Nós não apenas devemos nos voltar para a meditação na palavra de Deus de manhã e à tarde, ao nascer do dia e da noite, mas esses pensamentos devem se entremear com os assuntos e conversas de todos os dias e com o repouso e descanso de todas as noites. Ao acordarmos eles ainda estarão em nossa mente e coração.
nUma garantia é dada no que diz respeito à felicidade do homem devoto, o que deveria nos encorajar a seguir o seu caráter. 1. Em geral, ele é abençoado (SI 5.1). Deus o abençoa e tal bênção o fará feliz. bem-aventuranças, bênçãos de todos os tipos, superiores e inferiores, são suficientes para fazê-lo completamente feliz; nenhum dos ingredientes da felicidade deve lhe faltai-. 
Quando o salmista responsabiliza-se por descrever um homem abençoado, ele descreve um homem bom; pois apesar de tudo eles só são felizes, verdadeiramente felizes, se forem santos, verdadeiramente santos; e nós estamos mais preocupados em conhecer o caminho para a felicidade do que em conhecer em que consiste tal felicidade. Não, a bondade e a santidade não são apenas o caminho para a felicidade (Ap 22.14), e sim a felicidade em si; supondo que não existisse vida eterna, o homem feliz seria aquele que se mantém no caminho dos seus deveres. 2. Sua bem-aventurança é aqui ilustrada com uma comparação (v. 3): ele será como a árvore, frutífera e florida.

 Este é o efeito: (1) Da sua prática piedosa; ele medita na lei de Deus, tornando-a in succum et sangui- nem - suco e sangue, e isso faz dele parecido com uma árvore. Quanto mais nós meditamos na palavra de Deus, mais munidos nós estamos para toda a boa obra e trabalho. Ou: (2) Da bênção prometida; ele é abençoado pelo Senhor e, portanto, ele será como a árvore. A bênção divina produz efeitos reais. Esta é a felicidade de um homem devoto:
 [1] Que ele é plantado pela graça de Deus. Essas árvores são por natureza oliveiras selvagens, e continuarão assim até que sejam plantadas novamente, mas plantadas por um poder do céu. Nunca uma árvore cresce por si só; ela é a. plantação do Senhor, e por isso Ele deve ser glorificado (Is 61.3). 
[2] Que ele é plantado pelos meios da graça, chamados aqui de ribeiros de águas, aqueles rios que “alegram a cidade de Deus” (SI 46.4); daí um homem bom recebe suprimentos de força e vigor, mas de maneira secreta e desapercebida. 
[3] Que as suas práticas frutificarão, ficando cheias de boas considerações (F1 4.17). Para aqueles a quem Deus primeiramente abençoou, ele disse: “frutificai” (Gn 1.22), e assim o conforto e a honra da fecundidade são uma recompensa pelo seu trabalho árduo. Espera-se daqueles que desfrutam das misericórdias da graça que, tanto no temperamento das suas mentes quanto no sentido das suas vidas, eles cumpram as intenções de tal graça e produzam frutos. E espera-se, para o louvor do grande adornador da videira, que eles produzam seus frutos (o que é requerido deles) na devida estação, quando eles são mais belos e de maior utilidade, aproveitando cada oportunidade de fazer o bem e fazê-lo no tempo certo. 
[4] Que a sua profissão deve ser preservada de ser manchada e sacrificada: suas folhas não caem. Para aqueles que trazem apenas as folhas da profissão, sem qualquer bom fruto, até mesmo as suas folhas secarão e eles ficarão envergonhados de sua profissão, como um dia tiveram orgulho dela; todavia, se a palavra de Deus governa o coração, isso manterá a profissão vicejante, para o nosso conforto e para o nosso crédito; desse modo, os louros conquistados nunca secarão. 
[5] Que a prosperidade está presente aonde quer que ele vá, prosperidade de alma. O que quer que ele faça, conforme a lei, prosperará, conforme o seu pensamento ou acima do que esperava.
Ao cantar esses versos, e considerar que somos afetados pela natureza maligna e perigosa do pecado, e pensar nas excelências da lei divina e no poder e na eficácia da graça de Deus, através da qual o nosso fruto é produzido, nós devemos advertir uns aos outros a vigiar contra o pecado e evitar toda aproximação em direção a ele, além de meditar muito na palavra de Deus e ter fartura do fruto da retidão; e ao orar por isso, nós devemos buscar a Deus e suplicar a sua graça, para nos fortalecer contra cada palavra e obra má e para nos conceder palavras e ações boas.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 215-217.


O caminho da vida.

A palavra “Feliz”, ou “A felicidade de . . .!” é preferível a Bem-aventurado, para o qual existe uma palavra separada. Tal foi a exclamação da Rainha de Sabá em 1 Rs 10:8, e a expressão se ouve vinte e seis vezes no Saltério.1 Este salmo continua, mostrando a escolha sóbria que é a base disto. O Sermão da Montanha, empregando a palavra correspondente em grego, futuramente acrescenta uma exposição ainda mais radical.
Conselho, caminho e roda (ou “assembleia” ou “habitação”) chamam a atenção aos setores do pensamento, da atividade e do pertencer; é neles que a escolha fundamental da lealdade da pessoa é feita e levada a efeito. Isto é corroborado pela indicação de um elemento decisivo no tempo dos verbos hebraicos (o perfeito). Seria atribuir demais a estes verbos tirar moral daquilo que parece ser um processo de diminuição da velocidade, do andar para o sentar-se, pois a viagem estava na direção errada, entre outras coisas. Certamente, porém, as três frases completas mostram três aspectos, e, realmente, três graus, de separação de Deus, ao retratarem a conformidade a este mundo em três níveis diferentes: a aceitação dos seus conselhos, a participação dos seus costumes, e a adoção da sua atitude mais fatal — isto porque os zombadores, se não forem os mais escandalosos dos pecadores, são os mais distanciados do arrependimento (Pv 3:34).

2. Os três negativos prepararam o caminho para aquilo que é positivo, e que é sua verdadeira função e o valor de seu duro corte. (Mesmo no Éden, Deus deu ao homem uma negativa, a fim de lhe permitir o privilégio de uma escolha decisiva.) A mente era o primeiro baluarte a ser defendido, conforme v. 1, e ela é tratada como chave ao homem inteiro. A lei do Senhor se coloca em oposição ao “conselho dos ímpios” (1), ao qual, em última análise, é a única resposta. O salmo se restringe a desenvolver este tema único, dando a entender que aquilo que realmente molda o pensamento do homem molda a sua vida. Isto se ilustra de modo conveniente no salmo seguinte, onde a palavra “imaginam” (2:1b) é a mesma que aqui se traduz “medita”, com resultados que se seguem dos tipos de pensamento muito diferentes que ali se acalentam.
No versículo aqui tratado, o eco deliberado da exortação dirigida a Josué lembra ao homem de ação que o convite a pensar seriamente a respeito da vontade de Deus não é meramente para o recluso: é o segredo de conseguir qualquer coisa que valha a pena (cf. bem sucedido, neste salmo, com Js 1:8). Lei (tôrâ) significa, basicamente, “direção” ou “instrução”; pode se confinar a um único mandamento, ou pode se estender às Escrituras inteiras, como neste caso. 3. Com este quadro atraente, que forma com o v. 4 a parte central do salmo, compare a passagem mais detalhada de Jr 17:5-8. A frase no devido tempo, dá o seu fruto ressalta o aspecto distintivo e o crescimento silencioso do produto. Isto porque a árvore não é mero canal, levando a água de um lugar para outro, sem alterá-la. Pelo contrário, é um organismo vivo que a absorve, para produzir, no devido tempo, algo que ê novo e agradável, próprio do seu tipo e estação. A promessa de que a folha fica imune ao murchar não é independência do ritmo das estações (cf. a linha anterior, e ver sobre 31:15); é o livramento dos danos aleijantes da seca (cf. Jr 17:8b).

Derek Kidner. Salmos. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 62-64.

3. Moisés vê a Terra Prometida e morre.
A Morte de Moisés

A Bíblia diz que quando Moisés faleceu, ele estava com 120 anos, que era uma idade já bem longeva para os padrões da época, conforme depoimento do próprio Moisés (SI 90.10). Não obstante, “os seus olhos nunca se escureceram, nem perdeu ele o seu vigor” (Dt 34.7).
O último capítulo de Deuteronômio, que é o único capítulo do Pentateuco que não foi escrito por Moisés, registra que, após a morte do legislador de Israel, o reconhecimento e o amor do povo era tão grande por ele que “os filhos de Israel prantearam a Moisés trinta dias, nas campinas de Moabe” (Dt 34.8).
O relato que Flávio Josefo, historiador judeu do primeiro século d.C., faz das reações do povo de Israel e do próprio Moisés por ocasião de sua despedida, conforme a tradição que havia sido passada aos judeus até os dias do célebre historiador, é extremamente tocante. Claro que, eventualmente, pode haver um ou outro exagero aqui e acolá nesse relato, mas não se pode duvidar que muito dessa narrativa, que reproduzimos a seguir e que atravessou gerações, é carregado de verdade. Vale a pena lê-la:
Depois que Moisés assim lhes falou, predisse a cada uma das tribos o que lhes deveria acontecer e desejou-lhes mil bênçãos. Toda essa enorme multidão não pôde por mais tempo reter as lágrimas; homens e mulheres, grandes e pequenos, demonstraram igualmente sua pena por perder um chefe tão ilustre; não houve nem mesmo criança que não derramasse lágrimas; sua eminente virtude não podia ser ignorada nem mesmo pelos dessa idade. As pessoas sensatas, umas deploravam a gravidade de sua perda para o futuro e outras queixavam-se de não terem compreendido bastante que felicidade era para ele ter um tal chefe e guia e serem privados dele quando o começavam a conhecer.
Nada, porém, demonstrou até que ponto chegava sua aflição como o que aconteceu a esse grande legislador. Pois ainda que ele estivesse persuadido de que não era necessário chorar à hora da morte, pois ela vem por vontade de Deus e por uma lei indispensável da natureza, ele, no entanto, ficou tão comovido pelas lágrimas de todo o povo que ele mesmo não pôde deixar de chorar. Caminhou depois para onde deveria terminar a vida e todos seguiram-no gemendo. Ele fez sinal com a mão aos que estavam mais afastados para que parassem e rogou aos que estavam mais próximos que não o afligissem mais ainda seguindo-o com tantas demonstrações de afeto. Assim, para obedecer, eles pararam e todos, juntamente, lamentavam sua infelicidade por tão grande perda.

Os senadores [anciãos], Eleazar, o grão-sacrificador [sumo sacerdote], e Josué, o comandante do exército, foram os únicos que o acompanharam. Quando ele chegou ao monte Nebo, que está em frente a Jericó, tão alto que de lá se vê todo o país de Canaã, despediu-se dos senadores [anciãos], abraçou a Eleazar e Josué, e deu-lhes seu último adeus. Ainda ele falava quando uma nuvem o rodeou e ele foi levado a um vale. Os livros santos que ele nos deixou dizem que morreu porque temia que não se acreditasse que ele ainda estaria vivo, arrebatado ao céu, por causa da sua eminente santidade. Faltava somente um mês para que, dos cento e vinte anos que viveu, ele passasse quarenta no governo de todo esse grande povo, cuja direção Deus lhe havia confiado. Ele morreu no primeiro dia do último mês do ano, que os macedônios chamam Dystros e os hebreus, Adar.
Jamais homem algum igualou em sabedoria a este ilustre legislador, jamais alguém soube, como ele, tomar sempre as melhores resoluções e tão bem pô-las em prática; jamais algum outro se lhe pôde comparar na maneira de tratar com um povo, governá-lo e persuadido, pela força de suas palavras. Sempre foi tão senhor de suas paixões que parecia até que delas havia sido isento e que as conhecia apenas pelos efeitos que via nos outros. Sua ciência na guerra pôde dar-lhe um lugar entre os maiores generais e nenhum outro teve o dom de profecia em tão alto grau; suas palavras eram outros tantos oráculos, e parecia que o próprio Deus falava por sua boca. O povo chorou-o durante trinta dias e nenhuma outra perda lhe foi jamais tão sensível. Mas ele não foi chorado somente por aqueles que tiveram a felicidade de o conhecer, mas também por aqueles que conheceram as leis admiráveis que ele nos deixou, porque a santidade que nelas se nota não pode permitir dúvidas sobre a eminente virtude do legislador.

Não sabemos onde a sepultura de Moisés se encontra — aliás, ninguém sabe, desde aquela época (Dt 34.6b) até hoje. A única informação é que Deus mesmo o sepultou “num vale, na terra de Moabe, defronte de Bete-Peor” (Dt 34.6a). Deus fez com que sua sepultura nunca fosse encontrada para que, provavelmente, não se criasse uma idolatria e romaria em torno do túmulo de seu servo. O apóstolo Judas nos fala da altercação do arcanjo Miguel com Satanás sobre o corpo de Moisés (Jd 9). Não sabemos o porquê do interesse de Satanás pelo corpo de Moisés, mas a tradição judaica afirma que tal altercação se deu porque Satanás sustentava que Moisés não era digno de um sepultamento decente, ainda mais feito pelo próprio Deus, por ter sido um homicida em sua juventude (Ex 2.11,12). Miguel, que guardava o corpo de Moisés, apenas lhe respondeu: “O Senhor te repreenda”.

O exemplo de Moisés como líder e homem de Deus nunca será esquecido. Sobretudo pelos últimos quarenta anos de sua vida, ele sempre será lembrado como um exemplo de fé, vida de santidade, seriedade, liderança, sabedoria, paciência, fidelidade ao chamado divino e vida dedicada totalmente ao Senhor.Como escreveu o autor da Epístola aos Hebreus, referindo-se à nossa responsabilidade hoje diante do que fizeram os grandes heróis da fé do Antigo Testamento, dentre eles Moisés (Hb 11.23-29), “nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas [os heróis da fé do Antigo Testamento], deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé” (Hb 12.1,2). Amém!

COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 154-157.

Morte e Sepultamento de Moisés (34.1-12)

“Este capítulo reinicia a história desde 0 fim do livro de Números, depois do discurso deuteronômio de Moisés ao povo de Israel. Estão envolvidas aqui duas tradições acerca do lugar onde Moisés teria morrido: 0 Monte Nebo, na Transjordânia, a leste da cidade de Jericó; e 0 Monte Pisga, um pico que existe na mesma serra montanhosa, ligeiramente para oeste. Daquela grande altura, Moisés olhou para 0 norte, na direção do Mar da Galiléia (área que ficou com as tribos de Dã e Naftali); para 0 ocidente, na direção do Mar Grande (ou Mediterrâneo); para 0 sul, na direção do Neguebe (deserto sul de Judá); e na direção do vale do rio Jordão, até Zoar (localizada no extremo sul do Mar Morto; ver Gên. 14.2). Yahweh sepultou secretamente 0 corpo de Moisés. Cf. Núm. 27.18- 23. Quanto ao parecer de que Moisés foi 0 maior de todos os profetas de Israel, cf. Deu. 18.15-22; Núm. 12.6-8; Osé. 12.13" {Oxford Annotated Bible, em comentário que cobre todas as ideias constantes neste capítulo).

É provável que essa conclusão, que sem dúvida não foi escrita por Moisés, tenha sido extraída da edição editorada do livro, feita por algum sacerdote. Os críticos identificam essa autoria com J. e E. Ver no Dicionário o verbete intitulado J.E.D.P.(S.), quanto à teoria das fontes informativas múltiplas do Pentateuco. O editor do livro de Deuteronômio, presumivelmente, tomou essa fonte informativa e a adaptou, a fim de formar o seu livro. Alguns críticos veem nesta conclusão alguns toques da fonte informativa P, conforme se vê em Deu. 34.1a, 5b e os vss. 7-9.
Dt 34.1 Então subiu Moisés das campinas de Moabe. Era nessa planície que 0 povo de Israel estava acampado, preparado para invadir a terra de Canaã. A narrativa, abandonada no fim do livro de Números, reinicia-se aqui, uma vez terminados os discursos deuteronômios (que constituem essencialmente o livro) de Moisés. 
Ver Núm. 36.13, último versículo do livro de Números, onde lemos que o povo de Israel estava nas campinas de Moabe. Isso posto, Moisés deixou o acampamento e partiu na direção do Monte (Nebo ou Pisga), que dava de frente para a cidade de Jericó. Todos os nomes próprios que aparecem neste versículo são anotados no Dicionário. É óbvio que os dois montes ou picos mencionados não são um só; mas os intérpretes, a fim de evitar a idéia de discrepância, ou a fim de evitar afirmar que o editor incluiu duas tradições diversas em seu livro, deram a entender que Pisga deve ter sido um pico da serra que se estendia desde o Monte Nebo, de tal modo que o local podia ser chamado Nebo ou Pisga.
Fosse como fosse, daquele elevado pico, Yahweh mostrou a Moisés toda a Terra Prometida, apontando-lhe trechos, em diversas direções. Alguns estúdiosos, procurando envolver a Terra Prometida inteira nessa contemplação feita por Moisés, supõem que ele tenha tido uma visão sobrenatural, havendo observado, literalmente, tudo. Mas essa é uma interpretação tão exageradamente literal que chega a ser desonesta.
A narrativa começa dizendo que Moisés olhou na direção oeste, para então, acompanhando um movimento anti-horário, mencionar áreas em cada uma das outras direções do compasso, ou seja, norte, oeste e sul.
Quem Teria Sido 0 Autor da Conclusão do Livro? As tradições judaicas apontam para nomes como Josué, os setenta anciãos ou Esdras. Mas é inútil toda tentativa que fizermos para determinar quem teria sido esse autor. Algum editor que desconhecemos fez essa adição, ou, conforme alguns dizem, esse editor foi o mesmo que compilou o livro inteiro, incorporando materiais escritos deixados por Moisés.

Dt 34.2 Todos os nomes próprios que figuram neste versículo são comentados no Dicionário. Moisés começou a ver a Terra Prometida olhando para o leste, e então, seguindo o movimento anti-horário, foi contemplando aquelas partes da Terra Prometida que ficavam nas direções gerais norte, oeste, sul, na ordem dos territórios mencionados, isto é, Naftali, Manassés e Judá.
Até ao Mar ocidental. Temos aí o Mar Mediterrâneo. A partir de onde Moisés se achava, esse Mar ficava nas direções noroeste, oeste e sudoeste da Terra Prometida. Moisés não poderia ter vistoo0 Mediterrâneo se estivesse no Monte Nebo; mas o autor não se incomodou com esse detalhe. No entanto, é inútil falar em visão sobrenatural nessa oportunidade.

Dt 34.3 Ao olhar na direção sul, Moisés poderia ter visto as cidades de Jericó e Zoar, nomes locativos que aparecem no Dicionário. Ver Gên. 14.2; 19.22,23. Zoar, mui provavelmente, ficava localizada na extremidade sul do Mar Morto, em um trecho atualmente coberto pela água. Das cinco cidades da planície, Zoar era a que ficava mais ao sul, conforme lemos em Gên. 14.2. O “Neguebe” é a mesma coisa que dizer “sul”. Ver no Dicionário 0 verbete intitulado Neguebe. Este era 0 deserto que ocupava a porção sul do território de Judá.
Cidade das palmeiras. Temos ai uma marca distinta de Jericó, confirmada por Plínio (Hist. Natural 1.5, cap. 14) e por Diodoro Sículo (Biblioteca 1.2, par. 132). Estrabão ajuntou a isso que Jericó ficava situada em uma planície circundada por montes, e nela havia muitas palmeiras (Geografia, 1.16, par. 525).
Dt 34.4 Esta é a terra. Em outras palavras, toda a Palestina, o território que Yahweh havia prometido dar a Abraão e aos demais patriarcas, Isaque e Jacó, e que agora era entregue aos descendentes deles. Essa era uma das provisões do Pacto Abraâmico (ver notas em Gên. 15.18).
Moisés Pôde Contemplar a Terra, Mas Não Pôde Entrar Nela. Isso por ser ele o símbolo da lei, ao passo que Josué, que liderou os hebreus na invasão da Terra Prometida, foi símbolo de Jesus e do sistema da graça-fé, do Novo Testa- mento. Quanto às razões pelas quais Moisés não teve permissão de entrar na Terra Prometida, ver as notas detalhadas em Núm. 20.12; Deu. 1.37; 3.23,26 e 4.21. Essas notas oferecem os tipos envolvidos. Ver a terra foi uma espécie de consolação para um perdedor.
A Terra Prometida havia sido assegurada a Abraão (Gên. 15.18), a Isaque (Gên. 26.3), a Jacó (Gên. 28.13) e, daí por diante, ao povo hebreu.
Dt 34.5 Assim morreu ali Moisés. Por ocasião de sua morte, Moisés estava com cento e vinte anos de idade. Ver Deu. 31.2 e 34.7. Ele passou por três períodos distintos de quarenta anos cada: missão especial: quarenta anos no Egito; qua- renta anos no interior do deserto, em Mídiã; e quarenta anos em perambulações pelo deserto, junto com 0 povo de Israel. Ver no Dicionário os verbetes chamados Quarenta e Número (Numeral, Numerologia). Neste último artigo, damos os senti- dos dos números que aparecem na Bíblia, especificamente o número quarenta. Ver também os artigos Morte e Mortos, Estado dos. O texto à nossa frente nada diz sobre a vida além-túmulo, pois esta foi uma doutrina que só começou a fazer parte da fé dos hebreus nos dias dos Salmos e dos Profetas, mas esperou até o período intertestamentário, ou seja, o período de quatrocentos anos entre o Antigo e o Novo Testamentos nos livros apócrifos e pseudepígrafos.
Teólogos judeus posteriores, pois, devem ter injetado essa crença no texto que ora examinamos, e alguns deles chegaram a conferir a Moisés uma ascensão ou arrebatamento (como sucedeu a Elias), contra a clara afirmativa de que Moisés morreu.
Mas sabemos que Moisés estava sendo amparado pelos braços eternos (ver Deu. 33.27), e agora Moisés é um espírito desincorporado, que continua vivo.
Segundo a palavra do Senhor. Ou seja, em harmonia com a predição divina, que não havia sido dita muito tempo antes (ver Deu. 31.2). Essa declaração também pode significar que a morte de Moisés não ocorreu por motivo de idade avançada, enfermidade ou acidente, e, sim, de acordo com a palavra que fora dita pelo Senhor, fazendo com que a alma de Moisés saísse de seu corpo e deixasse o corpo físico a fim de ser sepultado. Seja como for, o fato é que a morte de Moisés ocorreu de acordo com a vontade de Deus, sendo que o momento, o lugar e as circunstâncias haviam sido todos determinados por Deus.
Dt 34.6 Este o sepultou num vale. A frase também tem sido traduzida na voz passiva: “Este foi sepultado em um vale”. As tradições judaicas indicam que Yahweh se fez presente ao sepultamento de Moisés. O trecho de Judas 9 pode significar que foi 0 arcanjo Miguel que sepultou o corpo de Moisés. Esse versículo representa um empréstimo feito da tradição dos livros pseudepígrafos. Dou completas informações sobre essa questão no Novo Testamento Interpretado, in loc.
O autor sacro fornece-nos o local aproximado do sepultamento de Moisés, em algum ponto do território de Moabe, no vale defronte de Bete-Peor (ver a respeito no Dicionário). Foi ali que os israelitas se acamparam, quando Moisés lhes deu as instruções e as bênçãos que ficaram registradas nos capítulos 5 a 22 de Deuteronômio. Ver especificamente Deu. 3.29 e 4.46.
Moisés viveu uma vida especial, e foi-lhe conferido um sepultamento especial. E podemos ter certeza de que ele ocupa um lugar especial no céu.

Dt 34.7 Tinha Moisés a idade de cento e vinte anos.

 Este versículo reitera a informação que já nos havia sido dada em Deu. 31.2. Moisés morreu com cento e vinte anos de idade. Ver minhas notas, no quinto versículo deste capítulo, quanto aos três ciclos de quarenta anos da vida de Moisés. Embora estivesse com tão avançada idade, Moisés não morreu devido aos efeitos de um corpo físico desgastado; nem morreu por motivo de enfermidade. De alguma forma, a sua juventude foi preservada até o fim, comparativamente falando. Ver Deu. 31.2 e suas notas expositivas quanto ao fato de que Moisés estava “sentindo a sua idade”, não sendo mais capaz de fazer o que sempre havia feito. Não obstante, ele se encontrava em um notável estado de saúde.
Nem se lhe abateu 0 vigor. No hebraico, a palavra traduzida aqui por “vigor” aparece somente neste versículo, embora termos cognatos, em outros trechos, possam ser traduzidos por “frescor”, “umidade” etc., sempre usados acerca de madeiras ou de árvores. Ver Gên. 30.37; Núm. 6.3; Eze. 17.24. Essa palavra também é usada para indicar cordas verdes, ou seja, não-ressecadas, conforme se vê no caso da corda com que Sansão foi amarrado (ver Juí. 16.7,8). Até mesmo a visão deficiente, que aflige a maioria das pessoas de idade avançada, não constituía problema para Moisés, até 0 fim de sua vida, um detalhe que nos assegura suas boas condições gerais de saúde.

Por conseguinte, ocorreu com Moisés aquilo que foi dito como uma bênção especial:"... como os teus dias, durará a tua paz” (Deu. 33.25).
Dt 34.8 Prantearam a Moisés por trinta dias. Seguiu-se um período de luto e de lamentações por Moisés, durante trinta dias, do qual participou todo 0 povo de Israel. O período de trinta dias de lamentações por um morto estava de acordo com os costumes da época. Ver Gên. 50.10 e Núm. 20.29. Moisés tinha morrido e desaparecido. Ao que tudo indicava, ele havia “terminado”. E no entanto, séculos mais tarde, ele foi capaz de aparecer, juntamente com Elias, por ocasião da transfiguração do Senhor Jesus (Mat. 17.1-3). Achamos nesse fato o triunfo do espírito. As tradições judaicas procuram ornamentar a narrativa, dizendo-nos que esse período começou no mês de nisã (equivalente ao nosso mês de março), ao oitavo dia; no nono dia, eles prepararam o seu equipamento para começar a marcha; no décimo dia eles atravessaram o rio Jordão; e no décimo sexto dia o maná deixou de cair, e assim o povo de Israel entrou em uma nova fase de sua existência. Detalhes como esses podem ser interessantes, mas não têm nenhum valor histórico.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 890-891.

Dt 34.5, 6. Moisés provavelmente estava acompanhado na hora de sua morte, ou então alguém chegou pouco depois dela acontecer, porque ele foi enterrado na montanha. A expressão Este o sepultou poderia ser traduzida “alguém o sepultou”, i.e. ele foi enterrado. O contexto sugere que foi o próprio Javé quem o sepultou, embora, sem dúvida, Ele tenha tido agentes. Talvez a segunda frase e ninguém sabe até hoje o lugar da sua sepultura tenha o propósito de cercar seu sepulcro com uma aura de mistério, embora este pareça estar definido em termos gerais na expressão num vale, na terra de Moabe, defronte de Bete-Peor. O lugar é evidentemente o mesmo vale em que Israel se reuniu para ouvir os últimos discursos de Moisés (3:29; 4:46).
Dt 34.7. A idade de Moisés, cento e vinte anos, é três vezes quarenta anos. Sua vida se divide em três períodos de quarenta anos e nisto pode haver significado simbólico. Quarenta anos era a duração de uma geração, de modo que Moisés viveu por três gerações.
As condições de saúde de Moisés por ocasião de sua morte são descritas de maneiras variadas. Assim, em 31: 2 ele aparece dizendo: Sou hoje da idade de cento e vinte anos. Já não posso sair e entrar. A expressão aqui utilizada é não se lhe escureceram os olhos, nem se lhe abateu o vigor, i.e. sua visão era perfeita e sua força física inalterada. O termo empregado para “vigor” (leah) e o termo paralelo lah são usados para descrever madeira verde (Gn30: 37; Nm 6: 3; Ez 17: 24) e cordas recém-trançadas (Jz 16: 7, 8). O termo cognato em línguas semíticas relacionadas significa “fresco”, “úmido”. Em ugarítico (Cananita) o substantivo significa “força vital” e é contrastado com a fraqueza demonstrada na morte. Daí o termo parece denotar, em sentido metafórico, “vigor”, “energia”. O quadro diante de nós é uma típica visão idealizada dos fatos, característica do Oriente Próximo. Sem sombra de dúvida Moisés, mesmo na velhice, era um homem de grande vigor.
As observações em 34: 7 e 31: 2 não devem ser consideradas uma contradição. Há numerosas expressões no Velho Testamento que têm sentido metafórico, e.g. “uma terra que mana leite e mel” (6: 3; 11:9; 26: 9; 27: 3; 31: 20), que parece indicar que a terra tinha recursos alimentares abundantes. De igual modo, “cidades grandes e fortificadas até os céus” (1: 28) era uma expressão indicadora de cidades com altas muralhas. Assim, as expressões não se lhe escureceram os olhos e não se lhe abateu o vigor, quaisquer que sejam seus significados literais, devem ser consideradas figuras de linguagem, cujo sentido exato não nos é claro. Talvez signifiquem que, para um homem de sua idade, Moisés retivera sua capacidade física de maneira admirável, mesmo que já não fosse capaz “de sair e entrar” (mesmo esta expressão é uma figura de linguagem).
Por outro lado, poderiam significar algo como “ele enfrentou a morte triunfantemente e em plena posse de suas faculdades”.
Dt 34.8. O povo o pranteou por trinta dias nas planícies de Moabe, onde fora enterrado (cf. Nm 20:29, o pranto por Arão).

J. A. Thompson. Deuteronômio. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 305-306.

A Morte de Moisés (34.1-8)

Chegou a hora de Moisés morrer, mas ele não subiu ao monte apenas para isso. Em primeiro lugar, foi-lhe mostrada a Terra Prometida. Do monte Nebo (1), do topo da cordilheira serrilhada ou pisga7 das montanhas a leste de Jericó, “está em panorama a parte principal do oeste da Palestina”.8 Toda a terra foi mostrada a Moisés, e não somente parte dela (1-3). A Oeste, ele viu Judá, até ao mar último (2; o “mar ocidental”, ARA; i.e., “o mar Mediterrâneo”, NTLH). Ao Sul estava Jericó, famosa por suas palmeiras até Zoar (3). Esta era a terra prometida aos patriarcas, e Moisés estava vendo a por inteiro. Daube, com base em analogia legal, propõe que no pensamento hebraico olhar era símbolo de aquisição, por cujo ato a propriedade se tornava legalmente, senão de fato, de quem olhava (cf. Gn 13.14,15). Desta forma, Moisés estava aceitando de Deus a propriedade da Terra Prometida em nome de todo o povo de Israel. Mas isto só acrescenta sentimento de aflição à tragédia inevitável da situação. Ele a vê, mas nunca a possuirá de verdade. Por causa de pecado próprio, embora ocasionado pelo pecado de outrem (3.24-29), ele foi permanentemente excluído. Assim, morreu... Moisés, servo do SENHOR (5) até à morte, e foi enterrado em sepultura desconhecida (6). Ninguém vai adorar junto ao túmulo do mediador do antigo concerto nem do Mediador do novo. O registro bíblico enfatiza que, apesar de idade avançada, seus olhos nunca se escureceram (7). Esta observação reforça que ele viu a terra em sua totalidade e, assim, entrou em plena posse legal. A frase: Nem perdeu ele o seu vigor, dá a entender que sua morte não foi natural, mas ocorreu conforme o dito do SENHOR (5). O versículo 8 registra o período de trinta dias de luto oficial.
Jack Ford; A. R. G. Deasley. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 492.
fonte www.mauricioberwaldoficial.blogspot.com

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