A Coragem da Fé (11.23)
Foi a fé que capacitou Anrão e Joquebede a esconder Moisés, já nascido [...] três meses [...] porque viram que era um menino formoso; e não temeram o mandamento do rei (Ex 2.2ss). A ordem era que cada infante masculino fosse lançado no rio (Ex 1.22). Mas os pais perceberam que este menino era formoso, i.e., bonito. O adjetivo principesco ou magnífico transmite melhor a ideia do original. Todos os pais têm orgulho de seus filhos e acham que são especiais; há uma dica aqui, no entanto, de uma percepção profética de que esta criança tinha um destino especial. Esta visão e fé deram aos pais a coragem de crer que Deus os ajudaria a frustrar a ordem do rei. Eles não temeram (lit., não estavam apavorados ou intimidados). Quando o bebê se tornou tão barulhento aos três meses que se tornou impossível manter a sua presença em segredo, prepararam um berço flutuante e designaram sua irmã maior a cuidar do menino. Em vez de lançá-lo no rio, eles o colocaram sobre o rio, crendo que se Deus tinha um plano especial para Moisés, Ele poderia de alguma forma preservá-lo. E Ele o fez, de tal forma que se tornou uma história mais interessante do que as melhores histórias de ficção.
A Escolha da Fé (11.24-26)
Os primeiros anos, normalmente, são mais importantes do que os anos posteriores na vida da criança. Felizmente, a mãe de Moisés esteve com ele quando ele era mais moldável e deve tê-lo educado bem no conhecimento do único e verdadeiro Deus. Como jovem, ele ponderou cuidadosamente a vida do povo simples e temente a Deus da sua mãe e a vida resplandecente, mas corrupta da corte. Pela fé, Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó (24). Foi um repúdio claro e definitivo, como o tempo aoristo sugere. Ele rompeu com a realeza egípcia de uma vez por todas, escolhendo (lit., tendo escolhido), antes, ser maltratado com o povo de Deus (25). A rejeição exterior foi o resultado de uma decisão interior prévia. A habilidade de tomar decisões e de escolher sempre o lado certo é a marca do caráter forte. Outra vez, o autor está envergonhando estes cristãos hebreus em virtude da forma vacilante e indecisa de eles se comportarem.
Moisés conhecia bem a opressão cruel e a privação sofridas por este povo; ele não era ignorante ou ingênuo. Mas ele pesou o sofrimento deles com o gozo do pecado, porque percebeu que aqueles que sofriam eram o povo de Deus, portanto, interiormente superiores, e se sairiam melhor no final, porque o gozo do pecado era apenas por um pouco de tempo. Assim, as vantagens da corte egípcia eram vistas como sendo superficiais e temporárias. Sua escolha, portanto, era inspirada pelo seu modelo de valores: tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo (“o estigma que está sobre o Ungido de Deus”, NEB) do que os tesouros do Egito. O estigma continua presente! Muitos estudiosos modernos tentam de todas as maneiras possíveis desfazer e desacreditar o caminho cristão, mas podemos estar certos de que na medida em que tiverem êxito em tornar Cristo palatável ao homem natural, nessa mesma medida moldaram um Cristo falso e imaginário. Que conceito Moisés tinha de Cristo (lit., o Cristo)? Provavelmente o seu conceito não era claro, mas seu conhecimento de que os hebreus eram o povo de Deus indubitavelmente incluía um conhecimento vago de um Ungido prometido (1 Co 10.1-4). Embora sua mente possa ter estado nebulosa quanto a detalhes, sua fé estava segura, tão segura que por causa dela ele estava disposto a arriscar seu presente e seu futuro.
Hebreus 11.26-28 A Nossa Confissão de Fé é Definitiva
O autor continua mostrando que o sistema de valores de Moisés estava baseado em grande parte na sua habilidade de olhar para o futuro: porque tinha em vista a recompensa (26). Literalmente, a palavra apeblepen, “ele estava olhando”, significa “desviar o seu olhar de todos os outros objetos e olhar para um único”. O tempo imperfeito indica que este não era um interesse romântico ou caprichoso, mas um olhar fixo. Ele continuou olhando com uma atenção fixa e séria; inevitavelmente o resplendor egípcio dissipou-se completamente de sua mente. O segredo de escapar do encanto sedutor do mundo é olhar tão longe para o futuro para perceber duração e consequência.
Pela fé, portanto, Moisés foi capaz de perceber os verdadeiros problemas da vida. Na superfície parecia que ele estava escolhendo entre dor e prazer, mas, na realidade, era entre piedade e pecado. Superficialmente, parecia ser uma escolha entre sua mãe e a filha de Faraó, mas, na realidade, era uma escolha entre Cristo e o mundo. Parecia que ele estava escolhendo entre pobreza e os tesouros do Egito; mas, na verdade, era uma escolha entre céu e terra. Parecia uma escolha entre o deserto e o trono; mas, na realidade, era entre a imortalidade e o esquecimento.
Além disso, pela fé, ele foi capaz de distinguir o passageiro do permanente. O passageiro incluía 1) o sofrimento do povo de Deus, 2) o gozo do pecado, 3) os tesouros do Egito, 4) o vitupério de Cristo. O permanente incluía 1) o povo de Deus, 2) a pessoa de Cristo, 3) o pagamento da recompensa.
Nos versículos 24-26, vemos “As Qualidades da Fé Duradoura”. 1) Ela percebe a superioridade dos valores morais e espirituais sobre os prazeres temporais e carnais, vv. 25,26. 2) Ela está certa de que os valores duradouros estão do lado de Cristo e do povo de Deus, vv. 24,26. 3) Ela escolhe renunciar a uma vantagem passageira para obter um ganho permanente, w. 25,26.
A Persistência da Fé (11.27)
Pela fé, deixou o Egito, não temendo a ira do rei (27). De acordo com Êxodo 2.11-15, o êxodo juvenil de Moisés foi, na verdade, uma fuga, instigada pelo medo. Portanto, é mais provável que Hebreus esteja se referindo aqui à saída dignificada e deliberada 40 anos mais tarde. A palavra katelipen, deixou, simplesmente significa deixar para trás e não necessariamente sugere fuga. Em sua mocidade, a fé que Moisés tinha era forte o suficiente para fazer a escolha básica e final, mas ela precisava da maturação do deserto e da sarça ardente para tornar-se à prova de pânico. O segredo do seu equilíbrio foi que ele ficou firme, como vendo o invisível. Ele suportou resolutamente as ameaças e a duplicidade de um Faraó colocado contra a parede e foi fortalecido porque a fé vê o invisível; não somente a ordem invisível como tal, mas o “Invisível” (masculino singular). A fé tem um radar espiritual que a descrença não tem (2 Rs 6.16-17; Dn 3.23- 25). Mas a grande marca distinta da fé bíblica é que ela está firmada num Deus pessoal, não numa lei ou poder impessoal.
O Êxodo da Fé (11.28-31)
A verdadeira fé sempre sai do Egito. Ela nunca fica. Na verdade, o versículo 27 é tanto um prefácio como uma apresentação prévia desta seção, que consiste em esboçar os pontos altos da migração do Egito para Canaã. A história aqui não é de todo brilhante; uma descrença vergonhosa tornou a história acidentada, com consequências trágicas.
Os cristãos hebreus têm sido lembrados deste fato com muita intensidade. Mas a atenção agora está no fato de que a nação nunca teria sido liberta da escravidão, e nunca teria entrado em Canaã, se não fosse por aqueles que tiveram fé. Cada passo importante era uma vitória da fé. Mas a dúvida nunca registrou avanços.
a) A Páscoa (11.28). O primeiro passo preparatório essencial no Êxodo foi a Páscoa. Pela fé, celebrou a Páscoa e a aspersão do sangue. O objetivo era escapar da espada do destruidor dos primogênitos. Este ato de julgamento divino não era somente necessário e justificado pela teimosia egípcia, mas foi simbólico da morte eterna que é endêmica do Egito espiritual. Semelhantemente, o cordeiro morto era simbólico do futuro Cordeiro de Deus, que tiraria o pecado do mundo (Jo 1.29). Não há escape, quer da escravidão egípcia ou da escuridão ou morte egípcia, sem o aspergir do sangue. Mas note bem, a vida não depende apenas do sangue derramado, mas do sangue aplicado. Somente o derramar do sangue não teria protegido ninguém. Havia salvação somente à medida que o sangue era aspergido individualmente na verga da porta e em ambas as ombreiras das casas (Ex 12.23). A verdade aplica-se igualmente ao sangue do Cordeiro de Deus. Somente quando a fé toma posse e o Espírito opera que o Sangue salva.
b) O mar Vermelho (11.29). Pela fé, passaram o mar Vermelho, como por terra seca. Para maiores detalhes, leia Êxodo 14.22-27. A fé agora é atribuída ao povo, bem como a Moisés. Neste acontecimento, vemos a diferença entre fé e presunção. A fé não depende do que é feito, mas com que autoridade. Israel agiu de acordo com a ordem divina, mas o intentar (lit., tentar) dos egípcios em fazer a mesma coisa causou o seu afogamento. A mesma ação pode ser apropriada e bem-sucedida ou presunçosa, fanática e desastrosa, dependendo da presença ou ausência de Deus. “Com Deus, ando sobre o mar; sem Ele, nem saio pela porta”.
Richard S. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 109-111.
Moisés e o Êxodo
23 Pela fé, Moisés, já nascido, foi escondido três meses por seus pais, porque viram que era um menino formoso; e não temeram o mandamento do rei.
Esconder uma criança saudável e robusta com poder absoluto de chorar, espernear e gritar em alta voz foi realmente um ato de fé. Contudo, chegou um momento quando seus pais “não podendo, porém, mais escondê-lo”, usaram novamente o poder da fé. Moisés foi colocado numa “arca de junco” e esta lançada nas correntezas do rio Nilo. Mas a mão divina guiou aquela pequena “embarcação” até onde se encontrava a filha do monarca egípcio que, vendo Moisés chorando: "... moveu-se de compaixão dele”. A partir daí, a fé e a proteção divina estavam presentes na vida daquele que Deus havia escolhido para libertar o seu povo da escravidão.
24 Pela fé, Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó,
Ser chamado filho da filha do monarca egípcio era um dos maiores privilégios daquela época. Recusar tamanho privilégio era, portanto, um verdadeiro ato de fé. Moisés foi alvo da misericórdia de Deus e também da bondade da princesa egípcia Thermuthis (segundo Flávio Josefo, é o nome da princesa que adotou Moisés. Alguns historiadores afirmam ainda que seu nome seria Hatchepsute2 ), filha de Faraó, que passeava pela margem do rio Nilo, “... viu a arca no meio dos juncos, e enviou a sua criada, e a tomou. E, abrindo-a, viu o menino, e eis que o menino chorava; e moveu-se de compaixão dele...” (Êx 2.5,6). Thermuthis, não tendo filhos, “... o adotou; e chamou o seu nome Moisés e disse: Porque das águas o tenho tirado” (Êx 2.10).
25 escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que, por um pouco de tempo, ter o gozo do pecado;
Somente a eternidade poderá nos revelar o que a fé pode fazer para honrar a Deus, como a decisão de Moisés em escolher ser maltratado ao lado de um grupo de escravos, sofrendo debaixo do julgo egípcio. Tal decisão levou Moisés a ser odiado por Faraó e pelos seus súditos. Josefo nos informa que antes mesmo da morte do egípcio por Moisés, os súditos de Faraó aconselharam ao rei que o mandasse matar. O monarca prestou ouvidos a tais palavras, porque a grande fama de Moisés já lhe causava inveja e ele começava a temer que o sobrepujasse também. Mas Moisés nada disso temeu; ele sabia que Deus tinha um plano para sua vida com relação a Israel. E pelos inúmeros incidentes que marcaram sua vida, ele era, portanto, a pessoa escolhida por Deus para a libertação de seu povo (cf. At 7.25). O Diabo usou de todos os meios sombrios de destruição e de todas as suas artimanhas para que Moisés não se tornasse o grande libertador do povo de Deus, buscando assim frustrar o plano divino para com este povo. Mas Deus operou milagrosamente em tudo, e mais uma vez, como sempre, o Diabo foi derrotado.
26 tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa.
Quem conhece o Egito sabe que ali existem alguns dos maiores tesouros da humanidade encontrados pela arqueologia. O museu de Antiguidade do Cairo revela todos os detalhes dessa suntuosidade. Basta contemplar os tesouros que foram encontrados no túmulo de Tutankamon, no Vale dos Reis, monarca egípcio assassinado aos 18 anos de idade. Este achado deu-se em 4 de novembro de 1922, por Howard Carter. O sarcófago onde se encontrava o corpo do rei é recoberto de ouro e pesa cerca de 1.800 libras (cerca de 816 quilos). Sua máscara mortuária consta de 200 quilos de ouro incrustado com lápis-lazúli, turquesas e coralinas. Além de mais quatro sarcófagos — todos recobertos de ouro, inúmeros objetos, em sua maioria de ouro ou pedras preciosas, foram também ali encontrados. Além dos tesouros de Tutankamon, outros achados preciosíssimos relacionados à vida dos faraós têm sido encontrados pela arqueologia ou por pessoas comuns. Flávio Josefo também nos diz que quando Faraó colocou Moisés em seus braços, para agradar a sua filha, mandou que colocassem na cabeça de Moisés um diadema. Moisés, como uma criança que se diverte, tirou-o e o jogou no chão, pisando-lhe em cima. Muitos destes “tesouros do Egito” foram descobertos, inclusive em escavações mais recentes. Contudo, Moisés teve por “... maiores riquezas o vitupério de Cristo... porque tinha em vista a recompensa” do porvir.
27 Pela fé, deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível.
Ver o invisível parece contraditório quando visualizado na esfera humana. Pois se é invisível, como pode alguém ver? Talvez por esta razão alguns tradutores traduziram esta parte final do versículo, “... como quem vê aquele que é invisível”. Nesse caso seria uma referência direta a Deus ou a Cristo. Mesmo havendo esta emenda de tradução, o sentido original deve ser aqui conservado. “Como vendo o invisível” está de acordo com o argumento e a tese principal daquilo que foi dito no início no tocante à definição da fé. Ela é “... o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem”. Moisés não estava vendo o futuro com os olhos naturais — mas estava vendo e crendo nele, com os olhos da fé. Ele sabia que “as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam” (I Co 2.9); por esta razão ficou firme na esperança de recebê-las.
25 Pela fé, celebrou a Páscoa e a aspersão do sangue, para que o destruidor dos primogênitos lhes não tocasse.
Tudo relacionado com a Páscoa tinha um significado profundo e um infinito alcance. Ela apontava para Cristo, que é a “... nossa Páscoa” (I Co 5.7). Como também aquele sangue que oferecia proteção contra o malho destruidor da ira divina tinha também uma significação toda especial. O sangue do cordeiro ordinário, por si mesmo, sem a mistura da fé, não podia oferecer proteção alguma, mas aquele sangue apontava para o tempo em que Jesus morreria como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. E assim como o sangue aspergi- do nos umbrais das portas do povo escolhido lhe garantiu proteção contra o anjo destruidor, também o sangue de Jesus nos oferece proteção contra o avanço das forças do mal, que possibilitam a destruição das almas. A promessa de Deus era esta: “... vendo eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade” (Ex 12.13).
29 Pela fé, passaram o mar Vermelho, como por terra seca; o que intentando os egípcios, se afogaram.
Os céticos têm oferecido inúmeras explicações técnicas para negar a possibilidade da operação divina na travessia do mar Vermelho. Porém, todas elas, têm sido rejeitadas pelo povo de Deus em geral e também por aqueles que creem na possibilidade dos milagres de Deus. A Bíblia afirma que Deus ordenou a Moisés, dizendo: “levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco... Então, Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas. E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas lhes foram como muro à sua direita e à sua esquerda” (Êx 14.16,21,22). Qualquer outra explicação fora deste contexto não se harmoniza nem com a tese e nem com o argumento principal. Tudo foi possível pelo caminho da fé.
Os egípcios intentaram fazer a mesma trajetória, seguindo pelo mesmo caminho pelas vias naturais — mas “... se afogaram”. Eles ignoraram que aquele caminho aberto pelo sopro das narinas de Deus era exclusivamente para o seu povo. E isto é confirmado pelo profeta Isaías, séculos depois, quando diz: “E ali haverá um alto caminho, um caminho que se chamará O Caminho Santo; o imundo não passará por ele, mas será para o povo de Deus; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão” (Is 35.8).
Severino Pedro da Silva. Epistola aos Hebreus. Editora CPAD. pag. 227-232.
Mt 17.20. Por causa da vossa pequena fé uma boa tradução. Era menor que “um grão de mostarda”. Eles não tinham a fé de milagre.
De acordo com Bruce, “este monte” é o monte da transfiguração para o qual Jesus apontou. Se for verdade, então ele está ensinando em uma parábola. O nosso problema sempre é com “este monte” que obsta o nosso caminho. Passa (Merapa). Uma forma de imperativo de “mudar de lugar”.
A. T. ROBERTSON. Comentário Mateus & Marcos. À Luz d o Novo Testamento Grego. Editora CPAD. pag.198-199.
O REI E SEU PODER (MT 17:14-21)
Passamos da montanha da glória para o vale da necessidade. A aparição repentina de Jesus e de seus três discípulos surpreendeu a multidão (Mc 9:15). Um pai havia levado o filho endemoninhado aos nove discípulos, implorando que o curassem, mas eles não puderam. Os escribas viram o que aconteceu e estavam usando o insucesso dos discípulos para discutir com eles. Enquanto os escribas faziam acusações e os discípulos se defendiam, o demônio estava quase matando o menino indefeso.
Quando comparamos os relatos dos Evangelhos dessa cena dramática, descobrimos que esse filho único estava de fato em grande perigo. De acordo com Mateus, o menino enfermo era epilético e suicida, atirando-se repetidamente no fogo ou na água.
Marcos o descreve como um mudo, que caía no chão com frequência, espumando e rangendo os dentes, depois ficando com o corpo todo rígido. Lucas diz que o menino era filho único e que gritava ao entrar em convulsões. Apesar de alguns desses sintomas poderem ter causas naturais, o menino estava à mercê de um demônio. Uma vez que os discípulos não conseguiram fazer coisa alguma, não é de se admirar que o pai tenha se ajoelhado aos pés de Jesus.
A primeira reação de Jesus foi uma tristeza profunda. Ao olhar para seus discípulos envergonhados, para os escribas argumentando e para o pai necessitado e seu filho, o Mestre gemeu em seu íntimo e disse: "Até quando estarei convosco e vos sofrerei?" (Lc 9:41). A incredulidade e a perversidade espiritual deles era um peso para Jesus. Fico imaginando como Jesus se sente ao olhar para os cristãos fracos de hoje...
Jesus libertou o menino e ordenou que o demônio nunca mais retornasse àquele corpo (Mc 9:25). O demônio tentou ainda uma "última cartada" (como disse Spurgeon) para que a multidão pensasse que o menino estava morto (Mc 9:26). Mas Jesus levantou o menino e o entregou a seu pai, enquanto a multidão, maravilhada, dava glórias a Deus (Lc 9:43).
Os nove discípulos deveriam ter sido capazes de expulsar o demônio. Jesus lhes dera poder e autoridade (Mt 1O: 1, 8), mas, de alguma forma, haviam perdido esse poder!
Quando perguntaram a Jesus qual havia sido a causa dessa derrota vergonhosa, ele respondeu: falta de fé (Mt 17:20), falta de oração (Mc 9:29) e falta de disciplina (Mt 17 :21, apesar de esse versículo não ser encontrado em vários manuscritos). Talvez os nove discípulos estivessem com ciúme por não terem sido chamados para subir ao monte com Jesus. É possível que, durante a ausência de Jesus, tenham se acomodado e deixado de orar, enfraquecendo, desse modo, sua fé, ficando despreparados para a crise que surgiu. Como Sansão, saíram para a batalha sem perceber que não tinham forças (Jz 16:20). Seu exemplo mostra como precisamos estar sempre espiritualmente saudáveis.
A expresse "fé como um grão de mostarda" sugere não apenas o tamanho (Deus honrará até mesmo uma pequena fé), mas também vida e crescimento. Ter fé como uma semente de mostarda é ter uma fé viva alimentada para crescer. A fé deve ser cultivada a fim de que cresça e realize feitos ainda mais poderosos para Deus (1 Ts 3:10; 2 Ts 1:3). Se os nove tivessem se mantido firmes na oração, na disciplina pessoal e na meditação na Palavra, teriam sido capazes de expulsar o demônio e de salvar o menino.
Toda essa cena ilustra o que Jesus fará quando deixar a glória do céu e vier para a Terra. Derrotará Satanás e o manterá cativo por mil anos (Ap 20:1-6).
WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pag. 80-81.
Deve ter sido com a maior severidade em sua voz que Jesus repreendeu... o demônio que, imediatamente, saiu dele (18). O menino (pais) foi curado (therapeuo) naquele mesmo instante. E óbvio que Cristo era mais do que capaz de cuidar desse caso tão difícil.
Não é de admirar que os discípulos quisessem saber porque haviam fracassado (19). Jesus informou que era por causa da sua pequena fé (20).48 Se tivessem fé como um grão de mostarda (veja os comentários sobre 13.31-32), teriam ordenado ao monte que passasse daqui para acolá e ele teria passado. E provável que Cristo não estivesse falando literalmente sobre um monte. Ao mencionar este monte Ele queria dizer “essa grande dificuldade”, esse caso que era demasiado difícil para eles. Sherman Johnson observa: “A fé não move montanhas físicas através de alguma mágica, mas seus próprios triunfos são mais maravilhosos do que uma engenharia em grande escala”. Em uma linha semelhante, George Buttrick escreve: “A fé já removeu montanhas - poderosos impérios, seitas pagãs e a impiedade entrincheirada”.
O versículo 20 atinge o seu clímax com essa admirável afirmação: nada vos será impossível. Mas como isso poderia acontecer? A resposta é: “Pela fé”. Marcos, cuja descrição dessa cura é, como de costume, muito mais vívida do que consta em Mateus ou Lucas, registra que Jesus disse ao pai do menino: “Tudo é possível ao que crê” (Mc 9.23). Isso acontece porque Deus é o Todo-Poderoso, e a fé traz consigo a divina onipotência para superar os problemas humanos.
O versículo 21 não consta em algumas versões modernas, porque não faz parte dos dois manuscritos gregos mais antigos (Vaticano e Sinaítico), assim como de algumas versões antigas. Em Marcos, a primeira parte do versículo é autêntica, mas as palavras “e jejum” foram acrescentadas mais tarde. Então, o versículo todo deve ter sido transcrito por algum copista de acordo com esse mesmo paralelo em Mateus.
Ralph Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 6. pag.124-125.
As palavras de Cristo aos seus discípulos, como conseqüência desse episódio.
1. Os discípulos perguntam a razão pela qual eles não puderam expulsar o demônio nessa ocasião (v. 19):
“Os discípulos, aproximando-se de Jesus em particular, disseram...”. Note que os ministros, que devem fazer a obra de Cristo, têm necessidade de manter uma comunhão particular com Ele, para que possam, em segredo, sem ser vistos, lamentar a sua fraqueza e as suas dificuldades, as suas limitações e inseguranças, nas suas atividades públicas, e perguntar qual é a causa delas. Devemos fazer uso da liberdade de acesso que temos a Jesus em particular, quando podemos estar à vontade com Ele. Tais perguntas como essa que os discípulos fizeram a Cristo, deveríamos fazer a nós mesmos, conversando intimamente com os nossos corações, antes de dormir:
Por que fui tão tolo e descuidado em tal ocasião? Por que não consegui cumprir satisfatoriamente tal dever? Para que aquilo que estiver incorreto possa, quando descoberto, ser corrigido.
2.Cristo lhes dá duas razões para o fracasso que tiveram. (1) “Por causa da vossa pequena fé” (v. 20). Quando Jesus falou com o pai do menino e com o povo, Ele censurou a sua incredulidade; quando Ele falou aos seus discípulos, Ele censurou a deles, pois a verdade era que havia falhas nos dois lados. Mas nós estamos mais preocupados em ouvir falar sobre as falhas dos outros do que sobre as nossas próprias falhas, e a imputar o que está incorreto aos outros, e não a nós mesmos. Quando a pregação da Palavra não parece ser tão bem-sucedida como já chegou a ser algumas vezes, as pessoas estão prontas a atribuir toda a falha aos ministros, e os ministros a atribuem ao povo, embora fosse mais conveniente que cada um admitisse as suas próprias falhas e dissesse: “E por minha causa”. Os ministros, ao repreenderem ou acusarem, precisam aprender a dar a cada um a sua porção da palavra, e a evitar que as pessoas julguem umas às outras. Eles devem ensinar que cada um julgue a si mesmo: “Por causa da vossa pequena fé”. Embora tivessem fé, a fé deles era fraca e não produzia nenhum efeito. Observe que: [1] A medida que a fé falha em termos de força, vigor e atividade, pode ser dito com verdade:
“Este é um caso de incredulidade”. Muitos podem ser acusados de ter pouca fé, embora não devam ser chamados de incrédulos. [2] Por causa da nossa pequena fé, somos os responsáveis por acontecerem poucos milagres na religião, e por eles não acontecerem, frequentemente, como deveriam. Assim, a situação fica em um nível aquém do esperado, naquilo que é bom.
O nosso Senhor Jesus aproveita essa ocasião para mostrar aos discípulos o poder da fé, para que eles não fracassem, em outra ocasião, como fracassaram agora: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, nada vos será impossível” (v. 20). Alguns interpretam a comparação como referindo-se à qualidade do grão de mostarda, que é, quando moído, agudo e penetrante. “Se vocês tivessem uma fé ativa e em crescimento, não morta, achatada ou insípida, vocês não teriam ficado frustrados dessa maneira”. Mas, na verdade, isso se refere à quantidade. “Se vocês tiverem apenas um grão de fé verdadeira, mesmo que tão pequeno quanto o menor dos grãos, nada lhes será impossível; vocês farão maravilhas”.
A fé em geral é uma aquiescência firme, uma concordância e uma confiança em toda a revelação divina. A fé que se exige aqui, é aquela que tem como seu objeto aquela revelação particular pela qual Cristo deu aos seus discípulos o poder para realizar milagres em seu nome, para a confirmação da doutrina que eles pregavam. E nesse tipo de fé que eles são deficientes. Eles duvidam da validade da sua chamada, ou temem que ela tenha expirado com a sua primeira missão, e que não devesse continuar quando retornassem para junto do seu Mestre; que, de alguma maneira, ela teria sido retirada ou perdida. Talvez a ausência do Mestre juntamente com os três principais discípulos, com a ordem de que os demais não deviam segui-lo, pudesse ter ocasionado algumas dúvidas a respeito do seu poder, ou melhor, do poder do Senhor com eles, para fazer isso. Entretanto, não havia, naquela ocasião, uma confiança ou dependência tão grande na promessa da presença de Cristo com eles, como devia ter havido. E bom não termos confiança em nós mesmos, nem na nossa própria força. Mas é desagradável para Cristo quando nós perdemos a confiança em qualquer poder obtido dele, ou concedido por Ele.
Se tiverdes ainda que um pouco dessa fé com sinceridade, se verdadeiramente confiardes nos poderes que vos foram concedidos, “direis a este monte: Passa”. Esta é uma expressão conhecida, que denota aquilo que vem a seguir, e nada mais: “Nada vos será impossível”. Eles tinham uma comissão plena, entre outras coisas, para expulsar demônios, sem exceção; mas, pelo fato desse demônio ter uma maldade inveterada, acima do normal, eles não tiveram confiança no poder que haviam recebido, e por isso falharam. Para convencê-los disso, Cristo lhes mostra o que poderiam ter feito. Observe que uma fé ativa pode mover montanhas, não por si mesma, mas na virtude do poder divino, que está ligado a uma promessa divina; e a fé se mantém sobre essa virtude e sobre essa promessa.
(2) Porque havia alguma coisa no tipo de doença que tornava a cura mais difícil do que o normal (v. 21): ‘“Esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum’. Esta e possessão, que opera através de uma doença, ou este tipo de demônios que são furiosos dessa maneira, não é expulsa pela maneira normal, mas por meio de grandes atos de devoção, e nisso vocês são deficientes”.
Observe que:
[1] Embora os adversários que combatemos sejam todos principados e potestades, ainda assim alguns são mais fortes do que outros, e há poderes mais difíceis de serem subjugados.
[2] O extraordinário poder de Satanás não deve desencorajar a nossa fé, mas sim nos estimular a agir nela com maior intensidade, tendo mais fervor em nossas orações a Deus, pedindo que o Senhor aumente a nossa fé. Por isso alguns têm a seguinte interpretação: “Este tipo de fé (que remove montanhas) não pode proceder, não pode ser obtido de Deus, não pode ser trazido ao seu crescimento completo, nem pode se transformar em ações e exercícios, exceto por meio de fervorosas orações”.
[3] O jejum e a oração são meios adequados para destruir o poder de Satanás contra nós, e para trazer o poder divino em nosso auxílio. O jejum é útil para aprimorar a oração; é uma evidência e um exemplo de humilhação que é necessário na oração, e é um meio de eliminar alguns hábitos corruptos, e de dispor o corpo para servir à alma em oração. Quando o interesse do demônio pela alma é confirmado pela disposição e pela constituição do corpo, o jejum deve ser acompanhado pela oração, para que o indivíduo possa manter o seu corpo em sujeição ao Senhor.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 222-223.
III - APRENDENDO COM MOISÉS
1. A cultivar comunhão com Deus. "
Seu exemplo de comunhão com Deus
A Bíblia nos mostra que Moisés cultivava uma vida de oração, mantendo um relacionamento muito íntimo com Deus: “Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo” (Ex 33.11). Como frisa Matthew Henry, “isto sugere que Deus se revelou a Moisés, não só com clareza e evidências maiores da luz divina do que a qualquer outro dos profetas, mas também com expressões particulares e ainda maiores de bondade e graça. Ele fala não como um príncipe a um súdito, mas como qualquer fala com o seu amigo, a quem ama”.
Deus também quer ter hoje um relacionamento íntimo conosco! Como destaca a Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, “Moisés desfrutou tal favor de Deus não porque era perfeito, genial ou poderoso, mas porque Deus o escolheu. Por sua vez, Moisés confiou inteiramente na sabedoria e direção de Deus. A amizade com Deus era um verdadeiro privilégio para Moisés, e estava [nesse nível] fora do alcance dos hebreus. Mas, hoje, ela não é inalcançável para nós. Jesus chamou seus discípulos — e, por extensão, todos os seus seguidores — de amigos (Jo 15.15). Ele o chamou para ser seu amigo. Você confiaria nEle como fez Moisés?”.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 152.
A comunhão espiritual. Há uma comunhão com Deus, por meio do Espírito, O espirito humano é capaz de ter comunhão com o Espirito Santo. Paulo, por mais de cento e sessenta vezes, falou em estarmos «em Cristo.., retratando, com essas duas palavras, a nossa comunhão mistica. Ver I Cor. 1:4. As notas expositivas, no NTI, sobre aquele versículo, detalham essa doutrina. A comunhão não tem apenas a dimensão humana, do homem com homem; também tem a dimensão divina, do homem com Deus. O trecho de Efésios 4:1-6, e vários trechos paralelos, dão-nos esse ensino. Diz I João 1:3: «... a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo... O Espírito Santo reside em nós e nos confere comunhão divina (João 14:16 ss). Cristo é a vinha, e nós somos os ramos, pelo que devemos pensar em uma comunhão orgânica (João 15). Há a comunhão do Espirito (Fil. 2:1 ss). «A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.. (11 Cor. 13:13).
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 1. Editora Hagnos. pag. 822.
Comunhão espiritual. O ceme da comunhão cristã é espiritual. Pelo Espírito o homem tem comunhão com Deus, com Cristo e com os santos.
A união mística do Espírito permeia e unifica a igreja. Jesus disse a seus discípulos: “Um só é vosso mestre, e vós todos sois irmãos” (Mt 23.8). Assim como os discípulos são companheiros de estudo, também aqueles que participam da “comunhão” são companheiros de adoração. “Considerai o Israel segundo a came; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar?” (I Co 10.18). Paulo adverte para o mérito da comunhão: “Com toda humildade e mansidão e longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz”, ao que ele adiciona: “Um corpo e um Espírito... numa só esperança... um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos” (Ef 4.1-6). Os líderes da nova igreja encorajavam continuamente a comunhão, ensinando os meios práticos de exercê-la: “Instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria” e cantem juntos com ações de graça (Cl 3.16). “Consolai-vos, pois, uns aos outros...” (lTs 4.18); “Consolai-vos uns aos outros e edificai-vos reciprocamente... vivei em paz uns com os outros... admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimes para com todos” (5.11-14). “Exortai-vos mutuamente cada dia... consideremo-nos também uns aos outros para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns, antes façamos admoestações” (Hb 3.13; 10.24s.). “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros” (Tg 5.16).
A comunhão espiritual se origina em Deus e em Cristo.
“O que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós igualmente mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo” (1 Jo 1.3). Na alegoria da videira, Jesus retratou a união mística entre ele, Deus e seus discípulos: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor... vós sois os ramos” (Jo 15.1,5). Por meio desta união o crente dá muito fruto.
Finalmente, o Espírito Santo é o mediador da comunhão na presente dispensação. Por intermédio dele o homem tem comunhão com Deus e mantém comunhão universal com os santos. A promessa consoladora de Jesus a seus discípulos foi: “Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita conosco e estará em vós” (14.16s.). Paulo disse: “Porque vós sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho” (G1 4.6). A seguir ele escreve aos filipenses acerca de Cristo, do amor, da alegria, e da “participação (comunhão) no Espírito” (Fp 2.1s.). Paulo resume a relação tripla do homem em sua bênção: “A graça do Senhor Jesus Cristo e o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2Co 13.14).
MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pag. 1114-1115.
2. A ter comunhão com outros crentes.
At 2.46 É verdade, porém, que ao mesmo tempo tinham necessidade de seus próprios encontros: “Partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com regozijo e singeleza de coração.” Essas reuniões nas refeições comunitárias caracterizavam-se pela “regozijo e singeleza de coração”. Com certeza deram pouca atenção ao cardápio! Essa alegria jubilosa não era um contraste para o “temor”, nem sequer era limitada apenas pelo temor, mas, exatamente como o “temor”, constituía o efeito da presença plena de Deus. Sempre deixamos de ver a verdade quando separamos em Deus a justiça e o amor, a seriedade e a bondade. Por isso sempre perdemos a alegria profunda quando perdemos o temor diante de Deus. Pelo Deus vivo revelado em Jesus, em Sua cruz e ressurreição foram-nos dados gratidão efusiva e santo respeito. O Espírito Santo em nossos corações faz-nos regozijar e tremer, temer e amar a Deus. É preciso levar em conta que a palavra “regozijar” sempre possui conotação “escatológica”. “Os resgatados do Senhor voltarão e virão a Sião com cânticos de júbilo; alegria eterna coroará a sua cabeça; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido”, profetizou Isaías (Is 35.10).
Ao serem celebradas agora na igreja as refeições cheias de júbilo e louvor a Deus, apesar de toda a pobreza material, essas refeições já eram prefiguração e primeira garantia do banquete nupcial do fim dos tempos, quando Deus estará no meio de seu povo com toda a Sua glória e presença visíveis e o encherá com “alegria indizível e gloriosa” (1Pe 1.8, NVI). A circunstância de que eles, inimigos de Deus e assassinos de Jesus, podiam pertencer a esses “redimidos do Senhor” representava uma razão sempre renovada desse “regozijo” que agora já perpassava os dias da novel igreja com seu brilho. As orações de santa ceia transmitidas no assim chamado “Didaquê” nos permitem perceber algo de como precisamos imaginar esse “tomar as refeições com regozijo e singeleza de coração e com louvor a Deus”.
Consequentemente, esses primeiros cristãos estavam em paz com Deus e as pessoas, “louvavam a Deus e contavam com a simpatia de todo o povo”. Foi um grande presente que essa igreja – diferente da de Tessalônica (1Ts 1.6) – pôde organizar-se inicialmente em paz. No momento não havia dificuldades exteriores para chegar à fé em Jesus e lhe render a vida. É óbvio que a superação interior dos corações não é produzida pela simpatia exterior, e nem mesmo pela palavra desafiadora de uma igreja viva como tal. Somente o próprio Senhor pode nos resgatar da incredulidade e perdição e nos conceder a conversão. Foi assim que Jesus fez naquele tempo. Não se limitou ao avivamento daquele primeiro dia de Pentecostes. Diariamente acontecia a grande alegria por pessoas que se deixavam salvar. “O Senhor, porém, acrescentava os que iam sendo salvos, dia a dia, ao mesmo”.
Werner de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora Evangélica Esperança.
At 2.46. A devoção religiosa dos cristãos primitivos era assunto de todos os dias. Reuniam-se em espírito de unanimidade no templo. Esta expressão talvez signifique que empregavam o átrio do templo como lugar de reunião (cf. 5:12), mas também subentende-se que participavam do culto diário do templo (3:1). Este culto diário consistia da oferta de um holocausto e incenso, de manhã e de tarde; e era realizado pelos sacerdotes, mas sempre havia uma congregação de pessoas que ficavam onde podiam ver os sacerdotes que cumpriam os seus deveres e que entravam no santuário; participavam das orações, e recebiam uma bênção do sacerdote.
Visto que os cristãos primitivos acreditavam que tinham um relacionamento verdadeiro com Deus através do Messias, era natural que participassem do culto a Deus conforme o modo comumente aceito. É provável que ainda não lhes tivessem ocorrido as questões teológicas acerca da substituição dos sacrifícios do templo pelo sacrifício espiritual de Jesus. Além disto, as autoridades religiosas não excluíram os cristãos do templo. Ao mesmo tempo, porém, os cristãos se reuniam para seus próprios ajuntamentos religiosos. Reuniam-se de casa em casa, nos lares uns dos outros, e juntamente partiam o pão num espírito de gozo intenso e sincero.
A ideia é que faziam refeições em comum, as quais também incluíam o partir do pão; podemos comparar a descrição que Paulo deu da refeição em conjunto na igreja em Corinto, que incluía a celebração da Ceia do Senhor (1 Co 11:17-34). A grande alegria que caracteriza estes encontros era, sem dúvida, inspirada pelo Espírito (13:52) e talvez se associasse com a convicção de que o Senhor Jesus estava presente com eles (cf. 24:35).
At 2.47. A estrutura da frase talvez indique que os discípulos comessem juntos no templo bem como nos seus lares. Ao fazerem assim, louvavam a Deus; esta é uma das poucas referências em Atos à adoração que os cristãos prestavam a Deus no sentido de renderem graças a Ele. A raridade de tais frases nos faz lembrar que, conforme o testemunho do Novo Testamento, os encontros dos cristãos eram para a instrução, a comunhão e a oração; noutras palavras, para o benefício dos participantes; menciona-se menos a adoração a Deus, embora este elemento naturalmente não faltasse.
Um comentário final nota que a atividade evangelizadora da igreja continuava diariamente. Na medida em que os cristãos eram vistos e ouvidos pelo restante do povo em Jerusalém, suas atividades formavam uma oportunidade paia o testemunho. Mais uma vez, Lucas se refere ao processo de tomar-se cristão como o ser salvo, i. é, salvo de pertencer ao povo pecaminoso em derredor que está sob o julgamento divino por ter rejeitado ao Messias (2:40, cf. 2:21).
I. Howard Marshall. Atos. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 84-85.
A IGREJA CAMINHANDO NO ESPÍRITO (AT 2:42-47)
Os cristãos continuaram a usar o templo como lugar de reunião e de ministério, mas também passaram a encontrar-se nos lares de várias pessoas. Os três mil novos convertidos precisavam ser instruídos na Palavra e ter comunhão com o povo de Deus, a fim de crescer e de se tornar testemunhas eficazes.
A Igreja primitiva não se ateve a converter pessoas, também as discipulou (Mt 28:19, 20).
Convém explicar duas frases de Atos 2:42. "Partir do pão", provavelmente, é uma referência às refeições regulares, mas, no final de cada refeição, é bem possível que fizessem uma pausa para se lembrar do Senhor celebrando o que chamamos de "Ceia do Senhor" ou "Santa Ceia". O pão e o vinho eram elementos comuns sempre presentes na mesa dos judeus. O termo comunhão não significa apenas "estar juntos".
Quer dizer "ter em comum", podendo ser uma referência ao compartilhamento de bens materiais praticado na Igreja primitiva.
Por certo, não se tratava de uma forma de comunismo, pois foi um programa inteiramente voluntário, temporário (At 11:27-30) e motivado pelo amor.
A igreja foi unificada (At 2:44), exaltada (At 2:47a) e multiplicada (At 2:47b). Seu testemunho entre os judeus era poderoso, não apenas em função dos milagres realizados pelos apóstolos (At 2:43), mas também pelo amor que os membros da comunidade tinham uns pelos outros e por seu serviço ao Senhor. O Senhor ressurreto continuou a operar por meio deles (Mc 16:20), e o povo continuou a ser salvo. Uma igreja e tanto!
Os cristãos que vemos no Livro de Atos não se contentavam em se encontrar uma vez por semana para "o culto habitual". Encontravam-se diariamente (At 2:46), cuidavam uns dos outros diariamente (At 6:1), ganhavam almas diariamente (At 2:47), examinavam as Escrituras diariamente (At 1 7:11 ) e cresciam em número diariamente (At 16:5).
A fé cristã era uma realidade diária, não uma rotina semanal. Isso porque o Cristo ressurreto era uma verdade viva para eles, e seu poder de ressurreição operava na vida deles por meio do Espírito.
A promessa ainda vale para nós hoje: "Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" (At 2:21; Rm 10:13). Você já invocou o nome do Senhor? Já creu em Jesus Cristo como seu Salvador?
WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pag. 531.
A palavra de Deus que fora pregada com tanto poder e que tinha sido acompanhada com exortações tão sérias, não ficou sem fruto. Pela ação do mesmo Espírito, cujo poder milagroso estava evidente aos seus olhos, algumas das pessoas presentes, que chegou a um considerável número dos ouvintes, receberam pela fé a palavra, e aceitaram Jesus de Nazaré como o Messias prometido e foram batizadas.
O batismo em o nome de Jesus Cristo serviu para o fortalecimento de sua fé na palavra do evangelho, e para a confirmação e selo de sua salvação em Cristo, do que Pedro havia testificado. Não faz sentido se este grande número de pessoas, que assim foram somadas ou juntadas às fileiras dos discípulos, foram batizadas por imersão (estando os necessários recursos presentes em Jerusalém, como os defensores da imersão declaram) ou não, visto que o modo do batismo não estar prescrito nas Escrituras Sagradas. Há muitos argumentos da probabilidade contra a imersão. Mas, seja como for, o fato é que estas pessoas foram somadas à, ou recebidas na, igreja cristão pelo sacramento do batismo, sendo seu número perto de três mil almas. As almas que são ganhas para Cristo são, desta forma, adicionadas à igreja.
Agora Lucas traça um quadro da primeira congregação cristão de Jerusalém, tendo como núcleo os apóstolos e os cento e vinte discípulos, e como corpo os três mil convertidos de pentecostes. O crescimento da igreja não foi só em número, mas também na fé e na caridade.
Os membros da congregação continuaram, perseveraram, com grande fidelidade e devoção, nos ensinos, na doutrina dos apóstolos. Estes homens, por Cristo estabelecidos e ordenados como os mestres de toda a cristandade, foram naquela ocasião os mestres da congregação de Jerusalém. E a doutrina deles foi a doutrina de Cristo; eles ensinaram o que havia ouvido de Cristo; a palavra deles foi a palavra de Deus. Os discípulos, permanecendo firmemente nesta palavra, também conservaram a comunhão. Estiveram unidos na mesma fé e no mesmo amor ao seu Senhor e Mestre; estiveram em comunhão um com o outro, e em união com Cristo e o Pai, que foi uma intimidade maravilhosa e abençoada, pela qual estiveram mais unidos entre si do que irmãos e irmãs de sangue. Cada um sentia o interesse mais solícito pelas alegrias e tristezas do outro. Sua comunhão estreita era expressa no partir do pão. Caso esta expressão não se referir só à celebração da Santa Comunhão, ela certamente não exclui o sacramento. Cf. 1. Co. 10. 16. Ela, claramente, não se refere a uma refeição regular, e provavelmente foi usada por Lucas para descrever resumidamente a refeição em comum que os cristãos, nos primeiros tempos da igreja, ligaram à celebração da Ceia do Senhor.
E da mesma maneira como os cristãos ouviram a palavra, da mesma forma como observaram a Eucaristia, assim também foram diligentes, assíduos, na oração pública. Os discípulos de Jerusalém manifestaram, por meio de oração, louvor e agradecimento comum, sua comunhão fraterna e sua unidade de espírito. Todos estes fatos, com certeza, não podiam ficar sem o conhecimento do povo da cidade, nem mesmo se os membros da congregação assim o tivessem desejado. O modo cristão no viver foi uma confissão constante e uma admoestação a todos os habitantes da cidade. O resultado foi, que muitos dos judeus, tantos quantos entraram em contato com os cristãos, foram tomados de grande temor; o espanto solene que os milagres e sinais operados pelos apóstolos inspiraram, aumentou pela veneração requerida pelo seu viver sem dolo.
A presença de Deus e do Cisto exaltado, por meio da manifesta operação do Espírito, em meio à congregação, precisou ser admitida por todos os que entraram em contato com eles. E este temor também serviu para a difusão do evangelho; serviu como freio sobre o ódio dos judeus, impedindo-os de qualquer manifestação pública de sua inimizade. Foi intenção de Deus, que a plantinha jovem de sua igreja devia gozar por algum tempo dum crescimento em paz.
Enquanto isto o amor fraterno dos discípulos mostrou seu poder na vida e nos atos deles. Estiveram juntos; seus corações e suas mentes estiveram direcionados a sua causa comum, o fato que naturalmente os levou a se reunirem tantas vezes quantas possíveis, fosse no tempo ou em casas particulares, e isto não só para os cultos públicos, mas também para o trato social no verdadeiro espírito cristão. E eles tiveram tudo em comum; não praticaram o comunismo e não ab-rogaram o direito da propriedade particular. Não a posse, mas o uso e o benefício dos bens foi comum. Cf. cap. 4. 32. Cada membro da congregação considerava sua propriedade como um talento do Senhor, com o qual devia servir seu próximo. Este amor fraterno em muitos casos realizou ainda mais. Venderam suas posses e bens, toda sua propriedade, e dividiram o produto entre os irmãos, tal como as necessidades o exigiam. Esta não foi uma lei proposta ou reforçada pelos apóstolos, mas foi uma livre manifestação de verdadeira caridade.
Os cristãos abastados estiveram dispostos e desejosos para realizar estes sacrifícios, sempre que era evidente que esta era a única maneira pela qual as necessidades dos irmãos podiam ser supridas. Não qualquer sinal da arrogante indiferença que agora caracteriza o intercurso dos ricos com os pobres. Expressões de amor como esse poucas vezes, ou jamais, haviam sido vistas anteriormente na terra. E tudo isto foi feito sem qualquer tentativa de ostentação. Como era de se esperar, os cristãos, de comum acordo e em plena unidade de espírito, tinham suas reuniões públicas no templo, onde tinham oportunidade para testificar aos outros de sua nação a respeito da esperança que os animava. E não somente no templo eram feitas reuniões diárias, mas também se encontravam de casa em casa, principalmente para a celebração da Santa Comunhão e da ceia comum conhecida como ágape, onde juntos tomavam a refeição com grande alegria e exultação e também com toda a simplicidade de coração.
Os membros mais ricos não se indignavam sobre o fato que os irmãos mais pobres compartilhavam do alimento que de sua abastança haviam provido, nem julgavam ser-lhes algo indigno sentar-se à mesma mesa. E os membros pobres nada possuíam da ridícula vaidade da pobreza de serem obrigados a aceitar a generosidade de outros. Todos estavam unidos nesta uma obra sublime, de dar louvor a Deus por todos os dons que ele derramara sobre eles. Não é de admirar que acharam as boas graças de todo povo.
Cada judeu honesto e sincero naturalmente estimava os cristãos pela simplicidade, pureza e caridade de suas vidas. E, sendo a confissão da boca apoiada e confirmada pela evidência das obras, o resultado foi que diariamente se registravam adesões ao número dos cristãos. Mas Lucas afirma expressamente que o Senhor juntava à congregação aqueles que deviam ser salvos. A conversão de cada pessoa é somente um ato do Senhor, e é o resultado de sua vontade graciosa e boa pela salvação dos pecadores. Notemos: A congregação de Jerusalém é em tudo um exemplo luzente para as congregações cristãs e para os cristãos de todos os tempos. Se o mesmo amor à palavra de Deus, ao uso do sacramento, se esta mesma caridade desinteressada aos irmãos fosse evidente em nossos dias, então cada congregação também se sobressairia da mesma forma. E esta é a vontade de Cristo, o Cabeça da igreja.
KRETZMANN. Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo Testamento Volume 2. Editora Concordia Publishing House.
3. A aceitar o ministério de líderes piedosos.
Ef 4.11. Paulo passa a falar agora dos dons específicos que Ele deu aos homens. A luz dos versículos 7, 8 não devemos entender concedeu como um mero equivalente para “designou”. Todos, em seus ministérios particulares, são dom de Deus à Igreja. “Devemos a Cristo o fato de termos ministros do evangelho”, diz Calvino. A Igreja pode indicar homens para diferentes trabalhos e funções, mas, a menos que tenham os dons do Espírito e sejam, portanto, eles mesmos os dons de Cristo à Sua Igreja, sua indicação será sem valor. A expressão também “serve para lembrar aos ministros que os dons do Espírito não são para enriquecimento pessoal, e sim para enriquecimento da Igreja” (Allan).
Se esta epístola tivesse sido escrita numa data posterior, conforme o pensamento de alguns, seria quase impossível não existir referência ao ministério local dos bispos, presbíteros e diáconos, os quais se tornaram da maior importância para a Igreja. Assim, o apóstolo não está pensando nos ministros de Cristo em seus ofícios, mas sim em seus dons espirituais específicos e suas tarefas, e havia muitos que não estavam limitados a uma determinada localidade no exercício de suas funções para a edificação da Igreja. Este fato explica a seleção que encontramos aqui e na lista semelhante em 1 Coríntios 12:28.
Em primeiro lugar estavam os apóstolos. A palavra apóstolos é usada no Novo Testamento com três sentidos diferentes. Podia significar simplesmente um mensageiro, como é aparentemente o caso em Filipenses 2:25 sentido esse que podemos deixar de lado aqui. Era usada acima de tudo para os doze, que por todo o Novo Testamento ocuparam uma posição especial e preeminente (1 Co 15:5; Ap 21:14). Mas lemos a respeito de outros como apóstolos, não apenas o próprio Paulo e Barnabé (At 14:14), mas também Tiago, o irmão do Senhor (G1 1:19), Silas (1 Ts 2:7), e Júnias e Andrônico que são mencionados apenas em Romanos 16:7.
De fato, parece terem existido alguns que podem ser verdadeiramente chamados de apóstolos (1 Co 15:7), mas que não conhecemos nem de nome. De acordo com as palavras de Paulo em 1 Coríntios 9:1 parece que uma das qualidades para o apostolado era a de ter visto o Senhor Jesus ressurreto, e de ter sido enviado por Ele, e, dessa forma, ter assumido pessoalmente o compromisso como membro considerado fundador (Ef 2:20), consagrado ao trabalho de edificação da Igreja. 1 Se a qualificação para ser apóstolo era a de ter visto o Senhor ressurreto e de ter sido enviado por Ele, a prova de ser apóstolo eram seus labores no poder de Cristo, inclusive “por sinais, prodígios e poderes miraculosos” (2 Co 12:12).
Os profetas (veja comentário sobre 2:20 e 3:5) estavam intimamente associados a eles na obra da edificação da Igreja a partir de seus fundamentos e eram, portanto, essenciais como dons de Cristo à Igreja. É difícil, para nós, ver de uma forma isolada o ministério dos profetas, mas eles se destacam claramente no Novo Testamento como homens de fala inspirada, cujo ministério da palavra foi da máxima importância para a jovem Igreja. As vezes podiam prever o futuro, como em Atos 11:28 e 21:9, 11, mas tal como os profetas do Antigo Testamento, sua grande obra era proclamar a palavra de Deus. Isto podia acontecer quando mostravam os pecados dos homens com poder convencedor (1 Co 14:24), ou quando fortaleciam a Igreja pela palavra de exortação. Esta segunda ideia está claramente ilustrada em Atos 15:32, onde se diz que “Judas e Silas, que eram também profetas, consolaram os irmãos com muitos conselhos e os fortaleceram”.
A partir da própria definição de apóstolo é evidente que seu ministério devia cessar com a morte da primeira geração da Igreja. O ministério, ou pelo menos o nome, de profeta também logo morreu na Igreja. Sua obra, que era receber e declarar a palavra de Deus sob inspiração direta do Espírito, era mais vital antes da existência de um cânon das Escrituras do Novo Testamento. Em escritos do segundo século lemos acerca de profetas, mas em importância decrescente. Os escritos apostólicos começavam a ser lidos largamente e aceitos como autorizados, e estes foram paulatinamente substituindo a autoridade dos profetas. Ao mesmo tempo, o ministério local assumiu cada vez mais importância, maior que a dos ministros itinerantes, e a isto, acrescentou-se o problema de que surgiram muitos falsos mestres e “profetas” por conta própria que iam de lugar em lugar, como vendedores ambulantes, cada um a oferecer sua mercadoria.
A seguir, vêm os evangelistas. Apenas duas outras referências no Novo Testamento aos evangelistas podem nos guiar às suas funções e trabalho. Em Atos 21:8 Filipe, cujas quatro filhas eram profetisas, é chamado de evangelista, e em 2 Tm 4:5 Paulo chama Timóteo para fazer “o trabalho de um evangelista”. Podemos presumir que o trabalho deles era uma obra itinerante de pregação orientada pelos apóstolos, e parece ser justo chamá-los de “a milícia missionária da Igreja” (Barclay).
Juntos então, aparecem os pastores e mestres (palavras ligadas pelo mesmo artigo em grego). É possível que esta frase descreva os ministros da igreja local, enquanto as três primeiras categorias são consideradas como pertencentes à Igreja universal. Mais provavelmente, o pensamento dominante é ainda de funções e dons espirituais. Apóstolos e evangelistas têm a tarefa específica de plantar a Igreja em cada lugar, profetas a de trazer uma palavra específica de Deus para uma dada situação. Os pastores e mestres são dotados para assumirem a responsabilidade pela edificação da Igreja dia a dia. Não há uma nítida linha divisória entre os dois.
Os deveres do pastor são: prover o rebanho de alimento espiritual e procurar protegê-lo de perigos espirituais. Nosso Senhor utilizou esta palavra em João 10:11,14 para descrever Sua própria obra, sendo sempre Ele mesmo, o sumo Pastor (Hb 13:20; 1 Pe 2:25; 5:4), sob Quem os homens são chamados a pastorear “o rebanho de Deus” (1 Pe 5:2; Jo 21:15; At 20:28). Cada pastor deve ser “apto para ensinar” (1 Tm 3,2; Tt 1:9), embora seja evidente que alguns possuem preeminentemente o dom de ensino, e pode-se dizer que formam uma divisão particular do ministério dentro da Igreja e que são um dom especial de Cristo a Seu povo (At 13:1; Rm 12:7, 1 Co 12:28).
Ef 4.12. Agora são usadas neste versículo três frases para descrever o propósito dos dons espirituais que acabam de ser mencionados. A diferença de preposições em grego indica que elas não podem estar separadas, pois a segunda frase é dependente da primeira, e a terceira é dependente das duas que a precedem.1 Em primeiro lugar portanto, o ministério da Igreja lhe é entregue com vistas ao aperfeiçoamento dos santos. A palavra usada (katartismos) não se encontra em qualquer outro lugar do Novo Testamento, embora o verbo correspondente seja usado no sentido de consertar alguma coisa (Mt 4:21); de Deus ter formado no princípio o universo de acordo com o modelo e ordem pretendidos (Hb 11:3); e de restaurar a saúde espiritual de alguém que sofreu queda (G1 6:1). Todavia, a palavra pode ter o sentido de “aperfeiçoar” o que está deficiente, na fé dos cristãos (1 Ts 3:10; Hb 13:21; 1 Pe 5:10) e podemos dizer com Robinson que a palavra dá a ideia de “levar os santos a tornarem-se aptos para o desempenho de suas funções no Corpo, sem deixar implícita uma restauração de um estado desordenado”. Alcançar tal condição não é um fim em si mesmo, mas tem um propósito que é de habilitá-los para o desempenho do seu serviço. Tão claramente quanto no versículo 7, isto deixa implícito que cada cristão tem um serviço a desempenhar, uma tarefa e função espirituais no corpo.
A palavra empregada aqui (diakonia; ou o verbo correspondente) diz respeito ao serviço feito pelos servos da casa (Lc 10:40; 17:8; 22:26s; At 6:2), refere-se, portanto, não só ao trabalho específico daqueles que vieram a ser conhecidos como “diáconos”, mas é usada também num sentido mais geral da palavra que se refere a todo “serviço” da igreja (3:7).
O que é feito para os santos, e pelos santos, é para a edificação do corpo de Cristo. A palavra oikodome foi utilizada em 2:21, mas tem aqui um sentido mais amplo. A Igreja vai sendo construída e aumentada e seus membros são edificados, à medida que cada membro usa seus dons individuais segundo o que o Senhor da Igreja ordena, e, desta forma, cada crente desempenha um serviço espiritual para com seus companheiros no Corpo e para com a Cabeça. Não há necessariamente confusão de metáforas quanto ao sentido dado a oikodomê com o corpo, mas o apóstolo acha que a metáfora do corpo é mais adequada do que qualquer outra por causa do que deseja falar logó adiante a respeito do crescimento e unidade da Igreja.
Ef 4.13. Todas as três frases no versículo 12 descrevem o processo que ocorre na vida da Igreja. Mas o apóstolo jamais poderia pensar em um processo sem fixar os olhos no alvo. O verbo empregado no princípio do versículo (katantaõ) é usado nove vezes em Atos com referência aos viajantes que chegam a seu destino.1 (At 26:7 e Fp 3:11 para uso semelhante ao daqui). E o ponto de chegada da jornada da Igreja é descrito de três modos. O primeiro é a unidade da fé. Quando a fé (veja comentário sobre o versículo 5) é corretamente participada, pessoas com diferentes origens de erro e ignorância chegam a uma compreensão crescente da única “esperança”, a uma dependência também crescente do único “Senhor”, e, assim sendo, a uma apreciação progressiva do único “corpo”. O alvo, portanto, deve ser a unidade na fé.
Segundo, embora já se tenha dito o suficiente para tornar isto evidente, enfatiza-se que fé não é apenas aceitar-se uma coleção de dog mas, e obter-se assim a unidade. É algo mais profundo e mais pessoal. É a unidade no pleno conhecimento do Filho de Deus (veja comentário sobre 1:17). Jamais conheceremos uma pessoa apenas com a mente; e o conhecimento de uma tal Pessoa deve envolver a mais profunda comunhão. Pois esta Pessoa é o Filho de Deus, e esta é uma das raras vezes, em todas as epístolas paulinas, que este título aparece (Rm 1:4; G1 2:20; 1 Ts 1:10). Quando Paulo fala da relação do Senhor com Sua Igreja e com o propósito do Pai, em geral usa o título “Cristo”, mas “quando O descreve como o objeto daquela fé e conhecimento em que nossa unidade será finalmente compreendida” (Robinson), fala dEle em Sua posição única como o Filho de Deus.
Mas esse conhecimento, que é comunhão com o Filho de Deus, envolve a experiência plena de vida “em Cristo”, e, portanto, de desenvolvimento até a perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo. Todas as diferentes expressões aqui falam de maturidade. A palavra traduzida por perfeita (teleios) possui a conotação de desenvolvimento pleno em 1 Coríntios 2:6; 14:20 e Hebreus 5:14. Varonilidade significa aqui o estado de ser adulto, como em 1 Coríntios 13:11, onde a palavra também é contrastada com nêpios, que é usada no próximo versículo aqui para designar crianças.
O singular, além do mais, expressa novamente o pensamento de que maturidade envolve unidade; os “muitos” devem se tornar um “novo homem” (2:15). Então a palavra usada para estatura, que pode ter o sentido de idade (Jo 9:21, 23) ou de estatura física (Lc 19:3), fala figuradamente de maturidade, cujo padrão é nada menos que a plenitude de Cristo. Tal como em 1:23, alguns interpretam esta expressão como “a medida do Cristo perfeito”, perfeição esta que Ele atinge ao preencher-se de Sua Igreja. Outros entendem a expressão como aquilo que Cristo preenche. Parece-nos que a melhor interpretação é a mesma que de 1:23, isto é, como posse completa dos dons e graça de Cristo, os quais Ele procura dar aos homens. Ele mesmo possui a própria plenitude de Deus (Cl 1:19; 2:9); Ele quer que o cristão seja preenchido de tudo o que Ele possa comunicar.
É irrelevante que este alvo possa ou não ser alcançado nesta vida. O importante é que o cristão deve marchar firme para frente levado por esta alta ambição.
Ef 4.16. É somente de Cristo, como Cabeça, que o corpo recebe toda sua capacidade para crescer e para desenvolver sua atividade, recebendo assim uma direção única para funcionar como entidade coordenada. Colossenses 2:19 é um texto paralelo bem próximo deste versículo, e ambos deveriam ser estudados em conjunto, embora não se encontre ali a palavra que é traduzida por bem ajustado. Essa palavra só aparece outra vez no Novo Testamento em Ef. 2:21. Deriva de uma palavra (harmos) que designa um tipo de junta ou amarração usada na construção de edifícios, ou para as juntas de articulação do corpo.
O segundo particípio (sunbibazomenon) é empregado para a ação de reunir, ligar coisas ou pessoas, para reconciliar aqueles que tenham brigado e também para relacionar fatos ou argumentos num plano de aula ou programa de ensino. Assim, ambos os particípios têm o sentido daquela unidade funcional que se torna possível entre os membros, quando orientados pelo Cabeça. Mas depois desses particípios o grego já se torna difícil. A palavra traduzida junta (haphê) possui inúmeros significados. Denota basicamente “toque”, de sorte que pode significar “contato”, “ponto de contato” ou “pegas”, e estes sentidos levaram os comentadores a uma variedade de interpretações. O uso da palavra tanto no contexto quanto no âmbito restrito da medicina justifica a sua tradução por “junta”, e assim, afirma que é pelo auxilio de toda junta, com que o corpo é equipado, é que o crescimento e funcionamento verdadeiros se tornam possíveis. Em outras palavras, o corpo depende para seu crescimento e atividade: da direção do Senhor, de Sua provisão para tudo o que necessita (compare versículos 11, 12), e também do bom relacionamento entre os membros.
E agora estamos de volta com uma palavra que se tornou familiar nesta epístola (1,19 e 3:7), pois o apóstolo deixa de considerar os membros e a conexão entre eles para tratar da justa cooperação de todo o corpo. A “energização” de Deus no corpo todo torna possível este funcionamento de cada parte, em sua medida e de acordo com sua necessidade. Então menciona-se mais uma vez o propósito do crescimento, e está claro que cada membro não procura o seu próprio crescimento, mas o do corpo como um todo: não sua própria edificação, mas a edificação do todo. Basicamente, a edificação não é o aumento numérico da Igreja, mas o crescimento espiritual. E este crescimento é acima de tudo em amor. Esta pequena frase aparece novamente (1:4; 3:17; 4:2; 5:2), pois o amor determina que cada membro procurará a edificação de todos. Então, sem dúvida, se houver a comunhão da convivência em amor e a demonstração da verdade em amor, o aumento numérico virá como consequência natural.
Francis Foulkes. Efésios. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 98-104.
A Classificação dos Dons (4.11)
Tudo indica que Paulo, quando escreveu estas palavras, tinha em mente a lista dos ministérios relacionados em 1 Coríntios 12.28. A passagem coríntia compreende uma lista mais longa de dons espirituais (charismata). Mas nesta passagem, Paulo está interessado em apresentar os ofícios necessários para a expansão e sustento da igreja. Cristo deu à igreja os apóstolos: os ministros supremos, os doze que haviam visto o Senhor ressurreto e recebido suas tarefas diretamente dele. Os profetas têm posição proximal à dos apóstolos, e o seu dom especial era o de ministério inspirado. Foulkes afirma que a função primária dos profetas era similar à dos profetas do Antigo Testamento: “anunciar” a palavra de Deus.
Porém, ocasionalmente prediziam acontecimentos futuros, como em Atos 11.28 e 21.9,ll.30 Os evangelistas eram pregadores itinerantes, que iam de lugar em lugar para ganhar os incrédulos (cf. 2 Tm 4.5), de modo muito semelhante como se faz hoje.
Certos intérpretes sugerem que as primeiras três categorias se aplicam à igreja universal, ao passo que as outras duas se ajustam especificamente à igreja local. Pastores são pastores de um rebanho de comunicantes; a palavra grega (poimen) empregada aqui significa, literalmente, “pastor de ovelhas”. A tarefa dos pastores é alimentar o rebanho e protegê-lo dos perigos espirituais. Doutores pode ser uma outra função do pastor. Bruce afirma que estes dois termos “denotam a mesma e uma única classe de homens”.31 Contudo, pode ser que os doutores representem uma classe de responsabilidade um tanto quanto menor que os pastores, mas que, mesmo assim, detêm lugar especial na igreja. Os cinco ministérios são concedidos pelo Espírito e dados por Cristo à sua igreja.
visto o Senhor ressurreto e recebido suas tarefas diretamente dele. Os profetas têm posição proximal à dos apóstolos, e o seu dom especial era o de ministério inspirado. Foulkes afirma que a função primária dos profetas era similar à dos profetas do Antigo Testamento: “anunciar” a palavra de Deus. Porém, ocasionalmente prediziam acontecimentos futuros, como em Atos 11.28 e 21.9,ll.30 Os evangelistas eram pregadores itinerantes, que iam de lugar em lugar para ganhar os incrédulos (cf. 2 Tm 4.5), de modo muito semelhante como se faz hoje.
Certos intérpretes sugerem que as primeiras três categorias se aplicam à igreja universal, ao passo que as outras duas se ajustam especificamente à igreja local. Pastores são pastores de um rebanho de comunicantes; a palavra grega (poimen) empregada aqui significa, literalmente, “pastor de ovelhas”. A tarefa dos pastores é alimentar o rebanho e protegê-lo dos perigos espirituais. Doutores pode ser uma outra função do pastor. Bruce afirma que estes dois termos “denotam a mesma e uma única classe de homens”.31 Contudo, pode ser que os doutores representem uma classe de responsabilidade um tanto quanto menor que os pastores, mas que, mesmo assim, detêm lugar especial na igreja. Os cinco ministérios são concedidos pelo Espírito e dados por Cristo à sua igreja.
O Propósito dos Dons (4.12-16)
Falando principalmente da vida interior da comunidade cristã, Paulo descreve o propósito para o qual Cristo deu à igreja estes ministérios. Pelo menos quatro dimensões do propósito divino são distinguíveis.
a) Estes ministérios são dados para edificar ou construir o corpo de Cristo (12). As três frases neste versículo, cada uma separada por uma vírgula (RC), dão a impressão de que o apóstolo expressa um propósito triplo. No idioma original, a ênfase está na última frase: “Ele fez isso para preparar o povo de Deus para o serviço cristão, a fim de construir o corpo de Cristo” (NTLH). O objetivo destes servos especiais é ocasionar um aperfeiçoamento (katartismos, lit., “adaptação” ou “equipamento”) para a obra do ministério (diakonias). A expectativa é que haverá um trabalho ativo e frutífero para o Senhor, com o resultado de que a igreja será edificada.
A medida que as almas são ganhas, a vida da comunidade se aprofunda e se fortalece pelo serviço unificador da igreja.
b) Estes dons ministeriais são dados para promover maturidade. O versículo 13 rememora o anterior e oferece explicação adicional da “edificação” da igreja. Uma vez mais, Paulo usa três frases, cada uma iniciada com a preposição grega eis: 1) à unidade da fé; 2) a varão perfeito; 3) à medida da estatura completa de Cristo. Estas não são ideias paralelas. A primeira fala do meio da maturidade, a segunda fala da realidade da maturidade e a terceira fala da medida da maturidade. Uma tradução melhor do versículo seria esta: “Assim, todos finalmente atingiremos a unidade inerente em nossa fé e em nosso conhecimento do Filho de Deus, e chegaremos à maturidade, medida por nada menos que a estatura completa de Cristo” (NEB).32
A unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus constitui o meio do amadurecimento (cf. RA). A unidade é um dom do Espírito (cf. 3), mas requer-se fé e conhecimento para recebê-la. Neste texto, a fé é a resposta que damos ao Filho de Deus e a nossa confiança nele — Deus manifestado na carne que morreu no Calvário em nosso benefício. Aqui, conhecimento (epignosis) é semelhante à fé no ponto em que significa “compreensão, familiaridade, discernimento”. Não devemos equipará-lo a conhecimento intelectual, mas a relações pessoais. A unidade se origina dessa intimidade com o Filho proporcionada pela graça. Paulo não está falando da experiência inicial com Cristo. O apóstolo se preocupa com o crescimento e aumento em entendimento e compreensão dos propósitos e vontade de Deus conforme estão revelados em associação com Cristo. Os membros da igreja podem e devem ter tal crescimento em maior medida enquanto o servem.33
A varão perfeito refere-se ao nível de maturidade coletiva e individual na igreja, no qual o poder de Deus se manifesta inteiramente em santidade e justiça. Tal estado será atingido em seu significado máximo futuramente, quando possuirmos a graça de Cristo na perfeição da ressurreição (cf. Fp 3.7-16).34
A medida da estatura completa de Cristo é o padrão de medida que determina a maturidade cristã. Hodge escreve: “A igreja se torna adulta, homem perfeito, quando alcança a perfeição de Cristo”.36 A chave para interpretar o versículo é a expressão estatura completa de Cristo. Qual é esta estatura? Salmond diz que é “a soma das qualidades que fazem o que ele é”.36 Quando a igreja está à altura da maturidade plena do seu Senhor, ela é perfeita.
E à medida que cresce em direção a essa maturidade, ela fica mais próxima de sua meta em Cristo. Precisamos também destacar que não há crescimento na igreja separadamente de nosso crescimento individual como crente. É cada um de nós individualmente que tem de se dirigir com empenho à estatura completa de Cristo.
No versículo 16, o apóstolo retorna à analogia do corpo e se serve disso para enfatizar a unidade que Cristo, a cabeça, traz para a igreja. Ele visualiza a estrutura maravilhosa e intricada do corpo humano com suas partes unidas de modo bem ajustado e ligado (“bem unido e consolidado”, NEB).39 Na analogia, juntas referem-se aos ligamentos pelos quais as partes do corpo se unem. Quando o corpo está funcionando segundo ajusta operação de cada parte, quer dizer, quando cada parte é ativada de acordo com o seu propósito, a harmonia prevalece e o crescimento é certo. Cristo é, obviamente, o centro e a origem de toda a vida espiritual. Ele dá “coesão e poder vital para o crescimento”.40 Este crescimento resulta na edificação ou “construção” (BAB) da igreja em amor (cf. 1.4; 3.17; 4.2; 5.2). A estrutura tem a ver principalmente com o desenvolvimento espiritual interno, mas quando a igreja é interiormente forte ela aumenta numericamente.
Em suma, Paulo vê a unidade da igreja em termos orgânicos e não organizacionais. A verdadeira unidade é interior e resultado de um organismo saudável. O Espírito cria essa unidade; não é obra de homens, por mais inteligentes ou apessoados que sejam. Quando esta unidade prevalece, compartilhada por cada membro e motivada pela fidelidade de ministros talentosos, a igreja cresce em simetria e beleza, para espanto do mundo não-crente.
Nos versículos 4 a 16, o pensamento da medida da estatura completa de Cristo
sugere o tema “O Alvo Ultimo do Cristão”. 1) O meio para esse fim. Ensinar e pregar a Palavra de Deus, 11,12; 2) O compêndio do ideal, 4-7,15. Afé incorporada e o corpo incorporado, 16; 3) A proximidade da meta num caráter estável, 14. Cristo no trono do coração. A igreja unida (G. B. Williamson).
Willard H. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 160-163.
Ef 4.11 O mesmo que levou cativos os poderes também concedeu dons à sua igreja: “os apóstolos, os profetas, os evangelistas, os pastores e mestres”. Diferentemente do v. 7, onde se falava da distribuição de dons individuais para todos os membros da igreja, Paulo aqui designa determinadas pessoas como dom de Cristo. Em vista da proximidade do presente trecho com Ef 1.20-23 é preciso chamar atenção para o fato de que em Ef 1.22 o Cristo exaltado foi “concedido” como cabeça sobre a igreja toda. Logo Cristo é a “dádiva principal” para sua igreja, no seio da qual ele próprio “concede” determinadas pessoas.
De modo diverso da listagem análoga em 1Co 12.28-30, Paulo emprega aqui o artigo definido para cada uma das pessoas. Isso permitiria concluir que na carta aos Efésios não se trata da tarefa em geral, mas do grupo claramente delimitado de representantes incumbidos do serviço específico. Essa diferença também é constatável em relação a Rm 12.6s, onde são arroladas não as respectivas pessoas, mas cada uma das atividades: profecia, diaconia, exortação, etc.
No mesmo sentido Paulo havia falado também em Ef 2.20 do “fundamento dos apóstolos e profetas” e em Ef 3.5 de “seus santos apóstolos e profetas”. Diante das demais considerações em Ef 4.12ss, parece que essa ênfase refere-se especificamente às tarefas de proclamação, direção e ensino. Por isso não são mencionados aqui outros dons da graça que aparecem em Rm 12 e 1Co 12.
Não se deve esquecer que também na primeira carta aos Coríntios os dons da palavra e as pessoas agraciadas com eles aparecem no começo das respectivas listas, de modo que o tratamento do conflito causado por fenômenos entusiastas é marcado por uma clara premissa: isso diz respeito em 1Co 12.8 à palavra da sabedoria e à palavra do conhecimento, dadas pelo Espírito, e em 1Co 12.28 “primeiramente a apóstolos, em segundo lugar a profetas, e em terceiro lugar, a mestres”. A combinação de “profetas e mestres” ocorre em At 13.1. Em 1Tm 2.7 (também em 2Tm 1.11) Paulo relaciona consigo mesmo o serviço de “pregador” (cf. “evangelista”), apóstolo e mestre (dos gentios). É digno de nota que também esse trecho está visivelmente próximo de Ef 4.4ss: a confissão do único Deus e do único Mediador entre Deus e os humanos, que se “deu” como pagamento de resgate, é seguida pela transição para a investidura de Paulo como “arauto” desse evento de salvação.
Segundo esse pensamento Cristo presenteou sua igreja com dons, i. é, com pessoas incumbidas e capacitadas que possuem uma relevância fundamental para a construção e o crescimento da igreja. Trata-se aqui daqueles que proclamaram e explicaram o evangelho da salvação em Jesus Cristo de acordo com a situação atual dos ouvintes, bem como firmaram, exortaram e encorajaram as incipientes igrejas através dessa palavra.
Nesse contexto duas coisas são irrenunciáveis: a importância das referidas pessoas como “detentores de cargo” não vem delas mesmas. Pelo contrário, são presentes do Senhor à igreja dele. Elas, por sua vez, receberam seus dons daquele que é o verdadeiro presente para a igreja (Ef 1.23). Possuem importância fundamental para a constituição da igreja, motivo pelo qual de forma alguma podem ser arbitrariamente substituídos.
Ef 4.12 A finalidade para a qual Cristo concedeu os “dons” é indicada por meio de três segmentos da frase. A concatenação das diversas afirmações entre si apresenta alguns problemas. Em especial cumpre esclarecer se a parte intermediária “para a obra do serviço” se refere aos santos ou aos “detentores de cargos” no sentido daqueles que são incumbidos “de uma obra do serviço”. Uma vez que isso não pode ser decidido unicamente com base na estrutura gramatical, é preciso dar a seguinte explicação a partir do contexto: as diversas pessoas incumbidas foram dadas “para o preparo (grego: pros) dos santos para (grego: eis) a obra do serviço, para (grego: eis) a edificação do corpo de Cristo”. Portanto, o sentido seria este: os “detentores de cargos” têm a tarefa de preparar os crentes a fim de que eles por seu turno possam assumir serviços. O corpo de Cristo é edificado por meio de ambas as atividades – o preparo por meio dos grupos citados (em seu todo, não apenas por pastores e mestres) e a obra dos santos.
O termo “preparar” é empregado no NT no sentido de “equipar”, “firmar”: p. ex., conforme 1Ts 3.10 Paulo visa consolidar a fé dos tessalonicenses acrescentando aquilo que ainda lhes falta. Em 1Co 1.10 o termo refere-se a “cunhar o caráter” em vista da unidade da igreja (cf. Gl 6.1). Nisso os membros da igreja devem ajudar-se uns aos outros (cf. 2Co 13.11). Em consonância, a tarefa dos pregadores, dirigentes e pastores consiste em firmar e fortalecer os crentes na confiança em Jesus Cristo, bem como equipá-los para a percepção de suas próprias tarefas. Na verdade podemos relacionar “a obra do serviço” (grego: ergon diakonias) sobretudo com o serviço ao evangelho, a proclamação. Contudo, isso salienta apenas a característica especial da diaconia incumbida por Jesus Cristo: pelo fato de que o próprio Senhor é o servo (Lc 22.27; Jo 13.4ss) e sua vida, paixão e morte são o “serviço” por excelência (Mc 10.45; par.), que é disseminado exclusivamente pela proclamação do evangelho, por isso toda a diaconia brota dessa palavra e é sustentada por ela. Por essa razão uma diaconia desse tipo é predominantemente “diaconia da reconciliação” (2Co 5.18) e consiste no “serviço ao evangelho” (cf. Fp 2.22).
Em uma forma de expressão comparável ao presente versículo Paulo encoraja os coríntios em 1Co 15.58 a destacar “na obra do Senhor” (cf. 1Co 16.10 a respeito de Timóteo), evidentemente descrevendo assim a abrangência total da atuação cristã. O cumprimento das respectivas tarefas por pessoas santas especificamente incumbidas serve à “edificação do corpo de Cristo”. Foi citada, portanto, a palavra básica da vida da igreja em seu todo: tudo o que acontece dentro da igreja local e na igreja cristã em geral precisa servir à “edificação”. Isso marca a linha básica da argumentação diante da igreja em Corinto: na igreja tem vez não o que talvez até seja lícito, individualmente emocionante, mas só aquilo que edifica (1Co 10.23; 14.3s,14,26), e por isso sobretudo o amor (1Co 8.1).
Ef 4.13 A edificação, o crescimento do corpo de Cristo, estão direcionados para um alvo que é indicado neste versículo. A expressão “chegar” pode significar literalmente alcançar um lugar (diversas vezes em At: p. ex., At 16.1; 18.19; etc.), mas também pode ser usada em sentido figurado (o fim dos tempos chegou: 1Co 10.11). Assim como aqui, em Fp 3.11 ela implica a atenta orientação rumo ao alvo visado, quando Paulo afirma de si: “para alcançar a ressurreição dentre os mortos”.
Pode parecer estranho que desde já a igreja seja a “plenitude de Cristo”, concidadã crente dos santos, família de Deus, pedra no templo santo, e que apesar disso ainda se diga que haverá um crescimento, um vira-se. A mesma duplicação já chamara atenção no contexto da herança colocada à disposição: os direitos já foram transferidos, mas ainda não se tomou posse dela (Ef 1.18; 2.7). Consequentemente a plenitude de Cristo é ponto de partida e alvo de todo o crescimento.
Agora isso passa a ser relacionado a uma situação concreta: na realidade pode haver na igreja uma só fé, visto que esta só pode ser fé em um só Senhor Jesus Cristo (Ef 4.5). Na realidade a “unidade do Espírito” é algo dado, porque o Espírito Santo é um só (Ef 4.3). Não obstante cabe “segurar” essa unidade, ou “chegar” a ela. A força motriz de todos os esforços nessa direção não é a utopia de uma igreja unificada, mas a realidade do único corpo de Cristo.
A unidade da fé está estreitamente ligada à “unidade do conhecimento”, que por sua vez se concentra no “Filho de Deus”. Em Ef 1.17-19 Paulo já suplicara pelo Espírito da sabedoria, para que os leitores reconheçam a esperança e a força resultante da ressurreição de Cristo. De maneira semelhante Cl 2.2 interliga o esforço para que “os corações sejam unidos em amor” e o “conhecimento do mistério de Deus: Cristo”. Por isso uma fé aumentada e um conhecimento aprofundado do Filho de Deus caracterizam o crescimento da unidade eclesial.
À unidade corresponde a perfeição. A igreja, “todos nós”, devemos nos tornar “seres humanos perfeitos”: “unidade e perfeição constituem o alvo da igreja, e o Cristo concede participação a cada um nessa unidade e perfeição; ao procurar „chegar‟, impelido pela palavra de Deus, o indivíduo cresce em direção ao alvo da totalidade.”
Discordando de tentativas equivocadas de derivação de concepções gnósticas, o “ser humano perfeito” deve ser entendido como a pessoa amadurecida, adulta. Isso é elucidado pela segunda expressão: “para a medida cheia da plenitude de Cristo”. “Medida plena” é a tradução literal para “medida da idade da vida” ou também “medida da estatura”. Trata-se da “idade adulta” ou da “medida cheia da figura”. O trabalho dos encarregados edifica o corpo de Cristo. Terá alcançado seu tamanho completo “quando todos que são destinados à igreja segundo o plano divino de salvação pertencerem à igreja… A igreja, que é o corpo do Cristo, constitui na estatura completa o pleroma de Cristo.”
Ef 4.16 A partir do cabeça resulta, no encerramento dessas considerações sobre a unidade e o crescimento do corpo que Cristo presenteia com dons, o ensejo de ilustrar resumidamente a concomitância e o entrelaçamento desse organismo singular.
Viabilizado por esse cabeça e emanando dele “o corpo todo efetua… o crescimento do corpo para a edificação de si próprio no amor”. O corpo “todo”, até as menores ramificações, recebe de Cristo impulso e vigor para o crescimento, para a edificação. Como em Ef 2.20ss, aparecem também aqui lado a lado as figuras do corpo e da construção. Com o crescimento do corpo em direção do cabeça amplia-se também a construção, favorecendo a sua conclusão. A ligação vital com o cabeça, a única coisa que torna viável esse “efetuar”, exclui a possibilidade de que essa “edificação de si próprio” possa tratar-se de um agir autocrático da igreja. A igreja somente pode ser reconhecida a partir de seu cabeça, Cristo. Toda vez que ela perde isso de vista, o presente trecho visa estimular a retornar para o cabeça.
Todo o corpo é “bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta de apoio”. De maneira muito semelhante, Paulo diz, em Cl 2.19: “… o cabeça, a partir do qual o corpo todo é apoiado por articulações e tendões e mantido coeso e cresce pelo agir de Deus.”
Quando se entende o v. 16 como síntese de Ef 4.7-15, as “juntas de apoio”, que possuem uma função central para a coesão do corpo, serão relacionadas com as pessoas incumbidas das tarefas citadas no v. 11.
Também aqui é preciso chamar novamente atenção para o fato de que a tarefa de apoio daqueles especificamente incumbidos apenas é possível a partir de sua ligação vital com o cabeça, uma vez que não representam apenas “dons” para o corpo, mas que também receberam os “dons” pessoalmente de Cristo, de acordo com a vontade dele (Ef 4.7s).
Essa coesão é fomentada “segundo a força atribuída a cada parte”. A formulação “a cada” retoma o v. 7, motivo pelo qual igualmente não deve ser restrito aos que são especificamente encarregados, mas à totalidade dos que creem: a cada um foi concedida, de acordo com a medida do dom de Cristo, a graça com os dons dela decorrentes. De forma análoga o corpo é favorecido por todos os membros. Isso ocorre conforme a força medida para cada parte (cf. Ef 3.7 com vistas ao próprio Paulo).
Assim este versículo sintetiza de fato todo o trecho precedente: partindo da unidade de Deus e de seu agir no corpo de Cristo, o olhar se estende para a multiplicidade dos dons distribuídos aos crentes. Na sequência, Paulo destaca as tarefas específicas dos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres no preparo dos santos, para que a igreja de Cristo possa alcançar a idade adulta e resistir a doutrinas ardilosas e enganosas. Por fim o apóstolo enfoca novamente a cooperação de todos na edificação do corpo. A característica marcante de toda a incumbência é que a edificação acontece “no amor” (v. 13). Isso sucede quando o conhecimento do amor de Cristo (Ef 3.19) cresce mais e mais e por isso também se fala a verdade em amor (Ef 4.15).
Eberhard Hahn. Comentário Esperança Cartas aos Efésios. Editora Evangélica Esperança.
4. A ter cuidado com os inimigos.
Sl 106.34 Não exterminaram os povos. Tendo entrado na Terra Prometida, os hebreus não foram capazes de exterminar os cananeus nativos, conforme as referências dadas anteriormente o demonstram. Apareceram muitos bolsões de resistência, e em cada um houve uma má influência qualquer que fez com que Israel pecasse, especialmente imiscuindo-se na idolatria. Somente nos tempos de Davi os inimigos de Israel foram finalmente aniquilados ou confinados. (Ver em II Sam. 10.19 como Davi derrotou oito nações inimigas.) Tendo derrotado esses povos, Davi possibilitou a Salomão uma boa era de paz, a época áurea de Israel. Mas isso levou vários séculos para ser realizado. O poeta sentiu que a falta de fé de Israel impediu o processo da conquista. Os israelitas contentaram-se com o que já tinham conseguido, pelo que estavam sendo constantemente atacados pelos povos não dominados, além de se deixarem corromper moral e espiritualmente. Eles deveriam ter feito guerra santa contra aqueles povos, levando-os ao aniquilamento total, incluindo homens e animais, e nem ao menos ficando com os despojos. Quanto a isso, ver Deu. 7.1-5 e 20.10-18.
Sl 106.35 Antes se mesclaram com as nações. Israel continuou a mesclar-se com os povos em derredor, aprendendo más ideias e maus hábitos, especialmente a idolatria e a variedade de pecados que sempre a acompanha. Essas práticas eram imorais, incluindo prostituição sagrada e até sacrifícios infantis (vss. 37-40), a mais terrível de todas as práticas associadas à idolatria (ver a respeito no Dicionário) Os pagãos os engaiolaram como pássaros e os fizeram transformar- se em um povo pagão. Ver Juí. 2.3; Êxo. 23.33; Deu. 7.16. Josué e outros homens de Deus avisaram acerca do que estava acontecendo (Jos. 23.12,13), mas os filhos de Israel não atentaram para essas advertências. Os casamentos mistos promoviam a corrupção geral (Deu. 7.3.4).
Sl 106.36 Deram culto a seus ídolos. A idolatria era o pior dos pecados de Israel, multifacetado e mortífero para o espírito. A síndrome do pecado-julgamento-restauração nunca deixou de rolar até que os cativeiros assírio e babilônico puseram fim a esse ciclo. Ver Êxo. 23.33 e Juí. 8.27. A armadilha causou destruição, tal como uma ave é apanhada pela rede e depois é morta, de maneira que o seu corpo pode ser usado como alimento ou em algum outro propósito. Ver Exo. 10.7. Quanto à adoção dos pactos canaanitas, ver Juí. 2.11,12; II Reis 16.3,4."... tal como uma ave ou fera em uma armadilha, eles foram levados à tribulação e à angústia, das quais foram incapazes de livrar-se” (John Gill, in loc.).
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2397-2398.
Desobediência em Canaã (106.34-39)
Nem mesmo a posse da Terra Prometida encerrou a triste narrativa de desobediência e incredulidade. Os israelitas não destruíram as tribos pagãs de Canaã como haviam sido ordenados, mas, em vez disso, se misturaram com as nações e aprenderam as suas obras (práticas, 35). A idolatria foi a maldição e o laço (36) dos israelitas desde o Êxodo até o exílio. Eles foram curados somente pelo rigoroso fogo do cativeiro babilônico. Esse culto pagão chegou ao extremo do sacrifício humano (37-38; cf. Dt 12.31; 18.9-10; 2 Cr 33.5-6; Ez 16.20-21; 20.31). A expressão: Sacrificaram [...] aos demônios (38) e aos ídolos de Canaã (38) mostra que os “deuses” dos cananeus eram, na verdade, demônios na ótica do salmista. “Tornaram-se impuros pelos seus atos; prostituíram-se por suas ações” (39, NVI).
W. T. Purkiser, M. A.. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 3. pag. 276.
A narrativa termina com um relato da conduta de Israel em Canaã, que foi do mesmo tipo da conduta deles no deserto, e da conduta de Deus com eles em que, o tempo todo, estavam presentes justiça e misericórdia.
1. Eles provocavam muito a Deus. Os milagres e as misericórdias que os estabeleceram em Canaã não causaram impressão mais profunda nem mais durável neles que aqueles que os tiraram do Egito; pois no momento em que foram estabelecidos em Canaã, eles corromperam-se e abandonaram a Deus. Observe:
(1) Os passos da apostasia deles.
[1] Eles pouparam as nações que Deus determinara que fossem destruídas (v. 34); Deus dissera-lhes para que, quando conseguissem a terra boa, não sentissem zelo pelo habitantes ímpios que o Senhor ordenara que eliminassem, fingindo sentir pena; mas Deus é tão misericordioso que o homem não precisa de forma alguma ser mais compassivo que ele.
[2] Quando eles os pouparam, prometeram a si mesmos que, não obstante isso, não teriam nenhuma afinidade perigosa com eles. Contudo, o caminho do pecado é um declive; as omissões abrem caminho para as concessões; quando eles não destruíram os povos, a notícia seguinte que temos é que eles se misturaram com as nações, aliaram-se a elas e tiveram intimidade com elas de tal maneira que aprenderam as suas obras (v. 35). O que é decaído corrompe mais depressa o que é são do que é curado ou feito são por ele.
[3] Quando eles se misturaram com as nações e aprenderam algumas de suas obras que pareciam diversões e passatempos inocentes, eles pensavam que, todavia, não se juntariam a eles em sua adoração; mas, aos poucos, eles aprenderam a fazer isso também: serviram os seus ídolos da mesma maneira e com os mesmos rituais que as nações os serviam; e elas vieram a ser-lhes um laço. Esse pecado inspirou muitos outros mais e trouxe julgamento de Deus sobre eles, em relação ao qual eles não podiam fazer nada além de ser sensíveis ao julgamento e, ainda assim, não sabiam como se recuperar. [4] Quando eles se juntaram às nações em alguns de seus cultos idólatras, que eles achavam que tinham pouquíssimo dano em si, pensaram pouco no fato de que sempre seriam culpados da idolatria bárbara e desumana de sacrificar crianças vivas a deuses mortos; mas, por fim, eles chegaram a isso (w. 37,38), no que Satanás triunfou sobre seus adoradores e regalou-se no sangue e no homicídio: sacrificaram seus filhos e suas filhas, partes deles mesmos, aos demônios e acrescentaram homicídio, a morte menos natural, a sua idolatria; não se pode pensar nisso sem sentir horror. Eles derramaram sangue inocente, o mais inocente, pois era sangue de crianças, não, era o sangue de seus filhos e de suas filhas.
Veja o poder do espírito que opera nos filhos da desobediência e perceba a malícia dele. O início da idolatria e da superstição, como o do conflito, é como deixar a água correr, e não há vilania que os que se aventuram nisso possam ter certeza de que pararam antes de a cometer, pois justamente Deus os entregou a um sentimento perverso (Em 1.28).
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 586-587.
Sl 106.31-33 — Aguas da contenda refere-se a Meribá (SI 95.8; Nm 20.1-13). Aqui, o pecado atribuído a Moisés é o de haver falado imprudentemente.
Em Números 20.12, Deus identifica o pecado de Moisés exatamente como o de O haver desonrado perante o povo por não confiar nele. Ao não seguir a ordem do Senhor para falar à rocha, Moisés serviu de exemplo, ante toda a comunidade ali presente, de desobediência e desrespeito às Suas ordens, desmoralizando-o.
Sl 106.34-39 — O juízo de Deus sobre Israel em Canaã foi resultado da má vontade dos israelitas em destruir os povos pervertidos, pagãos. Se os cananeus tivessem sido expulsos da terra, o povo de Israel jamais teria sucumbido à idolatria que marcou sua existência por centenas de anos. Os israelitas, pelo contrário, aprenderam a reverenciar os ídolos cananeus; participaram dos piores ritos da religião deles e se corromperam perante Deus, o Redentor.
EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 107.
fonte www.mauricioberwaldoficial.blogspot.com
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