O Big Bang, o Universo Eterno e o Criacionismo
Parte 3 AUXILIO
Todos sabemos que a ideia de como o Universo veio a
existir é um tema fascinante e a humanidade tão cedo não desistirá de
perscrutá-lo. Pelo tempo que o assunto vem sendo explorado e com recursos cada
vez mais avançados, representada por alguns cientistas, a humanidade acredita
que brevemente encontrará a resposta. Com seu clássico Uma breve história do
tempo, Stephen Hawking, surpreendeu a todos em 1988 ao assumir, depois de ter
procurado contar a “história do universo”, partindo do Big Bang e chegando aos
buracos negros, que “mesmo se descobrirmos uma teoria completa e unificada, não
significa que seremos capazes de prever eventos em geral; e isto por duas
razões. A primeira é a limitação estabelecida pelo princípio da incerteza da
mecânica quântica sobre o nosso potencial de previsão. Não há nada que possamos
fazer para fugir disso. Na prática, entretanto, esta primeira limitação é menos
restritiva do que a segunda, que brota do fato de não podermos resolver
exatamente as equações da teoria, exceto para situações muito simples. (Não
podemos mesmo resolvê-las para o movimento de três corpos na teoria da
gravidade de Newton, e a dificuldade aumenta com o número de corpos e a
complexidade da teoria.)” (Uma breve história do tempo, pp.230-31). O grande
sonho de Hawking, desde aquela época, era “encontrar” uma teoria unificada que
pudesse resolver tais questões, o que seria uma “teoria definitiva do
Universo”. O cientista, porém, mais lúcido naquele tempo, disse que ainda que
tal teoria exista e, caso fosse descoberta, “jamais se teria certeza de que, de
fato, seria a versão correta, uma vez que teorias não podem ser comprovadas”
(p.229).
Vinte seis anos depois, o cosmólogo, físico teórico,
professor fundador e diretor do Projeto Origens da Arizona State University,
Lawrence Krauss, empolgado com as descobertas anunciadas em 17 de março do ano
passado que, inclusive, conforme já foi dito no primeiro texto dessa série (O
Big Bang, o Universo Eterno e o Criacionismo — Parte 1) não se confirmou,
afirma em artigo assinado para Scientific American Brasil de novembro passado
que, a despeito de “o júri ainda não [ter] se pronunciado sobre se realmente
vimos um farol do universo primordial, não vamos ter de esperar muito para
saber” (Cicatriz do Big Bang in Scientific American Brasil, p.48). Lawrence
Krauss acredita que 2015 será um ano decisivo para essa questão. O que ficou
conhecido popularmente por “ondas gravitacionais”, na realidade, diz Krauss,
trata-se do “experimento Imageamento de Fundo de Polarização Cósmica
Extragaláctica 2 (BICEP2, na sigla em inglês) no polo sul” (Ibid., p.54). Se o
sinal detectado pela equipe em março passado se confirmar, será um passo
decisivo “para a física de partículas”, diz o mesmo autor, pois explicará
“novos fenômenos sobre a natureza das forças fundamentais”. Isso não é tudo, de
acordo com Krauss, em se confirmando o sinal do BICEP2, “nossa visão empírica
do Universo terá aumentado muito mais que em qualquer momento da história da
humanidade”, pois será uma prova incontestável da inflação imaginada pela
teoria do Big Bang. “Em primeiro lugar”, revela Krauss, “a intensidade inferida
do sinal de ondas gravitacionais implica que a inflação ocorreu numa escala de
energia muito próxima da escala de energia em que as três forças não
gravitacionais da Natureza*, se juntaram numa grande teoria unificada, mas
somente se existir uma nova simetria da Natureza — a supersimetria”. A
constatação dessa última implicaria no fato da “existência de uma abundância de
novas partículas com massas na faixa que pode ser verificada pelo LHC quando
for reativado” (Ibidem). Existe ainda “outra explicação menos especulativa na
descoberta das ondas gravitacionais da inflação”, tal refere-se ao fato de que
tais “ondas poderiam ter sido geradas pela amplificação de flutuações
primordiais no campo gravitacional durante a inflação”. Ele então completa
dizendo que se esse “for o caso, então a gravidade deve ser descrita pela
teoria quântica” (Ibidem). Em termos diretos, seria a unificação desses dois
campos.
A empolgação de Krauss torna-se justificável quando
se verifica que a busca de Stephen Hawking era justamente pela possibilidade de
tal unificação. Não obstante, conforme o mesmo autor diz, a observação direta
de tal possibilidade, baseada na física de partículas, conforme propôs Alan
Guth, em 1980, ao dizer que o Universo poderia ter se inflado rapidamente logo
após o Big Bang (algo que o, à época, jovem físico, chamou de “inflação,
apoiando-se numa parte central do Modelo Padrão da física de partículas chamada
quebra de simetria espontânea, que descreve como forças que uma vez estiveram
unificadas se separaram”, p.49), assim “como no caso do campo Higgs, o campo de
quebra de simetria produziria partículas massivas e exóticas, mas as massas
envolvidas no processo eram muito maiores que a massa de partícula de Higgs”
(p.52). O que isso significa? Significa que, para comprovar tal possibilidade,
“seria necessário construir um acelerador 10 trilhões de vezes mais poderoso
que o LHC para explorar diretamente as teorias que respaldam esse fenômeno”
(Ibid.). As referidas teorias são chamadas de “teorias da grande unificação, ou
GUTs, porque unificam as três forças do Universo — exceto a gravitação — numa
única força” (Ibidem). Assim, em termos simples, Krauss diz que “apesar de a
ideia da inflação ser bastante convincente, não existe até o momento qualquer
teoria básica que explique exatamente como a inflação deve ter ocorrido,
principalmente porque não conhecemos detalhes associados à grande unificação,
como o nível exato de energia em que as forças se unificaram” (p.53). Por isso,
ele especula que “enquanto teorias inflacionárias mais simples explicam boa
parte do que observamos no Cosmos atualmente, diferentes versões de inflação
poderiam ter criado universos totalmente diferentes”. Para saber mais, e com
mediana segurança, Krauss afirma ser preciso “investigar o Universo
diretamente, para encontrar evidências de inflação e, se isso de fato ocorreu”,
ou seja, a ideia é “explorar detalhadamente a física envolvida” (Ibid.), algo
que só pode ser feito com as ondas gravitacionais, daí a importância da
confirmação do achado de março passado.
A unificação, sobretudo, da gravidade e da mecânica
quântica, é um assunto “particularmente importante porque ainda não existe
nenhuma teoria da gravidade quântica bem estabelecida” (p.54). A procura é por
“uma teoria que descreva a gravidade usando as regras que governam o
comportamento da matéria e da energia nas menores escalas possíveis”. Krauss
explica que a “teoria de cordas é talvez a melhor opção até o momento, mas não
há evidências de que esteja correta ou de que possa, consistentemente, resolver
todos os problemas que a teoria da gravitação quântica completa deveria
resolver”. O mesmo autor informa que, “como mostrou Freeman Dyson, do Institute
for Advanced Study, em Princeton, Nova Jersey, não há dispositivo terrestre
capaz de detectar grávitons individuais, as supostas partículas quânticas que
transportam a força da gravidade, porque para isso o detector deveria ser tão
grande e denso que colapsaria formando um buraco negro antes de completar uma
observação”. Krauss diz então que ainda que se fizesse tudo isso, conforme
especulou o mesmo Dyson, “não se pode garantir que a gravidade seja descrita
por uma teoria quântica”. Por isso, Krauss anuncia com entusiasmo que, “se as
ondas gravitacionais geradas pela inflação forem realmente confirmadas, o
argumento de Dyson pode ser removido, ainda que permaneça uma lacuna”. Assim,
continua ele, em se confirmando os achados de março de 2014 e se, “de fato,
encontrarmos ondas gravitacionais da inflação, objetos clássicos (não
quânticos), poderemos calcular a origem dessas ondas usando mecânica quântica”.
Ainda que, admite ele, “todos os resultados da física clássica, incluindo o
movimento de uma bola de beisebol em voo, não provam que a mecânica quântica
está por trás deles: o movimento da bola será idêntico, mesmo se a mecânica
quântica não existisse”. Assim, afirma Krauss, “precisamos provar que a geração
de ondas gravitacionais pela inflação, ao contrário do movimento de uma bola de
beisebol, decorre de processos quânticos”. Lawrence Krauss revela que, há pouco
tempo, ele e um colega chamado Frank Wilczek, do Massachusetts Institute of
Technology, fecharam essa lacuna: “Usando a técnica mais básica da física,
análise dimensional, que explora fenômenos físicos representando-os nas suas
unidades de massa, espaço e tempo, é possível demonstrar; em bases gerais, que
o fundo de ondas gravitacionais produzido apenas pela inflação desapareceria se
a constante de Planck — a quantidade que comanda a intensidade dos efeitos
quânticos — desaparecesse”. A conclusão de Krauss a respeito dos achados de
março último é que, “se a equipe do BICEP2 tiver realmente medido ondas
gravitacionais da inflação, a gravidade precisa ser descrita por uma teoria
quântica” (p.55).
Além da unificação da mecânica quântica e da
gravidade, Krauss revela o que interessa ainda mais nessa pesquisa. Ele afirma
que o entendimento perfeito das “origens do Universo e a questão provocativa
de, por que, afinal ele existe, [depende de se] provar a inflação pela
observação de ondas gravitacionais”. Tal, segundo ele, proporcionará que se
torne “física concreta” o que muitos consideram atualmente uma das “maiores
especulações metafísicas”. Antes de revelar o que se trata, Krauss relembra a
ideia de Alan Guth de que “a inflação é produzida por um campo que armazena e
libera quantidades enormes de energia durante uma transição da fase”. A partir
dessa premissa ele chama a atenção para o fato de que “as características desse
campo implicam que, uma vez iniciado o processo, o campo que produz a inflação
tende a continuar a inflar o Universo ad infinitum”, isto é, a “inflação
prosseguirá indefinidamente, impedindo a criação do Universo como o conhecemos,
porque qualquer matéria e radiação preexistente terá sido diluída pela
expansão, deixando nada mais que vácuo em rápida expansão”. Krauss informa que
o físico Andrei Linde, da Stanford University, “descobriu uma forma de escapar
desse problema”, mostrando que “logo após uma pequena região do espaço
completar a transição de fase, depois de ter se expandido o suficiente, essa
região pode abranger o Universo observado atualmente”. Assim, “no restante do
espaço, a inflação pode continuar para sempre, com pequenas ‘sementes’
formando-se em diferentes locais onde a transição de fase pode ser completada”.
O resultado é que “em cada uma dessas sementes, surgiria um universo isolado,
que sofreria uma expansão quente como o Big Bang”. Nessa perspectiva ou
“cenário de ‘inflação eterna’ nosso universo então integraria uma estrutura
muito maior, capaz de ser infinitamente grande e, em última instância, poderia
conter um número arbitrariamente gigante de universos desconexos que podem ter
sido formados, podem estar se formando ou ainda se formarão”. De quebra, diz
Krauss, “dependendo de como ocorre a transição de fase que termina com a inflação
em cada semente, a física que rege cada universo resultante pode ser
diferente”.
A especulação é conhecida como “hipótese de
multiversos” e, basicamente, indica que “o nosso universo pode ser um de um
número infinitamente grande de universos separados, fisicamente diferentes”. A
conclusão de Krauss, ao aventar tal possibilidade, é que ela indica ser
“possível que as constantes físicas que vigoram em nosso universo sejam como
são por mero acaso”, isto é, “se fossem diferentes, seres como nós poderiam não
ter evoluído para medi-las” (Ibid.). O problema que Krauss procura contornar
aqui é o do chamado princípio antrópico que, conforme explica Hawking, “diz que
o universo tem de ser mais ou menos como o vemos, porque, se fosse diferente,
não haveria ninguém para observá-lo” (O Universo numa casca de noz, pp.85-87).
Além disso, trata-se de “uma perspectiva diametralmente oposta ao sonho de uma
teoria unificada, com total poder de previsão, na qual as leis da natureza são
completas e o mundo é do jeito que é porque não poderia ser diferente” (Ibid.,
p.86)**. É por isso que, finalizando sua argumentação, Krauss diz que tal
“noção, talvez pomposa demais conhecida como Princípio Antrópico é incompatível
para muitas pessoas e leva a uma infinidade de problemas que os físicos ainda
precisam resolver” e, sem dúvida alguma, como ele mesmo admite, “para muitos,
multiversos e princípio antrópico indicam até que ponto a física básica pode
divergir do que seria considerado ciência empírica”. É justamente por isso, por
causa da metafísica envolvida na interpretação da existência do universo, que
Krauss finaliza esperançoso seu artigo: “Mas se o BICEP2 (juntamente com o LHC
e outros experimentos) permitirem provar o fenômeno da inflação e da grande
unificação poderemos determinar inequivocamente a física fundamental que rege o
Universo nessas escalas de energia e tempo”. Ele sugere que, em se confirmando
os achados de março de 2014, “um dos resultados” pode ser justamente o de que
“a transição inflacionária que produziu nosso universo observável requeira a
inflação eterna de Linde” e, sendo assim, “embora nunca tenhamos observado
diretamente outros universos, estaremos tão seguros da existência deles como
estavam nossos antepassados no início do século passado em relação à existência
de átomos, mesmo sem poder observá-los diretamente”.
Apesar de o modelo cosmológico do Big Bang ser
aceito por grande parte dos cientistas, entre eles, os autores aqui citados,
Lawrence Krauss e Stephen Hawking, este último, em sua autobiografia, afirma
que sempre “ouvira falar que a luz das galáxias distantes tendia para a
extremidade vermelha do espectro e que isso devia indicar que o universo estava
se expandindo. (A tendência para o azul teria significado que estava se
contraindo.)”. Hawking, entretanto, afirma que “tinha certeza de que deveria
haver alguma outra razão para o desvio para o vermelho” (Minha breve história,
p.32). O cientista lucasiano de Cambridge afirma que, dois anos depois, em seu
ph.D., descobriu que estava errado. Tal conclusão, no entanto, ainda deixava o
problema da área do horizonte por ser resolvido: O universo teria tido um
início? Esse era o “pé na porta” da teoria para os cientistas. Assim, a ideia
que estimulou Hawking foi justamente a questão de como contornar tal problema.
Uma vez que a uniformidade do universo observável exigia que ele, no modelo do
Big Bang, tivesse tido início em uma singularidade, diz Hawking, “era
necessário [...] um espaço-tempo sem uma singularidade, como na versão
euclidiana do buraco negro”. Ele então conversou com o físico estadunidense Jim
Hartle “sobre como aplicar a abordagem euclidiana à cosmologia”. De acordo com
tal abordagem, “o comportamento quântico do universo é dado por histórias
múltiplas de Feynman no tempo imaginário”, assim, continua Hawking, “como o
tempo imaginário se comporta como mais uma direção no espaço, as histórias no
tempo imaginário podem ser superfícies fechadas, como a superfície da Terra,
sem início ou fim”. Hawking revela então que ele e Jim decidiram “que essa era
a escolha mais natural, na realidade a única escolha natural”. Eles então
formularam a “proposta sem fronteira”, isto é, “que a condição de contorno do
universo é que ele é fechado e sem fronteira” (Ibid., p.132).
Hawking explica que, de acordo com “a proposta sem
fronteira, o início do universo foi como o polo sul da Terra, com graus de
latitude assumindo a função de tempo imaginário” (Ibid., pp.132-33). Tal seria
mais ou menos assim: “O universo começaria como um ponto no polo sul. À medida
que nos movemos para o norte, os círculos de latitude constante, representando
o tamanho do universo, se expandiriam. Perguntar o que aconteceu antes do
começo do universo se tornaria assim uma questão sem sentido, já que não há
nada ao sul do polo sul”. Assim, prossegue o mesmo autor, o “tempo, medido em
graus de latitude, teria um começo no polo sul, mas o polo sul é muito
semelhante a qualquer outro ponto do globo. As mesmas leis da natureza que
vigoram no polo sul vigoram em outras partes. Isso removeria aquela objeção
secular a que o universo tenha um começo — que seria um lugar onde as leis
normais colapsavam. O começo do universo seria, ao contrário, governado pelas
leis da ciência” (Ibid., p.133). Hawking explica que essa foi a solução que ele
e o físico Jim Hartle encontraram para contornar a dificuldade científica e
filosófica de que o tempo tivesse um começo, transformando-o em uma direção no
espaço”. Para Hawking, a chamada “condição sem fronteira implica que o universo
seja espontaneamente criado a partir do nada” (Ibidem).*** Esse é o aparato
teórico criado para que o modelo do Big Bang continue sendo viável, ao mesmo
tempo em que se evita o problema do início ou do que havia antes do início.
fonte CPAD
vejam mais www.avivamentonosul21.comunidades.net
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PAZ DO SENHOR
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