O Big Bang, o Universo Eterno e o Criacionismo
Parte 5 AUXILIO
O fato de ter havido modelos de Universo Eterno que não foram
bem elaborados, segundo Novello, certamente favoreceu o modelo de
singularidade. Uma dessas primeiras propostas que defendia a ideia de que o
Universo não teve um começo foi o cenário steady state. Por
ter proposto um Universo estacionário, informa Novello, quando a partir da
segunda metade da década de 60 foi ficando cada vez mais evidente “para a
comunidade científica que o Universo era um processo, que suas características
variavam com o tempo e que havia diferenças sensíveis entre o presente e o
passado, o cenário steady state começou a ser severamente criticado, e
hoje está praticamente abandonado” (p.72). Apesar de o conhecimento de que o
Universo está em expansão datar de 1930, foi justamente a confirmação da
radiação cósmica de fundo que consagrou tal hipótese aventada trinta anos
antes. Não obstante, como revela Novello, em “1998, observações efetuadas em
certos tipos de estrelas (supernovas) levaram à proposta — imediatamente aceita
pela maioria dos cientistas envolvidos — de que o Universo estaria sendo
acelerado”. Tal hipótese, ou conclusão, “mesmo que provisória criou uma
dificuldade enorme, incapaz de ser conciliada com o modelo-padrão da
cosmologia” (p.73). Em termos diretos, criou-se um conflito com o estabelecido
e, até então, inquestionável modelo do Big Bang. Apesar de tal aceleração não
ter sido completamente confirmada, tal hipótese “produziu uma verdadeira
revolução nas ideias que sustentavam o modelo big bang, pois significava — em
linhas gerais — que sua descrição do conteúdo material do Universo estava
errada ou, na melhor das hipóteses, incompleta” (p.74). O que motivou essa
conclusão? Justamente as hipóteses do modelo-padrão, entre elas a de que “a
relatividade geral é a boa teoria da gravitação e que a fonte de curvatura do
espaço-tempo é um fluido perfeito”. Para Novello, ocorre nesse momento “uma
catástrofe teórica, pois, no interior desse quadro formal, a aceleração do
Universo só é possível se a pressão for negativa”. Não apenas isso, “ela teria
de ser muito negativa”. Sendo “rigoroso”, diz o cosmólogo, “isso significa que
a pressão deveria ser, em valor absoluto, pelo menos três vezes maior que a
densidade de energia correspondente”. Restavam então duas possibilidades: “uma
configuração material que se pode atribuir a alguma propriedade nova ainda
desconhecida; ou aceitar que o nosso conhecimento da interação gravitacional
está errado” (p.74). Essas duas opções instaurou uma crise no modelo-padrão.
Novello
relata que, “Entre substituir a equação de Einstein ou admitir que o fluido
cósmico tenha uma característica muito especial, desconhecida até então, os
cientistas escolheram a segunda opção” (p.74). Ele explica que, com isso,
admitiu-se “que a aceleração do Universo deveria estar associada a uma fonte de
curvatura do espaço-tempo constituída por algum tipo de matéria ou energia que
admite a interpretação em termos de um fluido perfeito, descrito por uma
densidade de energia E e pressão P negativa, onde a equação de estado P
= s E é tal que seu
triplo 3s é menor do que – 1 (3s ˂ – 1). Essa substância recebeu o nome
de energia escura. Ela não seria identificável a forma
alguma de matéria-energia conhecida nem facilmente observável — a não ser
indiretamente, pelo comportamento de aceleração de expansão do Universo”
(pp.74-75). Uma vez que, como explica Novello, “a relação que envolve a energia
e a pressão é precisamente a propriedade necessária para a violação das
condições de energia que haviam sido postuladas como naturais e que tinham sido
utilizadas para demonstrar os teoremas de singularidade”, o resultado não
poderia ser outro em relação ao modelo-padrão, ou seja, “a nova constituição
material possui propriedades semelhantes àquelas necessárias para evitar um
colapso gravitacional de uma fase em contração para produzir um bouncing”.
A consequência inevitável dessa conclusão é que ao mesmo tempo em que os
teoremas da singularidade se mostraram inadequados, diz Novello, as “condições
para ir além do big bang e produzir um Universo eterno passaram a ser aceitas,
pois não seria mais possível usar as restrições dos teoremas de singularidade —
posto que as condições de sua aplicação ao nosso Universo não seriam
preenchidas”. O cosmólogo esclarece que, a fim de se “gerar um exemplo concreto
do cenário acelerado, postulou-se a existência de uma estrutura material
identificada com um campo escalar possuindo propriedades muito particulares”
(p.75). Tal foi possível graças à física quântica, pois ela transformou de tal
maneira “a ideia de corpos materiais que foi possível associar a cada partícula
um campo”. Novello diz que “Perdeu-se assim a característica localizada de um
corpo clássico, ganhando-se uma extensão no espaço-tempo”. Além disso, como
observa o mesmo autor, tais “campos possuem diferentes propriedades” (p.76).
Não
obstante, e indo direto ao ponto, “o campo escalar que se procura na cosmologia
é de outra natureza”, isto é, “Ele não possui massa, o que torna sua detecção
em laboratório terrestre muito difícil”. Contudo, a possibilidade de sua
“existência vem sendo intensamente examinada em termos globais, nas últimas
duas décadas, em particular na questão da aceleração do Universo” (p.76). O
autor aventa, porém, a hipótese de que “outras formas de matéria poderiam estar
presentes no mecanismo de aceleração”, por isso, afirma que justamente no
momento em que estava escrevendo, não se poderia ainda “afirmar [que], dentre as diferentes
formas de energia examinadas, qual deve ser identificada com a chamada energia
escura e reconhecida
como a verdadeira responsável pela aceleração do Universo” (pp.76-77).
Finalmente, Novello apresenta, dentre as várias propostas de modelo sem
singularidade, as quatro delas mais estudadas em que, segundo diz, “as causas
da ausência de um ponto singular na história da evolução do Universo têm
diferentes origens”:
1. Mudança nas equações da dinâmica do campo gravitacional.
2. Universo magnético.
3. Quantização do campo gravitacional.
4. Novas formas de matéria.
2. Universo magnético.
3. Quantização do campo gravitacional.
4. Novas formas de matéria.
Das quatro, ele apenas aborda
algumas questões da proposta do chamado Universo magnético, tendo como
finalidade demonstrar como “elas geram cenários sem singularidade constituindo
um Universo eterno” (p.78). Sem poder negar o fato de o Universo estar se
expandindo, ou evoluindo, Novello afirma que dentre os novos cenários
propostos, “o que possui maior consistência e embasamento teórico consiste no
chamado Universo eterno dinâmico, no qual teria ocorrido uma fase de colapso
gravitacional anterior à atual expansão”. Segundo o mesmo autor, tal é possível
concluir pelo fato de que a “análise da evolução de estruturas materiais em
grande escala — como por exemplo, as galáxias — permite distinguir propriedades
do Universo associadas a uma fase colapsante anterior à atual fase de expansão”
(p.90). Não obstante tal defesa, Novello afirma aquilo que, por vezes, já
disse: “não devemos perder de vista que a ciência produz verdades provisórias”,
sendo assim, como se sabe, em “alguns momentos de sua história, uma dada
explicação se mostra tão eficiente que os cientistas caem na tentação de
considerá-la a verdadeira descrição da realidade, quando se trata somente de
uma representação. Com a cosmologia não é diferente. Como se ocupa da
totalidade maior, e que a ela é atribuída a função de construir um pano de
fundo, o espaço-tempo, ao qual todo o resto da física deve se adaptar, a
cosmologia adquire a especificidade que a singulariza, tornando-a fundamento de
toda a descrição do real” (p.91). Assim, provisoriamente pode-se afirmar “que o
modelo explosivo foi transcendido” e o “cenário de um Universo eterno dinâmico
veio a tomar o lugar que o big bang havia inadvertidamente ocupado durante os
últimos 30 anos”. Novello afirma que a “ciência foi além daquele momento de
condensação máxima”, porém, isso fez com que ela se visse “às voltas com outras
questões”. São elas: “se houve uma fase colapsante anterior, o que teria
colapsado e por quê? E qual a razão para, depois de atingir um estágio de
altíssima condensação, transformar a fase colapsante na fase de expansão em que
vivemos?” (Ibid.). O cosmólogo brasileiro diz que a “cosmologia tem produzido
respostas para essas questões que estão ainda no terreno teórico, formal”. Isso
significa que para decidir qual dentre elas é a mais provável, será necessário
“esperar que novas observações cósmicas confirmem as previsões” (Ibidem).
Assim, continua Novello, as
implicações dessas novas propostas e/ou cenários cosmológicos, fizeram com que
o “big bang, esse estágio de condensação máxima pelo qual o Universo passou,
deix[asse] de ser identificado com o seu ‘momento de criação’ para se
transformar — agora, de modo racional — em nada mais que um momento de passagem
na história da evolução do Universo” (p.92). O que se percebe pela argumentação
de Novello, é que o Big Bang não deixa de existir no cenário de um Universo
Eterno dinâmico, mas que deixa de ser a resposta científica para tudo que
existe e, paradigmaticamente falando ou, em termos kuhnianos, não mais responde
satisfatoriamente os problemas levantados pelas novas descobertas da física.
Por isso, atualmente, “ao examinar as propriedades do programa do Universo
eterno dinâmico e entendermos o processo físico que permitiu interromper o
colapso gravitacional e penetrar na fase atual de expansão, percorrendo os
caminhos que antecederam ao big bang, estamos realizando a função de retirar
desse momento o início da história do Universo, projetando-a para um passado
bem mais longínquo”. Isso significa dizer que será preciso “uma mudança nos
hábitos de pensar a totalidade maior”. De acordo com o cosmólogo brasileiro,
tal não se dá por um capricho, e sim porque as “propriedades não convencionais
da matéria e do espaço-tempo descobertas no cosmo estão produzindo uma revolução
fantástica na ciência, que lembra aquela que ocorreu lá atrás, no começo da
ciência moderna, há mais de 300 anos, quando cientistas como Tycho Brahe,
Kepler, Galileu, Newton e seus companheiros nos proporcionaram uma leitura
fascinante do mundo supralunar”. Apesar do destaque do autor a estas
personagens e o reconhecimento da importância delas para a ciência, ele garante
que a revolução que está acontecendo na cosmologia nos dias atuais “está
produzindo um momento maravilhoso de encantamento e de novidades no
comportamento da matéria que está muito além do que eles realizaram”. Na
realidade, ele diz que, “para além da questão da origem do Universo, a
cosmologia, ao promover a refundação da física e a destruição do que pareciam
ser sólidos paradigmas da ciência, produz mudanças radicais na descrição do
real que inevitavelmente se difunde por todo o pensamento moderno”. Novello
questiona então: “como esse modo de pensar o Universo afeta o discurso
contemporâneo para além da ciência?” (p.92).
O cientista afirma que a
liberdade do peso de ter de forçar os estudos em cosmologia, submetendo-os ao
paradigma do modelo-padrão ou do cenário com singularidade, já é um avanço.
Porém, é preciso iniciar uma reflexão acerca dessa “eternidade que nos é
estranha, para incorporá-la a nossos hábitos mentais”. Tal processo não se dá
de uma hora para outra. Sobretudo, pelo fato de que tal conhecimento só é
acessível através de literatura especializada e não conta com cobertura
midiática, visto não ser tão atraente aos olhos do público leigo. O que chama
atenção em Novello, é sua honestidade intelectual em almejar que as pessoas
resistam “à tentação de considerar esse novo modelo a verdadeira história da
criação do Universo” (p.93). Em outras palavras, o cosmólogo brasileiro quer apenas
que a proposta do Universo Eterno dinâmico seja considerada, à luz dos dados
científicos atuais, como a proposta mais exequível no momento. Só isso, nada
mais. Tal postura fará com que se dê mais um passo na descoberta científica da
origem do Universo, sem o compromisso de restringir o pensamento a esta ou
aquela proposta cosmológica. Mas, se o interesse é tão puro e honesto, algumas
perguntas se impõem: A quem interessa a insistência na proposta de um cenário
com singularidade, ainda que este não mais responda aos pontos elementares da
física? Quais interesses estão em jogo e, por isso mesmo, podem obliterar o
conhecimento divergente do que até então se propôs, ainda que a proposta de um
Universo Eterno dinâmico conte, nos dias atuais, com mais respaldo do método
clássico da física de “observação-teoria-observação”? Os financiamentos
estatais e da iniciativa privada que mantêm os laboratórios dos cenários com
singularidade, há décadas, seria uma resposta? Ainda não sabemos. Entretanto, a
resposta provisória mais óbvia está sendo seriamente questionada e, ao que tudo
indica, novos ares científicos ameaçam, mais uma vez, abalar as acomodações
teológicas que se fizeram ao utilizar-se o Big Bang como a derradeira e
definitiva explicação científica para o surgimento do Universo.
fonte CPAD
VEJA MAIS WWW.AVIVAMENTONOSUL21.COMUNIDADES.NET
Nenhum comentário:
Postar um comentário
PAZ DO SENHOR
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.