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quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

HERMENEUTICA E FORMAS LITERARIAS

           
             HERMENEUTICA FORMAS LITERARIAS

“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12).

Quando os escritores bíblicos estavam produzindo seus textos não pensavam que viriam a compor as Escrituras Sagradas. Escreviam com seu estilo próprio, segundo a revelação que lhes era dada por Deus, através de seu Espírito Santo. Para tanto, utilizaram uma linguagem apropriada à ocasião, à sua formação, à verdade revelada. Alguns escritores foram mais simples e diretos; outros, mais complexos e indiretos. Em geral, porém, a linguagem das Escrituras preocupou-se em explanar com exatidão o que estava acontecendo e sendo anunciado.

Embora se encontrem nas páginas sagradas, de uma forma geral, os grandes princípios e deveres cristãos, expressos em linguagem simples e objetiva, a literatura dos livros varia entre si. Mesmo assim, são ressaltadas a espiritualidade e a santidade de Deus, além da espiritualidade e fervor que se requer para a sua adoração. Escreve-se sobre a queda e a corrupção do homem, além da necessidade do arrependimento e da conversão; anuncia-se a remissão dos pecados em nome de Cristo Jesus e a salvação por seus méritos, a vida eterna pela fé em Cristo, e ao mesmo tempo a morte eterna pela falta de fé no Salvador, ou seja pela incredulidade. Tais verdades são tão claras que nenhum leitor, por mais superficial e indiferente que seja, deixará de notá-las, de percebê-las.

Entretanto, outras verdades na Bíblia não se apresentam com tanta clareza. É necessário que empreguemos as leis e os princípios da Hermenêutica para que as compreendamos. Um dos cuidados iniciais, antes de nos lançarmos ao estudo de determinado livro ou texto das Escrituras Sagradas, é a compreensão do propósito do seu escritor, do tipo de literatura empregada, da forma literária utilizada. Apresentamos as formas mais comuns, sendo que existem outras formas além das subdivisões que não serão abordadas.

Exposição 

- Hendricks (1998, p. 206) afirma que: “Exposição é um argumento ou explicação direta da parte principal de uma verdade objetiva. É uma forma de escrita que apela basicamente à mente. O argumento normalmente tem uma estrutura rígida que vai de ponto a ponto de modo lógico”. Os escritos de Paulo são um excelente exemplo deste tipo de literatura; ele teve um intenso preparo numa escola para mestres e sabia muito bem escrever com argumentos. Une parágrafos com os conectivos pois, portanto, mas; utiliza a retórica; caracteriza-se pelo uso de frases longas e bem elaboradas, sem deixar de usar as frases curtas e rápidas. Os propósito podem ser facilmente detectados. Para entender a literatura expositiva é preciso determinar sua estrutura e os termos empregados. Depois disso, fica mais fácil a compreensão.

Narrativa e Biografia

 - A Bíblia é tão popular pelas histórias que contém. Está repleta de narrativas e de biografias, que facilitam sua leitura e a tornam atraente. Ao lermos as histórias precisamos atentar para o seu enredo, isto é, o movimento de seus personagens; precisamos também estudar a caracterização dos personagens; finalmente, precisamos aplicar a história à vida de hoje (Hendricks, p. 207). Como exemplos bíblicos, temos: a história de Rute, dos Juízes, do Êxodo de Israel, do ministério terreno de Cristo, do crescimento da igreja em Atos, etc. A Bíblia não é um livro de História, no sentido de ser uma ciência que permite adquirir e comunicar conhecimentos através da tradição e/ou por meio de documentos. O objetivo central das Escrituras Sagradas é mostrar a História da Redenção do ser humano através do amor de Deus. Mesmo assim, a fé bíblica não é produto da imaginação das pessoas, separadas da realidade histórica. Quando falamos em Jesus Cristo, Abraão, Moisés, Davi, Salomão, Pedro, Paulo e outros personagens, situamo-los em cidades, épocas, situações concretas na história da humanidade.

Parábolas

 - Estão relacionadas às narrativas e às alegorias. A parábola é uma história que ilustra um ensinamento moral ou espiritual. Relata fatos naturais ou possíveis acontecimentos, sempre com a finalidade de esclarecer ou ilustrar uma ou mais verdades importantes. A maioria está nos discursos de Jesus, mas existem parábolas também no Antigo Testamento, como: a cordeirinha (2 Sm 4); vingadores do sangue (2 Sm 14.1-11); prisioneiro foragido (1 Re 20.35-40); a vinha e as uvas (Is 5.1-7); as águias e a vinha (Ez 10); os leõezinhos (Ez 19.2-9); a videira (Ez 19.10-14); o incêndio no bosque (Ez 20.45-49); a panela a ferver (Ez 24.3-5). As parábolas eram o método preferido de Jesus para comunicar algumas verdades, porque são simples, interessantes e relacionam-se com a vida das pessoas; utilizam-se atividades comuns, como a pesca, a lavoura, o dinheiro, o relacionamento familiar, o cuidado com as pessoas, para ilustrar verdades mais profundas. Costumam basear-se em princípios éticos do certo e do errado, do amor, da justiça ou da misericórdia. Os Evangelhos sinóticos descrevem pelo menos 65 parábolas, descontadas as repetições.

Enquanto as parábolas se baseiam em fatos cotidianos, as fábulas registram acontecimentos impossíveis na vida real. A parábola possui uma finalidade prática, o mito é mais especulativo. A alegoria é uma exposição de um pensamento sob forma figurada, como o Bom Pastor (Jo 10.1-16), a videira e os ramos (Jo 15.1-8); a armadura do cristão (Ef 6.14-18). A parábola não é alegoria.

Quanto à reta compreensão e interpretação das parábolas é preciso observar algumas recomendações. A ocasião que produz a parábola pode ilustrar o seu significado. Antes de tudo é preciso descobrir seu objetivo, isto é, a verdade ou verdades que a parábola ensina, que normalmente está na introdução ou no final da narrativa. Outras vezes conseguimos descobrir o objetivo, levando-se em conta o motivo de tal parábola. Somente devem ser consideradas as principais ações exemplares da parábola, deixando de lado o que lhes serve de adorno ou complemento de narração. Uma parábola semelhante pode indicar a coisa a ser ilustrada. O contexto pode indicar o propósito da parábola. O próprio Jesus Cristo nos ensina como proceder na interpretação das suas parábolas. É preciso ficar atento à totalidade da parábola e suas partes principais, deixando de lado os detalhes menores, sem muita importância. É bom lembrarmos sempre que as parábolas, bem como as demais figuras que aparecem nas Escrituras Sagradas, servem para ilustrar as doutrinas e não para produzi-las.

Alguns princípios gerais de interpretação podem ajudar o estudante a encontrar o verdadeiro sentido das parábolas:

v  A parábola deve conter um só ponto de comparação, que é sua verdade central; Deve ser interpretada à luz de seu contexto histórico;
v  A pessoa, missão e ministério de Jesus Cristo constituem o contexto geral para a interpretação de todas as parábolas;
v  A parábola não deve ser interpretada do ponto de vista doutrinário;
v  As parábolas são obras de arte, cujo sentido vai além daquele que lhe deu origem.

Poesia 

- Há maior ênfase desse tipo de literatura no Antigo Testamento, com os Salmos, Eclesiastes, Cantares. A poesia apela para as emoções e para a imaginação. A poesia hebraica possui uma dinâmica peculiar e é preciso compreendê-la, ao lermos as poesias. Os Salmos foram escritos para serem cantados e não lidos. Uma das características é o paralelismo, isto é, a segunda linha reforça a primeira (Sl 103.15), ou completa as afirmativas da primeira (Sl 32.2) ou ainda se opõe à primeira com uma alternativa (Sl 40.4). Uma outracaracterística é o uso da hipérbole, linguagem exagerada (Sl 139.19-22). No Novo Testamento também encontramos poesias, em alguns cânticos: Lucas 1.46-55; 68-79; 2.29-32; Romanos 11.33-36.

Provérbios e Sabedoria

 - Na literatura de Sabedoria observam-se os conselhos das pessoas mais experientes para as mais jovens. Um provérbio é uma afirmativa que procura inspirar determinado comportamento, considerado correto e desejável. Os provérbios são adágios da sabedoria divina, aplicados às condições do povo de Deus. Contêm orientação sábia e podem ser aplicados à vida prática. Em geral, os Provérbios se utilizam dos paralelismos, principalmente para apontar os opostos: Provérbios 15.27; 20.3. Outros exemplos: Lucas 4.23; Mateus 13.57. Os Provérbios são como uma vitamina para a alma, no dizer de Hendricks. Para uma correta interpretação dos provérbios, lembre-se que eles normalmente não têm contexto. Importante é determinar a que classe pertencem, pois podem se apresentar como símiles, metáforas, parábolas ou alegorias.

Profecia e Apocalipse 

- Profecia nem sempre é previsão do futuro; entretanto, sua ênfase está na advertência e julgamento. Tanto no Antigo como no Novo Testamento, o profeta é tido como um porta-voz de Deus que declara a vontade desse mesmo Deus ao povo. O profeta proclama as palavras de Deus, adverte o povo contra as consequências de seus atos imorais, na tentativa de resgatá-los para Deus. E muito importante compreender todo contexto histórico e cultural da época da profecia para entender seu significado. No Novo Testamento, profecia refere-se, em primeiro lugar, às proclamações dos profetas do AT (Mt 13.14; 2 Pe 1.20). Segundo Scott, o profeta não fala “da” época mas “à” época, porque a palavra de Deus está em sua boca.

O dom de profetizar, no Novo Testamento, está em relação estreita com o culto prestado a Deus; é uma função interna da Igreja de Cristo. Os novos convertidos, recebendo o Espírito Santo, profetizam quando confessam sua fé e proclamam a respeito da revelação que os ilumina (At 19.6). Qualquer cristão ou cristã pode ser chamado a comunicar para a comunidade uma revelação que o Senhor lhe deu no curso do culto (1 Co 14.30). A profecia também pode se manifestar em alguns cristãos (At 11.27,28; 15.32; 21.9) para proveito comum (1 Co 12.7-11). O dom de profetizar tem sua origem num ministério reconhecido e tido em alto conceito, o de profeta, que Paulo situa sempre imediatamente após o de apóstolo (1 Co 12.28; Ef 4.11). O dom de profetizar é superior ao dom de línguas (1 Co 14). Os cristãos precisam guardar-se dos falsos profetas (Mt 7.15; Mc 13.22; l Jo 4.1).

A literatura apocalíptica está relacionada a eventos do fim da nação de Israel ou do mundo; é altamente simbólica e como tal precisa de uma interpretação não especulativa.

Aproveitamos o quadro apresentado por Hendricks (1998), para uma visão conjunta dos diversos gêneros literários encontrados na Bíblia.

GENERO
CARACTERÍSTICAS
LIVROS BÍBLICOS E EXEMPLOS
Apocalipse
Material dramático, altamente simbólico; imagens mentais vividas; contrastes perfeitos; eventos em escala global: abordagem da testemunha ocular; luta cósmica entre o bem e o mal.
Daniel 9.20-27 Apocalipse
Biografia
Visão de perto da vida de uma pessoa; contraste com outra pessoa; eventos selecionados; desenvolvimento do personagem, positivo ou negativo.
Abraão. Isaque. Jacó, José, Moisés, Saul, Davi. Eliseu. Jesus
Encômio
Alto louvor a alguém ou alguma coisa: brilhantes termos para as origens, atos. atributos ou superioridade do sujeito; exortação a imitar os traços positivos
1 Sm 2.1-10: SI 19: SI 119: Pv 8.22-36; Cantares; Jo 1.1-18; 1 Co 13; Cl 1.15-20; Hb 1 a 3
Exposição
Argumento ou explicação cuidadosamente fundamentada; organizada: fluxo lógico: termos cruciais; clímax lógico e constrangedor: objetivo: concordância e ação.
Cartas de Paulo: Hebreus; Tiago; 1 e 2 Pedro; 1. 2 e 3 João: Judas
Narrativa
Categoria ampla na qual a história é proeminente; relatos históricos: estrutura transmitida por enredo; eventos comunicando significado; eventos justapostos para contraste e comparação.
Gênesis: Evangelhos; Atos
Oratória
Apresentação oral estilizada de um argumento: convenções formais de retórica e oratória; citação de autoridades conhecidas: exortação e persuasão.
João 13 a 17; Atos 7: 17.22-31; 22.1-21:24.10-21:26.1-23
Parábola
Breve história oral ilustrando moral; personagens de repertório e estereótipos: cenas e atividades comuns: reflexão e auto avaliação.
2 Sm 12.1-6: Ec 9.14-16: Mt 13.1-53: Mc 4.1-34: Lc 15.1- 16.31
astoral
Literatura que lida com temas rurais e rústicos, especialmente pastores; pouca ação; meditativa e calma: laço entre pastor e ovelhas; apresentação idealizada da vida distante dos males urbanos.
SI 23: Is 40.11; Jo 10.1-18
Poesia
Verso escrito para ser declamado ou cantado; ênfase na cadência e nos sons das palavras; imagens e símbolos vividos; emoções: pode empregar o encômio, a pastoral e outros estilos; no AT. muitos paralelismos.
Jó. Salmos. Provérbios, Eclesiastes, Cantares
Profecia
Apresentação estridente e autoritária da vontade e das palavras de Deus; com frequente intenção de correção; motivação às mudanças; prevenção contra os planos de Deus em resposta às escolhas humanas.
Isaías; Malaquias
Provérbio
Declaração curta e substanciosa de uma verdade moral; reduz a vida a categorias branco-e-preto; dirige-se frequentemente a jovens; emprega paralelismos; direção ao que é correto e distante do mal; muitas metáforas e símiles.
Provérbios
Sabedoria
Ampla categoria na qual uma pessoa mais velha e amadurecida narra a sabedoria para a mais jovem; parábolas; observações em áreas fundamentais da vida.
Jó; Provérbios; Salmo 37; Salmo 90;Eclesiastes
Sátira
Exposição e ridicularização do vício e da insensatez; vários estilos literários, especialmente narrativa. biografia e provérbio; advertência pelo exemplo negativo
Pv 24.30-34; Ez 34; Lc 18.1-8; 2 Co 11 1-12.1
Tragédia
Relata a queda de uma pessoa; eventos selecionados para mostrar o caminho à ruína; aponta para falha crítica no caráter e escolhas morais: advertência pelo exemplo negativo.
Ló; Sansão; Saul/ At 5.1-11

ESTRUTURA LITERÁRIA

Quando a pessoa vai ler e estudar a Bíblia, além das formas ou gêneros literários, precisa considerar a estrutura, tanto gramatical quanto literária. Cada texto apresenta-se com introdução, desenvolvimento e conclusão; entretanto, diferentes tipos de literatura utilizam diferentes tipos de estrutura. Hendricks apresenta cinco estruturas:

Biográfica - É encontrada na literatura narrativa ou biográfica; baseia-se na vida da pessoa: seu nascimento, crescimento, atitudes, acontecimentos principais, contribuição, morte. Em Gênesis, encontramos a vida dos patriarcas; em Juízes, a vida de alguns líderes; em Samuel, a vida de Davi e Salomão; em Atos, os feitos principais de alguns apóstolos.

Geográfica - A narrativa dos locais onde aconteceram os eventos é a base dessa estrutura. Encontramo-la em Êxodo, que conta a trajetória do povo de Israel através do deserto. Em Atos, mencionam- se as viagens missionárias de Paulo.

Histórica - Baseia-se em eventos, acontecimentos. As narrativas do livro de Josué são um bom exemplo desse tipo de estrutura. O Evangelho de João segue um roteiro histórico para abordar sete milagres principais do ministério terreno de Jesus, com os ensinamentos correlatos.

Cronológica - Nesse tipo de estrutura, o escritor utiliza-se de datas marcantes e vai prosseguindo em sua narrativa; está relacionada à histórica. Há sequência progressiva nos acontecimentos. Nos livros de Samuel encontramos frequentemente o conectivo “então”, demonstrando essa sequência.

Ideológica - A estrutura baseia-se em ideias e conceitos. As cartas de Paulo exemplificam-na, sendo a carta aos Romanos um clássico. Paulo fala de conceitos, como: pecado, lei, fé, graça, vida no Espírito. Esta estrutura facilita um resumo da obra, depois de se compreenderem o tema e o propósito centrais.

A estrutura literária guia-se por determinados princípios ou leis, conforme o quadro abaixo (Hendricks, p. 117).

LEI
DESCRIÇÃO
EXEMPLOS
Causa e efeito
Um evento, conceito ou ação que causa outro (termos chaves: portanto, então, assim, resultado)
Mc 11.27-12.44: Rm 1.24- 32: 8.18-30
Clímax
Uma progressão de eventos ou ideias que atingem certo ponto alto, antes de regredir
Ex 40.34,35; 2 Sm 11; Mc 4.35-5.43
Comparação
Dois ou mais elementos que são semelhantes ou parecidos (termos chaves: como, assim como, também, de igual maneira)
SI 1.3,4: Jo 3.8, 12,14: Hb 5.1-10
Contraste
Dois ou mais elementos que são semelhantes ou dissimilares (termos chaves: mas, ainda)
SI 73: At 4.32-5.11; G1 5.19-23
Explicação ou razão
Apresentação de uma ideia ou evento seguida por sua interpretação
Dn 2. 4, 5, 7 a 9; Mc 4.13- 20: At 11.1-18
Intercâmbio
Quando a ação, conversação ou conceito muda para outro, então volta novamente
Gn 37 a 39: 1 Sm 1 a 3; Lc 1 e2
Introdução e resumo
Observação na abertura ou conclusões sobre um assunto ou situação
Gn 2.4-25; 3; Js 12; Mt 6.1
Pivô ou eixo
Mudança súbita de direção ou fluxo do contexto; um clímax menor.
2 Sm 11 e 12; Mt 12: At 2
Proporção
Ênfase indicada pela quantidade de espaço que o escritor dedica a um assunto
Gn 1 a 11: 12 a 50: Lc 9.51 a 19.27: Ef 5.21 a 6.4
Propósito
Declaração das intenções do autor
Jo 20.30.31; At 18: Tt 1.1
Pergunta e resposta
Uso de perguntas ou de perguntas e respostas
Malaquias; Mc 11.27 a 12.44: Lc 11.1-13
Repetição
Termos ou frases usados duas ou mais vezes
SI 136; Mt 5.21-48; Hb 11
Específico para geral e geral para específico
Progressão do pensamento de um único exemplo para um princípio geral ou vice-versa
Mt 6.1-18; At 1.8: Tg 2

Cabe, pois, ao intérprete da Bíblia discernir bem a forma literária e seu conteúdo a fim de não se confundir a verdade divina com a sua forma contingente de expressão. É indispensável recorrer às leis da literatura dos povos antigos, a fim de perceber com exatidão como falavam e apurar o que o autor, em nome de Deus, queria transmitia às pessoas de sua época.

Linguagem figurada

“Disse-vos essas coisas por figuras. Chega a hora em que já não vos falarei em figuras, mas claramente vos falarei do Pai. Nesse dia, pedireis em meu nome e não vos digo que intervirei junto ao Pai por vós, pois o próprio Pai vos ama, porque me amastes e crestes que vim de Deus” (Jo 16.25-27)

Determinada passagem bíblica parece-nos, algumas vezes, obscura e incompreensível; o mesmo acontece em outras leituras. No mais simples tratado de escola primária que apenas se ocupa de coisas terrenas, temporais, acham-se palavras e passagens que o homem sem estudos não compreende. Seria, portanto, estranho não achar palavras e passagens de difícil compreensão nos textos sagrados. Se num determinado país se usamfiguras ou formas de expressões que em outros não se compreendem sem interpretação, não é estranho encontrar tais figuras e expressões na Bíblia. Se todo texto antigo oferece pontos obscuros, também se podem encontrar tais pontos no livro inspirado por Deus aos seus servos e escrito em diferentes épocas, há centenas de anos.

As palavras figuradas não são usadas somente em pequenas passagens das Escrituras Sagradas, mas às vezes em textos inteiros; assim é que encontramos o uso da alegoria, da fábula, do enigma, do símbolo e do tipo, figuras que também ocorrem em outros tipos de literatura. As figuras retóricas da linguagem bíblica são as mesmas que as de outros idiomas. Precisamos, pois, conhecer as figuras de retórica e as figuras gramaticais mais comuns, a fim de compreender o seu significado em meio à passagem bíblica.

FIGURAS DE RETÓRICA

As figuras de retórica mais comuns são as seguintes:

Metáfora

 - É feita uma comparação, onde o sentido não é literal mas figurativo. Não se utilizam os termos tão e como, utilizados na símile. Tanto as coisas semelhantes como as diferentes podem ser comparadas numa metáfora. Exemplos: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor” (Jo 15.1). Em sentido espiritual, esta metáfora caracteriza Cristo que, qual uma cepa verdadeira comunicando vida às varas e ramos, comunica vida e força espiritual aos que nele creem, para que, como os ramos que produzem uvas, produzam os frutos do Cristianismo. Em João 3, quando Jesus conversa com Nicodemos, utiliza a metáfora do nascimento natural para explicar o nascimento espiritual. Em Mateus 5.14: “Vós sois a luz do mundo”; também em Isaías 3.15; 40.7,8; Gn 15.1; Pv 16.22; 25.18; Jo 10.7; Sl 84.11. Raras vezes o escritor explica sua metáfora. Também são metáforas figuras como estas: “Eu sou a porta “Eu sou o caminho”; “Eu sou o pão vivo”; “Vós sois a luz, o sal”; “Ide e dizei a esse raposo”; “a candeia do corpo são os olhos”; “Tu és a minha rocha e minha fortaleza”; “sol e escudo é para nós Jeová”; “a casa de Jacó será fogo”; “a casa de José será chama e a de Esaú, estopa”, entre outras tantas (Jo 15.1; 10.9; 14.6; 6.51; Mt 5.13,14; Lc 13.32; Mt 6.22; SI 71.13; 84.11; Ob 18).

Sinédoque

 - É utilizada quando não existe semelhança mas uma certa relação entre as coisas. Geralmente, o escritor aponta uma parte pelo todo ou o todo pela parte; o gênero pela espécie ou a espécie pelo gênero; o indivíduo pela classe, ou a classe pelo indivíduo; o plural pelo singular ou o singular pelo plural. Em 1 Coríntios 11.27 - “beber o cálice do Senhor” - emprega-se a parte pelo todo. “A minha carne repousará segura” (Sl 16.9) - refere-se ao corpo. Em Lucas 2.1 e Atos 24.5 está “todo mundo” - referindo-se às pessoas sob o domínio de César e não todo o mundo conhecido de então. Outros textos: Gn 3.19; 6.12; Êx 4.12; Is 32.12; Mq 4.3; Mt 3.5; 6.11; Tg 1.27.

Metonímia

 - É a relação de uma coisa não visível, formada apenas na mente, com outra palpável; acontece quando a causa se toma pelo efeito ou o sinal, pela coisa significada. Utiliza-se uma palavra em lugar de outra, sugerida pela primeira. Acontece quando o escritor utiliza o símbolo em lugar da realidade. “Se eu não te lavar, não tens parte comigo” (Jo 13.8). Pedro confundiu o símbolo com a realidade quando pede a Jesus que lave tudo. O texto todo da lavagem dos pés dos discípulos expressa purificação completa. Jesus vale-se desta forma de figura, pondo a causa pelo efeito, quando diz: “Tem Moisés e os profetas; ouçam-nos”, em vez de dizer tem os escritos de Moisés e dos profetas, ou seja, o Antigo Testamento (Lc 16.29). João faz uso da figura, trocando o símbolo pela realidade, ao dizer: “O sangue de Jesus Cristo seu filho nos purifica de todo o pecado”. É evidente que aqui a palavra sangue indica toda a paixão e morte expiatória de Jesus, única oferta eficaz para satisfazer a justiça divina e purificar o homem do pecado (Jo 1.7). Em Joel 2.31 - “O sol se converterá em trevas e a lua em sangue, antes que venha o grande dia do Senhor” - Joel fala do juízo de Deus (a causa), sendo o seu efeito a escuridão. “Se andarmos na luz como Ele na luz está” (1 Jo 1.7) - andar na luz é símbolo de entendimento e retidão. Outros textos: Pv 5.15-18; 23.23.

Prosopopeia

- E a personificação de coisas inanimadas, atribuindo-se lhes os efeitos e ações das pessoas. O apóstolo Paulo, por exemplo, fala da morte como de uma pessoa que pode alcançar vitória ou sofrer derrota, ao perguntar: “Onde está ó morte tua vitória? Onde está ó morte o teu aguilhão?” (1 Co 15.55). Também Pedro emprega a mesma figura falando do amor, referindo-se à pessoa que ama, quando diz: “A caridade (o amor) cobre uma multidão de pecados”. (1 Pe 4.8). Como é natural, ocorrem com frequência estas figuras na linguagem poética do Antigo Testamento, dando-lhe assim uma formosura, vivacidade e animação extraordinárias, como por exemplo Isaias 55.12, ao pronunciar: “Os montes e os outeiros romperão em cânticos diante de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas”. É conveniente observar que em casos como este não se trata somente de uma mera personificação das coisas inanimadas, mas de uma simbolização pelas mesmas, representando nesta passagem os “montes” e os “outeiros”, pessoas iminentes; e as “árvores” pessoas humildes, louvando uns e outros o Redentor ante os seus mensageiros. Outro caso de personificação grandiosa ocorre no Salmo 85.10, 11, onde se faz referência à riqueza, à fartura de bênçãos próprias do reinado do Messias, quando o salmista diz: ‘‘Encontraram-se a graça e a verdade; beijaram-se a justiça e a paz; da terra brota a verdade e a justiça olha lá do céu”. Em Provérbios 1.20-23 há uma personificação da sabedoria, assim como em Provérbios 8.1-4. Outros exemplos: Isaías 14.8; 35.1,2; 44.23.

Antropomorfismo

 - Suas raízes são palavras gregas: ánthropos (homem) e morfes (forma) e significam “na forma de homem”. Os escritores sagrados algumas vezes utilizam expressões próprias apenas ao ser humano, quando se referem a Deus. Deus é Espírito e não possui corpo nem membros corporais. É infinito e não possui as limitações humanas. São utilizados os antropomorfismos: dedo de Deus (Êx 8.19); os olhos do Senhor (Sl 32.8); face a face com Deus (Êx 33.11); Deus se arrependeu (Gn 6.7), cuja explicação está em Números 23.19: “Deus não é homem para que se arrependa”; Deus madrugando para falar (Jr 7.13 - versão antiga); Deus precisa ver (Gn 18.21); Deus em seu esconderijo (Sl 18.11; 1 Tm 6.16). Para falar dos atos de Deus, o escritor sagrado emprega palavras tiradas da experiência humana, para que as pessoas possam compreender melhor a atuação do Todo-Poderoso.

Ironia 

- Expressão que significa o contrário do que se está pensando ou sentindo; é usada para diminuir e depreciar, mas também para louvar e engrandecer. Utiliza-se da ironia sempre ressaltando o sentido verdadeiro da expressão. O apóstolo Paulo emprega esta figura quando chama os falsos mestres de grandes apóstolos e sumos apóstolos, dando ao mesmo tempo a compreender que de modo algum são eles apóstolos (2 Co 11.5; 12.11). A mesma figura é utilizada quando o profeta Elias, no Carmelo, fala aos sacerdotes do falso deus Baal: “Gritai em altas vozes, pois ele é um deus; ou está em viagem, ou porventura está dormindo, e necessita que o acordem”, dando a entender que é inútil gritarem (1 Rs 18.27). Jó também faz uso da mesma figura quando diz aos seus amigos: “Vós sois o povo e a sabedoria morrerá convosco”, fazendo-lhes compreender que estavam longe de serem sábios (Jó 12.2). Outra ironia está em Jó 38.21.

Hipérbole

 - Figura que engrandece ou diminui exageradamente a verdade das coisas, para apresentá-las vivas à imaginação. Tanto a ironia como a hipérbole, são pouco usadas nos Textos Sagrados, porém, ocorrem vez ou outra. Uma das mais conhecidas é esta: “Farei a tua descendência como o pó da terra” (Gn 13.16). Fazem uso da hipérbole os exploradores de Canaã, quando regressam para contar o que tinham visto, dizendo: “Vimos ali gigantes... e éramos aos nossos olhos como gafanhotos... as cidades são grandes e muradas até o céu” (Nm 13.37; Dt 1.28). “De maneira que com o seu clamor parecia fender-se a terra” (1 Re 1.40). A hipérbole alcança sua manifestação máxima em trechos narrativos de Daniel e em todo o livro de Ester; em ambos, a hipérbole se torna parte integrante da concepção do relato (Dn 3.17; Et 5.14). Jesus a utilizou quando disse: “coais o mosquito e engolis o camelo” (Mt . João também faz uso desta figura dizendo: “Muitas outras coisas há que Jesus fez; se elas fossem escritas uma por uma, suponho que nem no mundo inteiro caberiam os livros que se escrevessem” (Jo21.25). Outras hipérboles: Provérbios 6.30,31; 23.1,2; Atos 27.34.

Fábula 

- Narrativa em que seres irracionais e objetos inanimados são apresentados falando, com paixão e sentimento humano para ensinar lições morais. A fábula narra o que é imaginário. Lemos em 2 Reis 14.9: “O cardo que estava no Líbano, mandou dizer ao cedro que estava no Líbano: dá tua filha por mulher a meu filho; mas passou uma fera que estava no Líbano e pisou aos pés o cardo”. Com esta fábula contesta Joás o desafio que Amasias lhe havia feito. Joás compara a si mesmo ao robusto cedro do Líbano, e humilha o seu orgulhoso inimigo, igualando-o a um débil cardo, desprezando toda a aliança entre os dois e predizendo a ruína de Amasias com a expressão de que as bestas pisarão o cardo. Outra fábula nos apresenta Jotão (Jz 9.8), relatando como as árvores elegeram para seu rei ao espinheiro, pela qual faz compreender aos eleitores deAbimeleque as consequências funestas de tal eleição. No NT há recomendações quanto às fábulas de falsos mestres: 1 Tm 4; 4.7; 2 Tm 4.4; Tt 1.14; 2 Pe 1.16.

Enigma 

- É uma expressão que só se entende com muito esforço mental: “Com o meu servo Moisés, falo claramente e não por enigmas” (Nm 12.8); “Publicarei enigmas dos tempos antigos” (Sl 78.2). Sanção propôs o seguinte aos filhos dos filisteus (Jz 14.14): “Do comedor saiu comida e do forte saiu doçura”; a solução deste enigma, no entanto, se encontra na mesma passagem da Escritura. Nas palavras de Agur, encontramos, entre outros, o seguinte enigma: “Quatro coisas há na terra que são pequenas, mas que são extremamente sábias”, cuja solução está na própria passagem (Pr 30.24).

Alegoria 

- Exposição de um pensamento sob forma figurada; ficção que apresenta um objeto para dar ideia de outro. A alegoria é uma figura retórica que geralmente é composta de várias metáforas unidas, representando cada uma delas realidades correspondentes. Costuma ser tão evidente a natureza figurativa da alegoria, que uma interpretação ao pé da letra se torna quase impossível. Às vezes, tanto a alegoria como a parábola, vêmacompanhadas da interpretação que se exige. Terry (em: Berkhof, p. 94) distingue a alegoria da parábola, dizendo: “A alegoria é um uso figurativo e a aplicação de alguma história ou fato que se admite, enquanto que a parábola é em si mesma esta suposta história ou este fato. A parábola usa palavras em seu sentido literal, e sua narrativa nunca ultrapassa os limites daquilo que poderia ter acontecido. A alegoria usa as palavras em sentido metafórico, e sua narrativa, ainda que em si mesma seja possível, é manifestamente fictícia”.

Os dois concertos

- o da Lei e o da Graça - são apresentado alegoricamente em Sara e Agar (Gl 4). Isaías representa o povo judeu por uma vinha e por um outeiro fértil (Is 5.1-17). O salmista (Sl 80.8,18) representou os israelitas, sua volta do Egito a Canaã e sua história sucessiva, sob as figuras metafóricas de uma videira com as suas varas, raízes etc., que depois de transplantada, lança raízes e se estende; porém, mais tarde, fica estragada pelo porco montez e é comida pelas bestas do campo, representando o “porco” e as “bestas” os poderes gentílicos.

Outras alegorias:
Judá como um leãozinho (Gn 49.9); Israel como a vinha vinda do Egito (Sl 80.8-19); Israel, duas águias e a vinha (Ez 17.3-11); Israel como leão e seus cachorros (Ez 19.1-9); a velhice (Ec 12.2-6); os edificadores (1 Co 3.10-15). Jesus fez uma exposição alegórica, ao afirmar: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu, se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne... quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna... Esta alegoria tem a sua interpretação na mesma passagem (Jo 6.51,65). Ainda em João 10.1-18, onde Jesus do bom pastor.

FIGURAS GRAMATICAIS

As principais figuras gramaticais encontradas na Bíblia são:

Símile 

- Significa analogia, semelhança, comparação que se faz de uma coisa com outra não similar. Utiliza as palavras como, tal qual, do mesmo modo, assim, semelhante, etc. para fazer as analogias. Como palavra, aparece uma vez na Bíblia (Os 12.10), mas muitas vezes como figura gramatical. É a figura mais simples e fácil de ser identificada. É de uma beleza extraordinária para a compreensão e interpretação da Palavra. “Ao anoitecer, uivam como cães, a volta da cidade” (Sl 59.6). “Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece; e não conhecerá, daí em diante, o seu lugar” (Sl 103.15,16). Outros exemplos: Gn 13.10, 16; 15.5; Jz 7.12; Sl 2.9; 102.6; 103.11,13; 131.2; 130.5,6; Pv 26.1,18,19; Is 1.8,18; Ml 3.2,3; Mt 10.16; Tg 1.6. Existem casos de símiles implícitos, como em Pv 26.3; 25.4,5; Jo 12.24,25. Um caso de símile prolongado está em Cantares 2.3-5, que também é considerado uma alegoria ou parábola.

Antítese 

- Significa contraste, oposição de pensamentos ou de palavras; é encontrada em vários textos e quase sempre refere-se ao bem e ao mal, ao falso e ao verdadeiro. “Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem” (Mt 5.43,44). Outros exemplos estão em Mt 7.13,14,17,18, 24,26; Rm 6.23; 1 Co 15.35-50; 2 Co 3.6-18; 6.8-10, 14-16.

Apóstrofe

 - É uma interrupção que o orador faz para dirigir-se a coisas ou a pessoas; é a interpelação direta e repentina, o dito mordaz e imprevisto. É comumente utilizada pelos oradores sagrados a fim de chamar a atenção para alguma coisa presente ou ausente, real ou imaginária. Absalão, filho de Davi, já estava morto; no entanto, Davi o chamava: “Absalão, meu filho; meu filho, Absalão” (2 Sm 18.33). Jeremias clamou: “Ó terra, terra, terra! Ouve a palavra do Senhor” (Jr 22.29). Jesus exclamou: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que são enviados!” (Lc 13.34); fala aos habitantes da cidade, embora não possam ouvi-lo; é um desabafo diante da incredulidade do povo. Outros exemplos: 1 Co 15.55; Ap 6.16; Ct 4.16; Is 1.2; 52.9.

Clímax ou gradação

 - Refere-se ao grau máximo, ao ponto culminante; aparece na Bíblia constituído por palavras, por um capítulo inteiro ou por um livro. Paulo apresenta a grandeza do amor de Deus em Rm 8.38,39; ao falar da ressurreição, apresenta o auge de seu discurso em 1 C 15.54. Outros exemplos: Hb 39,40; Is 40.29,31; 55.10,11; Ef 3.14-21.

Paradoxo 

- É a proposição que parece ser contrária à opinião comum; é sinônimo de desconchavo, de contradição. Aparece na mesma oração ou muito próxima uma da outra. “Acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus” (Mt 16.6); embora os discípulos achassem que não deveriam se esquecer de comprar o pão, Jesus falava da doutrina dos fariseus. “Porque qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á” (Mc 8.35), apresentando o paradoxo entre a vida terrena e a eterna. Outros exemplos: Mc 14.61,62 (Filho do homem e Filho de Deus); Lc 9.61,62; 8.19-21; 2 Co 4.18; 6.8; 12.10. O discurso sobre o “Pão da Vida” (Jo 6.25-59) apresenta diversos paradoxos.

Interrogação

 - “Ação de interrogar, perguntar. Figura pela qual o orador se dirige ao seu adversário ou ao público em tom interrogatório, sabendo que não obterá a resposta”. Um exemplo está em Rm 8.33-35 - “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus?”. Outros exemplos: Jó 11.7,10; 20.4,5; Gn 18.25.

Elipse 

- É a omissão de uma palavra ou palavras necessárias à construção completa de uma frase, porém a compreensão é possível. É necessário que o(a) leitor(a) aumente ou modifique a forma da frase para compreendê-la em seu sentido correto. “Volta, ó Jeová - até quando? (nos desampararás)”, disse Moisés. Sentenças curtas revelam a emoção do poeta: 1 Co 3.2; 6.13; 2 Co 5.13; Êx 32.32; Gn 3.22. Sendo o hebraico eo grego idiomas antigos, alguns textos deixam certas dúvidas quanto ao significado que o autor lhes quis dar. Em alguns casos (Gl 3.5; 1 Tm 4.3), os tradutores acrescentaram as palavras que faltam nos originais, para auxiliar na compreensão dos leitores. A braquilogia também é uma forma concisa ou abreviada de discurso, consistindo na omissão de uma palavra quando sua repetição ou uso seria necessário para completar a construção gramatical; neste caso, a omissão não é tão evidente como na elipse: Rm 11.18; 1 Jo 5.9.

PRINCÍPIOS PARA COMPREENDER O FIGURATIVO

Nem sempre sabemos como interpretar a linguagem figurativa que aparece nos textos da Bíblia. Por exemplo: “Tomou Jesus o pão e o abençoou e o deu aos seus discípulos dizendo: Tomai e comei todos vós; isto é o meu corpo”. Acompanhando a ideia central deste versículo, em seu conjunto, fica claro que a palavra corpo não é usada aqui em sentido literal, mas figurado, porque Cristo partiu o pão e não o seu próprio corpo; entregando-se, ele mesmo por inteiro, pão da vida, e não parte de sua carne material. Jesus, porém, usa a palavra no sentido simbólico, dando-lhes a compreender que o pão representa o seu corpo.

Neste outro exemplo, Cristo diz a Pedro: “A ti te darei as chaves do reino dos céus”. Pelo conjunto da frase vemos claramente que aqui a palavra “chave” não pode ser entendida em seu sentido literal ou material, porque o reino dos céus não é um lugar terreno, onde se penetra com o simples uso de uma chave. Devemos tomá-la, portanto, em sentido figurado, simbolizando as chaves, autoridade, a autoridade de atar e desatar, perdoar e reter pecados, que depois foi estendida, em outras passagens do Evangelho, aos demais discípulos (Mt 26.26; 16.19; 18.18; Jo 20.23).

Hendricks nos fornece princípios para auxiliar e evitar problemas de interpretação (p. 258).

Use o sentido literal a menos que haja uma boa razão para não fazê-lo.

Use o sentido figurado:

Quando a passagem indicar que assim se deve fazer;
se o sentido literal for impossível ou absurdo;
se um significado literal envolveria algo imoral;
se a expressão for obviamente uma figura de linguagem;
se uma interpretação literal contraria o contexto e a esfera de ação da passagem;
se uma interpretação literal contraria o caráter geral e o estilo do livro;
se uma interpretação literal contraria o plano e propósito do autor;
se uma interpretação literal envolve uma contradição de outras partes das Escrituras;
se uma interpretação literal envolve uma contradição doutrinária.

Berkhof (1994, p. 90) recomenda outros princípios na interpretação da linguagem figurada da Bíblia:
Ter uma concepção clara das coisas sobre as quais se baseiam as figuras, ou de onde foram extraídas;
Descobrir a ideia principal, sem dar demasiada ênfase aos detalhes;
Ter em mente que a linguagem figurada que se refere a Deus e à ordem geral das coisas oferece apenas uma expressão inadequada da perfeita realidade;

Procurar expressar em linguagem literal os pensamentos que a linguagem figurada sugere.


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