HERMENEUTICA FORMAS LITERARIAS
“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do
que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos
do coração” (Hb 4.12).
Quando os escritores bíblicos estavam produzindo seus textos não
pensavam que viriam a compor as Escrituras Sagradas. Escreviam com seu estilo
próprio, segundo a revelação que lhes era dada por Deus, através de seu
Espírito Santo. Para tanto, utilizaram uma linguagem apropriada à ocasião, à
sua formação, à verdade revelada. Alguns escritores foram mais simples e
diretos; outros, mais complexos e indiretos. Em geral, porém, a linguagem das
Escrituras preocupou-se em explanar com exatidão o que estava acontecendo e
sendo anunciado.
Embora se encontrem nas páginas sagradas, de uma forma geral, os
grandes princípios e deveres cristãos, expressos em linguagem simples e
objetiva, a literatura dos livros varia entre si. Mesmo assim, são ressaltadas
a espiritualidade e a santidade de Deus, além da espiritualidade e fervor que
se requer para a sua adoração. Escreve-se sobre a queda e a corrupção do homem,
além da necessidade do arrependimento e da conversão; anuncia-se a remissão dos
pecados em nome de Cristo Jesus e a salvação por seus méritos, a vida eterna
pela fé em Cristo, e ao mesmo tempo a morte eterna pela falta de fé no
Salvador, ou seja pela incredulidade. Tais verdades são tão claras
que nenhum leitor, por mais superficial e indiferente que seja, deixará de
notá-las, de percebê-las.
Entretanto, outras verdades na Bíblia não se apresentam com
tanta clareza. É necessário que empreguemos as leis e os princípios da
Hermenêutica para que as compreendamos. Um dos cuidados iniciais, antes de nos
lançarmos ao estudo de determinado livro ou texto das Escrituras Sagradas, é a
compreensão do propósito do seu escritor, do tipo de literatura empregada, da
forma literária utilizada. Apresentamos as formas mais comuns, sendo que
existem outras formas além das subdivisões que não serão abordadas.
Exposição
- Hendricks (1998, p. 206) afirma que: “Exposição é um argumento
ou explicação direta da parte principal de uma verdade objetiva. É uma forma de
escrita que apela basicamente à mente. O argumento normalmente tem uma
estrutura rígida que vai de ponto a ponto de modo lógico”. Os escritos de Paulo
são um excelente exemplo deste tipo de literatura; ele teve um intenso preparo
numa escola para mestres e sabia muito bem escrever com argumentos. Une
parágrafos com os conectivos pois, portanto, mas; utiliza a retórica;
caracteriza-se pelo uso de frases longas e bem elaboradas, sem deixar de usar
as frases curtas e rápidas. Os propósito podem ser facilmente
detectados. Para entender a literatura expositiva é preciso determinar sua
estrutura e os termos empregados. Depois disso, fica mais fácil a compreensão.
Narrativa e Biografia
- A Bíblia é tão popular pelas histórias que contém. Está
repleta de narrativas e de biografias, que facilitam sua leitura e
a tornam atraente. Ao lermos as histórias precisamos atentar para o seu
enredo, isto é, o movimento de seus personagens; precisamos também estudar a
caracterização dos personagens; finalmente, precisamos aplicar a história à
vida de hoje (Hendricks, p. 207). Como exemplos bíblicos, temos: a história de
Rute, dos Juízes, do Êxodo de Israel, do ministério terreno de Cristo, do
crescimento da igreja em Atos, etc. A Bíblia não é um livro de História, no
sentido de ser uma ciência que permite adquirir e comunicar conhecimentos
através da tradição e/ou por meio de documentos. O objetivo central das
Escrituras Sagradas é mostrar a História da Redenção do ser humano através do
amor de Deus. Mesmo assim, a fé bíblica não é produto da imaginação das
pessoas, separadas da realidade histórica. Quando falamos em Jesus Cristo,
Abraão, Moisés, Davi, Salomão, Pedro, Paulo e outros
personagens, situamo-los em cidades, épocas, situações concretas na
história da humanidade.
Parábolas
- Estão relacionadas às narrativas e às alegorias. A
parábola é uma história que ilustra um ensinamento moral ou espiritual. Relata
fatos naturais ou possíveis acontecimentos, sempre com a finalidade de
esclarecer ou ilustrar uma ou mais verdades importantes. A maioria está nos
discursos de Jesus, mas existem parábolas também no Antigo Testamento, como: a
cordeirinha (2 Sm 4); vingadores do sangue (2 Sm 14.1-11);
prisioneiro foragido (1 Re 20.35-40); a vinha e as uvas (Is 5.1-7); as águias e
a vinha (Ez 10); os leõezinhos (Ez 19.2-9); a videira (Ez 19.10-14); o
incêndio no bosque (Ez 20.45-49); a panela a ferver (Ez 24.3-5). As parábolas
eram o método preferido de Jesus para comunicar algumas verdades, porque são
simples, interessantes e relacionam-se com a vida das pessoas; utilizam-se
atividades comuns, como a pesca, a lavoura, o dinheiro, o relacionamento
familiar, o cuidado com as pessoas, para ilustrar verdades mais profundas.
Costumam basear-se em princípios éticos do certo e do errado, do amor, da
justiça ou da misericórdia. Os Evangelhos sinóticos descrevem pelo menos 65 parábolas,
descontadas as repetições.
Enquanto as parábolas se baseiam em fatos cotidianos, as fábulas
registram acontecimentos impossíveis na vida real. A parábola possui uma
finalidade prática, o mito é mais especulativo. A alegoria é uma exposição de um
pensamento sob forma figurada, como o Bom Pastor (Jo 10.1-16), a
videira e os ramos (Jo 15.1-8); a armadura do cristão (Ef 6.14-18). A parábola
não é alegoria.
Quanto à reta compreensão e interpretação das parábolas é
preciso observar algumas recomendações. A ocasião que produz a parábola pode
ilustrar o seu significado. Antes de tudo é preciso descobrir seu objetivo,
isto é, a verdade ou verdades que a parábola ensina, que normalmente
está na introdução ou no final da narrativa. Outras vezes conseguimos descobrir
o objetivo, levando-se em conta o motivo de tal parábola. Somente devem ser
consideradas as principais ações exemplares da parábola, deixando de lado o que
lhes serve de adorno ou complemento de narração. Uma parábola semelhante pode
indicar a coisa a ser ilustrada. O contexto pode indicar o propósito da
parábola. O próprio Jesus Cristo nos ensina como proceder na interpretação das
suas parábolas. É preciso ficar atento à totalidade da parábola e suas partes
principais, deixando de lado os detalhes menores, sem muita importância. É bom
lembrarmos sempre que as parábolas, bem como as demais figuras que aparecem nas
Escrituras Sagradas, servem para ilustrar as doutrinas e não para produzi-las.
Alguns princípios gerais de interpretação podem ajudar o
estudante a encontrar o verdadeiro sentido das parábolas:
v A parábola deve conter um só ponto de comparação,
que é sua verdade central; Deve ser interpretada à luz de seu contexto
histórico;
v A pessoa, missão e ministério de Jesus Cristo
constituem o contexto geral para a interpretação de todas as parábolas;
v A parábola não deve ser interpretada do ponto de
vista doutrinário;
v As parábolas são obras de arte, cujo sentido vai
além daquele que lhe deu origem.
Poesia
- Há maior ênfase desse tipo de literatura no Antigo Testamento,
com os Salmos, Eclesiastes, Cantares. A poesia apela para as emoções e
para a imaginação. A poesia hebraica possui uma dinâmica peculiar e é preciso
compreendê-la, ao lermos as poesias. Os Salmos foram escritos para serem
cantados e não lidos. Uma das características é o paralelismo, isto é, a
segunda linha reforça a primeira (Sl 103.15), ou completa as afirmativas da
primeira (Sl 32.2) ou ainda se opõe à primeira com uma alternativa (Sl
40.4). Uma outracaracterística é o uso da hipérbole, linguagem exagerada
(Sl 139.19-22). No Novo Testamento também encontramos poesias, em alguns
cânticos: Lucas 1.46-55; 68-79; 2.29-32; Romanos 11.33-36.
Provérbios e Sabedoria
- Na literatura de Sabedoria observam-se os conselhos das
pessoas mais experientes para as mais jovens. Um provérbio é uma afirmativa que
procura inspirar determinado comportamento, considerado correto e desejável. Os
provérbios são adágios da sabedoria divina, aplicados às condições do povo de
Deus. Contêm orientação sábia e podem ser aplicados à vida prática. Em geral,
os Provérbios se utilizam dos paralelismos, principalmente para apontar os
opostos: Provérbios 15.27; 20.3. Outros exemplos: Lucas 4.23; Mateus 13.57. Os
Provérbios são como uma vitamina para a alma, no dizer de Hendricks. Para uma
correta interpretação dos provérbios, lembre-se que eles normalmente não têm
contexto. Importante é determinar a que classe pertencem, pois podem se apresentar
como símiles, metáforas, parábolas ou alegorias.
Profecia e Apocalipse
- Profecia nem sempre é previsão do futuro; entretanto, sua
ênfase está na advertência e julgamento. Tanto no Antigo como no Novo
Testamento, o profeta é tido como um porta-voz de Deus que declara a vontade
desse mesmo Deus ao povo. O profeta proclama as palavras de Deus, adverte o
povo contra as consequências de seus atos imorais, na tentativa de resgatá-los
para Deus. E muito importante compreender todo contexto histórico e cultural da
época da profecia para entender seu significado. No Novo Testamento, profecia
refere-se, em primeiro lugar, às proclamações dos profetas do AT
(Mt 13.14; 2 Pe 1.20). Segundo Scott, o profeta não fala “da”
época mas “à” época, porque a palavra de Deus está em sua boca.
O dom de profetizar, no Novo Testamento, está em relação
estreita com o culto prestado a Deus; é uma função interna da Igreja de Cristo.
Os novos convertidos, recebendo o Espírito Santo, profetizam quando confessam
sua fé e proclamam a respeito da revelação que os ilumina (At 19.6).
Qualquer cristão ou cristã pode ser chamado a comunicar para a
comunidade uma revelação que o Senhor lhe deu no curso do culto (1 Co 14.30). A
profecia também pode se manifestar em alguns cristãos (At 11.27,28; 15.32;
21.9) para proveito comum (1 Co 12.7-11). O dom de profetizar tem sua origem
num ministério reconhecido e tido em alto conceito, o de profeta, que Paulo
situa sempre imediatamente após o de apóstolo (1 Co 12.28; Ef 4.11). O dom de
profetizar é superior ao dom de línguas (1 Co 14). Os cristãos precisam
guardar-se dos falsos profetas (Mt 7.15; Mc 13.22; l Jo 4.1).
A literatura apocalíptica está relacionada a eventos do fim da
nação de Israel ou do mundo; é altamente simbólica e como tal precisa de uma
interpretação não especulativa.
Aproveitamos o quadro apresentado por Hendricks (1998), para uma
visão conjunta dos diversos gêneros literários encontrados na Bíblia.
GENERO
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CARACTERÍSTICAS
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LIVROS
BÍBLICOS E EXEMPLOS
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Apocalipse
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Material
dramático, altamente simbólico; imagens mentais vividas; contrastes
perfeitos; eventos em escala global: abordagem da testemunha ocular; luta
cósmica entre o bem e o mal.
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Daniel
9.20-27 Apocalipse
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Biografia
|
Visão
de perto da vida de uma pessoa; contraste com outra pessoa; eventos
selecionados; desenvolvimento do personagem, positivo ou negativo.
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Abraão.
Isaque. Jacó, José, Moisés, Saul, Davi. Eliseu. Jesus
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Encômio
|
Alto
louvor a alguém ou alguma coisa: brilhantes termos para as origens,
atos. atributos ou superioridade do sujeito; exortação a imitar os
traços positivos
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1 Sm 2.1-10:
SI 19: SI 119: Pv 8.22-36; Cantares; Jo 1.1-18; 1 Co 13; Cl 1.15-20; Hb 1 a 3
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Exposição
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Argumento
ou explicação cuidadosamente fundamentada; organizada: fluxo lógico: termos
cruciais; clímax lógico e constrangedor: objetivo: concordância e ação.
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Cartas
de Paulo: Hebreus; Tiago; 1 e 2 Pedro; 1. 2 e 3 João: Judas
|
Narrativa
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Categoria
ampla na qual a história é proeminente; relatos históricos: estrutura
transmitida por enredo; eventos comunicando significado; eventos justapostos
para contraste e comparação.
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Gênesis:
Evangelhos; Atos
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Oratória
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Apresentação
oral estilizada de um argumento: convenções formais de retórica e
oratória; citação de autoridades conhecidas: exortação e persuasão.
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João
13 a 17; Atos 7: 17.22-31; 22.1-21:24.10-21:26.1-23
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Parábola
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Breve
história oral ilustrando moral; personagens de repertório e estereótipos:
cenas e atividades comuns: reflexão e auto avaliação.
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2 Sm 12.1-6: Ec 9.14-16: Mt 13.1-53:
Mc 4.1-34: Lc 15.1- 16.31
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astoral
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Literatura
que lida com temas rurais e rústicos, especialmente pastores; pouca ação;
meditativa e calma: laço entre pastor e ovelhas; apresentação idealizada da
vida distante dos males urbanos.
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SI 23:
Is 40.11; Jo 10.1-18
|
Poesia
|
Verso
escrito para ser declamado ou cantado; ênfase na cadência e nos sons das
palavras; imagens e símbolos vividos; emoções: pode empregar o encômio, a
pastoral e outros estilos; no AT. muitos paralelismos.
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Jó.
Salmos. Provérbios, Eclesiastes, Cantares
|
Profecia
|
Apresentação
estridente e autoritária da vontade e das palavras de Deus; com frequente
intenção de correção; motivação às mudanças; prevenção contra os planos de
Deus em resposta às escolhas humanas.
|
Isaías;
Malaquias
|
Provérbio
|
Declaração
curta e substanciosa de uma verdade moral; reduz a vida a categorias
branco-e-preto; dirige-se frequentemente a jovens; emprega paralelismos;
direção ao que é correto e distante do mal; muitas metáforas e símiles.
|
Provérbios
|
Sabedoria
|
Ampla
categoria na qual uma pessoa mais velha e amadurecida narra a sabedoria para
a mais jovem; parábolas; observações em áreas fundamentais da vida.
|
Jó;
Provérbios; Salmo 37; Salmo 90;Eclesiastes
|
Sátira
|
Exposição
e ridicularização do vício e da insensatez; vários
estilos literários, especialmente narrativa. biografia e
provérbio; advertência pelo exemplo negativo
|
Pv 24.30-34;
Ez 34; Lc 18.1-8; 2 Co 11 1-12.1
|
Tragédia
|
Relata
a queda de uma pessoa; eventos selecionados para mostrar o caminho à ruína;
aponta para falha crítica no caráter e escolhas morais: advertência pelo
exemplo negativo.
|
Ló;
Sansão; Saul/ At 5.1-11
|
ESTRUTURA LITERÁRIA
Quando a pessoa vai ler e estudar a Bíblia, além das formas ou
gêneros literários, precisa considerar a estrutura, tanto gramatical quanto
literária. Cada texto apresenta-se com introdução, desenvolvimento e conclusão;
entretanto, diferentes tipos de literatura utilizam diferentes tipos de
estrutura. Hendricks apresenta cinco estruturas:
Biográfica - É encontrada na literatura narrativa ou
biográfica; baseia-se na vida da pessoa: seu nascimento, crescimento, atitudes,
acontecimentos principais, contribuição, morte. Em Gênesis, encontramos a vida
dos patriarcas; em Juízes, a vida de alguns líderes; em Samuel, a vida de Davi
e Salomão; em Atos, os feitos principais de alguns apóstolos.
Geográfica - A narrativa dos locais onde aconteceram os
eventos é a base dessa estrutura. Encontramo-la em Êxodo, que conta a
trajetória do povo de Israel através do deserto. Em Atos, mencionam- se as
viagens missionárias de Paulo.
Histórica - Baseia-se em eventos, acontecimentos.
As narrativas do livro de Josué são um bom exemplo desse tipo de estrutura. O
Evangelho de João segue um roteiro histórico para abordar sete milagres
principais do ministério terreno de Jesus, com os ensinamentos correlatos.
Cronológica - Nesse tipo de estrutura, o escritor
utiliza-se de datas marcantes e vai prosseguindo em sua narrativa; está
relacionada à histórica. Há sequência progressiva nos acontecimentos. Nos
livros de Samuel encontramos frequentemente o conectivo “então”, demonstrando
essa sequência.
Ideológica - A estrutura baseia-se em ideias e conceitos.
As cartas de Paulo exemplificam-na, sendo a carta aos Romanos um clássico.
Paulo fala de conceitos, como: pecado, lei, fé, graça, vida no Espírito. Esta
estrutura facilita um resumo da obra, depois de se compreenderem o tema e o propósito
centrais.
A estrutura literária guia-se por determinados princípios ou
leis, conforme o quadro abaixo (Hendricks, p. 117).
LEI
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DESCRIÇÃO
|
EXEMPLOS
|
Causa
e efeito
|
Um
evento, conceito ou ação que causa outro (termos chaves: portanto, então,
assim, resultado)
|
Mc
11.27-12.44: Rm 1.24- 32: 8.18-30
|
Clímax
|
Uma
progressão de eventos ou ideias que atingem certo ponto alto, antes
de regredir
|
Ex 40.34,35;
2 Sm 11; Mc 4.35-5.43
|
Comparação
|
Dois
ou mais elementos que são semelhantes ou parecidos (termos chaves: como,
assim como, também, de igual maneira)
|
SI
1.3,4: Jo 3.8, 12,14: Hb 5.1-10
|
Contraste
|
Dois
ou mais elementos que são semelhantes ou dissimilares (termos chaves: mas,
ainda)
|
SI 73:
At 4.32-5.11; G1 5.19-23
|
Explicação
ou razão
|
Apresentação
de uma ideia ou evento seguida por sua interpretação
|
Dn 2.
4, 5, 7 a 9; Mc 4.13- 20: At 11.1-18
|
Intercâmbio
|
Quando
a ação, conversação ou conceito muda para outro, então volta
novamente
|
Gn 37
a 39: 1 Sm 1 a 3; Lc 1 e2
|
Introdução
e resumo
|
Observação
na abertura ou conclusões sobre um assunto ou situação
|
Gn
2.4-25; 3; Js 12; Mt 6.1
|
Pivô
ou eixo
|
Mudança
súbita de direção ou fluxo do contexto; um clímax menor.
|
2 Sm 11
e 12; Mt 12: At 2
|
Proporção
|
Ênfase
indicada pela quantidade de espaço que o escritor dedica a um assunto
|
Gn 1 a
11: 12 a 50: Lc 9.51 a 19.27: Ef 5.21 a 6.4
|
Propósito
|
Declaração
das intenções do autor
|
Jo
20.30.31; At 18: Tt 1.1
|
Pergunta
e resposta
|
Uso de
perguntas ou de perguntas e respostas
|
Malaquias;
Mc 11.27 a 12.44: Lc 11.1-13
|
Repetição
|
Termos
ou frases usados duas ou mais vezes
|
SI
136; Mt 5.21-48; Hb 11
|
Específico
para geral e geral para específico
|
Progressão
do pensamento de um único exemplo para um princípio geral ou vice-versa
|
Mt 6.1-18;
At 1.8: Tg 2
|
Cabe, pois, ao intérprete da Bíblia discernir bem a forma
literária e seu conteúdo a fim de não se confundir a verdade divina com a sua
forma contingente de expressão. É indispensável recorrer às leis da literatura
dos povos antigos, a fim de perceber com exatidão como falavam e apurar o que o
autor, em nome de Deus, queria transmitia às pessoas de sua época.
Linguagem figurada
“Disse-vos essas coisas por figuras. Chega a hora em que já não
vos falarei em figuras, mas claramente vos falarei do Pai. Nesse dia, pedireis
em meu nome e não vos digo que intervirei junto ao Pai por vós, pois o próprio
Pai vos ama, porque me amastes e crestes que vim de Deus” (Jo 16.25-27)
Determinada passagem bíblica parece-nos, algumas vezes, obscura
e incompreensível; o mesmo acontece em outras leituras. No mais simples tratado
de escola primária que apenas se ocupa de coisas terrenas, temporais, acham-se
palavras e passagens que o homem sem estudos não compreende. Seria, portanto,
estranho não achar palavras e passagens de difícil compreensão nos textos
sagrados. Se num determinado país se usamfiguras ou formas de expressões
que em outros não se compreendem sem interpretação, não é estranho encontrar
tais figuras e expressões na Bíblia. Se todo texto antigo oferece pontos
obscuros, também se podem encontrar tais pontos no livro inspirado por Deus aos
seus servos e escrito em diferentes épocas, há centenas de anos.
As palavras figuradas não são usadas somente em pequenas
passagens das Escrituras Sagradas, mas às vezes em textos inteiros; assim é que
encontramos o uso da alegoria, da fábula, do enigma, do símbolo e do tipo,
figuras que também ocorrem em outros tipos de literatura. As figuras retóricas
da linguagem bíblica são as mesmas que as de outros idiomas. Precisamos, pois,
conhecer as figuras de retórica e as figuras gramaticais mais comuns, a fim de
compreender o seu significado em meio à passagem bíblica.
FIGURAS DE RETÓRICA
As figuras de retórica mais comuns são as seguintes:
Metáfora
- É feita uma comparação, onde o sentido não é
literal mas figurativo. Não se utilizam os termos tão e como,
utilizados na símile. Tanto as coisas semelhantes como as diferentes podem ser
comparadas numa metáfora. Exemplos: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o
agricultor” (Jo 15.1). Em sentido espiritual, esta metáfora caracteriza Cristo
que, qual uma cepa verdadeira comunicando vida às varas e ramos, comunica vida
e força espiritual aos que nele creem, para que, como os ramos que produzem
uvas, produzam os frutos do Cristianismo. Em João 3, quando Jesus conversa com
Nicodemos, utiliza a metáfora do nascimento natural para explicar o nascimento
espiritual. Em Mateus 5.14: “Vós sois a luz do mundo”; também em Isaías 3.15;
40.7,8; Gn 15.1; Pv 16.22; 25.18; Jo 10.7; Sl 84.11. Raras vezes o
escritor explica sua metáfora. Também são metáforas figuras como estas: “Eu sou
a porta “Eu sou o caminho”; “Eu sou o pão vivo”; “Vós sois a luz, o sal”; “Ide
e dizei a esse raposo”; “a candeia do corpo são os olhos”; “Tu és a minha rocha
e minha fortaleza”; “sol e escudo é para nós Jeová”; “a casa de Jacó será
fogo”; “a casa de José será chama e a de Esaú, estopa”, entre outras tantas (Jo
15.1; 10.9; 14.6; 6.51; Mt 5.13,14; Lc 13.32; Mt 6.22; SI 71.13;
84.11; Ob 18).
Sinédoque
- É utilizada quando não existe
semelhança mas uma certa relação entre as coisas. Geralmente, o
escritor aponta uma parte pelo todo ou o todo pela parte; o gênero pela espécie
ou a espécie pelo gênero; o indivíduo pela classe, ou a classe pelo indivíduo;
o plural pelo singular ou o singular pelo plural. Em 1 Coríntios
11.27 - “beber o cálice do Senhor” - emprega-se a parte pelo todo. “A
minha carne repousará segura” (Sl 16.9) - refere-se ao corpo. Em Lucas 2.1 e
Atos 24.5 está “todo mundo” - referindo-se às pessoas sob o domínio de César e
não todo o mundo conhecido de então. Outros textos: Gn 3.19; 6.12; Êx 4.12; Is
32.12; Mq 4.3; Mt 3.5; 6.11; Tg 1.27.
Metonímia
- É a relação de uma coisa não visível, formada apenas na
mente, com outra palpável; acontece quando a causa se toma pelo efeito ou o
sinal, pela coisa significada. Utiliza-se uma palavra em lugar de outra,
sugerida pela primeira. Acontece quando o escritor utiliza o símbolo em lugar
da realidade. “Se eu não te lavar, não tens parte comigo” (Jo 13.8). Pedro
confundiu o símbolo com a realidade quando pede a Jesus que lave tudo. O texto
todo da lavagem dos pés dos discípulos expressa purificação completa. Jesus
vale-se desta forma de figura, pondo a causa pelo efeito, quando diz: “Tem
Moisés e os profetas; ouçam-nos”, em vez de dizer tem os escritos de Moisés e
dos profetas, ou seja, o Antigo Testamento (Lc 16.29). João faz uso da figura,
trocando o símbolo pela realidade, ao dizer: “O sangue de Jesus Cristo seu
filho nos purifica de todo o pecado”. É evidente que aqui a palavra sangue
indica toda a paixão e morte expiatória de Jesus, única oferta eficaz para
satisfazer a justiça divina e purificar o homem do pecado (Jo 1.7). Em Joel
2.31 - “O sol se converterá em trevas e a lua em sangue, antes que venha o
grande dia do Senhor” - Joel fala do juízo de Deus (a causa), sendo o seu
efeito a escuridão. “Se andarmos na luz como Ele na luz está” (1 Jo 1.7) -
andar na luz é símbolo de entendimento e retidão. Outros
textos: Pv 5.15-18; 23.23.
Prosopopeia
- E a personificação de coisas inanimadas, atribuindo-se lhes os
efeitos e ações das pessoas. O apóstolo Paulo, por exemplo, fala da morte como
de uma pessoa que pode alcançar vitória ou sofrer derrota, ao perguntar: “Onde
está ó morte tua vitória? Onde está ó morte o teu aguilhão?” (1 Co 15.55).
Também Pedro emprega a mesma figura falando do amor, referindo-se à pessoa que
ama, quando diz: “A caridade (o amor) cobre uma multidão de pecados”.
(1 Pe 4.8). Como é natural, ocorrem com frequência estas figuras na
linguagem poética do Antigo Testamento, dando-lhe assim uma formosura,
vivacidade e animação extraordinárias, como por exemplo Isaias 55.12,
ao pronunciar: “Os montes e os outeiros romperão em cânticos diante de vós, e
todas as árvores do campo baterão palmas”. É conveniente observar que em casos
como este não se trata somente de uma mera personificação das coisas
inanimadas, mas de uma simbolização pelas mesmas, representando nesta passagem
os “montes” e os “outeiros”, pessoas iminentes; e as “árvores” pessoas
humildes, louvando uns e outros o Redentor ante os seus mensageiros. Outro
caso de personificação grandiosa ocorre no Salmo 85.10, 11, onde se faz
referência à riqueza, à fartura de bênçãos próprias do reinado do Messias,
quando o salmista diz: ‘‘Encontraram-se a graça e a verdade; beijaram-se a
justiça e a paz; da terra brota a verdade e a justiça olha lá do céu”. Em
Provérbios 1.20-23 há uma personificação da sabedoria, assim como em Provérbios
8.1-4. Outros exemplos: Isaías 14.8; 35.1,2; 44.23.
Antropomorfismo
- Suas raízes são palavras
gregas: ánthropos (homem) e morfes (forma) e significam “na
forma de homem”. Os escritores sagrados algumas vezes utilizam expressões
próprias apenas ao ser humano, quando se referem a Deus. Deus é Espírito e não
possui corpo nem membros corporais. É infinito e não possui as limitações
humanas. São utilizados os antropomorfismos: dedo de Deus (Êx 8.19); os olhos
do Senhor (Sl 32.8); face a face com Deus (Êx 33.11); Deus se arrependeu (Gn
6.7), cuja explicação está em Números 23.19: “Deus não é homem para que se
arrependa”; Deus madrugando para falar (Jr 7.13 - versão antiga); Deus precisa
ver (Gn 18.21); Deus em seu esconderijo (Sl 18.11; 1 Tm 6.16). Para falar dos
atos de Deus, o escritor sagrado emprega palavras tiradas da experiência
humana, para que as pessoas possam compreender melhor a atuação do
Todo-Poderoso.
Ironia
- Expressão que significa o contrário do que se está pensando ou
sentindo; é usada para diminuir e depreciar, mas também para louvar e
engrandecer. Utiliza-se da ironia sempre ressaltando o sentido verdadeiro da
expressão. O apóstolo Paulo emprega esta figura quando chama os falsos mestres
de grandes apóstolos e sumos apóstolos, dando ao mesmo tempo a compreender que
de modo algum são eles apóstolos (2 Co 11.5; 12.11). A mesma figura é utilizada
quando o profeta Elias, no Carmelo, fala aos sacerdotes do falso deus Baal:
“Gritai em altas vozes, pois ele é um deus; ou está em viagem, ou porventura
está dormindo, e necessita que o acordem”, dando a entender que é inútil
gritarem (1 Rs 18.27). Jó também faz uso da mesma figura quando diz
aos seus amigos: “Vós sois o povo e a sabedoria morrerá convosco”, fazendo-lhes
compreender que estavam longe de serem sábios (Jó 12.2). Outra ironia está em
Jó 38.21.
Hipérbole
- Figura que engrandece ou diminui exageradamente a
verdade das coisas, para apresentá-las vivas à imaginação. Tanto a ironia como
a hipérbole, são pouco usadas nos Textos Sagrados, porém, ocorrem vez
ou outra. Uma das mais conhecidas é esta: “Farei a tua descendência como o pó
da terra” (Gn 13.16). Fazem uso da hipérbole os exploradores de Canaã, quando
regressam para contar o que tinham visto, dizendo: “Vimos ali gigantes... e
éramos aos nossos olhos como gafanhotos... as cidades são grandes e muradas até
o céu” (Nm 13.37; Dt 1.28). “De maneira que com o seu clamor parecia fender-se
a terra” (1 Re 1.40). A hipérbole alcança sua manifestação máxima em trechos
narrativos de Daniel e em todo o livro de Ester; em ambos, a hipérbole se torna
parte integrante da concepção do relato (Dn 3.17; Et 5.14). Jesus a
utilizou quando disse: “coais o mosquito e engolis o camelo” (Mt . João
também faz uso desta figura dizendo: “Muitas outras coisas há que Jesus fez; se
elas fossem escritas uma por uma, suponho que nem no mundo inteiro caberiam os
livros que se escrevessem” (Jo21.25). Outras hipérboles: Provérbios 6.30,31;
23.1,2; Atos 27.34.
Fábula
- Narrativa em que seres irracionais e objetos inanimados são
apresentados falando, com paixão e sentimento humano para ensinar lições
morais. A fábula narra o que é imaginário. Lemos em 2 Reis 14.9: “O cardo que
estava no Líbano, mandou dizer ao cedro que estava no Líbano: dá tua filha por
mulher a meu filho; mas passou uma fera que estava no Líbano e pisou aos pés o
cardo”. Com esta fábula contesta Joás o desafio que Amasias lhe havia
feito. Joás compara a si mesmo ao robusto cedro do Líbano, e humilha
o seu orgulhoso inimigo, igualando-o a um débil cardo, desprezando toda a
aliança entre os dois e predizendo a ruína de Amasias com a expressão de que as
bestas pisarão o cardo. Outra fábula nos apresenta Jotão (Jz 9.8),
relatando como as árvores elegeram para seu rei ao espinheiro, pela qual faz
compreender aos eleitores deAbimeleque as consequências funestas de tal
eleição. No NT há recomendações quanto às fábulas de falsos mestres: 1 Tm 4;
4.7; 2 Tm 4.4; Tt 1.14; 2 Pe 1.16.
Enigma
- É uma expressão que só se entende com muito esforço mental:
“Com o meu servo Moisés, falo claramente e não por enigmas” (Nm 12.8); “Publicarei
enigmas dos tempos antigos” (Sl 78.2). Sanção propôs o seguinte aos filhos dos
filisteus (Jz 14.14): “Do comedor saiu comida e do forte saiu doçura”; a
solução deste enigma, no entanto, se encontra na mesma passagem da Escritura.
Nas palavras de Agur, encontramos, entre outros, o seguinte enigma:
“Quatro coisas há na terra que são pequenas, mas que são extremamente sábias”,
cuja solução está na própria passagem (Pr 30.24).
Alegoria
- Exposição de um pensamento sob forma figurada;
ficção que apresenta um objeto para dar ideia de outro. A alegoria é uma figura
retórica que geralmente é composta de várias metáforas unidas, representando
cada uma delas realidades correspondentes. Costuma ser tão evidente a natureza
figurativa da alegoria, que uma interpretação ao pé da letra se torna quase
impossível. Às vezes, tanto a alegoria como a parábola, vêmacompanhadas da
interpretação que se exige. Terry (em: Berkhof, p. 94) distingue a
alegoria da parábola, dizendo: “A alegoria é um uso figurativo e a aplicação de
alguma história ou fato que se admite, enquanto que a parábola é em si mesma
esta suposta história ou este fato. A parábola usa palavras em seu sentido
literal, e sua narrativa nunca ultrapassa os limites daquilo que poderia ter
acontecido. A alegoria usa as palavras em sentido metafórico, e sua narrativa,
ainda que em si mesma seja possível, é manifestamente fictícia”.
Os dois concertos
- o da Lei e o da Graça - são apresentado alegoricamente em Sara
e Agar (Gl 4). Isaías representa o povo judeu por uma vinha e por um outeiro
fértil (Is 5.1-17). O salmista (Sl 80.8,18) representou os israelitas, sua
volta do Egito a Canaã e sua história sucessiva, sob as figuras metafóricas de
uma videira com as suas varas, raízes etc., que depois de transplantada, lança
raízes e se estende; porém, mais tarde, fica estragada pelo
porco montez e é comida pelas bestas do campo, representando o
“porco” e as “bestas” os poderes gentílicos.
Outras alegorias:
Judá como um leãozinho (Gn 49.9); Israel como a vinha vinda do
Egito (Sl 80.8-19); Israel, duas águias e a vinha (Ez 17.3-11); Israel como
leão e seus cachorros (Ez 19.1-9); a velhice (Ec 12.2-6); os edificadores (1 Co
3.10-15). Jesus fez uma exposição alegórica, ao afirmar: “Eu sou o pão
vivo que desceu do céu, se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão
que eu darei pela vida do mundo é a minha carne... quem come a minha carne
e bebe o meu sangue tem a vida eterna... Esta alegoria tem a sua interpretação
na mesma passagem (Jo 6.51,65). Ainda em João 10.1-18, onde Jesus do bom pastor.
FIGURAS GRAMATICAIS
As principais figuras gramaticais encontradas na Bíblia são:
Símile
- Significa analogia, semelhança, comparação que se faz de uma
coisa com outra não similar. Utiliza as palavras como, tal qual, do mesmo modo,
assim, semelhante, etc. para fazer as analogias. Como palavra, aparece uma vez
na Bíblia (Os 12.10), mas muitas vezes como figura gramatical. É a figura mais
simples e fácil de ser identificada. É de uma beleza extraordinária para a
compreensão e interpretação da Palavra. “Ao anoitecer, uivam como cães, a volta
da cidade” (Sl 59.6). “Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a
flor do campo, assim ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece; e
não conhecerá, daí em diante, o seu lugar” (Sl 103.15,16). Outros
exemplos: Gn 13.10, 16; 15.5; Jz 7.12; Sl 2.9; 102.6; 103.11,13; 131.2; 130.5,6; Pv 26.1,18,19;
Is 1.8,18; Ml 3.2,3; Mt 10.16; Tg 1.6. Existem casos de símiles implícitos,
como em Pv 26.3; 25.4,5; Jo 12.24,25. Um caso de símile prolongado
está em Cantares 2.3-5, que também é considerado uma alegoria ou parábola.
Antítese
- Significa contraste, oposição de pensamentos ou de palavras; é
encontrada em vários textos e quase sempre refere-se ao bem e ao mal,
ao falso e ao verdadeiro. “Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e
aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos,
bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que
vos maltratam e vos perseguem” (Mt 5.43,44). Outros exemplos estão
em Mt 7.13,14,17,18, 24,26; Rm 6.23; 1 Co 15.35-50; 2 Co 3.6-18;
6.8-10, 14-16.
Apóstrofe
- É uma interrupção que o orador faz para dirigir-se a
coisas ou a pessoas; é a interpelação direta e repentina, o dito mordaz e
imprevisto. É comumente utilizada pelos oradores sagrados a fim de chamar a
atenção para alguma coisa presente ou ausente, real ou imaginária. Absalão,
filho de Davi, já estava morto; no entanto, Davi o chamava: “Absalão, meu
filho; meu filho, Absalão” (2 Sm 18.33). Jeremias clamou: “Ó terra,
terra, terra! Ouve a palavra do Senhor” (Jr 22.29). Jesus exclamou: “Jerusalém,
Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que são enviados!” (Lc 13.34);
fala aos habitantes da cidade, embora não possam ouvi-lo; é um desabafo diante
da incredulidade do povo. Outros exemplos: 1 Co
15.55; Ap 6.16; Ct 4.16; Is 1.2; 52.9.
Clímax ou gradação
- Refere-se ao grau máximo, ao ponto culminante; aparece
na Bíblia constituído por palavras, por um capítulo inteiro ou por um
livro. Paulo apresenta a grandeza do amor de Deus em Rm 8.38,39; ao falar da
ressurreição, apresenta o auge de seu discurso em 1 C 15.54. Outros exemplos:
Hb 39,40; Is 40.29,31; 55.10,11; Ef 3.14-21.
Paradoxo
- É a proposição que parece ser contrária à opinião comum; é
sinônimo de desconchavo, de contradição. Aparece na mesma oração ou muito
próxima uma da outra. “Acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus”
(Mt 16.6); embora os discípulos achassem que não deveriam se esquecer de
comprar o pão, Jesus falava da doutrina dos fariseus. “Porque qualquer que
quiser salvar a sua vida perdê-la-á” (Mc 8.35), apresentando o paradoxo entre a
vida terrena e a eterna. Outros exemplos: Mc 14.61,62 (Filho do homem e Filho
de Deus); Lc 9.61,62; 8.19-21; 2 Co 4.18; 6.8; 12.10. O discurso sobre o “Pão
da Vida” (Jo 6.25-59) apresenta diversos paradoxos.
Interrogação
- “Ação de interrogar, perguntar. Figura pela qual o
orador se dirige ao seu adversário ou ao público em tom interrogatório, sabendo
que não obterá a resposta”. Um exemplo está em Rm 8.33-35 - “Quem intentará
acusação contra os escolhidos de Deus?”. Outros exemplos: Jó 11.7,10; 20.4,5;
Gn 18.25.
Elipse
- É a omissão de uma palavra ou palavras necessárias à
construção completa de uma frase, porém a compreensão é possível. É necessário
que o(a) leitor(a) aumente ou modifique a forma da frase para compreendê-la
em seu sentido correto. “Volta, ó Jeová - até quando? (nos desampararás)”,
disse Moisés. Sentenças curtas revelam a emoção do poeta: 1 Co 3.2; 6.13; 2 Co
5.13; Êx 32.32; Gn 3.22. Sendo o hebraico eo grego idiomas antigos, alguns
textos deixam certas dúvidas quanto ao significado que o autor lhes quis dar.
Em alguns casos (Gl 3.5; 1 Tm 4.3), os tradutores acrescentaram as palavras que
faltam nos originais, para auxiliar na compreensão dos leitores.
A braquilogia também é uma forma concisa ou abreviada de discurso,
consistindo na omissão de uma palavra quando sua repetição ou uso seria
necessário para completar a construção gramatical; neste caso, a omissão não é
tão evidente como na elipse: Rm 11.18; 1 Jo 5.9.
PRINCÍPIOS PARA COMPREENDER O FIGURATIVO
Nem sempre sabemos como interpretar a linguagem figurativa que
aparece nos textos da Bíblia. Por exemplo: “Tomou Jesus o pão e o abençoou e o
deu aos seus discípulos dizendo: Tomai e comei todos vós; isto é o meu corpo”.
Acompanhando a ideia central deste versículo, em seu conjunto, fica claro que a
palavra corpo não é usada aqui em sentido literal, mas figurado, porque Cristo
partiu o pão e não o seu próprio corpo; entregando-se, ele mesmo por inteiro,
pão da vida, e não parte de sua carne material. Jesus, porém, usa a palavra no
sentido simbólico, dando-lhes a compreender que o pão representa o seu corpo.
Neste outro exemplo, Cristo diz a Pedro: “A ti te darei as
chaves do reino dos céus”. Pelo conjunto da frase vemos claramente que aqui a
palavra “chave” não pode ser entendida em seu sentido literal ou material,
porque o reino dos céus não é um lugar terreno, onde se penetra com o simples
uso de uma chave. Devemos tomá-la, portanto, em sentido figurado, simbolizando
as chaves, autoridade, a autoridade de atar e desatar, perdoar e reter pecados,
que depois foi estendida, em outras passagens do Evangelho, aos demais
discípulos (Mt 26.26; 16.19; 18.18; Jo 20.23).
Hendricks nos fornece princípios para auxiliar e evitar
problemas de interpretação (p. 258).
Use o sentido literal a menos que haja uma boa razão para não
fazê-lo.
Use o sentido figurado:
Quando a passagem indicar que assim se deve fazer;
se o sentido literal for impossível ou absurdo;
se um significado literal envolveria algo imoral;
se a expressão for obviamente uma figura de linguagem;
se uma interpretação literal contraria o contexto e a
esfera de ação da passagem;
se uma interpretação literal contraria o caráter geral e o
estilo do livro;
se uma interpretação literal contraria o plano e propósito
do autor;
se uma interpretação literal envolve uma contradição de
outras partes das Escrituras;
se uma interpretação literal envolve uma contradição
doutrinária.
Berkhof (1994, p. 90) recomenda outros princípios na
interpretação da linguagem figurada da Bíblia:
Ter uma concepção clara das coisas sobre as quais se baseiam as
figuras, ou de onde foram extraídas;
Descobrir a ideia principal, sem dar demasiada ênfase aos
detalhes;
Ter em mente que a linguagem figurada que se refere a Deus e à
ordem geral das coisas oferece apenas uma expressão inadequada da perfeita
realidade;
Procurar expressar em linguagem literal os pensamentos que a
linguagem figurada sugere.
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PAZ DO SENHOR
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