A escola dominical não começou com Robert Raikes
O anglicano Robert Raikes (1736-1811)
é considerado o pai da escola dominical, contudo ele não foi exatamente o seu
fundador. O que pouca gente sabe no Brasil é que modelos similares de ensino
bíblico já existiam antes de ele implantar o seu experimento em Sooty Alley,
subúrbio da cidade de Gloucester, na Inglaterra, em 1780. Consultando algumas
obras antigas, destaquei estes exemplos:
O reverendo Thomas Stock (1750-1803)
já havia fundado uma escola dominical, em 1777, quando era pároco em Ashbury.
Ele uniu as forças com Raikes em Gloucester, a ponto de alguns autores
concordarem em que ele merece também o crédito de fundador do movimento.
Um monumento numa igreja de Flaxley
Abbey, no condado de Gloucester, registra que Catherine Boevey ajudava com
roupa e comida os indigentes de seu bairro e levava, num sistema de rodízio,
seis crianças pobres todos os domingos para jantar com ela, ocasião em que lhes
ensinava o catecismo. Ela morreu em 1726, dez anos antes de Raikes nascer.
Na década de 1740, Ludwig Hacker, da
Igreja Batista do Sétimo Dia, fundou uma escola dominical em Ephrata, no estado
da Pensilvânia, Estados Unidos. Esse trabalho foi desenvolvido entre os
imigrantes alemães.
Em 1769, a metodista Hannah Ball (1734-1792)
deu início a uma série de estudos bíblicos dominicais em sua casa e depois nas
dependências da Igreja Anglicana em sua cidade natal, High Wycombe, na
Inglaterra. Acredita-se que essa tenha sido a primeira escola dominical no
modelo que se tornou conhecido no mundo.
Vários outros nomes e modelos
semelhantes de ensino bíblico poderiam ser citados, no entanto o reconhecimento
a Robert Raikes é merecido, porque foi ele o principal responsável pela
popularização e dinamização do movimento.
No primeiro parágrafo, uso a palavra
“experimento”, porque foi exatamente o que Raikes fez. Durante três anos, ele
testou o seu modelo de ensino dominical, e a pequena classe reunida numa
cozinha se transformou em sete classes com 30 alunos cada uma. Percebendo que o
movimento tendia a se expandir, Raikes publicou esses resultados no Gloucester
Journal [Diário de Gloucester], de sua propriedade, no dia 3 de novembro de
1783, data que veio a ser mundialmente reconhecida como a da fundação da escola
dominical.
Vale lembrar que no início a escola
dominical atendia apenas as crianças. As classes de adultos surgiram bem mais
tarde. As circunstâncias que levaram Raikes a se interessar pela instrução das
crianças de sua cidade são bem interessantes. Mas conto isso amanhã.
A primeira escola dominical do Brasil
não foi a de Robert Kalley
Embora a escola dominical instituída
no Brasil pelo escocês Robert Kalley e sua esposa inglesa Sarah seja
considerada a primeira do Brasil pelo fato de ter se mantido de forma
ininterrupta até hoje, houve outra tentativa de sua implantação quase vinte
anos antes do trabalho realizado pelo casal.
Robert e Sarah Kalley
Em março de 1836, chegou à cidade do
Rio de Janeiro o missionário Justin Spaulding, enviado pela Igreja Metodista
dos Estados Unidos. Ele organizou ali, entre estrangeiros, uma congregação de
quarenta pessoas, aproximadamente. Em junho do mesmo ano, foi inaugurada uma
classe de escola dominical com cerca de 30 alunos. James L. Kennedy, no livro
Cincoenta annos de methodismo no Brasil, informa que “alguns eram brasileiros,
ensinados na sua própria língua” — o ensino de nativos foi o que oficializou o
surgimento da escola dominical organizada por Kalley, mas como se vê isso
também ocorreu nos tempos de Spaulding.
No entanto, a Igreja Metodista dos
Estados Unidos passou a enfrentar problemas financeiros e políticos na época, e
assim, em 1941, o trabalho organizado da denominação foi encerrado no Brasil,
ficando aqui apenas uma família, os Walker, até que em 1867 o reverendo Junius
E. Newman retomou a obra missionária no Brasil. Ele organizou a primeira Igreja
Metodista no país em 1871.
Nesse intervalo, porém, no dia 10 de
maio de 1855, Robert e Sarah Kalley chegaram ao Rio de Janeiro. A missão deles
era fundar aqui a Igreja Evangélica, mais tarde chamada Igreja Evangélica
Fluminense (do trabalho dos Kalley, surgiu a Igreja Congregacional do Brasil).
Mas ainda em 1855, no final de julho, eles se estabeleceram em Petrópolis e ali
iniciaram uma escola dominical.
Por isso, não é errado dizer que
Kalley é o pai da escola dominical no Brasil, porque essa instituição de ensino
que hoje reúne milhões de crentes todos os domingos para aprender a Palavra de
Deus teve origem, de fato, no trabalho do missionário escocês. Só não é correto
dizer que foi a primeira.
A Igreja Metodista detém ainda outro
pioneirismo na mesma área: a confecção de revistas para escola dominical. O
reverendo John James Ransom produziu a primeira revista bíblica infantil, A
Nossa Gente Pequena, publicada entre de 1884 a 1886. Ele produziu também A
Escola Dominical, que era uma revista para adultos.
fonte judsoncanto.wordpress.com
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