A escola dominical foi pensada para as crianças
A cidade de Gloucester era um
importante polo industrial da Inglaterra no final do século XVIII. No inverno,
recebia os ricos, que se deleitavam nas salas de concerto e nos teatros.
Contudo, ao mesmo tempo em que era boa para a aristocracia, a cidade, como o
restante do país, não tratava bem os seus pobres. Numa época em que as
regulamentações trabalhistas não favoreciam de modo algum a classe
trabalhadora, pais e filhos de qualquer idade trabalhavam juntos nas fábricas
em jornadas desumanas e se amontoavam em habitações insalubres e imundas nas
poucas horas de descanso.
O trabalho duro, como se vê, não
garantia aos trabalhadores um mínimo de dignidade. Escolas até existiam, mas as
crianças exploradas pelas fábricas em longos expedientes não tinham ânimo ou
tempo para frequentá-las. Aos domingos, os pais descansavam, enquanto a sua
prole era deixada por conta própria. As crianças, sem supervisão, infestavam as
ruas e praças dos bairros pobres, promovendo toda sorte de distúrbios. Era o
caminho aberto para a delinquência e para o vício. Mesmo nos outros dias da
semana, ainda que em número bem menor, a algazarra e os atos de vandalismo eram
constantes, praticados pelas crianças e jovens que não trabalhavam ou não
frequentavam a escola.
No site da CPAD, um texto de Ruth
Doris Lemos diz que Robert Raikes teve a atenção despertada para os pequenos
vândalos enquanto estava sentado à sua mesa de trabalho e se sentiu perturbado
com a baderna que faziam. Não sei de que fonte ela extraiu essa história ou se
a imaginou, mas nas obras que consultei (por exemplo, First Fifty Years of
Sunday School, de H. W. Watson, secretário da União da Escola Dominical, e
Robert Raikes: His Sunday Schools and His Friends, de Joseph Belcher) encontrei
uma história diferente.
Esses autores contam que Robert Raikes
certo dia visitou o subúrbio de Gloucester em busca de um jardineiro. Era um
dia semana, e mesmo assim ele ficou impressionado com a algazarra que as
crianças do bairro promoviam na rua. A senhora com quem conversava então o fez
ciente da real dimensão do problema: “Ah! O senhor precisava ver esta parte da
cidade no domingo! Aí o senhor ficaria chocado de verdade!”. O clérigo local
até conseguira mandar alguns deles para a escola, mas isso não impedia os
estudantes de contribuir para o caos que se instalava no subúrbio todo fim de
semana.
Raikes não era indiferente aos males
da sociedade de sua época. Assassinos, ladrões ou simplesmente pessoas
endividadas eram encerradas em prisões escuras e sem as mínimas condições de
higiene. Os que tinham a sorte de sair vivos não recebiam outros favores lá
fora. Não conseguiam emprego, e a única forma que muitos encontravam para
sobreviver era a criminalidade. Consciente da estreita relação que havia entre
a pobreza e o crime, ele tentara ajudar os detentos a sobreviver nas miseráveis
prisões, por meio de assistência material e espiritual, e a reintegrá-los à
sociedade depois de soltos, mas os resultados foram desanimadores.
Então lhe veio o pensamento de que a
maioria dos presidiários que ele tentara em vão ajudar haviam sido crianças
malcomportadas como aquelas que conhecera naquele dia. E teve, ali mesmo, a
ideia de fazer um trabalho de base: dar àqueles meninos e meninas uma
orientação que os levasse a outro caminho que não o da marginalidade ou o da
prisão.
Decidido, perguntou à senhora com quem
conversava se havia nas vizinhanças mulheres de boa vontade e capazes de
alfabetizar aqueles jovens inquietos. Estava disposto a contratar até quatro
professoras ao preço de um xelim por domingo. As professoras receberiam as
crianças em casa e, enquanto as ensinassem a ler, ministrariam também noções de
aritmética e de moral cristã. A Bíblia seria o livro-texto, e os alunos teriam
de decorar o catecismo e ser encaminhados ao culto dominical.
Durante muito tempo, a instituição da
escola dominical dedicou-se exclusivamente às crianças. Os primeiros registros
de classes para adultos são do País de Gales e datam de 1811 — mais de 30 anos
depois de Raikes ter reunido aquele pequeno grupo de crianças em Sooty Alley.
fonte judsoncanto.worpress.com
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