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sábado, 14 de outubro de 2017

Subsidio jovens a pobreza e desigualdade social (4)



SUBSIDIO JOVENS A POBREZA E RIQUEZA A DESIGUALDADE SOCIAL (4)

VEJAM O COMENTÁRIO DE TIAGO 5.1-6

               PROFESSOR ESCRITOR MAURICIO BERWALD

AMBIÇÃO NO MUNDO SECULAR 
INTRODUÇÃO

São três os principais elementos que desencadeiam a ambição humana:
1. Poder. O poder é o direito de agir, mandar, deliberar e exercer autoridade sobre as coisas, pessoas, instituições e nações (Ec 8.2-4). As pessoas dotadas de poder são aquelas que impõem a sua vontade sobre as outras, controlando e manipulando-as segundo o seu próprio querer. Muitos líderes políticos que ambicionaram incontrolavelmente o poder, como Hitler, cometeram as maiores atrocidades contra a humanidade (Mq 2.1). Outros exerceram o poder de modo positivo, como os reis piedosos de Israel e Judá (1 Rs 15.11,23; 22.43,46). Porém a Bíblia afirma categoricamente "que o poder pertence a Deus" (Sl 62.11; 66.7; 147.5; Mt 6.13; 1 Tm 6.16).

2. Dinheiro. A cobiça pelo poder e o desejo irrefreável de adquirir riquezas são inseparáveis. Para os que possuem estas pretensões, o acúmulo de bens materiais nunca é suficiente (SI 62.10; PV 30.15); o ter é mais importante que o ser. Nas prateleiras das livrarias somam-se, a cada ano, livros que alimentam a ambição pelas posses, entretanto, tais obras nunca alertam que o "amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males" (1 Tm 6.10).

3. Sexo. A sexomania está intimamente atrelada à sede de poder. Devido à condenável liberação sexual na sociedade de hoje, a prática do sexo ilícito tornou-se um dos pecados mais comuns e perniciosos de nosso tempo. Vivemos em um mundo erotizado, cujos padrões morais estão cada vez mais frouxos e degenerados (Sl 14; Rm 1.18-32; 3.23). O que se vê é o aumento assustador da pornografia, prostituição, homossexualidade e infidelidade conjugal (Rm 1.21-27). Todavia, as Sagradas Escrituras nos exortam à completa e perfeita santidade (1 Co 6.18-20; 1 Ts 4.3-7; 5.23).Poder, dinheiro e sexo são os três principais elementos que desencadeiam a ambição do homem.


II. COMO VENCER A AMBIÇÃO 

1. Dominando a sede de poder. Os pecados de avareza (Cl 3.5; Hb 13.5; 2 Pe 2.2,3,14), ambição (Mc 4.19; Rm 12.16), soberba (Mc 7.21,22; 1 Jo 2.16) e concupiscência dos olhos (1 Jo 2.15-17) devem ser vencidos, mediante a fé no sangue de Jesus (Rm 5.1). Todos esses pecados podem ser dominados, mortificados e purificados pelo poder do sangue de Cristo, derramado por nós, e pela virtude do Espírito Santo que em nós habita (1 Jo 1.7,9; Rm 6.4; 8.2,13).
2. Dominando a cobiça pelo dinheiro. Segundo a Bíblia é impossível servir a Deus e às riquezas ao mesmo tempo (Mt 19.23-26; Pv 16.5), porque o senhorio de Mamom é contrário ao de Cristo (Mt 6.24). Portanto, cada cristão deve examinar a si mesmo e perguntar: "Sou cobiçoso?" "Sou egoísta?" "Aflijo-me, perdendo a paz e o sono para ficar rico?" "Tenho intenso e incontido desejo de honrarias, prestígio, fama, poder e posição?" Já os que são ricos, não devem julgar-se como tal, e sim, como administradores dos bens de Deus (Lc 12.31-34, 42,43). Os tais devem ser generosos e fartos em boas obras (Ef 2.10; 4.28; 1 Tm 6.17-19).
3. Dominando os desejos carnais (2 Tm 2.22). A concupiscência da carne e dos olhos e a soberba da vida são inclinações pecaminosas que não devem dominar o crente (1 Jo 2.15-17; Gl 5.19-21). A Palavra de Deus nos admoesta a andarmos em Espírito: "Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne" (Gl 5.16).A ambição é vencida pelo crente quando a sede de poder, a cobiça pelo dinheiro e os desejos carnais são dominados através da santificação, oração e meditação nas Escrituras.



             O pecado de omissão (Tg 4.17).

O capítulo 4 da Epístola de Tiago termina com uma frase que bem poderia abrir o capítulo 5, mas o francês Robert D’Eti-énne (1503-1559), responsável pela divisão do Novo Testamento em versículos, não atentou para isso, preferindo colocar a referida A primeira é que, diferentemente do que normalmente as pessoas imaginam, os pecados de omissão serão julgados por Deus tanto quanto os demais pecados cometidos. Como afirma Matthew Henry, “aquele que não faz o bem que ele sabe que deve fazer e aquele que faz o mal que ele sabe que não deve fazer serão condenados”.

Em segundo lugar, a partir do contexto desse enunciado do apóstolo Tiago, entendemos que ele está afirmando aqui também que “pecados de omissão podem facilmente se tornar pecados de comissão”.2 Ou seja, além de ser um mal em si mesmo, o pecado de omitir-se deliberadamente ainda pode ser praticado de forma a colaborar conscientemente para outros males, de maneira que ele é, nesses casos, também um pecado de comissão.
frase ao final do texto sobre a falibilidade dos projetos humanos (Tg4.13-16). Diz Tiago ao final desta passagem: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado” (Tg 4.17). Não que essa frase não possa ter alguma relação com o tema da falibilidade dos projetos humanos, mas ele está mais relacionado com o tema que vem a seguir. Antes, porém, de adentrarmos no tema dos versículos 1 a 6 do capítulo 5, é preciso destacar algumas lições que estão implícitas no enunciado do apóstolo sobre o pecado de omissão.

Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 138-139.

Tg 4.17 Somos ensinados a viver à altura das nossas convicções em toda a nossa conduta, e, não importa se estamos tratando com Deus ou os homens, que nos empenhemos em nunca agir contra o nosso próprio conhecimento (v. 17): “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado”. E o pecado agravado; é pecado com testemunha; e significa ter a pior testemunha contra a sua própria consciência. Observe: 1. Isso está imediatamente conectado com a lição clara de dizer: “Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo”. 
Eles talvez estejam dispostos a dizer: “Isso é uma coisa muito óbvia; quem não sabe que todos dependemos do Deus Todo-poderoso para viver, para respirar e para todas as coisas?”. Se você de fato sabe isso, então sempre que você agir de forma contrária a essa dependência, lembre-se disto:
“Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado”, o pecado maior.
2. Os pecados de omissão serão julgados, assim como os pecados cometidos. Aquele que não faz o bem que ele sabe que deve fazer e aquele que faz o mal que ele sabe que não deve fazer serão condenados. Que então nos empenhemos para que a consciência seja corretamente informada, e que então seja fiel e continuamente obedecida. Pois, “...se o nosso coração nos não condena, temos confiança para com Deus” (1 Jo 3.21); mas se “...dizeis: Vemos (e não agimos de acordo com nossa vista), por isso, o vosso pecado permanece” (Jo 9.41).

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 846.

Tg 4:17 A fim de resumir seu pensamento, Tiago acrescenta um provérbio conclusivo que alguns supõem poderia ter sido um ensino de Jesus, por causa do tom e do tema: Aquele, pois, que sabe o bem que deve fazer e não o faz, comete pecado. Aparentemente, apenas reprova o pecado da omissão: Quando uma pessoa sabe o que deveria fazer (e.g., dar algo a um pobre), mas negligencia esse ato de caridade, não desperdiçou apenas uma oportunidade de obedecer — tal pessoa pecou. No entanto, o contexto levanta esse ensino da arena da verdade genérica e coloca-o nas vidas desses negociantes. Há claramente algo que eles “sabem” que “devem” fazer e pelo que são responsáveis (Lucas 12:47-48), que é obedecer a Deus e segui-lo nos negócios. Entretanto, seus interesses comerciais com frequência os induzem a planejar segundo os padrões do mundo, e a acumular bens, à semelhança do rico louco (Lucas 12:13-21). 
Nas Escrituras, fazer o bem frequentemente é praticar atos de caridade (Tiago 1:21-25 e Gálatas 6:9). Portanto, Tiago pode estar sugerindo que eles planejam segundo o mundo porque são motivados pelo mundo, visto que Deus tem seu próprio modo de investir dinheiro: dá-lo aos pobres (Mateus 6:19-21). Se levassem a Deus em consideração, não estariam, com certeza, tentando melhorar seu padrão de vida; Deus os conduziria ao alívio dos que sofrem ao seu redor, isto é, a fazer o bem.
Tendo falado a cristãos cujos corações estavam sendo seduzidos pelo mundo, Tiago dirige a atenção, a seguir, aos incrédulos ricos. Tiago os condena sem rebuços, com linguagem parecida à do Senhor Jesus (Lucas 6:20-26), a fim de desviar os cristãos da sedução das riquezas, e prepará-los para suportar o teste do sofrimento nas mãos dos ricos.

Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 148.

Tg 4.17 Aparecem com frequência as oportunidades de fazermos bem aos outros, especialmente no suprimento de suas necessidades físicas (ver Tia. 2:14 e ss.; 1:27, como parte da definição do autor do que é a fé religiosa), simplesmente porque tal necessidade é universal. Na história intitulada a Bela Lenda, vê-se um crente ocupado na contemplação de uma visão de Cristo; então surge a oportunidade de distribuir pão aos famintos, que interromperia o seu êxtase. Aquele crente todavia, tinha uma ideia bem esclarecida de seus deveres religiosos; e assim, de pronto deixou de lado sua visão mística a fim de alimentar aos famintos. Ao retornar, encontrou Cristo no mesmo lugar, que aprovou 0 que ele fez, dizendo-lhe: se tivesses ficado, eu me teria ido embora.
O autor sagrado vê claramente essa lição. Nossa fé religiosa não pode ser guardada dentro de nós. Trata-se de uma experiência mística e deve continuar como tal, pois temos contato com o Espírito Santo no nível da alma—mas deve ser algo prático, generoso, altruista. Em outras palavras, deve ser uma expressão de amor, tal como Deus é amor e «deu» seu Filho a um mundo necessitado. 
O trecho de Mat. 25:35 e ss. ensina a importante lição que amamos a Deus amando a outros, dando o necessário para eles, ajudando-os em suas necessidades físicas. Poucos homens podem amar a Deus diretamente, mediante a contemplação da alma, mas todos podem amá-lo indiretamente, amando ao próximo. E nesse ponto que deve começar o amor de Deus.
 Este comentário provê várias notas longas sobre o amor, com poesias ilustrativas. Ver João 3:16 quanto ao «amor de Deus»; ver João 14:21 e 15:10 quanto ao amor como «norma diretiva na família de Deus»; ver Gál. 5:22 quanto ao amor como um dos aspectos do «fruto do Espírito»; e ver o décimo terceiro capítulo da epístola aos Coríntios quanto ao «elogio ao amor».
O autor sagrado, pois, como que dizia: «Aquele que sabe que deve amar, porém, não ama, está pecando». Consideremos, ainda, os seguintes pontos a respeito:
1. Tal indivíduo talvez seja um bom teólogo teórico; mas não é um bom discípulo de Cristo, pois ele é o padrão de como todos nós devemos amar, e ele «foi por toda a parte, fazendo 0 bem» (ver Atos 10:38). Se falharmos nesse ponto, ainda não teremos avançado muito em nossa transformação moral segundo a sua imagem, que resulta do desenvolvimento espiritual. Ã fé devemos acrescentar a «gentileza fraternal» (ver II Ped. 1:6,7).
2. Para o autor sagrado, as boas obras são realizações dos exercícios religiosos apropriados, bem como o cuidado com a santidade pessoal (obras feitas no tocante a Deus) e práticas de bondade em favor de outros (ver Tia. 2:14 sobre isso, em suas notas expositivas). Portanto, neste lugar, o autor sagrado pode ter querido incluir a ideia que um homem deve ter cuidado com a natureza e a qualidade de suas práticas religiosas, e certamente incluiríamos a santificação prática (ver as notas expositivas em I Tes. 4:3). Porém, sua preocupação principal é a expressão do amor fraternal. Não fazer isso, é pecar.
3. Fica subentendido, embora não seja uma interpretação direta, que ele quis ensinar que cada crente tem uma missão seín-par a cumprir, sendo um instrumento ímpar nas mãos de Deus (ver as notas expositivas sobre esse conceito, em Apo. 2:17). Tudo quanto faz parte de sua existência diária, como seja, a sua expressão religiosa, etc., deveria ter por alvo o cumprimento dessa missão. Ele deveria ocupar-se em cumprir sua missão com grande intensidade de propósitos, realizando seu trabalho específico, levando-o à perfeição; e isso para seu próprio benefício e para beneficio de seus semelhantes. Mas, se vier a falhar nesse particular, estará pecando contra Deus, que lhe conferiu vida e lhe dá muitas oportunidades para cumprir a sua missão. .
4. Jesus falou de coisas «deixadas por fazer», mas que são mais urgentes e eticamente vitais do que outras (ver Mat. 25:41-45). Assim é que com frequência nos ocupamos de atividades que são legítimas, embora secundárias, esquecendo-nos das questões primárias. Isso também é pecado, embora não estejam sendo cometidos atos abertos de pecado. Mas há um desperdício das energias da vida, que são desviadas para coisas de valor secundário, quando nossas vidas deveriam ser dedicadas à realização
5. Assim também a passagem de I Sam. 12:23 mostra que o deixar de orar por alguém, que também está em grande necessidade, é um pecado de omissão. Esse princípio geral tem muitas aplicações possíveis. Um professor, preguiçoso na realização de seus deveres, comete pecado contra aqueles a quem deveria estar ajudando mais conscienciosamente. O pastor que negligencia seus deveres e se contenta em apenas pregar no domingo, também está pecando. Outro tanto faz o pastor ou mestre evangélico que se recusa a aprimorar-se, mas antes, se torna espiritual e intelectualmente preguiçoso, prejudicando seu povo; esses estarão pecando porque seu povo fica estagnado em sua vida espiritual, por falta da instrução e do encorajamento apropriados.
6. O homem que pode melhorar a vida espiritual de outros, impedindo que caiam em pecado, se não o fizer, será culpado em parte desses pecados. «Todo aquele que estiver em posição de impedir que sejam cometidos pecados por parte de membros de sua casa, mas se refreia em fazê-lo, torna-se culpado dos pecados daqueles» (Shabbath 54b).
7. Alguns estudiosos pensam que o pecado aqui focalizado não é o pecado de omissão, mas antes, que é o pecado de alguém que sabe obviamente as coisas boas que devem ser feitas, em qualquer dada situação, mas, ao invés disso, praticam as coisas erradas. Porém, a maioria dos intérpretes prefere continuar com a idéia do «pecado de omissão», como aquela falha aqui em foco.
8. O pecado contra a lüz (não corresponder à mesma) deve ser incluído na aplicação deste versículo. '
9. O pecado de não se aproximar de Deus, por motivo de orgulho e de egocentrismo, é um pecado básico de omissão.
10. Este versículo não é passagem estritamente legalista, que repreende aos judeus cristãos por não estarem cumprindo as leis cerimoniais. Mas trata-se de passagem elevadamente ética em sua natureza, e mui ampla em sua aplicação. -
«Embora a asserção possa parecer descabida entre nós, provocando comentários contraditórios, não me cansarei de asseverar que cada um de nós deveria fazer mais bem do que faz: e, portanto, nos devemos humilhar ao extremo, por termos praticado tão pouco bem no mundo» 

(Woods, in loc.). ■

«Aqueles que se dedicam a bons planos, e que observam devidamente suas oportunidades de praticar o bem, usualmente percebem que suas "oportunidades para tanto crescem de modo admirável. E quando uma pedra é lançada em uma poça, um círculo segue-se a outro, estendendo-se quem sabe até onde!» 

(Cotton Mather).

«Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites» (Luc. 12:47).
Quanto melhor instruídos ficamos, como crentes, tanto maior será a nossa responsabilidade. «Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me» (Mat. 16:24). Geralmente aceitamos essa responsabilidade mui superficialmente. De fato, dificilmente a aquilatamos conforme devemos fazê-lo. Na moderna igreja evangélica, temos visto pouquíssimo interesse pelas qualidades espirituais dos membros, mas muito interesse pelo número deles; e, por causa dessa atitude, a instrução dos crentes tem ocupado um pobre segundo lugar, em favor do evangelismo.
«Por longo tempo, as táticas têm visado induzir o maior número possível, todos quantos for possível, para que entrem no cristianismo. Não sejamos por demais curiosos em saber se aqueles que entram entendem realmente o cristianismo. Mas a minha tática, com a ajuda de Deus, será deixar claro o que é a exigência cristã, ainda que ninguém entre». 

(Kierkegaard, citado por P.T. Forsyth, Positive Preaching and Modem Mind, introdução).

O trecho de Rom. 1:21 mostra-nos que a grande rebelião dos pagãos contra Deus começou pelo pecado de omissão. Eles conheciam a Deus, mas não o glorificaram como tal. Não demoraram a fazer do «eu» o seu deus, tornando-se vãos em suas imaginações. E não passou muito tempo para fazerem imagens de feras, de. pássaros, etc., a fim de adorá-las.

(CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo testamento)



IV. O CONTENTAMENTO CRISTÃO (1 Tm 6.6,8) 

A Bíblia nos orienta a vivermos satisfeitos em Cristo: "Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei" (Hb 13.5). Esse contentamento pode ser resumido da seguinte forma:
1. Deus é o nosso provedor. O crente deve viver contente e satisfeito porque suas necessidades são supridas em Deus (Sl 23.1; Fp 4.1 9). Ele é o Senhor que provê - Jeová Jiré - todas as exigências naturais da vida humana (Gn 22.14; Sl 34.10).
2. Ausência de cobiça (Pv 15.27). Isto decorre da confiança do crente em Deus (Mt 6.25, 31-33) e da obediência irrestrita à sua Palavra (At 20.33-35; Rm 12.16; Hb 13.5; 1 Tm 6.9,10).
3. Disposição de suportar a privação (2 Co 4.16-18). O crente fiel sabe, melhor do que qualquer pessoa, que não somos imunes às provações, ao contrário (Rm 8.18; 2 Tm 3.12), precisamos passar por elas para sermos aperfeiçoados (Tg 1.2-4; Rm 8.28). Temos de estar dispostos a sofrer privações, se necessário, para realizarmos os elevados propósitos de Deus (Fp 4.11,12).
a) Privação não significa pobreza e penúria. "Contentar-se" não significa se acomodar à pobreza, preguiça ou inatividade (Pv 6.6-11; 12.27; 15.19). A Bíblia não se opõe àqueles que labutam diariamente pela vida cotidiana (Pv 10.5), entretanto, condena os que se enriquecem ilicitamente (Pv 10.4; 11.1), esquecendo-se do Reino de Deus (Mt 6.33; Jo 6.27).
b) Privação não significa resignação. O cristão não deve portar-se com indiferença, inércia e acomodação diante das adversidades da vida, mas com disposição, trabalho e honestidade (At 20.33-35; Rm 12.11; Ef 4.28).Os principais fundamentos do contentamento do crente são: A provisão divina, a ausência de cobiça e a disposição de suportar a privação.O crente fiel a Deus não ambiciona as coisas elevadas desse mundo, mas entrega-se ao Senhor confiando que é poderoso para suprir todas as suas necessidades, quer nas áreas social e financeira, quer na espiritual. O que o filho de Deus realmente aspira, é a presença do Senhor (Sl 42.1), seus dons (1 Co 14.1) e seu Reino (Mt 6.33), pois está certo que as demais coisas lhe serão acrescentadas.

        COMENTARIO BIBLICO TIAGO 5.1-16
II - O PECADO DE ADQUIRIR BENS À CUSTA DA EXPLORAÇÃO ALHEIA (Tg 5.13)

1. O julgamento divino sobre os comerciantes ricos I (v.1).
Curiosamente, ao iniciar no capítulo 5 sua contundente condenação aos ricos opressores, Tiago usa as mesmas palavras do versículo 9 do capítulo 4, quando ele estava falando aos seus leitores sobre a necessidade de se separarem do mundo e se submeterem à vontade de Deus, e que isso inclui indispensavelmente uma atitude de arrependimento sincero: “Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza”. Essa atitude é sintetizada na expressão “Humilhai-vos perante o Senhor” (Tg 4.10a). No capítulo 5, ele conclama os ricos opressores a essa mesma atitude, isto é, a essa humilhação diante de Deus, ressaltando que o juízo de Deus é certo se não se arrependerem: “Eia, pois, agora vós ricos, chorai e pranteai por vossas misérias, que sobre vós hão de vir” (Tg 5.1).
A contraposição à humildade é a soberba, que aparece aqui encarnada na vida desses ricos opressores. Como salienta o teólogo Lawrence Richards ao comentar essa passagem da Epístola de Tiago, “aqueles que confiam nas riquezas e menosprezam os direitos dos outros para acumulá-las são a antítese das pessoas humildes que Deus deseja que os crentes se tornem. Estes homens ricos personificam o sistema do mundo, que Tiago afirma ser hostil a Deus. Eles valorizam as coisas materiais, que não têm valor duradouro, e desdenham os seres humanos, que Deus afirma que têm valor supremo. A sua vida na terra, que é uma vida de ‘delícias e deleites’, serve apenas para prepará-los para o ‘dia de matança’ [Tg 5.5], o juízo divino”.3 Sua vida de prazeres e luxo estava sendo para eles como o período de engorda do gado para logo depois ser abatido (Tg 5.5).
Como afirmamos no capítulo 4, a Bíblia nos ensina que as riquezas em si não são pecado, mas apenas o amor às riquezas, o apegar-se a elas, a avareza, a cobiça, o egoísmo e a soberba. As Escrituras ensinam que o cristão que “possui riquezas e bens não deve julgar-se rico em si, e sim administrador dos bens de Deus (Lc 12.31-48)”, e deve ser “generoso, pronto a ajudar o carente, e rico em boas obras (Ef 4.28; 1 Tm 6.17-19)”.4 Além do mais, uma vez que Tiago conclama os ricos opressores a prantearem e chorarem, isso significa dizer, à luz do uso dessas mesmas expressões no capítulo 4 (v. 9), que ele “espera que reconheçam sua dependência de Deus e se arrependam de seus pecados”; e “se assim o fizerem, então o ‘abatimento’ (Tg 1.10) provocado por sua ‘miséria’ os levará a se humilharem perante o Senhor, e Ele os exaltará (Tg 4.10; cf. Tg 1.9)”.

Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 139-140.

Tg 5.1 Estes ricos provavelmente não são crentes, mas pessoas não-crentes e ricas (talvez as mesmas pessoas a que se fez referência em 2.6). Muito provavelmente, os ricos proprietários de terras são o objeto da repreensão mordaz de Tiago. Estas pessoas vivem em ambientes de luxo, repletas de alimentos e dinheiro. Mas há terríveis misérias, que sobre eles hão de vir não se tratando de sofrimentos terrenos, mas eternos -, e eles devem se lamentar de tristeza pelo que perderão. As palavras “chorai e pranteai” eram frequentemente usadas no Antigo Testamento pelos profetas para descrever a reação dos ímpios quando o Dia do Senhor (o dia do juízo de Deus) chegasse (veja Is 13.6; 15.3; Am 8.3). Jesus disse que entre aqueles que fossem excluídos do reino de Deus haveria pranto e ranger de dentes (Mt 8.12; 22.13; 24.51; 25.30).

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 687.

Tg 5.1 No bloco anterior Tiago falou de pessoas seguras de si que pensam não precisar de Deus. É possível que agora tenha lembrado da objeção: “No entanto, não deixam de ter êxito e prosperar. Têm todos os trunfos na mão e os usam. Nós pessoas humildes temos de sofrer muito debaixo dessa situação.” Em decorrência, Tiago apresenta neste trecho o que acontece com a riqueza vinda de Deus. No presente caso as pessoas de que se fala não são primordialmente membros da igreja (ainda que vários do seu âmbito tiveram e têm de se confrontar com a pergunta: “Senhor, sou eu?”). A princípio os ricos fora da igreja não devem ter visto a carta (como também ocorreu com as palavras proféticas sobre a Babilônia, Assíria, Tiro, etc. – Is 13-23; Jr 46-51; etc. – que não foram proclamadas nessas cidades). Mas a palavra serviu para deixar as coisas claras.

1 – “Vós ricos”, em grego ploúsios (v. 1).
Tg 5.1 a) No Sl 73.12 consta: “Os ímpios aumentam suas riquezas”. Lá se mostra a figura de pessoas teimosas: “Falam com altivez.” “São sólidos como um palácio.” Qualquer meio lhes convém. “Fazem o que bem entendem” (Sl 73.4,8). Na verdade não é válida a equação: rico = ímpio, pobre = devoto. Também Abraão era rico (Gn 13.2). 
Mas com certeza os ricos estão majoritariamente do outro lado. Muitos não teriam enriquecido se tivessem sido escrupulosos nos métodos. Ademais é notório que o ser humano é sujeito a transformar sua riqueza em ídolo e então pensar que já não precisa de Deus. Também nos evangelhos os ricos muitas vezes participavam da oposição (Mt 23.14; Lc 16.14). O próprio Jesus descreve em suas parábolas dois personagens ricos para os quais a propriedade veio a ser fatal: o rico que ignorava Lázaro que jazia à sua porta (Lc 16.19ss) e o rico agricultor que se satisfazia com sua riqueza, acreditando poder usá-la exclusivamente em prol de si mesmo (Lc 12.16-21). Jesus sentencia: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mt 19.24; Lc 18.25). E Paulo escreve: “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada” (1Tm 6.9).
b) Também hoje muitas pessoas são ateístas não tanto por causa de dúvidas intelectuais, mas porque no fundo pensam não precisar de Deus e por confiarem nos bens, na boa posição, em suas capacidades. São esses seus ídolos. Geralmente nem mesmo é necessária grande quantidade de bens, posição e inteligência para que alguém se considere “rico” no sentido do presente trecho. – Nenhum de nós está livre do risco de transformar suas propriedades e garantias maiores ou menores em ídolos: conta bancária, casa, bons ganhos constantes. Então existirá também o perigo de permanecermos “sentados” em tudo isso. “A avareza é uma raiz de todos os males” (1Tm 6.10). Leva a uma atitude errônea perante Deus e pessoas.
c) Para a última jornada da história universal anuncia-se que o anticristo controlará tudo e boicotará os que se mantêm fiéis a Jesus (Ap 13.17). Aqui se explicita outra linha que perpassa a Escritura: há seres humanos cuja consciência está presa a Deus, que perseveram singela e inabalavelmente do lado de Deus e são prejudicados em todos os sentidos porque o diabo é o “príncipe deste mundo”. Nos salmos eles são chamados de “necessitados” (Sl 10.2,12; 12.5; 34.2,7; 74.19-22; etc.). Jesus os chama de “pobres”. Mas declara: “Bem-aventurados vós, os pobres” (Lc 6.20).

Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.

«...Atendei agora...» Temos aqui as mesmas palavras que se leem no décimo terceiro versículo do capítulo anterior (ver as notas expositivas ali existentes). Literalmente temos aqui «Vinde, agora...», no sentido de «Vede, agora...», uma incisiva chamada à atenção, no estilo da diatribe. «... chorai lamentando...» Em Tia. 4:9, a lamentação e o choro são vinculados ao arrependimento, o que conduz à restauração da alma. Em contraste com isso, aqui temos uma lamentação provocada pelo julgamento inevitável. Não há aqui qualquer chamada ao arrependimento. «As lamentações, diferentemente de Tia. 4:9, não são uma expressão de humilde arrependimento, e, sim, de remorso e terror sem alívio» (Poteat, in loc.). Tudo isso, naturalmente, mostra a intensidade com que o autor sagrado sentia os erros sociais em que os pobres eram oprimidos pelos ricos.
Não é verdade que muitos são reduzidos a escravos virtuais, que recebem salários ridículos por um trabalho árduo, que lhes consome longas horas? O avanço do comunismo no mundo não tem resultado essencialmente do fato de ser um bom sistema econômico, pois a experiência não tem demonstrado isso; pelo contrário, seu progresso se deve aos abusos do capitalismo.
Consideremos os aluguéis que são cobrados, o preço das consultas aos médicos, etc. Nessas, e noutras áreas, exerce-se uma feroz pressão econômica, que muitos governos não conseguem controlar, ou se recusam a fazê-lo.
«...chorai...» No grego é Maio», «chorar», com frequência usada com o sentido de «chorar pelos mortos», sentido tristeza e desespero. Esse é o ' ‘ ’ choro daqueles que antecipam um juízo severo, e não o choro dos penitentes. (Comparar com Apo. 6:15-16 e Joel 1:5).
«...lamentando...» No grego, «ololudzo», termo usado para indicar «chorar em voz alta», «uivos de lamentação». Era termo usado para descrever a palavra anterior. O «choro» será em altos uivos de lamentação.
«...desventuras...» No grego é «talaiporia», «misérias». Há uma alusão direta aos «sofrimentos dos condenados», ao julgamento, embora certas tristeza?, provocadas pelo infortúnio, talvez não estejam excluídas do pensamento do autor sagrado.
Alguns intérpretes acreditam que temos aqui uma profecia sobre a destruição de Jerusalém; mas tal juízo foi apenas uma prelibação do juízo da alma, pelo que não pode ser a questão especificamente em vista, se é que ela se destaca aqui. E nem o juízo significa mera «perda das propriedades», conforme alguns estudiosos supõem.
«...sobrevirão...» No grego é usado o particípio presente—agora mesmo elas começam a concretizar-se, imediatamente antes da «parousia» (ou segundo advento de Cristo).

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 73.

2. O mal que virá (v.2).
Tg 5.2 Ambos os verbos deste versículo e o primeiro verbo do versículo seguinte estão no tempo perfeito. Ropes os descreve habilmente como "declarações pitorescas e figurativas da verdadeira inutilidade desta riqueza à vista daquele que conhece o valor do que é permanente e eterno" (op. cit., pág. 284). A riqueza deve ser usada para bons propósitos, não entesourada.

Charles F. Pfeiffer. Comentário Bíblico Moody. Editora Batista Regular. pag. 23.

Tg 5.2 a) O fato da mudança de tom. Tiago vê aproximar-se o que os ricos ainda não veem: “Atenção, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que vos sobrevirão!” Assim como em geral o dono da casa ergue a taça no início de uma festividade e brinda como sinal de que a festa está começando: “Atenção!”, assim Tiago convoca agora para o lamento. Ainda estão “numa boa”. Porém isso acabará em breve. Devem preparar-se desde já. Isso é semelhante às palavras de Jeremias, que já entoava o lamento fúnebre (cf. Jr 4.19ss; etc.) quando muitos ainda se consideravam seguros em Jerusalém. “Como o mundo jaz cego e morto! Dorme em segurança e presume que a aflição do grande dia ainda está distante e remota” (J. C. Rube; cf. também Lc 17.26-30).
Tg 5.2 b) A causa da guinada. “Vossa riqueza está apodrecida”: provavelmente tem-se em mente as ricas reservas de víveres que foram estocados e agora se deterioraram. Era muito melhor guardar esses estoques do que dá-los aos pobres (Sl 41.2; Pv 19.17; Sir 4.1-6; Mt 5.42; 25.40; Lc 6.38; Gl 6.9s; Hb 13.16). Talvez também se visasse aguardar tempos em que se poderia vendê-los a preços vis. – “Vossas roupas estão comidas de traças”: os antigos não tinham dinheiro em moeda, como hoje. Acumulavam-se sobretudo valores materiais, tecidos, vestes preciosas etc. Também João Batista convocou – de forma audível para muitos em Israel – a um comportamento diferente (Lc 3.11). Novamente somos lembrados aqui do Sermão do Monte (Mt 6.20).

Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.

Tg 5.2 Essas palavras indicam a decadência das riquezas: o ouro e a prata, apesar de serem naturalmente resistentes à ferrugem ou corrosão, serão sobrenaturalmente corroídos. As riquezas representadas pelas vestes luxuosas serão dilapidadas pelas traças terrenas, sendo totalmente consumidas no julgamento, o qual é anunciado como algo iminente e inevitável.
«...roupagens comidas de traça...» Os povos orientais daquela época gastavam grandes somas em dinheiro adquirindo roupas caras; e isso envolvia tanto trajes femininos como masculinos. Tal era o perigo constante das traças que estas logo podiam estragar e inutilizar tais roupas, enfetando-as. Porém, o futuro julgamento ainda é uma perspectiva mais temível, quando o juízo mostrar-se mais destruidor do que as traças terrenas. 0 julgamento é um supercorrosivo.
Alguns intérpretes pensam que este versículo, do ponto de vista espiritual, pronuncia denúncia contra as riquezas, como se estas fossem já sujeitas a certa espécie de decadência: estão corroídas, perfuradas pelas traças e enferrujadas. «A sua ferrugem testificará contra vós no dia do julgamento, mostrando quão sem valor é aquilo em que confiais. E a inutilidade de vossas riquezas será então a vossa ruína, porquanto continuais a amontoar para vós mesmos somente o fogo do inferno». (Ropes, in loc.).
Notemos aqui os verbos no perfeito, «sesepen» (corruptas) e «gengonen» (comidas pelas traças) e«katiotai»(enferrujadas, no segundo versículo), que descrevem graficamente o «estado» de corrupção e inutilidade em que as riquezas já se encontram, do ponto de vista espiritual. Mas há estudiosos que pensam que esses verbos no perfeito indicam antes a «antecipação profética», como se o juízo já tivesse tido lugar. «Todas as vossas riquezas perecerão no dia do juízo. Sua ferrugem testificará contra vós de antemão, sobre vossa própria vindoura destruição; e o juízo, quando houver destruído vossas possessões, cairá sobre vós. Tendes acumulado tesouros para os próprios dias do julgamento!» (Huther, in loc.).
«Vossas riquezas estão se embolorando na corrupção, e vossas vestes, guardadas em vã superfluidade, estão comidas pelas traças; embora ofusquem aos homens com o seu resplendor, de fato, já estão cancerosas; são abomináveis aos olhos de Deus; a ira divina soprou sobre elas e as ressecou; já começam a encolher-se e ser destruídas». (Bispo Wordsworth, in loc.).
Ê extremamente difícil perceber-se que as verdadeiras riquezas de um homem são medidas por quanto ele dá de si mesmo, de suas possessões materiais e não por quanto ele é capaz de reter para si mesmo. (Ver Marc. 8:35: «Quem quiser, pois, salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho, salvà-la-á»).

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 73.

3. A corrosão das riquezas e o juízo divino (v.3).

No capítulo 5, Tiago mais uma vez chama a atenção para a transitoriedade e a deterioração natural das riquezas (Tg 5.2,3). Ele já havia feito essa alusão no capítulo 1, usando como analogia a beleza passageira da flor (w. 10,11).
Um aspecto importante das palavras de Tiago nos versículos 2 e 3 é que, ao afirmar que as riquezas daqueles ricos opressores estavam apodrecidas, com vestes comidas de traça e ouro e prata enferrujados, o apóstolo estava destacando também que os bens daqueles homens haviam perdido o seu propósito. “O fato de as vestes representarem o alimento das traças, o dinheiro guardado se tornar manchado e o ouro e a prata enferrujarem, não sendo utilizados por seus donos quando poderiam ter sido destinados aos pobres, indica que foram afastados da função a qual Deus lhes destinou. Se os ricos aceitarem a vontade de Deus como a sua própria, então usarão suas posses para suprir as necessidades dos semelhantes (Tg 2.15,16) em vez de viver em luxurias e deleites (Tg 5.5; cf.Tg4.3).

Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 141.

Tg 5.3 Os metais preciosos acumularam-se e estragaram-se sem ter sido usados. Quando a riqueza não é usada para ajudar os outros, ela perde o seu valor. Tiago nos adverte de que até mesmo o que parece ser mais indestrutível (ouro e prata) estará condenado se não for colocado em um bom uso. A inutilidade do ouro e da prata acumulados os comerá como fogo no inferno. Então, se revelará a avareza, o egoísmo e a maldade dos ricos. Eles deixaram de fazer o bem com o que tinham, e isto é pecado (4.17).
Poucas pessoas no mundo ocidental podem ler esta passagem com entendimento e não ficar pelo menos marcadas pela sua verdade. Nós provavelmente adicionamos uma nova dimensão ao problema, porque não acumulamos para preservar para mais tarde, mas acumulamos para gastar, ou até mesmo para desperdiçar. Os crentes da atualidade encontram-se participando da tendência da sociedade de consumir tanto quanto possível sem considerar as condições em outras partes do mundo, ou até mesmo o que vamos deixar para os nossos filhos e netos. Será que a nossa ferrugem não dará testemunho contra nós nos últimos dias?

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 687-688.

Tg 5.3 “Vosso ouro e vossa prata enferrujaram”: os antigos ainda não tinham a possibilidade de limpar metais nobres de outras substâncias da forma como nós. Por isso era possível que em certas condições também ouro e prata oxidassem. Todas as jóias e outros objetos metálicos de valor experimentavam forte depreciação. 
Em suma: aquilo em que consiste a riqueza é passageiro, está sujeito à transitoriedade geral, também hoje: muda o “clima” na economia de um país. As ações caem. Empresas de renome pedem concordata ou têm de ser vendidas com urgência; não resta muita coisa aos donos antigos. Instala-se o desemprego. Bons cargos se perdem. Outros ramos da economia são prejudicados também. Caem as receitas de impostos. Uma coisa está ligada à outra. O chão treme sob os pés. Ou pode ser até mesmo que grasse pelo país o arado da guerra e da revolução; grandes personalidades de ontem tornam-se hoje mendigos.

c) Bens não usados transformam-se em acusação: “Sua ferrugem há de ser por testemunho contra vós mesmos”: Na grande data do juízo de Deus servirão de testemunhas contra eles os mantimentos deteriorados e as roupas, bem como o dinheiro estocado e depreciado, que não manteve seu brilho, por assim dizer, por não circular nas mãos de terceiros. Também nós um dia seremos questionados: “O que você fez com sua vida, com seus dons, com sua profissão e sua propriedade, bem como com as pessoas necessitadas que coloquei diante de você?” São perguntas dirigidas não apenas ao “mundo”, mas também a nós. Isso inicia com as pessoas que encontramos, estendendo-se até as tarefas de amplitude mundial. Em nossa época fala-se muito, mas apenas se fala, de “ajuda para o desenvolvimento”. Várias pessoas a transformam praticamente em substituto para o evangelho que perderam. 
Talvez seja por isso que quase não suportamos mais ouvir a palavra. Não obstante, um dia seremos questionados: Vocês ouviram muito sobre a miséria daqueles povos distantes, mais do que no passado. E vocês também tinham mais possibilidades de fazer algo, mais que no passado. O que foi que vocês cristãos ocidentais abastados fizeram nessa área?
d) A conexão de nosso destino com o de nossos bens. “Sua ferrugem há de devorar, como fogo, a vossa carne”: a ruína do que foi acumulado contagia aquele que acumulou e que se prendeu às coisas acumuladas. O ídolo arrasta o idólatra junto em sua própria ruína. É como quando um cachorro está acorrentado na varanda de uma propriedade rural, e as construções se desfazem em chamas. O pobre animal uiva e força a corrente, tentando se soltar. Finalmente, porém, é esmagado na queda do telhado em chamas. Assim acontece com o ser humano que se deixou amarrar a esse mundo e seus bens. 
João escreve: “O mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo 2.17). É extremamente importante soltar-se do mundo e ligar-se a Jesus. Ele declara: “A (vontade e a) obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado.” (Jo 6.29). “Todo o que comete pecado é escravo do pecado… Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.34,36).

Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.

Tg 5.3 «...gastos de ferrugens..." O ouro e a prata não se desgastam dessa maneira, pelo que sabemos que o autor sagrado falava sobre a «ferrugem sobrenatural*, sobre o eventual poder consumidor do julgamento, que reduzirá as falsas riquezas dos homens ao nada.
«...par testemunho contra vós mesmos...» No dia do juízo, as falsas riquezas de um homem, sendo consumidas, servirão de testemunho contra ele: mostrarão como ele desbaratou a sua vida, servindo a si mesmo, enquanto seus semelhantes padeciam necessidade. A estes o rico conveniente terá ignorado, ao passo que o dinheiro lhe era abundante, deixando-o a gozar no seu lazer. Esqueceu-se das necessidades do espírito e serviu antes ao corpo e ao mundo. Deveria ser chamado por causa disso, a prestar contas; pois todos os homens serão julgados segundo as suas obras (ver Rom. 2:6 e Apo. 20:12). A redução das riquezas terrenas ao nada, no juizo, será um «sinal visível», claro e inequívoco, de que o indivíduo em questão merece o juízo que está prestes a receber.
«...devorar, como fogo as vossas carnes...» A perecibilidade das riquezas indica a ruína dos ricos: estes perecerão todos juntos; aquilo a que os ricos deram tanto valor, e no que confiaram, será o motivo de sua perdição. A ideia ou simbolismo apresentado é o de metais corroídos; e nesse processo, emana grande calor, como de fogo, que consome o indivíduo que os amealhara. Ou talvez devamos pensar em uma corrente enferrujada, enrolada e apertada em torno do indivíduo, a qual consome o indivíduo com sua ferrugem envenenada. (Ver Eclesiástico 34:31 quanto a uma figura simbólica um tanto similar). Figuradamente, a «carne» indica 0 próprio homem, visto como alguém destroçado no juízo, mas sem haver qualquer alusão literal à destruição do corpo.
Alguns eruditos pensam que a palavra fogo, que há no versículo, está ligada ao que se segue, e não ao que precede. Assim, ao invés de dizer-se que a carne do homem foi comida como que pelo fogo, dever-se-ia imaginar: «...ajuntastes fogo, amontoando vossos tesouros». A diferença, na estrutura da sentença, depende de como a pontuarmos. Ocasionalmente isso se torna questão de interpretação, porquanto os manuscritos originais não tinham qualquer pontuação. Seja como for, um bom sentido é conseguido. No segundo caso, o próprio tesouro é visto como algo imbuído das chamas da Gehena, tornando-se o motivo mesmo da perdição do rico.
(Ver Isa. 30:33; Judite 16:17; Mat. 5:22 quanto ao fogo da Gehena. Tiago 3:6 alude a isso, onde também aparecem notas expositivas completas a respeito).
Em favor da segunda dessas duas interpretações, pode-se observar que a menos que o fogo seja entendido com aquilo que se segue, fica sem objeto o verbo grego «ihesauridzo»; no entanto, normalmente, se não mesmo sempre, esse verbo é transitivo. Se «fogo» não é seu objeto, então temos de dizer que aqui esse verbo é usado de modo intransitivo. Alguns intérpretes, entretanto, creem que tal uso é possível, e que o verbo «contém em si mesmo o seu objeto». Os usos léxicos parecem confirmar essa opinião. (Ver Luc. 12:21; II Cor. 12:14, que parecem ser casos claros do modo intransitivo. Quanto a outras passagens bíblicas com uma mensagem similar à que se vê no presente versículo, ver Mat. 6:19; Marc. 10:21; Luc. 18:22; Rom. 2:5; Pro. 1:13; 2:7; Tobias 4:9; IV Esdras 6:5, 7:77; Testamento dos Doze Patriarcas, Levi, 13:5).
«...nos últimos dias...» Essa expressão é compreendida de diversas maneiras no N.T., a saber: 1. Pode significar «os dias do Messias», quando Cristo viveu no seu primeiro advento, pintado como algo que precederá imediatamente uma gigantesca transformação nas condições das vidas dos homens. Isso significaria os «últimos dias» da comunidade judaica, conforme ela existia nos tempos de Jesus, antes de qualquer transformação revolucionária. 2. Também pode aludir à dispensação do evangelho, vista como algo que precede cronologicamente o retorno de Cristo, e quando, então, ele estabelecerá o estado eterno. 3. Pode-se referir-se à «última porção» da’ dispensação desse evangelho. 4. Pode ser uma referência aos dias do juízo, propriamente dito. Os intérpretes normalmente pensam na terceira ou na quarta dessas posições. Os ricos seriam então vistos como ridículos, a amontoarem riquezas nos «dias preliminares» mesmo do segundo advento de Cristo, como se estivessem fazendo algum negócio importante em seu leito de morte. Ou a ideia pode ser o quão inútil é, para os ricos, viverem esse tipo de vida autocentralizada, porque aquilo que eles amontoaram está destinado meramente à destruição certa, quando do julgamento (o qual é visto como iminente, ver o sétimo versículo).
Já que há uma referência à «parousia», no sétimo versículo, supomos que os «últimos dias», deste versículo, indicam aqueles dias que antecederão imediatamente a segunda vinda de Cristo, quando ele vier para julgar. O autor sagrado não sabia por quanto tempo perduraria a era da graça. Tal como outros escritores sagrados do N.T., ele via a segunda vinda de Cristo como ocorrência não distante, e que talvez ocorresse até mesmo durante sua vida terrena. (Quanto a notas expositivas sobre essa expectação dos crentes primitivos, ver I Cor. 15:51 e I Tes. 4:15. Quanto a outras referências aos «últimos dias», no N.T., onde há notas expositivas adicionais, ver João 6:39; 6:37; Atos 2:17; II Tim. 3:1; Heb. 1:2 e II Ped. 3:3. Ver também a expressão «último tempo», em I Ped. 1:5,20).

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 6. pag. 74.

III - O ESCASSO SALÁRIO DOS TRABALHADORES “CLAMA” A DEUS      (Tg 5.4-6)

1. O clamor do salário dos trabalhadores (v.4).

O principal pecado desses ricos opressores era, segundo a denúncia clara do apóstolo Tiago, o não pagamento dos salários devidos. Tiago afirma que os trabalhadores que ceifavam nas terras desses ricos, na hora de serem pagos pelos seus trabalhos, em vez de receberem o salário combinado, tinham o seu pagamento distorcido, reduzido, diminuído (Tg 5.4). E mais: além de cometerem o pecado de não pagarem o salário devido, esses ricos estavam cometendo indiretamente assassinato, conforme a denúncia contundente de Tiago, que afirma que o não pagamento desses ricos aos pobres trabalhadores lançara estes em uma situação de miséria e morte. Diz o apóstolo: “Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu” (Tg 5.6). Como resultado dessa atitude, Deus resistirá a esses ricos criminosos (Tg 4.6); seu juízo virá sobre eles (Tg 5.1).
Desde o Antigo Testamento, ainda na Lei de Moisés, encontramos a proibição divina de o empregador oprimir o empregado. Ela se encontra em Deuteronômio 24.14, mesma passagem que assevera que o trabalhador tinha direito ao salário devido e este não poderia ser de forma alguma atrasado. Afirma expressamente o próprio Deus, conforme registrado por Moisés: “No seu dia, lhe darás o seu salário, e o sol se não porá sobre isso; porquanto pobre é, e sua alma se atém a isso; para que não clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado”. 
Na Nova Versão Internacional, a mesma passagem é assim vertida para o português: “Paguem-lhe o seu salário diariamente, antes do pôr do sol, pois ele é necessitado e depende disso. Se não, ele poderá clamar ao Senhor contra você, e você será culpado de pecado”.
Ao desrespeitarem esse mandamento divino, esses ricos opressores estavam acumulando culpa sobre as suas cabeças, preparando-se para o juízo divino. Seu enriquecimento era fraudulento, o que já era frisado no capítulo 2 da Epístola de Tiago, quando o apóstolo afirma: “Mas vós desonrastes o pobre. Porventura, não vos oprimem os ricos e não vos arrastam aos tribunais?” (Tg 2.6). Isto é, os ricos opressores chegaram às raias dos tribunais, devido a seu crime, mas saíram vencedores. Essa é a razão pela qual Tiago afirma no capítulo 5, versículo 6, que o inocente pobre “não vos resistiu”, isto é, não resistiram aos ricos, mas foram condenados.
Como frisa o teólogo A. F. Harper, essa expressão “não vos resistiu” refere-se, provavelmente, ao fato de que “o pobre não tinha uma defesa legal adequada”, de maneira que, “nos tribunais, os ricos influentes têm condenado e devastado’ [condenado e matado] o pobre que não tem condições de pagar o salário de um advogado ou o suborno para o juiz”. Conclui Harper: “O desamparo da vítima somente aumenta a culpa do opressor. Quando o desejo por riqueza se torna tão intenso ao ponto de tirar a vida de outra pessoa, a ganância tornou-se assassina”.
Eis o centro da denúncia de Tiago no capítulo 5: a prática desses ricos maus de “acumular fortuna pessoal deixando de pagar seus empregados (v.4) é a base da acusação específica de Tiago quando menciona ‘matar o justo’ (v.6), porque tirar o pão de um semelhante é cometer assassinato; privar um empregado do salário é derramar seu sangue”. Sem o seu salário, esses pobres trabalhadores, que dependiam exclusivamente desses salários para sobreviver, não poderiam viver por muito tempo — definhariam até a morte.
Por fim, um dos ensinos importantes desse texto que abre o capítulo 5 de Tiago é que Deus está atento ao clamor dos que sofrem injustiças na terra. Deus não está alheio às injustiças que acontecem e, conforme assevera o apóstolo, aqueles que praticam maldades contra inocentes, que oprimem os outros, que promovem injustiças, receberão a sua paga inexoravelmente (Tg 5.1), ou ainda aqui na terra ou na eternidade se não se arrependerem.
Outra coisa que aprendemos é que, assim como Tiago se colocou como uma voz contra esses opressores, uma voz em favor daqueles inocentes oprimidos, o cristão deve também erguer sua voz contra as injustiças nesse mundo e a favor das vítimas inocentes.
E se você está sofrendo alguma injustiça na sua vida, lembre- se: Deus não está blindado em um canto do Universo, surdo e cego, sem atentar para a sua causa. Não! Ele simpatiza com a sua causa. Ele não suporta a injustiça, e Ele sabe muito bem tudo o que você está passando. O Senhor dos Exércitos — isto é, aquEle que peleja por nós — está ouvindo o seu clamor (Tg 5.4b).

Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 141-145.

Tg 5.4 Estes trabalhadores do campo trabalhavam para as pessoas ricas durante o dia e seriam pagos no final do dia. Eram lavradores pobres. Muito provavelmente, eles tinham sido forçados a sair das suas próprias terras por execução de alguma hipoteca, e então eram contratados pelo proprietário rico de uma propriedade maior. Eles viviam à margem da fome extrema — o salário de hoje comprava a comida de amanhã. Se um trabalhador não recebesse o seu pagamento, toda a sua família passaria fome. Se o proprietário se recusasse a pagar, havia pouca coisa ou nada que o trabalhar pudesse fazer.
 O dinheiro que deveria ter sido entregue ao trabalhador também era uma evidência contra estas pessoas ricas. O clamor pelo salário retido dos trabalhadores e dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos. O único recurso que os pobres tinham era clamar a Deus. Se estivermos enfrentando a opressão, a fé exige que nós nos lembremos de que Deus é a nossa força e o nosso defensor. Circunstâncias temporárias não alteram a soberania de Deus. Deus nos protegerá do mal espiritual nesta vida e nos dará as alegrias que nós desejamos na vida porvir. Ele nos assegurará que a justiça será feita e julgará os opressores.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 688.

Tg 5:4 Além do mais, Tiago sabe que as riquezas acumuladas em geral indicam injustiça. Na Palestina, em geral, tratava-se de injustiça contra os trabalhadores rurais. Vede! o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, e que por vós foi retido com fraude, está clamando. 
O sistema econômico da Palestina utilizava trabalhadores braçais diaristas, em vez de escravos, em parte porque o escravo (Tiago 4:13-5:20) passaria a custar mais, caso ele convertesse ao judaísmo. Esses trabalhadores contratados eram os filhos jovens das famílias de camponeses expulsas de suas terras por causa de bancarrota, quando as hipotecas das propriedades venceram e não havia como pagá-las. Tais trabalhadores viviam da mão à boca. 
O salário de hoje é para comprar o desjejum de amanhã. Quando o salário não era pago no fim do dia, a família passava fome. A despeito de uma porção de mandamentos no Antigo Testamento (Levítico 19:13; Deuteronômio 24:14-15), os ricos descobriam jeitos de reter o salário dos trabalhadores (e.g., Jeremias 22:13; Malaquias 3:5). O fazendeiro poderia retê-lo até o fim da época de colheita, a fim de garantir que o camponês viria trabalhar; poderia apelar para uma minúcia técnica a fim de provar que o contrato não foi cumprido; ou poderia alegar estar cansado demais para pagar o salário no fim do dia. Se o trabalhador reclamasse, o patrão o poria na lista negra; se fosse aos tribunais, o rico teria os melhores advogados. 
Assim é que Tiago retrata o dinheiro no bolso dos ricos, dinheiro que deveria ter sido usado para pagar os trabalhadores que clamam por justiça. Os clamores não deixaram de ser ouvidos por alguém: os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor Todo-poderoso. Visto tratar-se de ceifeiros, não pode haver desculpa de falta de dinheiro; há montões de cereais para serem vendidos. O trabalhador faminto apelou aos prantos para o único recurso que tem: Deus. Ao mencionar o Senhor Todo-poderoso, Tiago lembra seu leitor de Isaías 5:9, onde as pessoas que adquirem grandes latifúndios são condenadas.
Todos os judeus sabiam o que acontecia às pessoas condenadas por Isaías, e também sabiam que os ouvidos de Deus estão abertos para os pobres (Salmo 17:1-6; 18:6; 31:2), de modo que a declaração de Tiago inclui a ameaça de julgamento.

Peter H. Davids. Comentário Bíblico Contemporâneo. Editora Vida. pag. 150-151.

Tg 5.4 a) Acumular bens ao invés de fazer o bem por meio deles. “Tesouros acumulastes…”: O que acontecerá se – analisado à luz do dia – isso for basicamente o denominador principal daquilo que queremos e praticamos? Pessoas trabalhadoras e parcimoniosas correm esse perigo. Será que aquilo que investimos na construção do reino de Deus e em prol da carência de nossos semelhantes se situa em patamares análogos ao que contribuímos para a poupança da casa própria? – Como agravante é acrescentado: “nos últimos dias.” Desde a vinda de Jesus na realidade vigoram os “últimos tempos” (Hb 1.2). Quando, porém, colocamos a Bíblia aberta ao lado do jornal nos dias de hoje, impõe-se a impressão de que agora se manifestam de maneira notória os citados presságios do retorno de Jesus. Nesse caso, de fato importa para nós algo diferente do que “ter sucesso na vida”. “Livra-te, salva a tua vida” (Gn 19.17) e a de outros. Jesus declara: “Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do Homem: comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos. O mesmo aconteceu nos dias de Ló…” (Lc 17.27s).
4 b) Violação não apenas do amor, mas igualmente do direito (cf. Lv 19.13; Dt 24.14; Jr 22.13). “Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos cortadores penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos”: não somente deixaram de doar, mas tampouco deram o que era devido (até mesmo por um serviço que lhes trouxe muitos rendimentos). Também nós cristãos temos de nos submeter a interrogatório nesse aspecto. Paulo diz: “Não fiqueis devendo nada a ninguém” (Rm 13.8). Talvez façamos muitas coisas voluntariamente no sentido do amor cristão (o que possivelmente nos rende certo reconhecimento). Contudo geralmente deixamos de fazer o que simplesmente teria sido nosso dever e o que todos consideram óbvio (motivo pelo qual não rende nenhuma admiração). Primeiro temos de satisfazer a justiça, antes de praticarmos o amor. Primeiro temos de pagar as contas antigas e assalariar com justiça nossos colaboradores, antes de fazermos grandes donativos. 
É possível atuar ocasionalmente de maneira cristã, e ao mesmo tempo negligenciar os pais idosos, o cônjuge e os próprios filhos. “Se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente” (1Tm 5.8). Como pregadores e pastores podemos ter grande alcance pela mensagem falada e escrita e ter um nome, e ao mesmo tempo negligenciar os enfermos, os idosos e a população de risco na própria congregação e igreja. “O que se requer dos administradores é que cada um deles seja encontrado fiel” (1Co 4.2). Somos administradores com tudo o que temos e somos. Tudo é propriedade dada em custódia. Importa, então, ser fiel no lugar em que Deus nos colocou.
O salário retido “grita” a Deus como o sangue de Abel (Gn 4.10) e como o pecado de Sodoma (Gn 18.20). Surpreendentemente Deus se importa também com a realidade social e nosso comportamento em sociedade. Não queremos ficar em dívida nem nos aproveitar da parte contrária, sejamos empregadores ou empregados. Também categorias profissionais inteiras devem receber o que lhes
cabe, p.ex., a classe camponesa, porque “todo trabalhador é digno de seu salário” (cf. Lc 10.7). Faz parte do “salário” também a moradia digna e a obtenção do devido reconhecimento, sem ser degradado para cidadão de segunda categoria.

Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.

2. A regalia dos ricos que não temem a Deus cessará (v.5)

Tg 5.5 Os estilos de vida dos ricos e famosos podem interessar aos meios de comunicação, mas são nocivos para Deus. Estes ricos, que tomaram as terras dos pobres e depois se recusaram a pagar os seus merecidos salários, mostraram uma enorme falta de consideração e um grande egoísmo. A isto, eles acrescentaram uma atitude de desperdício e autoindulgência que Deus detesta. Uma vida de luxo e de satisfação de cada capricho não tem basicamente nenhum valor. O dinheiro não significará nada quando Cristo retornar, de modo que nós devemos passar o nosso tempo acumulando tesouros que terão valor no reino eterno de Deus. 
O dinheiro em si não é o problema; os líderes cristãos precisam de dinheiro para viver e sustentar as suas famílias; os missionários precisam de dinheiro para ajudar a transmitir o Evangelho; as igrejas precisam de dinheiro para realizar eficazmente o seu trabalho. E o amor ao dinheiro que leva à iniquidade (I Tm 6.10) e que faz com que alguns subjuguem a outros para conseguir mais. Esta é uma advertência a todos os cristãos que são tentados a adotar padrões mundanos em lugar dos padrões de Deus (Rm 12.1,2) e um encorajamento a todos aqueles que são oprimidos pelos ricos.
Para estas pessoas ricas, o seu tesouro é a riqueza mundana. Elas aproveitaram a vida, banqueteando-se como no dia da matança de um animal. Ironicamente, Tiago diz que elas são como animais gordos preparados para a matança, no dia em que vier o julgamento de Deus (veja Jr 12.1-3).

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 688.

O mal do versículo 5 é mais uma faceta do espírito egoísta refletido nos versículos 2-3. As riquezas condenam todo aquele que as usa para um prazer puramente pessoal. 
A Bíblia Viva parafraseia as palavras de forma correta: “Vocês gastaram seus anos aqui na terra divertindo-se, satisfazendo todos os seus caprichos”. Há várias interpretações da frase num dia de matança (cf. Jr 12.3). As diferenças dependem do significado da preposição. Num (em um) pode significar “em”, “no”, “por meio de”, “para”. Matthew Henry viu nessa frase uma referência às festas judaicas em que muitos sacrifícios eram oferecidos. “Vocês vivem como se cada dia fosse um dia de sacrifícios, uma festa; e, dessa forma, seus corações são engordados e nutridos para a estupidez, imbecilidade, orgulho e insensibilidade, em detrimento da miséria e aflição dos outros”.4 De acordo com o contexto parece que a preposição en em relação ao dia do julgamento pode ser melhor traduzida por “para”. Uma tradução recente interpreta esse versículo da seguinte maneira: “Vocês viveram na terra luxuosamente, engordando-se como gado — e o dia para a matança chegou”. Moffatt ressalta e aguça o conceito: “como para o dia de matança”. A finalidade dessa seção inteira é resumida por Moffatt da seguinte maneira: “Vocês precisam pagar com a sua vida pelo deleite cruel que custou a vida de suas vítimas, as vítimas da sua opressão social e judicial”.

A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 190.

Tg 5.5 Realizar festas dispendiosas enquanto outros passam fome. “Tendes vivido regaladamente sobre a terra; tendes vivido nos prazeres; tendes engordado o vosso coração”: Afirma-se: “Também tive de trabalhar. Afinal, também devo ter o direito de aproveitar alguma coisa!” As pessoas moram muito bem. Viajam em férias para locais longínquos. Afirma-se sobre o rico agricultor que ele “não foi rico para Deus” (Lc 12.21). Para si próprio, porém, foi rico. Não deixou faltar nada em casa: “Alma minha, come e bebe!” Porém para Deus ele foi pobre, miserável. O que Tiago está escrevendo aqui não pode ser repassado simplesmente às “instâncias” do mundo. Trata-se de um questionamento que vale também para nós.
Novamente consta uma ênfase semelhante à do v. 3: ademais “no dia da matança”. Primeiramente poderíamos imaginar o dia em que os animais cevados eram mortos para banquetes e celebrações festivas. 
No entanto, sofriam privações os trabalhadores que haviam recolhido a safra e aos quais continuava sendo negado o salário, ou que era pecaminosamente mantido baixo. Contudo no judaísmo daquele tempo, em consonância com passagens como Jr 12.3, a expressão “o dia da matança” é significado consistente do grande dia do juízo, no qual Deus proclama e executa sua sentença. A palavra significa: mesmo enquanto já está raiando o dia do juízo, procura-se persistir no intuito de buscar divertimentos.

Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.

3. O pobre não resiste à opressão do rico (v.6).

Um ponto importante a ser frisado aqui é o uso que Tiago faz do termo “justo” no versículo 6, quando afirma “Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu”. A ideia clara do uso desse termo nessa passagem para se referir a esses pobres trabalhadores oprimidos é que o apóstolo quer destacar a seus leitores o fato de que eles não eram homens maus sofrendo alguma represália dos seus chefes ricos pela sua maldade. Não. Eles eram homens inocentes.
Tiago não está aqui atribuindo alguma bondade inata aos pobres pelo simples fato de serem pobres. Ele estava, sim, preocupado em enfatizar o fato de que aqueles homens não mereciam o que seus empregadores estavam fazendo com eles.
 Ele estava dizendo que aqueles pobres empregados haviam trabalhado honestamente, ceifando as terras de seus senhores, mas receberam em troca um salário aquém do combinado e de suas necessidades, quando os seus empregadores tinham condições de pagar o salário prometido, que garantia a subsistência daqueles pobres homens.
Portanto, o referido versículo não pode ser usado como argumento para sustentar a Teologia da Libertação, que ensina o equívoco de que os pobres são justos diante de Deus pelo simples fato de serem pobres, o que não encontra base alguma nas Sagradas Escrituras. Como afirma uma antiga e precisa regra básica de hermenêutica bíblica, texto sem olhar o contexto é pretexto.

Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 142-143.

Tg 5.6 A condenação e a morte de pessoas justas provavelmente eram tanto ativas como passivas. As pessoas inconvenientes podem realmente ter sido assassinadas, mas é mais provável que as pessoas pobres que não podiam pagar as suas dívidas fossem lançadas na prisão ou forçadas a vender todas as suas posses. Sem meios de sustento, e sem oportunidades até mesmo para trabalhar para pagar suas dívidas, estas pessoas pobres e suas famílias frequentemente morriam de fome. 
Deus também considerava isto um assassinato. De uma maneira ou de outra, no sistema injusto, isto era legal. O pobre não tinha como resistir. O seu único recurso contra os ricos iníquos era clamar a Deus. As condições que Tiago está descrevendo podem parecer desesperadoras. Muitos dos ricos não se arrependerão. Entretanto, os crentes podem viver com esperança, porque Cristo está voltando. Ele trará juízo e justiça. Tiago agora passa a falar a respeito da volta de Cristo.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 688-689.

O versículo 6 reflete a riqueza desonesta adquirida por meio de ações fraudulentas da justiça. Em 2.6, Tiago refere-se aos ricos que “vos arrastam aos tribunais”. Ele não vos resistiu provavelmente significa que o pobre não tinha uma defesa legal adequada. Nos tribunais, os ricos influentes têm “condenado e devastado” (Phillips) o pobre que não tem condições de pagar o salário de um advogado ou o suborno para o juiz. O desamparo da vítima somente aumenta a culpa do opressor. Quando o desejo por riqueza se torna tão intenso a ponto de planejar tirar a vida de outra pessoa, a ganância tornou-se assassina.

A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 190.

Tg 5.6 O poder propiciado pela riqueza também é malversado em relação à liberdade, honra e vida de terceiros. “Condenastes e matastes o justo”: aqui devemos pensar primeiramente em Jesus. Foi condenado por aqueles que possuíam influência, riqueza e poder. A perseguição ao jovem cristianismo por parte do judaísmo igualmente se deu por meio de pessoas com influência, riqueza e poder. O mesmo aconteceu durante a perseguição secular aos cristãos por parte do poderoso Império Romano. Tampouco é diferente quando cristãos sofrem nos dias de hoje. Acima de tudo isso valerá no último trajeto da igreja de Jesus durante a tribulação do anticristo. – “Ele (porém) não se opõe a vós”: também isso valia inicial e principalmente para Jesus. “Não se contrapôs”. Não porque não tivesse poder, mas porque não o usou, em acordo com a vontade do Pai: “Posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos. Como, porém, se cumpririam as Escrituras? É assim que deve acontecer” (Mt 26.53s). 
O que vale para Cristo vale também para os cristãos. Jesus diz a Pedro: “Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão” (Mt 26.52). É assim que também temos de compreender a palavra de Rm 13.1ss, escrita aos cristãos de Roma nos dias de alguém como Nero: “Quem resiste às autoridades, resiste à ordem de Deus”, sobretudo à ordem que ele deu a seu Filho e aos seguidores dele para a caminhada: a ordem de sofrer (cf. Rm 13.2; Mt 16.24; At 14.22). Por isso a igreja de Jesus, particularmente também na tribulação do fim, está proibida de se defender: “Se alguém matar à espada, necessário é que seja morto à espada. Aqui está a perseverança e a fidelidade dos santos” (Ap 13.10; 14.12). É muito importante permanecer também sob esse aspecto no caminho do discipulado de Jesus: “Ele não se contrapôs” (cf. Ap 14.4).

Fritz Grunzweig. Comentário Esperança Carta De Tiago. Editora Evangélica Esperança.


               Corretores Cristãos do Poder

Buscar arrogantemente o poder não é atributo espiritual.

 É sinal de egoísmo e orgulho. Todo aquele que deseja o poder para obter prestígio é traiçoeiro. No esforço de tornar-se imperial, adquire a mentalidade que diz: 'Estou gostando desta liderança. Sei o que é melhor, apenas sigam-me!'.

Apreciam alguns poderosos - leigos, pregadores, empresários, educadores, oficiais do governo ou quem quer que seja - o brilho, a honra e o prestígio da liderança? Têm prazer em chegar ao topo pela escada da adulação? Vêem as pessoas como irmãos e irmãs, e a si mesmos como um de seus companheiros de serviço? Ou estão mais inclinados a manter o rebanho em seu lugar? Trovejam mensagens quanto ao que o trabalho deve ser? Ou guiam alegremente como um pastor?
Quero chamar sua atenção de perdedor financeiro para o simples fato: muitos de nós estamos nadando em dívidas e vivendo um caos conjugal como resultado de nada menos que uma necessidade descontrolada de possuir e acumular coisas. A verdade é que o caos em nosso casamento poderia ter fim se nós simplesmente parássemos de acumular e começássemos a estar satisfeitos com as coisas que já temos".Nossa atitude com relação às pessoas é, freqüentemente, uma ofensa a Deus e aos que estão se esforçando para servir. Enquanto as pessoas estão quase sempre ansiosas para liderar - liderança santa e inspirada - estamos afundados em nosso 'trabalho'. Quando isso acontece, podemos facilmente nos tornar insensíveis aos sentimentos alheios".

(DORTCH, R. W. Orgulho fatal. RJ: CPAD, 1996, pp.103-4.)


Somos todos culpados diante do Senhor por nossas ambições e orgulho! Somos inescusáveis diante do tribunal divino. O nosso opróbrio não é maior do que os sulcos de dor, desprezo, incapacidade e desdém que cavamos diariamente em nossos irmãos (1 Jo 3.15). Somos culpados de orgulho e ambição diante de Deus. Confessemos os nossos pecados (1 Jo 3.19-21). Peçamos um novo coração e uma nova disposição espiritual (Sl 51.10). Sejamos perdoados e oremos como fez o salmista:
'Ó SENHOR Deus, eu já não sou orgulhoso; deixei de olhar os outros com arrogância.
Não vou atrás das coisas grandes e extraordinárias, que estão fora do meu alcance.Assim, como a criança desmamada fica quieta e tranqüila nos braços da mãe, assim eu estou satisfeito e tranqüilo, e o meu coração está calmo dentro de mim'.
(Sl 131.1,2 - NTLH).
fonte www.mauricioberwaldoficial.blogspot.com

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