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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A PEDAGOGIA DE JESUS

                            

                                  A Pedagogia de Jesus


O pensamento pedagógico, orientador dos processos educacionais superiores, resulta da reflexão sobre os problemas da educação. Jesus não era um educador no sentido comum da palavra. Não possuía, como homem, nenhum experiência educativa. Sua profissão era a do pai, segundo a tradição familiar: carpinteiro. Deixando de lado os problemas referentes à sua origem e natureza divinas e encarando humanamente os fatos poderíamos falar numa Pedagogia de Jesus?

I – FUNDAMENTOS DA PEDAGOGIA DE JESUS
I.1- A prática
Jesus fez uma clara opção pela prática em relação ao discurso e à fala. Este dado tem enorme relevância para os obreiros cristãos que costumam eleger a fala como principal instrumento de ensino.
Tomamos o Sermão da Montanha, onde Jesus inicia o ensino centrado no discurso (Mt. 5, 6 e 7:1-23). O desfecho do sermão é onde Jesus privilegia a prática (Mt.7:24-27). Ele não apenas recomenda a prática de seus ensinos como também põe em prática, à vista de todos, a sua graça e sua misericórdia. Vemos isto através das curas que realizou:
Mt. 8:1-4 ........ A cura de um leproso.
Mt. 8:5-13 ........ A cura do criado de um centurião.
Mt. 8:14-15 ........ A cura da sogra de Pedro, etc...
Com a prática das curas Jesus devolve a dignidade aos pobres, aos marginalizados (mulher adúltera, leprosos) e outras categorias oprimidas pelo sistema social daquela época.
Com a prática das curas Ele restaura a saúde física, mental e espiritual do povo: deficientes (cego, mudo, surdo, paralítico), enfermos (febre, hemorragia, mão ressequida, lepra, etc.) e endemoninhados.
O Reino não chega apenas através da palavra falada, ou por adesão exclusivamente intelectual, emocional, espiritual e moral. O Reino de Deus surge através da prática da misericórdia de Jesus. Por isso, a multidão à qual Ele devolveu a dignidade e a esperança reconhece nEle o Messias.
João Batista, preso, tem dúvida a respeito da messianidade de Jesus e lhe envia mensageiros (Mt. 11:2-6 ). A resposta de Jesus não se traduz propriamente em discurso, Ele manda que os mensageiros voltem e anunciem a João o que estão vendo e ouvindo, ou seja a comprovação de sua prática.
As parábolas de Jesus, veículo fundamental para seu ensino, se inspiram nas mais variadas práticas da vida cotidiana:
Mt. 13:4-8........A parábola do semeador.
Mt. 13:24-30........ A parábola do joio e do trigo.
Mt. 13:33........ A parábola do fermento.
Mt. 13:44....... A parábola do tesouro escondido.
Mt. 13:45........ A parábola da pérola.
Mt.18:10-14.......A parábola da ovelha perdida, etc....
Na verdade, todo o discurso de Jesus é, antes de tudo a explicitação de sua prática. Ele é coerente porque sua prática é o ponto de partida de seu discurso. Esta é uma das razões pelas quais Ele foi rejeitado. A liderança dominadora não conhecia a pedagogia da misericórdia, aquela que, diante dos abandonados e sofridos, começa com atos libertadores.
A prática pedagógica de Jesus exige que a sociedade humana seja colocado ao avesso. Ela só tem sentido na lógica do Reino. Não basta que uma pedagogia se concentre na prática para que venha a merecer o qualificativo de cristã. Para ser cristã é fundamental que esta pedagogia esteja comprometida com os valores do Reino.

I.2 - Os resultados
O segredo para se obter bons resultados é praticar as palavras de Jesus, pois seu ensino não é para experiência do coração, nem para a edificação da razão. Seu ensino exige, em primeira instância, uma prática que seja anúncio das bem-aventuranças do Reino e que se organiza dentro de sua lógica.
Em diversas passagens bíblicas vemos que Jesus dava importância fundamental aos resultados, aos frutos advindos da prática de suas palavras:
Mt. 5:13........ O sal vale pelos resultados objetivos; se ele não dá resultado onde é colocado, para nada mais presta.
Mt. 5:14-16........ A luz igualmente deve produzir o efeito para o qual ela foi criada, ou seja, iluminar.
Mt. 7:15-20........ Jesus nos dá um critério de valor para avaliar o resultado de uma prática.
Mt. 5:44; 6:3-4,12 e 18:23-25........ Para Jesus a bondade é resultado de um coração misericordioso, que pode se abrir ao perdão, à compaixão, à solidariedade, etc.
Mt. 8:5-13........O capitão do exército romano demonstrou a prática da misericórdia por seu servo, e Jesus vendo este resultado acolheu o seu pedido.
Mt. 9:10-13........Jesus afirma que quer ver o resultado da prática da misericórdia.
Mt. 13:4-8; 25:20-21........ As parábolas do semeador e dos talentos anunciam que a boa nova do Reino se comprova pelos resultados.
Aqui, é preciso destacar que Jesus só valorizava os resultados de ações motivadas pela misericórdia. Os resultados de uma prática que visa a promoção pessoal, o status, a vaidade, o auto-engrandecimento, o atendimento de interesses pessoais ou de grupos, a manipulação do semelhante, certamente não são inspirados na lógica do Reino. Jesus claramente condena tudo isto ( Mt.6:1-8 ).
Jesus rejeita a religiosidade sem frutos de misericórdia ( Mt. 25:44-45 ). Não pode haver ausência de frutos concretos de misericórdia na vida do cristão. São os resultados concretos que definem a que Senhor estamos servindo.
Será que os resultados que estamos produzindo no ensino evangélico são frutos da verdadeira misericórdia cristã? Estes resultados obtidos refletem a que Senhor estamos servindo?

I.3 - A pessoa como centro
A pedagogia de Jesus é centrada na pessoa, o bem maior do Reino de Deus:
Mc. 2:17........ Jesus destaca a importância do homem diante da criação.
Mt. 4:18-22; 8:5-13; 15:1-3; 19:16-22, etc........ o ensino de Jesus se estabelece a partir do diálogo. Este envolve palavras, que por sua vez envolve ação, para não se transformar em discurso vazio. A palavra no diálogo compromete quem fala e a quem se fala. O diálogo é conscientizador, através dele ocorre a reflexão-ação para a mudança. Ele enriquece o conhecimento e valoriza a relação eu-tu.
Jo. 15:13-15........ Jesus trata as pessoas de maneira carinhosa.
Mt. 18:10-14........ A parábola da ovelha perdida retrata, melhor que qualquer outro episódio, a dimensão absoluta da pessoa, singular para Jesus.
Mt. 25:40........ O valor da pessoa se destaca pelo termo "pequeninos", porque dentro do sistema social vigente naquela época eles não tinham o mínimo valor e reconhecimento. Se eles forem valorizados, toda a sociedade já estará salva. A ausência de valor os punha em uma situação tão deplorável que é com eles que Jesus se identifica. Só os misericordiosos entendem esta lógica.
Lc. 20:35-36; Jo. 1:12-13........ É no contexto da família de Deus que uma pessoa pode ter seu valor maior.
Tendo a pessoa como centro de sua preocupação, também vemos a valorização inquestionável da criança, grupo marginalizado e desvalorizado naquela época: Mt. 18:1-6; 19:13-15.
Também vemos na prática do Divino Mestre a valorização da mulher. No contexto da sociedade de então, a mulher casada, depois que o marido se cansasse dela, podia ser repudiada. Jesus entende que a valorização da mulher passa pela absoluta valorização do amor-comunhão (Mt. 5:27-31; 19:3-9). A posição de Jesus que radicaliza a unidade indissolúvel do casal, se prende à sua compaixão pelos oprimidos. Com seu ensino Ele devolve a dignidade à mulher.
Outro episódio importante na questão da valorização humana é a cura dos leprosos. Eles eram afastados do convívio social, condenados a perambular em pequenos grupos fora dos limites da cidade. Jesus não aceita esta condição de vida dos leprosos e se relaciona com eles misericordiosamente, fazendo o que era possível para reintegrá-los à humanidade. Ele os tocava (Mt.8:1-3) e com seu gesto repudiava o abandono a que eram condenados. A cura dos endemoninhados gadarenos (Mt. 8:28-34) tem o mesmo sentido.
Não só a pessoa recebe nova valorização, mas também a vida cotidiana ganha nova dignidade:
Mt. 6:11....... O pão está entre os direitos da vida, pois ele é pedido ao Pai, na oração que Cristo ensinou, A dignidade da vida inclui, para Jesus, a simples amizade-fraternidade que cresce em torno do pão.
Mt. 8:11; 26:29........ A plenitude do Reino é, repetidas vezes, comparada a uma ceia. Estes traços históricos indicam que a prática de Jesus valorizava a comunhão fraterna que se desenvolve em volta da mesa. Pela amizade, pela fraternidade da mesa e pelo partir diário do pão, no contexto maior do Reino, o convívio humano passa a ser um bem em si, sem outro objetivo além do prazer da fraternidade. Comer à mesa e cultivar a amizade cotidiana é expressão de pura compaixão humana.
Tais episódios nos ajudam a enxergar na prática de Jesus sua compreensão da importância da vida cotidiana abundante, plena, como indicação da inauguração do Reino de Deus.
A consideração da pessoa humana como valor absoluto e o convite à antecipação do banquete do Reino no partir diário do pão, na fraternidade e na comunhão da verdadeira amizade entre irmãos e companheiros, de alguma forma eleva a dignidade do cotidiano humano.
A pedagogia de Jesus acontece dentro de uma perspectiva clara direcionada à implantação plena do Reino. E esta perspectiva se opõe radicalmente à lógica da dominação. Daí seu grande comprometimento com os desfavorecidos na sociedade. Se queremos praticar a pedagogia de Cristo não podemos perder de vista esta perspectiva.

I.4 - A simplicidade
Se queremos adotar a pedagogia do Mestre em nossas igrejas e instituições paralelas devemos estudar as lições de Cristo, Seu caráter e Suas práticas. Precisamos nos libertar do formalismo e da tradição e apreciar a originalidade, a autoridade, a espiritualidade, a bondade, a humildade, a benevolência e o poder do Seu ensino.
Jesus é simples, humilde, não há em Sua instrução nada vago ou difícil de ser entendido. Ele falava e agia com clareza e ênfase, com força solene e convincente:
Jesus não tinha um púlpito, ou uma escola. Ele ensinava, pregava e curava junto ao mar (Mt. 4:18); nas sinagogas (Mt. 4:23); no monte (Mt. 5:1); nas casas (Mt. 8:14); cidades e povoados (Mt. 9:35); no campo (Mt. 14:13 e19); no caminho (Mt. 20:17 e 29-30); no templo (Mt. 21:12,14), etc.
Seu ensino é ancorado em situações comuns do dia-a-dia das pessoas: o sal, a luz, o relacionamento senhor X servo, as aves do céu, os lírios do campo, o comer, o vestir, a porta estreita e a porta espaçosa, a seara, o trabalho, a semeadura, o pastoreio, a árvore e seus frutos, etc...
Ele não escolheu sábios, nobres ou ricos para seus discípulos, mas convidou rudes pescadores, consertadores de redes, um coletor de impostos, etc. (Mt.4:18-22; 9:9); sentou-se à mesa com publicanos e pecadores (Mt.9:10).
Jesus estabelece um contato muito próximo e íntimo com as pessoas, estava sempre no meio do povo, multidões o acompanhavam, Ele tocava as pessoas, fez questão de impor as mãos sobre as crianças, etc. (Mt. 5:1; 19:13-15 ).
As ações e propostas de Jesus são de uma simplicidade cristalina. Veja a solução que Jesus deu ao problema surgido nas bodas em Caná da Galiléia (Jo.2:5-7). E também a multiplicação dos pães (Mt.14:17-l8), a parábola da dracma perdida (Lc.15:8) etc.

II - CONCLUSÃO
Precisamos considerar seriamente a Pedagogia de Jesus, porque nós como Igreja temos uma vocação divina: lutar pelo estabelecimento do Reino de Deus e anunciar a mensagem de salvação para o homem, que é o próprio Cristo. Esta é a razão primária da existência da Igreja e por isto mesmo toda a sua atividade de pregação e ensino, tem que perseguir este objetivo com obstinação.
Num processo de pregação e ensino em que se privilegia a prática, os resultados concretos desta prática, a pessoa como centro e a simplicidade, a tarefa educacional da Igreja se amplia e estimula os homens a crescerem juntos, na busca do conhecimento, da reflexão e da ação que leva a transformações.

Afinal, foi Ele mesmo que disse: "Aprendei de mim." (Mt.11:29) e "Sede vós perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celeste." (Mt.5:48)
fonte escriba digital

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