A Pedagogia de Jesus
O pensamento pedagógico, orientador dos processos educacionais
superiores, resulta da reflexão sobre os problemas da educação. Jesus não era
um educador no sentido comum da palavra. Não possuía, como homem, nenhum
experiência educativa. Sua profissão era a do pai, segundo a tradição familiar:
carpinteiro. Deixando de lado os problemas referentes à sua origem e natureza
divinas e encarando humanamente os fatos poderíamos falar numa Pedagogia de
Jesus?
I – FUNDAMENTOS DA PEDAGOGIA DE JESUS
I.1- A prática
Jesus fez uma clara opção pela prática em relação ao discurso e à
fala. Este dado tem enorme relevância para os obreiros cristãos que costumam
eleger a fala como principal instrumento de ensino.
Tomamos o Sermão da Montanha, onde Jesus inicia o ensino centrado
no discurso (Mt. 5, 6 e 7:1-23). O desfecho do sermão é onde Jesus privilegia a
prática (Mt.7:24-27). Ele não apenas recomenda a prática de seus ensinos como
também põe em prática, à vista de todos, a sua graça e sua misericórdia. Vemos
isto através das curas que realizou:
Mt. 8:1-4 ........ A cura de um leproso.
Mt. 8:5-13 ........ A cura do criado de um centurião.
Mt. 8:14-15 ........ A cura da sogra de Pedro, etc...
Com a prática das curas Jesus devolve a dignidade aos pobres, aos
marginalizados (mulher adúltera, leprosos) e outras categorias oprimidas pelo
sistema social daquela época.
Com a prática das curas Ele restaura a saúde física, mental e
espiritual do povo: deficientes (cego, mudo, surdo, paralítico), enfermos
(febre, hemorragia, mão ressequida, lepra, etc.) e endemoninhados.
O Reino não chega apenas através da palavra falada, ou por adesão
exclusivamente intelectual, emocional, espiritual e moral. O Reino de Deus
surge através da prática da misericórdia de Jesus. Por isso, a multidão à qual
Ele devolveu a dignidade e a esperança reconhece nEle o Messias.
João Batista, preso, tem dúvida a respeito da messianidade de
Jesus e lhe envia mensageiros (Mt. 11:2-6 ). A resposta de Jesus não se traduz
propriamente em discurso, Ele manda que os mensageiros voltem e anunciem a João
o que estão vendo e ouvindo, ou seja a comprovação de sua prática.
As parábolas de Jesus, veículo fundamental para seu ensino, se
inspiram nas mais variadas práticas da vida cotidiana:
Mt. 13:4-8........A parábola do semeador.
Mt. 13:24-30........ A parábola do joio e do trigo.
Mt. 13:33........ A parábola do fermento.
Mt. 13:44....... A parábola do tesouro escondido.
Mt. 13:45........ A parábola da pérola.
Mt.18:10-14.......A parábola da ovelha perdida, etc....
Na verdade, todo o discurso de Jesus é, antes de tudo a
explicitação de sua prática. Ele é coerente porque sua prática é o ponto de
partida de seu discurso. Esta é uma das razões pelas quais Ele foi rejeitado. A
liderança dominadora não conhecia a pedagogia da misericórdia, aquela que,
diante dos abandonados e sofridos, começa com atos libertadores.
A prática pedagógica de Jesus exige que a sociedade humana seja
colocado ao avesso. Ela só tem sentido na lógica do Reino. Não basta que uma
pedagogia se concentre na prática para que venha a merecer o qualificativo de
cristã. Para ser cristã é fundamental que esta pedagogia esteja comprometida
com os valores do Reino.
I.2 - Os resultados
O segredo para se obter bons resultados é praticar as palavras de
Jesus, pois seu ensino não é para experiência do coração, nem para a edificação
da razão. Seu ensino exige, em primeira instância, uma prática que seja anúncio
das bem-aventuranças do Reino e que se organiza dentro de sua lógica.
Em diversas passagens bíblicas vemos que Jesus dava importância
fundamental aos resultados, aos frutos advindos da prática de suas palavras:
Mt. 5:13........ O sal vale pelos resultados objetivos; se ele não
dá resultado onde é colocado, para nada mais presta.
Mt. 5:14-16........ A luz igualmente deve produzir o efeito para o
qual ela foi criada, ou seja, iluminar.
Mt. 7:15-20........ Jesus nos dá um critério de valor para avaliar
o resultado de uma prática.
Mt. 5:44; 6:3-4,12 e 18:23-25........ Para Jesus a bondade é
resultado de um coração misericordioso, que pode se abrir ao perdão, à
compaixão, à solidariedade, etc.
Mt. 8:5-13........O capitão do exército romano demonstrou a
prática da misericórdia por seu servo, e Jesus vendo este resultado acolheu o
seu pedido.
Mt. 9:10-13........Jesus afirma que quer ver o resultado da
prática da misericórdia.
Mt. 13:4-8; 25:20-21........ As parábolas do semeador e dos
talentos anunciam que a boa nova do Reino se comprova pelos resultados.
Aqui, é preciso destacar que Jesus só valorizava os resultados de
ações motivadas pela misericórdia. Os resultados de uma prática que visa a
promoção pessoal, o status, a vaidade, o auto-engrandecimento, o atendimento de
interesses pessoais ou de grupos, a manipulação do semelhante, certamente não
são inspirados na lógica do Reino. Jesus claramente condena tudo isto (
Mt.6:1-8 ).
Jesus rejeita a religiosidade sem frutos de misericórdia ( Mt.
25:44-45 ). Não pode haver ausência de frutos concretos de misericórdia na vida
do cristão. São os resultados concretos que definem a que Senhor estamos
servindo.
Será que os resultados que estamos produzindo no ensino evangélico
são frutos da verdadeira misericórdia cristã? Estes resultados obtidos refletem
a que Senhor estamos servindo?
I.3 - A pessoa como centro
A pedagogia de Jesus é centrada na pessoa, o bem maior do Reino de
Deus:
Mc. 2:17........ Jesus destaca a importância do homem diante da
criação.
Mt. 4:18-22; 8:5-13; 15:1-3; 19:16-22, etc........ o ensino de
Jesus se estabelece a partir do diálogo. Este envolve palavras, que por sua vez
envolve ação, para não se transformar em discurso vazio. A palavra no diálogo
compromete quem fala e a quem se fala. O diálogo é conscientizador, através
dele ocorre a reflexão-ação para a mudança. Ele enriquece o conhecimento e
valoriza a relação eu-tu.
Jo. 15:13-15........ Jesus trata as pessoas de maneira carinhosa.
Mt. 18:10-14........ A parábola da ovelha perdida retrata, melhor
que qualquer outro episódio, a dimensão absoluta da pessoa, singular para
Jesus.
Mt. 25:40........ O valor da pessoa se destaca pelo termo
"pequeninos", porque dentro do sistema social vigente naquela época
eles não tinham o mínimo valor e reconhecimento. Se eles forem valorizados,
toda a sociedade já estará salva. A ausência de valor os punha em uma situação
tão deplorável que é com eles que Jesus se identifica. Só os misericordiosos
entendem esta lógica.
Lc. 20:35-36; Jo. 1:12-13........ É no contexto da família de Deus
que uma pessoa pode ter seu valor maior.
Tendo a pessoa como centro de sua preocupação, também vemos a
valorização inquestionável da criança, grupo marginalizado e desvalorizado
naquela época: Mt. 18:1-6; 19:13-15.
Também vemos na prática do Divino Mestre a valorização da mulher.
No contexto da sociedade de então, a mulher casada, depois que o marido se
cansasse dela, podia ser repudiada. Jesus entende que a valorização da mulher
passa pela absoluta valorização do amor-comunhão (Mt. 5:27-31; 19:3-9). A
posição de Jesus que radicaliza a unidade indissolúvel do casal, se prende à
sua compaixão pelos oprimidos. Com seu ensino Ele devolve a dignidade à mulher.
Outro episódio importante na questão da valorização humana é a
cura dos leprosos. Eles eram afastados do convívio social, condenados a
perambular em pequenos grupos fora dos limites da cidade. Jesus não aceita esta
condição de vida dos leprosos e se relaciona com eles misericordiosamente,
fazendo o que era possível para reintegrá-los à humanidade. Ele os tocava
(Mt.8:1-3) e com seu gesto repudiava o abandono a que eram condenados. A cura
dos endemoninhados gadarenos (Mt. 8:28-34) tem o mesmo sentido.
Não só a pessoa recebe nova valorização, mas também a vida
cotidiana ganha nova dignidade:
Mt. 6:11....... O pão está entre os direitos da vida, pois ele é
pedido ao Pai, na oração que Cristo ensinou, A dignidade da vida inclui, para
Jesus, a simples amizade-fraternidade que cresce em torno do pão.
Mt. 8:11; 26:29........ A plenitude do Reino é, repetidas vezes,
comparada a uma ceia. Estes traços históricos indicam que a prática de Jesus
valorizava a comunhão fraterna que se desenvolve em volta da mesa. Pela
amizade, pela fraternidade da mesa e pelo partir diário do pão, no contexto
maior do Reino, o convívio humano passa a ser um bem em si, sem outro objetivo
além do prazer da fraternidade. Comer à mesa e cultivar a amizade cotidiana é
expressão de pura compaixão humana.
Tais episódios nos ajudam a enxergar na prática de Jesus sua
compreensão da importância da vida cotidiana abundante, plena, como indicação
da inauguração do Reino de Deus.
A consideração da pessoa humana como valor absoluto e o convite à
antecipação do banquete do Reino no partir diário do pão, na fraternidade e na
comunhão da verdadeira amizade entre irmãos e companheiros, de alguma forma
eleva a dignidade do cotidiano humano.
A pedagogia de Jesus acontece dentro de uma perspectiva clara
direcionada à implantação plena do Reino. E esta perspectiva se opõe
radicalmente à lógica da dominação. Daí seu grande comprometimento com os
desfavorecidos na sociedade. Se queremos praticar a pedagogia de Cristo não
podemos perder de vista esta perspectiva.
I.4 - A simplicidade
Se queremos adotar a pedagogia do Mestre em nossas igrejas e
instituições paralelas devemos estudar as lições de Cristo, Seu caráter e Suas
práticas. Precisamos nos libertar do formalismo e da tradição e apreciar a
originalidade, a autoridade, a espiritualidade, a bondade, a humildade, a
benevolência e o poder do Seu ensino.
Jesus é simples, humilde, não há em Sua instrução nada vago ou
difícil de ser entendido. Ele falava e agia com clareza e ênfase, com força
solene e convincente:
Jesus não tinha um púlpito, ou uma escola. Ele ensinava, pregava e
curava junto ao mar (Mt. 4:18); nas sinagogas (Mt. 4:23); no monte (Mt. 5:1);
nas casas (Mt. 8:14); cidades e povoados (Mt. 9:35); no campo (Mt. 14:13 e19);
no caminho (Mt. 20:17 e 29-30); no templo (Mt. 21:12,14), etc.
Seu ensino é ancorado em situações comuns do dia-a-dia das
pessoas: o sal, a luz, o relacionamento senhor X servo, as aves do céu, os
lírios do campo, o comer, o vestir, a porta estreita e a porta espaçosa, a
seara, o trabalho, a semeadura, o pastoreio, a árvore e seus frutos, etc...
Ele não escolheu sábios, nobres ou ricos para seus discípulos, mas
convidou rudes pescadores, consertadores de redes, um coletor de impostos, etc.
(Mt.4:18-22; 9:9); sentou-se à mesa com publicanos e pecadores (Mt.9:10).
Jesus estabelece um contato muito próximo e íntimo com as pessoas,
estava sempre no meio do povo, multidões o acompanhavam, Ele tocava as pessoas,
fez questão de impor as mãos sobre as crianças, etc. (Mt. 5:1; 19:13-15 ).
As ações e propostas de Jesus são de uma simplicidade cristalina.
Veja a solução que Jesus deu ao problema surgido nas bodas em Caná da Galiléia
(Jo.2:5-7). E também a multiplicação dos pães (Mt.14:17-l8), a parábola da
dracma perdida (Lc.15:8) etc.
II - CONCLUSÃO
Precisamos considerar seriamente a Pedagogia de Jesus, porque nós
como Igreja temos uma vocação divina: lutar pelo estabelecimento do Reino de
Deus e anunciar a mensagem de salvação para o homem, que é o próprio Cristo.
Esta é a razão primária da existência da Igreja e por isto mesmo toda a sua
atividade de pregação e ensino, tem que perseguir este objetivo com obstinação.
Num processo de pregação e ensino em que se privilegia a prática,
os resultados concretos desta prática, a pessoa como centro e a simplicidade, a
tarefa educacional da Igreja se amplia e estimula os homens a crescerem juntos,
na busca do conhecimento, da reflexão e da ação que leva a transformações.
Afinal, foi Ele mesmo que disse: "Aprendei de mim."
(Mt.11:29) e "Sede vós perfeitos, como perfeito é o vosso Pai
celeste." (Mt.5:48)
fonte escriba digital
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