O PROFESSOR E A PREPARAÇÃO DA AULA
O fim prático do ofício do professor
é ensinar. O momento principal do ensino é a aula. A aula é a exposição do
assunto, do tema proposto para aquela ocasião. Muitos são os seus antecedentes,
e muitos devem ser os seus resultados.
A aula, portanto, não é o todo do
ministério do professor, mas é, com certeza, o núcleo de seu ofício. A essência
da expressão de sua vocação. A aula é o momento em que o professor se revela e
se realiza.
Por revelação aqui não se entenda
exibicionismo, porque isso nem se deve nomear junto ao verdadeiro magistério.
Revelar é mostrar, é expor. O professor expõe a matéria, e expõe-se a si mesmo
também, pois ao aluno é dada a oportunidade de questionar, de querer saber
mais, de extrair o quanto puder da fonte chamada professor.
A realização vem ao professor quando
ele sente que conseguiu ministrar uma boa aula, não por ter conseguido
impressionar o aluno com uma tempestade de conhecimento, mas por ter
contribuído de alguma forma para edificar o seu público-alvo, conduzindo-o ao
crescimento.
Pretendemos ter dito, com esta
introdução, que o professor tem o antes, o durante e o depois da aula.
Primeiro, vem o preparo. Depois, a exposição. E, por fim, o resultado.
Nosso tema restringe-se ao primeiro
momento: o antes, o preparo da aula.
A AULA: MOMENTO DA TRANSMISSÃO
Segundo o Aurélio, aula é “uma lição
ou exercício ministrado pelo professor num determinado espaço de tempo”; é a
“explanação proferida por professor ou por autoridade competente perante um
grupo de alunos ou um auditório.”
A aula é um momento de transmissão
organizada de conhecimento. Pode ser realizada de diversas maneiras, utilizando
diversos recursos. Em resumo, temos a simples expressão verbal (a preleção), o
emprego de recursos audiovisuais (sons e imagens), pesquisa, perguntas e
respostas, dinâmicas em grupo, atividades extraclasse, etc…
Dissemos que a aula é um momento de
transmissão organizada. Deve haver organização na forma de transmitir
conhecimento. A mente do aluno terá dificuldade em absorver se a transmissão é
feita de forma desorganizada.
Valendo se uma regra básica da
preleção, podemos dizer que a aula tem que ter introdução (preparação do aluno
para o assunto que se pretende expor), desenvolvimento (detalhamento do
assunto, com as devidas fundamentações e exemplos) e conclusão (síntese
objetiva de tudo o exposto, procurando garantir aplicação prática).
Vimos também que a aula deve obedecer
a um tempo determinado. Assim, aprendemos que é preciso conjugar o conteúdo com
o tempo. O volume de informação que se pretende transmitir deve estar adequado
à duração da aula. Quando existe assunto incompatível com o tempo, a regra é
selecionar o mais importante.
Não se deve esquecer que não é
obrigação de nenhum professor expor tudo o que o aluno precisa saber. Pelo
contrário: o bom professor é aquele que ao ensinar sempre desperta no aluno o
desejo de aprender mais. Todo o alimento em excesso, por mais saboroso que
seja, causa fastio.
Aliás, Jesus sempre ensinava a
multidão de forma a despertar nela o interesse por um conhecimento mais
profundo. Por vezes chegava a provocar alvoroço e confusão entre a multidão
pela forma contundente com que ensinava. Para aquele público resistente, muitas
vezes a melhor estratégia de ensino era levar-lhes ao campo do confronto de
doutrinas e do questionamento.
Por outro lado, para os que tinham o
coração aberto para entender, Jesus dedicava-se pacientemente, ensinando e
ilustrando com parábolas. Muitas vezes fez comparações com coisas concretas,
sempre visando a melhor assimilação possível de sua doutrina.
Os guardas enviados pelos fariseus
para prender a Jesus não tiveram como cumprir sua missão e voltaram
maravilhados: “Jamais alguém falou como este homem.” (João 7.46).
Os discípulos de Emaús rogaram a
Jesus para que ficasse com eles, porque disseram: “Não ardia em nós o nosso coração
quando, pelo caminho, nos falava e quando nos abria as Escrituras.” Lucas
24.29-32.
Foi tão maravilhoso o resultado
daquelas palavras de Jesus que de discípulos decepcionados e desistentes
aqueles dois homens voltaram imediatamente para Jerusalém, se juntaram
novamente aos demais discípulos e davam testemunho com alegria do que lhes
tinha acontecido.
Jesus lhes abria as Escrituras. Paulo
pediu oração para que o Senhor Deus lhe abrisse a porta da Palavra (Col. 4.3).
Pedro e João e os demais irmãos da igreja primitiva oravam: “…concede aos teus
servos que falem com toda a ousadia a tua palavra.” (Atos 4.29).
E “Tendo eles orado moveu o lugar em
que estavam reunidos. E todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com
ousadia a Palavra de Deus”. (Atos 4.31).
Nossas palavras, ungidas pelo
Espírito Santo, devem arder nos corações de nossos alunos, e levá-los do
eventual desânimo a uma vida autêntica de fé e confiança no Senhor Jesus.
Nosso ensino precisa fazer de
discípulos desistentes, servos de Deus amantes de sua obra e de seu reino.
Levá-los de volta de Emaús para Jerusalém.
Vivemos dias de muito pessimismo
espiritual, mas a Palavra de Deus em nossos lábios fará com o que o povo de
Deus se reanime e veja as obras do Senhor em nossos dias.
A Escola Dominical pode e deve ser um
departamento fomentador do avivamento, pois a ela cabe, com muita ênfase, a
responsabilidade pelo ensino sistemático da Palavra de Deus.
A PREPARAÇÃO DA AULA
Do texto de Romanos 12.7 extraímos
uma lição básica para todo o ensinador: “se é ensinar, haja dedicação ao
ensino”. Nota-se que de todos os dons de que fala o apóstolo Paulo, o único que
faz acompanhar do substantivo dedicação é o ensino.
É impossível ensinar sem dedicação.
Ou melhor: é impossível ensinar bem sem dedicação. Todo o ensino praticado sem
dedicação será um ensino deficiente, tendente a prejudicar o aluno, deixá-lo
confundido ou mal formado.
Por analogia, temos a crucial
diferenciação entre o ensino sistemático e regular e o ensino modular,
supletivo. O primeiro visa conduzir o aluno passo a passo à solidez do
conhecimento. O segundo lhe garante uma absorção básica de conteúdo, sem um
compromisso maior com os fundamentos de cada disciplina.
O resultado de um aluno bem formado
para um mal formado será visto no enfrentamento que tiverem em um vestibular ou
qualquer tipo de concurso, ou mesmo na exposição pública de seus conhecimentos.
Este não resistirá aos embates.
De igual sorte, um aluno mal formado
na seara cristã terá maiores dificuldades ao enfrentar os obstáculos da vida
cristã; e poderá ser, inclusive, presa fácil dos conturbadores das doutrinas
cristãs.
Se, portanto, queremos formar bem
nossos alunos, estejamos certos de que isso exigirá de nós muita dedicação.
Assim dizendo, importa que o
professor planeje bem. Por planejamento aqui não se entenda um feixe de
teorias, mas de regras simples que não podem ser desprezadas. Aliás, quanto
mais o assunto da lição for considerando complexo mais o professor deve
esmerar-se para traduzir-lhe de forma a torná-lo simples, de fácil assimilação.
Não é porque o conteúdo (o texto) da lição se apresenta rebuscado que a aula
deve o ser.
Eis o desafio ao professor:
compreender o assunto e simplificá-lo, especialmente a par de sua realidade
local. Por isso que ao planejar sua aula o professor deve considerar (1) o
público alvo (a que grupo de pessoas vou falar?), (2) o ambiente (no espaço
físico que disponho que recursos poderei utilizar?), (3) os recursos materiais
(como tornar o mais didática possível minha aula?) , (4) o assunto (que abordagem será a mais
adequada?), (5) o tempo (como melhor aproveitar o tempo de que disponho?).
É certo que a conjugação de todos
estes elementos de planejamento, se em harmonia, contribuirão diretamente uma
um êxito maior na aula a ser ministrada.
NÍVEIS DE PREPARAÇÃO
Pelo menos três níveis de preparação
são fundamentais para o professor.
São eles:
a)
preparação geral
O professor deve ser um estudante
contínuo, um observador perspicaz, procurando sempre aprender, absorver novos
conhecimentos para sua vida.
A preparação geral exige do professor
constante leitura, conforme o conselho de Paulo a Timóteo (“Persiste em ler” –
I Tim. 4.13). O hábito da leitura deve fazer parte da vida do professor. A
Bíblia é o principal livro que deve ler, examinando as Escrituras com espírito
de devoção, a fim de que o Espírito Santo lhe revele as profundezas de Deus.
Ler a Bíblia toda é uma recomendação
sempre feita, mas nem sempre compreendemos sua importância. Mas é bem certo
afirmar que todo estudante da Bíblia precisa lê-la toda, seqüencialmente. Assim
fazendo, embora não terá como guardar todas as informações contidas no Livro
Sagrado, mas jamais será surpreendido com passagens que jamais viu.
Também evitará o cometimento de erros
primários, frutos de uma visão parcial das Sagradas Escrituras. Assim, a
preparação geral do professor inclui a leitura de toda a Bíblia.
Também como preparação geral
incluem-se as pesquisas temáticas, biográficas, doutrinárias, referenciais,
enfim, a busca de um conhecimento mais aprofundado de determinado assunto ou
aspecto das Escrituras Sagradas.
Ainda como parte da preparação geral
o professor precisa ler bons livros, fazer um curso teológico e participar de estudos
bíblicos, seminários, simpósios, aulas para professores, etc. É fundamental que
ele saiba ouvir outros professores. Na verdade, o professor deve vigiar para
não se tornar um sabe-tudo, pois o verdadeiro sábio é aquele que sempre está
disposto a aprender, até mesmo (e inclusive) com as crianças.
b)
preparação específica
Depois de analisar a necessidade da
preparação geral, que é desprendida da lição dominical, é hora de pensar na
aula do próximo domingo. Lição à mão, é hora do primeiro contato com o assunto
de que se vai falar.
É indispensável que se faça antes de
tudo uma oração a Deus pedindo sabedoria e compreensão. Não é possível conhecer
as coisas espirituais senão pelo Espírito de Deus.
Uma leitura geral da lição é o
próximo passo, sem deter-se neste ou naquele ponto. É fundamental que se leia
todo o conteúdo, porque é muito comum que as dúvidas surgidas logo no começo
sejam dissipadas ao longo do texto.
Feita a primeira leitura, é hora de
voltar ao texto, relendo já com os apontamentos que entender necessário fazer.
Pode ser na própria revista (através de destaques ou pequenas anotações) ou em
rascunho à parte.
É nesta hora que o professor cuidará
observar as referências bíblicas, a fim de aclarar cada vez mais o tema
proposto. À medida que necessitar deverá consultar dicionários (bíblicos e da
língua portuguesa), enciclopédias, revistas anteriores, livros, apostilas,
comentários, etc…
Também é importante que, se possível
e necessário, verifique determinados versículos em Bíblias de diversas versões,
vendo, inclusive, as variações nos originais.
c)
preparação pessoal
O professor não comparecerá diante da
classe simplesmente para despejar conhecimento. Como servo de Deus ele
comparecerá para transmitir o conselho de Deus (Atos 20.27). Ora, alguém
somente ensinará o conselho de Deus se Dele receber este conselho.
O conselho, aliás, é um ensino que
parte de uma intimidade para outra. Flui de alguém que se preocupa com o
bem-estar de outrem, e que se vale de um porta-voz para efetivar a transmissão.
Conselho é “senso do que convém,
aviso, admoestação”. Deus se vale de homens e mulheres para transmitir os seus
conselhos para todo o seu povo.
Nota-se a sublimidade do ministério
do ensinador cristão. Ele é um transmissor dos conselhos de Deus. Há uma classe
diante de si todos os domingos interessada em ouvir “tudo quanto por Deus é
mandado” (Atos 10.33).
É por isso que o professor tem que
primeiramente cuidar de si mesmo. Precisa estar preparado. O cultivo de sua
vida de devoção a Deus é fundamental.
Importa considerar que neste ponto o
professor não estará, necessariamente, pensando no aluno. Deve estreitar sua
comunhão com Deus não porque é professor, mas porque é um servo de Deus,
dependente Dele, necessitado de ser cheio da graça e do poder do Senhor em sua
vida.
Nossa comunhão com Deus é mais
importante que a muita pesquisa para a preparação da aula. A bem da verdade,
nada vale todo o tipo de recurso ou preparação se o professor não estiver em
comunhão com o Autor da Bíblia.
Assim é que o professor deve procurar
santificar sua vida. Eliminar os maus costumes. Rejeitar toda a sorte de
pecado. Reprovar as obras das trevas. Encher-se do Espírito Santo.
A oração, o jejum e a leitura da
Palavra de Deus lhe trarão mais intimidade com o Senhor, tornando o seu coração
um terreno fértil para frutificar.
Nossa maior preocupação durante toda
a nossa vida deve ser com o nosso próprio nível espiritual. A capacitação para
o trabalho vem do Senhor.
Assim o texto sagrado:
“Abre bem a tua boca e eu a
encherei”. Sl. 81.10.
“Eis que abundantemente derramarei
sobre vós meu Espírito e vos farei saber as minhas palavras”. Pv. 1.23
“Mas aquele Consolador, o Espírito
Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará
lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” João 14.26.
Pedro, o mais iletrado dos apóstolos,
foi o pregador do Dia de Pentecostes, cheio do poder do Espírito Santo, e quase
3 mil almas converteram-se a Cristo.
O ensino eficaz continua sendo aquele
ministrado nos domínios do Espírito Santo, porque é Ele que “penetra as
profundezas de Deus” (I Co. 2.10).
“…ninguém sabe as coisas de Deus,
senão o Espírito de Deus.
Mas nós não recebemos o espírito do
mundo, mas o Espírito de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado
gratuitamente por Deus.
As quais também falamos, não com
palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina,
comparando as coisas espirituais com as espirituais.” (I Co. 2.11-13).
“Procura apresentar-te a Deus
aprovado, como obreiro que não tem que se envergonhar, que maneja bem a palavra
da verdade”. 2 Tim. 2.15
FONTE Portal
EscolaDominical
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PAZ DO SENHOR
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